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CAPÍTULO VINTE E UM: CONFLITO CRESCENTE EM ILLINOIS


CAPÍTULO VINTE E UM

CONFLITO CRESCENTE EM ILLINOIS

Por três anos Joseph Smith e os santos dos últimos dias viveram em relativa tranqüilidade em Illinois. Então, como havia ocorrido em Ohio e Missouri, dissidentes da Igreja e oponentes juntaram-se para criar problemas para a Igreja. Novamente o Profeta Joseph Smith foi atacado, perseguido e ameaçado. Quando os problemas começaram a aumentar em 1842, ele escreveu aos santos, assegurando a seus irmãos e irmãs no evangelho que “a inveja e a ira dos homens têm-me acompanhado todos os dias de minha vida; e a causa parece-me um mistério, a menos que eu tenha sido ordenado desde antes da fundação do mundo para algum propósito bom. (…) E, como Paulo, glorio-me na tribulação; pois até este dia o Deus de meus pais livrou-me de todas elas”. (D&C 127:2) O Profeta tinha enorme confiança de que apesar de todos os conflitos que estavam aparecendo, o Senhor o ajudaria a vencer todos os seus inimigos.

A APOSTASIA DE JOHN C. BENNETT

John C. Bennett chegou a Nauvoo em agosto de 1840 e rapidamente se tornou importante na cidade. Sendo apenas um ano e meio mais velho que o Profeta, Bennett tinha diversas experiências como médico, pregador metodista, fundador de uma universidade, presidente de uma universidade, líder militar e, mais recentemente, intendente geral de Illinois. Na conferência de abril de 1841, ele foi apresentado à Igreja “como Presidente Assistente, até que o Presidente [Sidney] Rigdon recuperasse a saúde”.1Por algum tempo, ele foi companheiro, confidente e conselheiro do Profeta.

Em 15 de junho de 1841, tendo-se passado apenas dois meses e meio desde que Bennett fora apoiado como Presidente Assistente, Joseph Smith recebeu uma carta de Hyrum Smith e William Law, que se encontravam em Pittsburgh, confirmando o rumor de que Bennett havia abandonado esposa e filho em Ohio. Quando chegou a Nauvoo pela primeira vez, Bennett havia declarado não ser casado. O Profeta confrontou-o com esses fatos, Bennett simulou remorso, tomando veneno numa aparente tentativa de suicídio.

Nessa mesma época, pervertendo a doutrina do casamento plural e aproveitando-se do prestígio de seu alto cargo na Igreja, Bennett conseguiu persuadir algumas mulheres a cometer atos imorais. Tomar “esposas espirituais”, como ele chamava, nada mais era que adultério.

Antes que seu verdadeiro caráter fosse desmascarado, John C. Bennett também arquitetou um engenhoso plano para assassinar o Profeta e assumir a liderança da Igreja. Em 7 de maio de 1842, sábado, seria realizada uma batalha simulada entre duas tropas, ou brigadas, da Legião de Nauvoo. O Major General Bennett pediu ao General Comandante Joseph Smith que assumisse o comando da primeira tropa durante a batalha. Quando o Profeta declinou, Bennett pediu-lhe que assumisse uma posição na retaguarda da cavalaria sem estar acompanhado. Joseph Smith também recusou a oferta. Em vez disso, ele escolheu sua própria posição, acompanhado de seu guarda-costas, Albert P. Rockwood. Joseph escreveu que percebeu “pelo gentil sussurro do Espírito” que havia um plano engendrado para deixá-lo exposto a fim de matá-lo sem que houvesse testemunhas.2

Quando o caráter imoral e as artimanhas de Bennett foram descobertos, ele foi excomungado da Igreja. Ele também foi dispensado da Legião de Nauvoo, foi obrigado a demitir-se do cargo de prefeito e expulso da fraternidade maçônica. Com sua reputação arruinada em Nauvoo, ele partiu da cidade amargurado e passou a realizar uma série de palestras contra o Profeta e os líderes da Igreja. A série de artigos que publicou no Sangamo Journal, em Springfield, Illinois, durante o verão de 1842, foram reunidos e publicados poucos meses depois como parte de Sangamo Journal em Springfield, Illinois, durante o verão de 1842, foram reunidos e publicados poucos meses depois como parte de A História dos Santos ou o Desmascaramento de Joe Smith e do Mormonismo. Bennett alegou que apenas havia-se tornado mórmon para expor a suposta conduta ilícita do Profeta.

Bennett também incitou sentimentos anti-mórmons entre os maçons de Illinois. Desde outubro de 1841, alguns maçons que eram membros da Igreja haviam recebido permissão de iniciar uma loja em Nauvoo. Joseph Smith considerou haver vantagens em pertencer a essa ordem. Provavelmente imaginou que outros maçons do estado e do país, muitos dos quais ocupavam cargos importantes, teriam mais consideração para com a Igreja. Joseph Smith e muitos moradores de Nauvoo foram formalmente iniciados na ordem, em março de 1842. Sem saber que John C. Bennett havia sido expulso da ordem maçônica de Ohio por comportamento impróprio, os maçons de Nauvoo elegeram-no secretário da loja.

Depois de partir de Nauvoo, Bennett visitou os maçons da cidade de Hannibal, Missouri, que também não sabiam que ele havia sido expulso da fraternidade. Bennett acusou a liderança predominantemente mórmon das lojas de Nauvoo e arredores de violar as normas maçônicas, seguir vários livros falsos e fazer outras coisas impróprias. Essas acusações foram transmitidas para a grande loja de Illinois, que iniciou uma investigação que durou dois anos. Muitos maçons de Illinois passaram por isso a acreditar nas falsas acusações de Bennett.

COMPLICAÇÕES POLÍTICAS

Durante a carreira meteórica de John C. Bennett em Nauvoo, as rivalidades políticas estavam-se desenvolvendo entre os santos dos últimos dias e seus vizinhos da região oeste de Illinois. Essas dificuldades eram resultado da instável política da fronteira, onde a oposição interna nos partidos era intensa e as emoções facilmente se incendiavam. O problema intensificou- se quando os democratas e os liberais equipararam-se em Illinois. Os democratas assumiram o governo do estado em 1838, mas os liberais perderam por uma pequena margem de votos no oeste de Illinois, quando os santos começaram a chegar em 1839. Ambos os partidos políticos esperavam que os novos cidadãos ajudassem sua causa.3

No condado de Hacock, porém, os sentimentos logo polarizaram-se a respeito do rápido crescimento de Nauvoo e de outras comunidades mórmons. Os cidadãos de Warsaw, a vinte e sete quilômetros ao sul de Nauvoo, começaram a sentir preocupação e inveja por causa do crescente domínio econômico, político e religioso da cidade mórmon. Foi em Warsaw e em Carthage, sede do condado de Hancock, a vinte e sete quilômetros a leste de Nauvoo, que os sentimentos anti-mórmons começaram a formar-se em Illinois.

Numa tentativa de promover a boa vontade, os líderes da Igreja convidaram Thomas Sharp, um ex-advogado e redator do Warsaw Signal para a comemoração do assentamento da pedra de esquina do templo, em 6 de abril de 1841. Testemunhando os acontecimentos daquele dia, que incluíram uma parada e um suntuoso banquete, ouvindo Joseph Smith e outros líderes da Igreja falarem da perspectiva de crescimento de Nauvoo e do reino de Deus, Thomas Sharp ficou convencido de que o mormonismo era mais do que uma religião. Para ele, aquele pareceu ser um movimento perigoso e anti-americano que visava dominar um vasto império. Voltando a Warsaw, ele lançou uma vigorosa campanha contra a Igreja em seu jornal, alegando que a única intenção de Joseph Smith era unir a igreja ao estado; ele insistia que os santos possuíam muito poder e autonomia por causa da Carta de Nauvoo.

Em junho de 1841, Sharp ajudou a formar um partido político antimórmon no condado de Hancock, que realizou convenções em Warsaw e Carthage e reuniões públicas em outras comunidades menores. Assim, pessoas de ambos os partidos políticos uniram-se contra a Igreja. Nas eleições do condado, em julho, foi eleita uma chapa anti-mórmon, que distorceu a influência política dos santos, mesmo quando votavam em bloco. Os santos dos últimos dias, porém, continuaram a chegar em grande número ao condado de Hancock, incluindo muitos membros ingleses que rapidamente tornaram-se cidadãos norte-americanos, o poderio político dos santos cresceu e aumentou ainda mais o distanciamento de seus inimigos do condado de Hancock.

Enquanto isso, os santos encontraram um amigo em um líder do partido democrático de Illinois — o juiz Stephen A. Douglas, da suprema corte do estado. Enquanto servia como secretário de estado, Douglas ajudou a assegurar que a Carta de Nauvoo fosse aprovada pela assembléia legislativa de Illinois.

Quando Joseph visitou membros da Igreja no condado de Adams, no início de junho de 1841, ele foi preso como fugitivo do Estado de Missouri. Em Quincy, porém, Joseph obteve um habeas corpus que lhe permitiu apelar ao juiz Douglas, que consentiu em realizar uma audiência poucos dias depois, no tribunal itinerante em Monmouth, mais de 120 quilômetros a nordeste de Nauvoo.

Quando o julgamento teve início em 9 de junho, o salão estava repleto de espectadores, excitados com a possibilidade de lincharem Joseph Smith. O juiz Douglas multou duas vezes o xerife por não conseguir manter a multidão em ordem. Os argumentos da defesa a respeito das atrocidades cometidas contra os santos em Missouri deixaram muitas pessoas penalizadas até as lágrimas na sala do tribunal, inclusive o juiz Douglas. No dia seguinte ele dispensou o caso por falta de provas.

A decisão do juiz Douglas garantiu-lhe a eterna gratidão da Igreja, mas ergueu fortes suspeitas no oeste de Illinois de que ele houvesse feito um acordo político com Joseph Smith. Jornais liberais de todo o estado acusaram- no de procurar granjear abertamente os votos dos mórmons ao dispensar a causa. Os liberais, portanto, pararam de tentar conquistar os santos dos últimos dias e passaram ao ataque, quando se aproximava o ano de eleições para governador de 1842. Stephen A. Douglas tornou-se o alvo de muitas críticas de partidos políticos por continuar amigo da Igreja. O fato de ter designado vários membros da Igreja para cargos no tribunal do condado de Hancock levantaram grandes sentimentos anti-mórmons em Warsaw e Carthage.

A total profundidade da gratidão mórmon para com o juiz Douglas apareceu em uma carta de Joseph Smith publicada no Times and Seasons : “Não nos importamos nem um pouco com os liberais ou democrats;, eles são iguais para nós; mas ficaremos ao lado de nossosamigos, AMIGOS VERDADEIROS. (…) DOUGLAS é um espírito especial, and seus amigos são nossos amigos. Estamos dispostos a erguer nossos estandartes e lutar a seu lado pela causa da humanidade e direitos iguais; a causa da liberdade e da lei”.4Ainda em 1842, com a inegável ajuda do voto mórmon, o candidato democrata para o cargo de governador, Thomas L. Ford, venceu a eleição contra Joseph Duncan, o candidato liberal e inimigo declarado dos santos.

Na mesma campanha eleitoral, William Smith, o irmão do Profeta e um dos Doze Apóstolos, concorreu pelo partido democrata a um cargo no congresso estadual contra o candidato liberal Thomas Sharp. Para responder aos ataques anti-mórmons de Sharp, foi criado o jornal Wasp cujo redator era William Smith. Posteriormente, o Nauvoo Neighbor , com John Taylor como redator, substituiu o Wasp e prosseguiu a proclamar a causa dos santos dos últimos dias. Com o apoio do crescente número de santos dos últimos dias, o Apóstolo facilmente venceu a eleição e foi a Springfield para continuar a Carta de Nauvoo. A derrota de Sharp aumentou seu antagonismo, e ele ampliou seus ataques para uma região de dez condados e exigiu o extermínio ou a expulsão dos mórmons.5

NOVAS AMEAÇAS DE MISSOURI

Em maio de 1842,6Lilburn W. Boggs, ex-governador de Missouri, foi ferido numa tentativa de assassinato. As autoridades de Missouri acusaram Joseph Smith pela tentativa de homicídio e novamente tentaram extraditá- lo para Missouri.

John C. Bennett, cheio de ódio e desejo de vingança depois de sair de Nauvoo, declarou que Joseph Smith havia enviado Porter Rockwell a Missouri com a ordem expressa de matar o ex-governador. Rockwell com raiva procurou Bennett em Carthage e acusou-o de mentiroso. Bennett então entrou rapidamente em contato com Boggs, que estava convalecendo em Missouri, e convenceu-o a prestar um juramento documentado de que Porter Rockwell, agindo sob ordens de Joseph Smith, havia tentado assassinálo. Em julho, compareceu perante um juiz de paz em Independece, Missouri, para acusar Orrin Porter Rockwell, um dos guarda-costas de Joseph Smith, de tentativa de homicídio. O governador Thomas Reynolds de Missouri convenceu o governador Thomas Carlin de Illinois a enviar oficiais para prender Porter Rockwell e Joseph Smith. O Profeta, usando o poder dohabeas corpus concedido pela Carta de Nauvoo foi temporariamente libertado. Sabendo que se voltasse a Missouri seria morto, o Profeta procurou refúgio em uma ilha do rio Mississipi. Rockwell fugiu para a Pensilvânia usando um nome falso.

As cartas de Emma Smith, da Sociedade Feminina de Socorro de Nauvoo e de importantes cidadãos de Nauvoo não conseguiram persuadir o governador Carlin da injustiça da ordem de extradição. Carlin continuou a oferecer um prêmio pela captura do Profeta e de Porter Rockwell. Nessa época, os líderes da Igreja escreveram um documento em resposta às acusações de John C. Bennett e enviaram 380 élderes para distribuir os documentos às autoridades públicas e membros da Igreja de vários estados. Enquanto isso, o procurador dos Estados Unidos do distrito de Illinois, Justin Butterfield, sugeriu que Joseph poderia obter liberação das acusações por ordem da suprema corte do estado. Sob a proteção do recém-eleito governador Thomas Ford, Joseph Smith foi a Springfield, em dezembro de 1842, e acabou sendo libertado por que as acusações iam além das evidências contidas no documento inicial de Boggs e, portanto, careciam de fundamento. Os santos de Nauvoo regozijaram-se quando o Profeta pôde sair de seu esconderijo e voltar ao convívio deles. Infelizmente, Porter Rockwell foi preso em St. Louis, em março, quando estava a caminho de sua casa em Nauvoo, e permaneceu na cadeia de Missouri por dez meses, antes de ser libertado.

Uma terceira tentativa das autoridades de Missouri de levar Joseph Smith de volta para Independence para ser julgado foi feita em junho de 1843, durante a corrida para o congresso. John C. Bennet estava no condado de Daviess, Missouri, e reacendeu a velha acusação de traição contra o Profeta. O governador Ford de Illinois concordou com um pedido de extradição. Nessa época, Joseph e sua família havia saído em uma muito necessária viagem de férias até a casa da irmã de Emma, Elizabeth Wasson, próximo de Dixon, Illinois, 320 quilômetros ao norte de Nauvoo. Stephen Markham e William Clayton foram enviados a Nauvoo para avisar o Profeta. Enquanto estavam na casa, o xerife Joseph Reynolds, do condado de Jackson, Missouri, e o comissário Harmon Wilson, do condado de Hancock, Illinois, chegaram e rudemente prenderam o Profeta no quintal. Cyrus H. Walker, o candidato liberal para o congresso e também procurador da justiça, estava por acaso em Dixon e prometeu a Joseph que o defenderia se Joseph votasse nele na eleição próxima, com o que o Profeta concordou.

Stephen Markham e William Clayton então prenderam o xerife Reynolds e o comissário Wilson por aprisionamento ilegal e ameaça à vida de Joseph Smith. No caminho, encontraram um grupo montado da Legião de Nauvoo e foram levados em segurança para Nauvoo, sendo recebidos por cidadãos regozijantes. O tribunal municipal de Nauvoo libertou Joseph Smith com um documento dehabeas corpus .

Reynolds e Wilson foram tratados com um suntuoso jantar e libertados. Apressaram-se em ir para Carthage, onde incitaram mais sentimentos anti-mórmons entre o povo. Prestaram juramento e obtiveram novos documentos para a prisão de Joseph Smith, e um grupo armado foi organizado para levar o Profeta. O governador Ford, porém, respeitou a decisão do tribunal de Nauvoo. Enquanto o assunto estava sendo debatido, a opinião pública no estado tornou-se cada vez mais anti-mórmon.

Antes da eleição para o congresso, em agosto, os líderes da Igreja decidiram que Joseph P. Hoge, o candidato democrata, representaria melhor os interesses dos santos. Joseph Smith manteve sua palavra de votar em Cyrus Walker. Hyrum Smith e John Taylor, porém incentivaram outros membros da Igreja a votar em Hoge. Ambos os candidatos, incertos quanto o apoio dos mórmons, passaram quatro dias em campanha em Nauvoo. O voto de Nauvoo ajudou a dar a vitória das eleições a Hoge. Os liberais então acusaram os mórmons de mau uso de poder político corporativista. Muitos democratas uniram-se ao coro dos sentimentos anti-mórmons porque temiam a força que os havia levado ao poder pudesse ser um dia usada contra eles. Desse modo, as sinceras tentativas de Joseph Smith de manter a Igreja isenta de partidarismo político não foram bem-sucedidas.

DISSENSÃO DENTRO DA IGREJA

Enquanto as forças externas ameaçavam o Profeta, a dissensão em Nauvoo auxiliou os propósitos hostis. Durante o escândalo de Bennett, em 1842, três outros membros da Igreja — Robert Foster, Francis Higbee e Chauncey Higbee — também foram severamente repreendidos por Joseph Smith por conduta imoral. Depois do escândalo, Francis Higbee foi a Cincinnati por um ano, mas voltou depois da morte de seu fiel pai, Elias Higbee. Em setembro, Francis ficou novamente ofendido quando o Profeta acusou-o publicamente com outros homens de conluio com os missourianos na terceira tentativa de extradição. Francis Higbee tornou-se feroz inimigo do Profeta.

Um número de dissidentes de Nauvoo cresceu com o acréscimo de membros da Igreja que se opunham ao casamento plural e outras doutrinas ensinadas por Joseph Smith. William Law, segundo conselheiro na Primeira Presidência, seu irmão Wilson Law, major general da Legião de Nauvoo, e os membros do sumo conselho Austin Cowles e Leonard Soby todos acreditavam que Joseph Smith fosse um profeta decaído.7

No fim de dezembro de 1843, Joseph Smith ficou sabendo de alguns dos intentos maldosos dos dissidentes. Ele contou à polícia de Nauvoo que estava muito mais preocupado com os traidores de dentro da Igreja do que com seus inimigos de Missouri: “Todos os inimigos sobre a face da Terra podem rugir e exercer todo o seu poder em tentar causar minha morte, mas nada conseguirão, a menos que alguns que estão entre nós e usufruem de nossa sociedade, que estiveram conosco em nossos conselhos, participaram em nossas confidências, tomaram-nos pela mão, chamaram-nos de irmãos e, por falsidade e engano, incentivaram sua ira e indiganação contra nós, e fizeram com que sua vingança caísse sobre nossa cabeça. (…) Temos um Judas em nosso meio. 8

Os apóstatas começaram a ficar mais agitados quando a polícia passou a vigiar suas atividades cuidadosamente. Foram trocadas acusações entre os apóstatas e o tribunal da Cidade de Nauvoo. Em abril, Robert Foster e William e Wilson Law foram excomungados por conduta não cristã. Em 28 de abril, esses homens e seus seguidores encontraram-se e declararam que Joseph Smith era um profeta decaído, e inauguraram uma igreja reformada, com William Law como presidente. Designaram um comitê para visitar as famílias e tentar convertê-las à nova igreja. Uma prensa foi comprada e planos foram feitos para lançar um jornal de oposição que seria chamado Nauvoo Expositor .

JOSEPH SMITH, CANDIDATO À PRESIDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS

Enquanto a apostasia grassava em Nauvoo, no final de 1843, o Profeta Joseph Smith estava atarefado politicamente. Percebendo que 1844 era ano de eleição nacional, ele escreveu para John C. Calhoun, Lewis Cass, Richard M. Johnson, Henry Clay e Martin Van Buren, os homens mais freqüentemente mencionados como candidatos para o cargo de presidente dos Estados Unidos. Ele perguntou a cada homem qual seria sua posição com relação aos santos dos últimos dias, caso fosse eleito, especialmente com relação a ajudar a obter compensação pelas propriedades perdidas em Missouri. Dos cinco, Cass, Clay e Calhoun responderam com uma carta, mas nenhum deles propôs o tipo de intervenção federal que o Profeta e os membros da Igreja desejavam.

Parecia óbvio que não havia ninguém que os santos pudessem apoiar para a presidência. Por esse motivo, Joseph Smith reuniu-se com os Doze em 29 de janeiro de 1844 para considerar o curso das eleições daquele ano. Os irmãos apoiaram unanimemente a proposta de criarem sua própria chapa, com Joseph Smith como seu candidato à presidência. Ele disse-lhes que teriam que enviar todo homem de Nauvoo que soubesse falar em público para fazer campanha e pregar o evangelho e que ele estaria entre eles. “Depois da conferência de abril realizaremos conferências gerais por toda a nação, e eu estarei presente em todas quantas me for possível. Digam ao povo que tivemos presidentes liberais e democratas demais; queremos um Presidente dos Estados Unidos. Se eu chegar à cadeira presidencial, protegerei o povo em seus direitos e liberdades.”9

Com a ajuda de William W. Phelps, John M Bernhisel e Thomas Bullock, Joseph resumiu suas idéias de uma campanha em um panfleto intitulado Os Pontos de Vista do General Smith sobre o Poder e a Política do Governo dos Estados Unidos, que foi publicado em 7 de fevereiro e enviado a cerca de duzentos líderes políticos do país. As propostas de Joseph visavam sensibilizar eleitores de ambos os partidos mais importantes. Ele defendia a abolição da prisão por débito, transformando as prisões em seminários de ensino, abolindo a escravidão em 1850, pagando os donos de escravos com o lucro da venda de terras públicas, estabelecer um banco nacional com filiais em cada estaca, e anexar o Texas e o Oregon.10A primeira escolha de Joseph Smith para seu vice-presidente foi o preeminente jornalista novaiorquino e amigo dos santos, James Arlington Bennet. Bennet, porém, declinou o convite, e Joseph finalmente decidiu-se por Sidney Rigdon.

Em 11 de março de 1844, uma reunião de conselho foi realizada em Nauvoo para organizar o reino político de Deus em preparação para a segunda vinda de Cristo. Sendo candidato a um alto cargo político, parecia haver chegado o tempo para dar início ao corpo que também serviria como comitê eleitoral para sua campanha. O conselho consistia de cerca de cinqüenta membros, incluindo a maioria dos líderes da Igreja. Tornou-se conhecido como o Conselho dos Cinqüenta.

No final de abril, uma lista de élderes e suas incumbências relacionadas à campanha foi publicada no Nauvoo Neighbor. Também ficou decidido, numa convenção realizada no início de maio, em Nauvoo, a garantir a designação de delegados de vários estados para uma convenção nacional a ser realizada em Baltimore, Maryland, em julho para lançar a candidatura de Joseph Smith à presidência dos Estados Unidos.

A OPOSIÇÃO SE INTENSIFICA

Apesar dos esforços de relações públicas da Igreja, a oposição intensificou- se nos primeiros meses de 1844. Thomas Sharp atacou repetidas vezes a Igreja e acusou seus líderes de todos os crimes imagináveis. Ele também promoveu um dia de oração e jejum do partido anti-mórmon, em 9 de março, sábado, numa tentativa de apressar a queda do “falso profeta” Joseph Smith. O partido anti-mórmon de Carthage marcou uma “caçada aos lobos” no condado de Hancock para o mesmo dia. Essas caçadas eram um esporte comum na região, mas nesse caso e no futuro a caçada a lobos era meramente um pretexto para reunir uma multidão a fim de atacar, pilhar e queimar as fazendas dos santos em áreas circunvizinhas.

Em contraste com as ações fora-da-lei do partido anti-mórmon e do Warsaw Signal, Joseph Smith reuniu-se com o governador Ford naquela primavera em uma tentativa de estabelecer relações mais cordiais com os cidadãos do oeste de Illinois. Um editorial no Nauvoo Neighbor convocou todos os homens honestos a reunirem-se ao governador “em seus louváveis esforços de promover a paz e honrar as leis”. O editorial pedia aos santos que tratassem com bondade aqueles que os ofenderam, lembrando-os do sábio provérbio: “A resposta branda desvia o furor”. (Provérbios 15:1) O editorial do Neighbor declarava que seu lema seria “Paz com Todos”.12Apesar dessas tentativas, Thomas Sharp continou seu ataque por meio do Warsaw Signal e deu a entender que havia um desentendimento entre Joseph Smith e alguns membros da Igreja, e que uma cisão era iminente.13

Em maio de 1844, os santos dos últimos dias viram-se novamente envolvidos em um conflito aparentemente irreconciliável com seus vizinhos. Havia muitas razões para isso: politicamente os santos estavam isolados de praticamente todo o restante dos habitantes de Illinois, as outras comunidades tinham inveja do crescimento econômico de Nauvoo e sua autonomia política, muitas pessoas de Illinois temiam o poderio da Legião de Nauvoo, os maçons estavam perturbados por causa de boatos de irregularidades em sua ordem em Nauvoo, e havia aversão generalizada por certas doutrinas e práticas estranhas dos mórmons que foram distorcidas por John C. Bennett e outras pessoas. Apesar desses fatores, os santos ainda poderiam ter mantido a paz se não tivesse havido apostasia dentro da Igreja. Infelizmente, tudo indicava para novos atos de violência. Em 29 de maio de 1844, Thomas Sharp declarou a seus leitores que “não ficaria surpreso se ouvisse falar de sua [de Joseph Smith] morte violenta dentro em breve”.14

NOTAS

  1. History of the Church, 4:341.

  2. History of the Church, 5:4; B. H. Roberts, A Comprehensive History of The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, Century One, 6 vols. (Salt Lake City: The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1930), 2:140–41.

  3. Este parágrafo baseia-se em James B. Allen e Glen M. Leonard, The Story of the Latter-day Saints (Salt Lake City: Deseret Book Co., 1976), pp. 173–74.

  4. “Convenção para Governador do Estado”, Times and Seasons, 1º jan. 1842, p. 651.

  5. Baseado em Allen e Leonard, Story of the Latter-day Saints, pp. 177.

  6. Seção baseada em Allen e Leonard, Story of the Latter-day Saints, pp. 178–82.

  7. Baseado em Allen e Leonard, Story of the Latter-day Saints, p. 191.

  8. History of the Church, 6:152.

  9. History of the Church, 6:188.

  10. Baseado em Allen e Leonard, Story of the Latter-day Saints, p. 189.

  11. General Smith’s Views of the Powers and Policy of the Government of the United States (Pontos de Vista do General Smith sobre o Poder e a Política do Governo dos Estados Unidos) (Nauvoo, Ill.: John Taylor, 1844), LDS Historical Department, Salt Lake City, p. 6.

  12. In Roberts, Comprehensive History of the Church, 2:218.

  13. Ver Warsaw Signal, 8 maio 1844, p. 2.

  14. Warsaw Signal, 29 maio 1844, p. 2.

Cronologia

Data

 

Evento Significativo

Junho 1841

Um partido político antimórmon é organizado no condado de Hancock

Junho 1841

A primeira ordem de extradição do Estado de Missouri contra Joseph Smith é negada pelo tribunal de Illinois

Maio 1842

John C. Bennett denunciado por iniqüidade

Maio 1842

Tentativa de assassinado do exgovernador Boggs de Missouri

Ago. 1842

Joseph Smith parte para exílio voluntário a fim de ocultar-se dos inimigos na segunda tentativa de extradição pedida por Missouri

Dez. 1842

Joseph Smith viaja para Springfield, Illinois, onde as acusações de Missouri contra ele são retiradas

Jun. 1843

Joseph Smith é preso em Dixon, Illinois, na terceira tentativa de extradição a pedido do Estado de Missouri, e depois libertado

Outono de 1843

Membros preeminentes da Igreja, inclusive William Law, apostatam

Jan. 1844

Joseph Smith candidata-se à presidência dos Estados Unidos

Primavera de 1844

O Warsaw Signal lança campanha anti-mórmon

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John C. Bennett

John C. Bennett (1804–67) joined the Church in Illinois in 1840. Being flamboyant and energetic, he lobbied for the passage of the Nauvoo Charter in Springfield, was an officer in the Nauvoo Legion, was elected Nauvoo’s first mayor, and counseled Joseph Smith as a temporary member of the First Presidency while Sidney Rigdon was ill. It soon came to the attention of the Prophet, however, that Bennett was seducing women under the guise of “spiritual wifery,” and he was excommunicated in the spring of 1842. Embittered, he lectured against the Church throughout the United States, encouraged Missouri’s attempts to extradite Joseph Smith, and wrote one of the first anti-Mormon books.

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Albert P. Rockwood

Albert P. Rockwood (1805–79) held several positions of trust in the Nauvoo Legion, was called to be a General Authority serving as one of the Presidents of the Seventy in 1845, and was a member of the original Pioneer Company in 1847.

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Thomas Sharp

Thomas Sharp became one of the chief opponents of the Church in Illinois and rallied the opposition through the columns of his newspaper, the Warsaw Signal.
Courtesy of Illinois State Historical Society

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Stephen A. Douglas

Stephen A. Douglas (1813–61) held many political offices during his illustrious career. He was judge of the Illinois Supreme Court from 1841–43, was elected to the United States House of Representatives in 1843, and was elected to the Senate in 1847. In 1860 he was defeated for the presidency by Abraham Lincoln. He died in Chicago while campaigning for the preservation of the union.

Courtesy of Illinois State Historical Society

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map of northwest Illinois

Iowa

Illinois

Dixon

Monmouth

Nauvoo

Carthage

Springfield

Dixon, Illinois, was the home of Emma’s sister Elizabeth Hale Wasson. While visiting here Joseph was arrested by Missouri officials. When the brethren in Nauvoo learned of his plight, they sent large groups of men in search of their leader. His subsequent release under the habeas corpus laws, generated considerable controversy over the powers of the Nauvoo municipal government.

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petition for redress

During the Nauvoo period the Saints formally petitioned the United States government on three occasions for redress of grievances related to the Missouri persecutions. The first effort was made in 1839–40 when Joseph Smith and others went to Washington, D.C., and petitioned the Senate Judiciary Committee. The Prophet said 491 individuals gave their claims; over two hundred of these documents have been located in the national archives.

A second petition was made to the House of Representatives Judiciary Committee in May 1842, and the third petition was a fifty-foot petition with 3,419 signatures dated 28 November 1843 and presented to the Senate Judiciary Committee on 5 April 1844. All three attempts failed to gain action from the government.

Courtesy of National Archive Records

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pamphlet on Joseph Smith’s views

When it was decided that Joseph Smith would be a candidate for the president of the United States, he issued a pamphlet expressing his views on some important issues. This is its title page. Among the pamphlet’s most important points were the following:

  1. Review of noble sentiments on the purpose of the United States government expressed by Benjamin Franklin and in the inaugural addresses of several United States presidents. This included the point that President Van Buren had begun to lead the country away from the basic concepts of the founding fathers and that William Henry Harrison would have returned to them had he lived.

  2. Reduce the size of Congress by two thirds, with one representative per million population. Also reduce congressional pay and power.

  3. Pardon many people then in prison, establish public service sentences for lesser crimes, and turn penitentiaries into “seminaries of learning” because “rigor and seclusion will never do as much to reform the propensities of man, as reason and friendship.”11

  4. Abolish slavery by 1850 by having the federal government purchase the slaves and set them free.

  5. Abolish military court martial for desertion and make honor the standard.

  6. Practice greater economy in national and state governments.

  7. Create a national bank with branches in each state and territory and circulate a standard medium of exchange.

  8. Repeal Article IV, Section 4 of the Constitution, which required the governor of a state to request federal intervention to suppress domestic violence because governors may themselves be mobbers.

  9. Avoid “tangling alliances” with foreign powers.

  10. Accept Oregon, Texas, and others who might apply for membership in the union of states.

  11. Have a president who is not a party man, but president of the United States and responsive to the wishes of the majority of the people who hold the sovereign power of government.