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CAPÍTULO SETE: A EXPANSÃO DA NOVA IGREJA


CAPÍTULO SETE

A EXPANSÃO DA NOVA IGREJA

DESDE O INÍCIO DE 1830, os santos dos últimos dias reconheceram que os índios americanos eram remanescentes da casa de Israel, a quem grandes promessas haviam sido feitas. Referindo-se a essas pessoas como “lamanitas”, um profeta do Livro de Mórmon declarou: “E algum dia serão levados a acreditar [na] palavra [de Deus] e a conhecer os erros das tradições de seus pais; e muitos deles serão salvos, (…)”. (Alma 9:17) Os santos, em 1830, acreditavam nessas promessas e desde os primeiros dias da Igreja sentiam-se motivados a fazer com que elas se cumprissem.

O CHAMADO PARA ENSINAR OS LAMANITAS

A Igreja nem bem completara seis meses de existência quando Oliver Cowdery foi chamado por revelação para pregar o evangelho aos lamanitas. (Ver D&C 28:8.) Mais tarde, Peter Whitmer Jr., Ziba Peterson e Parley P. Pratt foram chamados para ajudá-lo. (Ver D&C 30:5; 32:1–3.) O destino dos missionários era as “fronteiras, próximo aos lamanitas”. (D&C 28:9) Interpretava-se essa referência como a linha divisória entre Missouri e o território indígena a oeste. Por mais de vinte anos muitos americanos tinham-se manifestado a favor da remoção dos índios dos estados do leste para além de uma fronteira permanente nas planícies. Como resultado desse movimento, menos de quatro meses depois do chamado dos missionários, o presidente Andrew Jackson assinou o “Ato de Remoção dos Índios”. Os índios shawnees e delawares de Ohio, antecipando esse resultado, já se haviam mudado por conta própria, em 1828–1829. As duas tribos estabeleceram-se próximo ao rio Kansas, pouco a oeste da fronteira do Estado de Missouri.

Depois da segunda conferência da Igreja, houve intensos preparativos para a primeira missão aos lamanitas. Emma Smith e várias outras irmãs trabalharam muito para que os missionários tivessem as roupas de que iriam necessitar. Apesar de não estar bem de saúde, Emma passou muitas horas costurando roupas adequadas para os missionários. Os santos de Fayette, Nova York, fizeram uma generosa oferta de alimentos. Martin Harris forneceu exemplares do Livro de Mórmon para serem distribuídos pelos missionários. Antes de partir, os missionários comprometeram-se por escrito a dar “toda atenção às palavras e conselhos” de Oliver Cowdery. Fizeram a promessa de proclamar a “plenitude do evangelho” a seus irmãos, os lamanitas.1Em 18 de outubro, começaram sua jornada de 2.400 quilômetros para oeste.

OS PRIMEIROS SUCESSOS NA RESERVA OCIDENTAL

Os missionários visitaram uma tribo amistosa de índios sêneca, que moravam na Reserva Cattaraugus, próximo a Buffalo, Nova York. Ficaram no local apenas o tempo suficiente para apresentar o Livro de Mórmon como um registro de antepassados esquecidos dos índios. “Fomos recebidos de modo bastante amável e os índios mostraram muito interesse em ouvir nossa mensagem”, relatou Parley.2Deixando dois exemplares do livro com os índios, os missionários prosseguiram sua jornada. Pelo que se sabe, esses foram os primeiros índios americanos a ouvirem a mensagem da Restauração nesta dispensação.

Quando os élderes alcançaram a região nordeste de Ohio, chegaram a uma área popularmente conhecida como a Reserva Ocidental, porque nos tempos coloniais ela fora concedida a Connecticut como sua “reserva ocidental”. Parley P. Pratt conhecia a região, por ter morado por aproximadamente quatro anos em Amherst, que ficava oitenta quilômetros a oeste de Kirtland, antes de sua conversão à Igreja. Parley havia estudado com Sidney Rigdon, um preeminente ministro religioso da região que presidia um grupo de “seekers” (pessoas que procuravam voltar ao cristianismo da época do Novo Testamento). Durante algum tempo, Sidney uniu-se a outro “seeker”, Alexander Campbell, e ajudou a fundar uma igreja chamada os Discípulos de Cristo, também conhecida como campbellitas. Mas Rigdon discordou de Campbell em certas práticas doutrinárias e formou seu próprio grupo, a Sociedade Batista Reformada. Graças a sua antiga amizade com Rigdon, o Élder Pratt convenceu os companheiros a visitá-lo em Mentor, Ohio, onde Pratt testificou a seu antigo mestre que a Restauração havia ocorrido, incluindo a restauração da autoridade divina. Oliver Cowdery, testemunha ocular da restauração do sacerdócio, prestou testemunho desse acontecimento.

Apesar de Sidney tratar os missionários com respeito e cordialidade, sua conversão não foi imediata. Disse aos élderes: “Lerei seu livro e verei que influência tem sobre minha fé”. Os élderes então pediram permissão para apresentar sua mensagem na igreja de Rigdon. Concedida a permissão, “a data foi devidamente marcada, na qual se reuniu uma grande e respeitável congregação”. No final da reunião, Rigdon, demonstrando admirável mente aberta, disse aos presentes que a mensagem que haviam acabado de ouvir “era de natureza extraordinária, e certamente exigia que a ponderassem da maneira mais séria”. Ele lembrou a congregação do conselho dado pelo Apóstolo Paulo: “Examinai tudo. Retende o bem”. (I Tessalonicenses 5:21).3

Enquanto isso, os élderes não permaneceram ociosos. A menos de oito quilômetros da casa de Rigdon, em Mentor, ficava a vila de Kirtland, onde moravam vários membros da congregação de Sidney. Os missionários pregaram de casa em casa, sendo igualmente recebidos com muito respeito. Em breve, alguns dos moradores convenceram-se de que não possuíam a autoridade divina necessária para administrar as ordenanças do evangelho e que eles próprios não tinham sido batizados com autoridade. Depois de muito estudo e oração, muitas pessoas, incluindo Sidney Rigdon, pediram para ser batizadas pelos missionários. A notícia de suas pregações espalharam-se rapidamente. Parley relatou: “As pessoas aglomeravam-se a nossa volta noite e dia, de modo que não tínhamos tempo para descansar nem dormir. Foram realizadas reuniões em várias vizinhanças, e multidões reuniam-se pedindo nossa presença. Milhares de pessoas procuravam-nos durante o dia; umas para ser ensinadas, algumas por curiosidade, algumas para obedecer o evangelho e outras para desafiálo e rebatê-lo”.4

Três semanas após a chegada dos missionários, 127 pessoas foram batizadas. Entre elas, destacam-se Isaac Morley, Levi Hancock, Lyman Wight e John Murdock, moradores bastante conhecidos na região, que viriam a desempenhar importante papel no progresso futuro da Igreja. Relembrando mais tarde seu próprio batismo e como isso afetou sua vida, John Murdock escreveu que “o Espírito do Senhor estava sensivelmente presente na ocasião, de modo que saí da água cheio de júbilo e cantando louvores a Deus e ao Cordeiro”.5

Outro dos primeiros conversos de Ohio, Philo Dibble, que morava a cerca de oito quilômetros a leste de Kirtland, ouviu rumores a respeito de uma “Bíblia dourada”. Tendo ficado curioso, procurou os missionários e, após ouvir a pregação de Oliver Cowdery, acreditou em sua mensagem e apresentou-se para o batismo. Sua descrição do poder espiritual que se manifestou ao receber o Espírito Santo ilustra por que tantos dos primeiros santos tiveram tamanha alegria na Restauração:

“Quando saí das águas, sabia que tinha nascido da água e do espírito, pois minha mente foi iluminada pelo Espírito Santo.

(…) Deitado em meu leito, naquela noite, senti como se uma mão tocasse meu ombro esquerdo e tive a impressão de que labaredas de fogo envolviam meu corpo (…) Senti-me envolvido por uma influência celestial e não consegui dormir de tanta alegria.”6

O curto período que os missionários passaram na Reserva Ocidental naquele mês de novembro produziu frutos imediatos e duradouros. Os conversos de Ohio fizeram com que o número de membros da Igreja ultrapassasse o dobro em apenas três semanas, exatamente como o Senhor havia prometido aos santos por revelação: “Porque eis que o campo já está branco para a ceifa; e eis que aquele que lança a sua foice com vigor faz reserva, de modo que não perece, mas traz salvação a sua alma”. (D&C 4:4; ver também 11:3; 12:3.) Os missionários ordenaram Sidney Rigdon e alguns outros, deixando-os encarregados do ministério. Em companhia de Frederick G. Williams, que havia exercido a profissão de médico em Kirtland antes de sua conversão, os missionários proseguiram sua jornada para oeste, rumo à “fronteira dos lamanitas”.

UMA VISITA AO PROFETA EM NOVA YORK

Pouco depois de os missionários partirem de Kirtland, Sidney Rigdon e um amigo, Edward Partridge, decidiram viajar a Nova York para “pesquisar mais profundamente” as origens do evangelho restaurado que haviam conhecido. Lydia Partridge escreveu: “Meu marido acreditava, mas teve que viajar ao Estado de Nova York para ver o Profeta” antes de dar-se por satisfeito.7De acordo com Philo Dibble, Partridge também viajou em benefício de outras pessoas. Um vizinho disse a Dibble: “Enviamos um homem ao Estado de York para descobrir a verdade a respeito dessa religião, e trata-se de um homem que nunca mente”.8

Quando chegaram a Manchester, Nova York, em dezembro de 1830, Sidney e Edward ficaram sabendo que Joseph estava morando com a família Whitmer no município de Fayette, a 32 quilômetros de distância. Interrogando os vizinhos sobre a família Smith, descobriram que sua reputação havia sido impecável até Joseph Smith ter divulgado sua descoberta do Livro de Mórmon. Também observaram “as boas condições da fazenda da família e a diligência com que era cuidada”. Edward e Sidney encontraram o Profeta na casa de seus pais, em Waterloo, onde Edward pediu a Joseph Smith que o batizasse. Quatro dias depois, Edward foi ordenado élder por Sidney Rigdon, seu amigo e companheiro de viagem.9

Joseph Smith ficou impressionado com Sidney e Edward desde o primeiro momento. Descreveu Edward como “um exemplo de devoção e um dos grandes homens do Senhor”.10Pouco depois do batismo de Edward, o Profeta recebeu revelações estabelecendo quais seriam os deveres e chamados desses dois homens. Devido à influência que exercia sobre seus seguidores, o Senhor comparou Sidney a João Batista, que preparou o caminho para Jesus Cristo. A nova designação de Sidney foi servir como escrevente de Joseph Smith. (Ver D&C 35:4, 20.) Edward foi chamado para pregar o evangelho “como com a voz de trombeta”. (D&C 36:1) Joseph Smith e Sidney Rigdon foram admoestados a fortalecer a Igreja onde quer que ela se encontrasse, mas “mais especialmente em Colesville; pois eis que eles [oravam] a [Deus] com muita fé”. (D&C 37:2)

A fé dos santos de Colesville foi recompensada com uma visita do Profeta e seu novo associado, Sidney Rigdon. Nesse lugar, o talento de Sidney em oratória ficou evidenciado pela primeira vez na Igreja, quando ele obedeceu ao mandamento que havia recebido por revelação de “[pregar o] evangelho e [citar] os santos profetas para comprovar [suas] palavras (…)”. (D&C 35:23) Sidney proferiu um magnífico e vigoroso sermão.

Os santos de Nova York também foram abençoados com importantes revelações doutrinárias dadas a Joseph Smith. Entre os meses de junho a outubro de 1830, Joseph deu seguimento ao trabalho de revisão do livro de Gênesis. Joseph disse que naquela época “havia muitas conversas e conjecturas entre os santos a respeito dos livros mencionados e citados em várias partes do Velho e do Novo Testamentos, mas que não são encontrados em nenhum lugar. O comentário mais comum era que se tratavam de ‘livros perdidos’; contudo, a Igreja Apostólica aparentemente possuía alguns desses escritos, uma vez que Judas menciona e cita a Profecia de Enoque, o sétimo depois de Adão”.11Para regozijo da Igreja, que naquela época contava com cerca de setenta membros em Nova York, o Senhor revelou parte do antigo livro de Enoque, que incluía uma extensa profecia a respeito do futuro. Por meio desse relato, hoje encontrado no capítlulo 7 de Moisés, na Pérola de Grande Valor, o Senhor “incentivou e fortaleceu a fé do Seu pequeno rebanho (…) fornecendo mais informações a respeito das escrituras”, que não eram conhecidas anteriormente.12

VIAGEM A MISSOURI

Enquanto isso, os cinco missionários enviados aos índios continuaram a pregar para todas as pessoas que encontravam ao longo do caminho para oeste. Parley P. Pratt escreveu: “Alguns mostravam o desejo de aprender a respeito do evangelho e obedecer-lhe. (…) Outros encheram-se de inveja, raiva e falsidade”.13

Oitenta quilômetros a oeste de Kirtland, em Amherst, Ohio, Parley foi preso sob uma acusação ridícula, julgado, considerado culpado e condenado a pagar fiança. Por não ter como pagar, Parley passou a noite preso em uma estalagem. Na manhã seguinte, recebeu uma breve visita de seus companheiros, aos quais pediu que prosseguissem a jornada, prometendo alcançá-los em breve. Parley conta: “Depois de sentar-me por algum tempo junto ao fogo, sob a custódia do policial, pedi-lhe para sair um pouco. Caminhei até a praça pública escoltado por ele. Perguntei, então: ‘Sr. Peabody, é bom de corrida?’ ‘Não’, disse ele, ‘mas meu grande buldogue aqui corre muito bem e vem sendo treinado há vários anos para ajudar-me em meu ofício; ele consegue apanhar qualquer homem a um comando meu.’ ‘Bem, Sr. Peabody, o senhor compeliu-me a caminhar uma milha, e eu andei duas em sua companhia. Deu-me a oportunidade de pregar, cantar e também me ofereceu um lugar para dormir e o desjejum. Agora, devo prosseguir minha jornada. Se for bom de corrida, pode me acompanhar. Agradeço sua hospitalidade. Tenha um bom dia.’

Desatei então a correr, enquanto ele ficou ali, pasmo, sem conseguir dar um passo. (…) O policial só conseguiu recobrar-se do espanto para começar a perseguir-me depois de eu já ter-me distanciado uns duzentos metros (…) Saiu então em meu encalço, atiçando o cachorro aos berros para que me apanhasse. O cão, um dos maiores que eu já tinha visto, perseguiu-me com toda a fúria. O policial corria atrás dele, batendo palmas e gritando: Stuboy, stu-boy, pegue-o! Olhe ali! agarre-o, vamos, derrube-o!’, apontando o dedo em minha direção. O cachorro estava quase me alcançando, prestes a derrubar-me, quando tive a súbita inspiração de ajudar o policial, mandando o cachorro correr com toda a sua fúria na direção da floresta que estava pouco adiante de mim. Apontei o dedo naquela direção, bati palmas e imitei os gritos do policial. O cachorro passou rapidamente por mim e redobrou a velocidade rumo à floresta, instigado por mim e pelo policial, que corríamos ambos nessa mesma direção.”

Tendo enganado o cachorro e o policial, o Élder Pratt foi encontrar-se com seus companheiros, tomando um atalho. Parley ficou sabendo mais tarde que Simeon Carter, com quem deixara um Livro de Mórmon, e outros sessenta moradores da região haviam-se filiado à Igreja e formado um ramo.14

Os missionários não haviam-se esquecido de seu chamado de pregar o evangelho aos nativos americanos. Em Sandusky, Ohio, passaram vários dias entre os índios wyandot. Parley escreveu: “Eles rejubilaram-se com as boas novas, desejaram-nos boa viagem e pediram-nos que lhes escrevêssemos contando do sucesso alcançado entre as tribos que viviam mais a oeste”.15

Era inverno quando os intrépidos missionários partiram de Sandusky rumo a Cincinnati. A viagem foi toda feita a pé. Os registros do centrooeste relatam ter havido fortes nevascas no inverno de 1830–1831. No final de dezembro de 1830, o tempo estava “extremamente frio, a nevasca dificultava a visão e os céus estavam encobertos por nuvens escuras e carregadas, paralizando toda a região das pradarias. Isso continuou ininterruptamente por vários dias. No início foi um assombro, mais tarde, um terror, vindo a tornar-se uma terrível ameaça à vida de homens e animais”.16Em Cincinnati, Ohio, cinco dias antes do Natal, os élderes subiram a bordo de um barco a vapor que seguiria para St. Louis. O rio Ohio, porém, estava bloqueado por grandes pedaços de gelo, forçando-os a desembarcar em Cairo, Illinois, e prosseguir a pé. A aproximadamente trinta quilômetros de St. Louis, “uma forte tempestade de neve e chuva” obrigou-os a esperar uma semana, e “a neve chegou a um metro de profundidade em alguns lugares”.

Vagarosamente, abriram caminho para oeste, caminhando com a neve pelo joelho por dias a fio, “sem abrigo nem fogo”. “O cortante vento noroeste soprava em nosso rosto com tamanha intensidade como se fosse arrancar-nos a pele”, escreveu Parley. O frio era tão intenso a ponto de impedir que a neve derretesse, mesmo ao meio-dia e no lado ensolarado das casas, por um período de quase seis semanas. Caminharam quase quinhentos quilômetros carregando nas costas suas mochilas contendo roupas, livros e alimentos. Tinham apenas pão de milho congelado e carne crua de porco para comer. Parley disse que o pão estava “tão congelado que não conseguíamos mordê-lo nem sequer raspar além da camada mais superficial da casca”. Durante um mês e meio, enfrentaram o cansaço e tribulações, enquanto viajavam de Kirtland a Independence. Em 13 de janeiro de 1831, os missionários chegaram a Independence, Missouri, que na época era o oeste dos Estados Unidos.17

ENSINANDO O EVANGELHO

Tendo quase chegado a seu destino, os missionários hospedaram-se na casa do coronel Robert Patterson, na fronteira oeste de Missouri, enquanto esperavam o tempo melhorar. No início de fevereiro, Peter Whitmer e Ziba Peterson abriram uma alfaiataria em Independence a fim de juntarem o dinheiro necessário, enquanto Oliver Cowdery, Parley P. Pratt e Frederick G. Williams entravam nas terras indígenas para pregar o evangelho e apresentar o Livro de Mórmon.18

Encontraram um homem interessado: William Anderson, o idoso chefe dos delawares, cujo pai era escandinavo e a mãe, índia. O chefe nunca demonstrara interesse em ouvir outros cristãos, mas foi persuadido a ouvir a mensagem dos missionários. Oliver Cowdery foi convidado a falar a aproximadamente quarenta líderes tribais confortavelmente acomodados na cabana do chefe. Em pouco tempo, Oliver conquistou-lhes a confiança ao relatar a longa e difícil viagem que haviam empreendido desde o leste a fim de levar-lhes a mensagem do Livro de Mórmon. Ele reconheceu a triste situação dos índios: antigamente eram muitos, mas tornaram-se poucos; suas terras haviam sido muito extensas, mas tinham-se tornado limitadas. Com muito tato, introduziu a história do Livro de Mórmon em sua narrativa: “Há milhares de luas, quando os antepassados dos pelesvermelhas viviam em paz e eram donos de toda esta terra, o Grande Espírito falou com eles, revelando-lhes Sua lei e Sua vontade, concedendo muito conhecimento a Seus sábios e profetas”. Oliver disse-lhes que essa história, que contava a respeito deles, e as profecias das “coisas que aconteceriam a seus filhos nos últimos dias” estavam escritas num livro. Explicou que ele e seus companheiros tinham viajado até lá para levar-lhes exemplares do livro, que continha a chave de seu sucesso futuro. O chefe Anderson expressou sua gratidão pela bondade dos homens brancos:

“‘Isso faz-nos felizes aqui’, disse ele, pondo a mão no coração.

‘Estamos no inverno, somos novos neste lugar; a neve está profunda, nosso gado e nossos cavalos estão morrendo, há pouca caça; temos muito o que fazer na primavera — construir casas, cercas e fazendas; mas construiremos uma casa de conselho e nos reuniremos ali, e vocês lerão para nós e nos ensinarão mais a respeito do Livro de nossos pais e da vontade do Grande Espírito.’”

Os élderes “continuaram por vários dias a instruir o velho chefe e muitos de sua tribo”. O desejo de seus anfitriões de conhecer mais a respeito do Livro de Mórmon aumentava dia a dia, e os élderes, encontrando muitos que sabiam ler, distribuíram exemplares do Livro de Mórmon a essas pessoas, que passaram a ajudar na divulgação da mensagem.19

Aquela região estava sob jurisdição de agentes do governo para os índios e infelizmente os missionários não tinham obtido a permissão exigida para entrar em terras indígenas a fim de ensinar o evangelho. Os agentes locais imediatamente lhes informaram que estavam violando a lei e ordenaram que interrompessem seu trabalho, até receberem permissão do general William Clark, superintendente de assuntos indígenas, em St. Louis.20Parley P. Pratt relatou, porém, que quando a notícia do sucesso obtido pelos missionários entre os índios alcançou as comunidades da fronteira do Missouri “causou inveja e ciúmes entre os agentes governamentais e os missionários de outras igrejas, a ponto de ordenarem que fôssemos expulsos das terras indígenas como desordeiros; chegando até mesmo a ameaçar chamarem o exército, caso não cumpríssemos sua determinação”.21

Em uma carta datada de 14 de fevereiro de 1831, Oliver Cowdery escreveu ao general Clark explicando que representava uma sociedade religiosa sediada no Estado de Nova York e desejava estabelecer “escolas para ensinar a religião cristã para as crianças [índias] e [seus pais]”. A carta explicava também que isso seria feito “sem interferir no trabalho de qualquer outra missão já estabelecida na região”.22Não se sabe se Clark chegou a responder a essa solicitação ou se concedeu permissão. Os missionários estabeleceram-se em Independence e pregaram o evangelho aos moradores locais que se interessaram por sua mensagem.

Enquanto isso, Parley P. Pratt foi escolhido para voltar ao leste a fim de prestar contas da missão e adquirir mais exemplares do Livro de Mórmon. Depois de sua partida, o interesse dos outros missionários pelos índios aumentou, ao saberem da existência de navajos, uma tribo grande e trabalhadora que morava a cerca de quinhentos quilômetros a oeste de Santa Fé.23Os missionários foram obrigados a abandonar toda tentativa de levar o evangelho a quaisquer das outras tribos indígenas.

RELATÓRIO DA JORNADA MISSIONÁRIA

Apesar de a “missão lamanita” não ter sido muito bem-sucedida entre os nativos americanos, teve um significado importante na subseqüente história da Igreja. Não apenas apresentou o evangelho pela primeira vez a esses remanecentes da casa de Israel, mas também fez com que fosse reconhecida a importância desse povo aos olhos do Senhor.

Em termos de número de conversos e resultados imediatos, a missão teve mais sucesso entre os colonos brancos da Reserva Ocidental. Muitas pessoas que desempenhariam um importante papel no crescimento da Igreja foram levadas ao conhecimento do evangelho na região de Ohio. Em poucos meses, havia mais membros em Ohio do que em Nova York, portanto, quando a situação em Nova York forçou os santos a mudarem-se, Ohio foi designado pelo Senhor como local de reunião e sede da Igreja.

Por outro lado, a missão demonstrou o poder motivador do Livro de Mórmon como instrumento de conversão e teste da dedicação resultante da conversão. Esse livro de escrituras mudou o rumo de muitas vidas.

A missão lamanita também abriu caminho para futuras revelações sobre a terra de Sião, apesar de isso não ter sido reconhecido na época. O local exato da sede de Sião ainda não havia sido revelado, apesar de que o Senhor já havia indicado aos santos que Sião seria estabelecida “nas fronteiras, próximo aos lamanitas” (D&C 28:9). Cinco valentes membros da Igreja passaram a ter bastante experiência na região e puderam testemunhar que se tratava de uma terra boa.

NOTAS

  1. Carta datada de 17 out. 1830, no Ohio Star, 8 dez. 1831, p. 1.

  2. Parley P. Pratt, org., Autobiography of Parley P. Pratt, (Autobiografia de Parley P. Pratt), “Classics in Mormon Literature” (Salt Lake City: Deseret Book Co., 1985), p. 35.

  3. History of the Church, 1:124; “History of Joseph Smith,” Times and Seasons, 15 de ago. 1843, pp. 289–290.

  4. Pratt, Autobiography of Parley P. Pratt, pp. 35–36.

  5. John Murdock, “An Abridged Record of the Life of John Murdock Taken from His Journals by Himself” (Resumo da Vida de John Murdock Extraído de Seus Diários Pessoais), Departamento Histórico da Igreja, Salt Lake City, p. 16.

  6. Philo Dibble, “Philo Dibble’s Narrative” (Narrativa de Philo Dibble), Early Scenes in Church History (Primeiros Episódios da História da Igreja) (Salt Lake City; Juvenile Instructor Office, 1882), pp. 75–76.

  7. Relato de Lydia Partridge, citado no registro genealógico de Edward Partridge, 1878, Departamento Histórico da Igreja, Salt Lake City, p. 5.

  8. Dibble, “Philo Dibble’s Narrative,” p. 77.

  9. Ver Lucy Mack Smith, History of Joseph Smith, (História de Joseph Smith), org. Preston Nibley (Salt Lake City: Bookcraft, 1958), pp. 191–192.

  10. History of the Church, 1:128.

  11. History of the Church, pontuação padronizada.

  12. History of the Church, 1:131–33.

  13. Pratt, Autobiography of Parley P. Pratt, p. 36.

  14. Pratt, Autobiography of Parley P. Pratt, pp. 36, 38–39.

  15. Pratt, Autobiography of Parley P. Pratt, p. 39.

  16. Eleanor Atkinson, “The Winter of the Deep Snow,” (Relatórios da Sociedade Histórica do Estado de Illinois – Ano de 1909), p. 49.

  17. Pratt, Autobiography of Parley P. Pratt, p. 40.

  18. Ver Warren A. Jenning, “Zion Is Fled: The Expulsion of the Mormons from Jackson County, Missouri” (Sião Fugiu: A Expulsão dos Mórmons do Condado de Jackson, Missouri), Tese de Doutorado, University of Florida, 1962, pp. 6–7; entrevista de A. W. Doniphan, em Kansas City Journal, 24 jun. 1881, citado em Saint’s Herald, 1º ago. 1881.

  19. Pratt, Autobiography of Parley P. Pratt, pp. 42–44.

  20. Ver carta do Major Richard Cummins ao General William Clark, 13 fev. 1831, William Clark Letter Book ((Topeka, Kans.: Sociedade Histórica do Estado de Kansas, s/d) rol 2, vol. 6, pp. 113–114.

  21. Pratt, Autobiography of Parley P. Pratt, p. 44.

  22. Carta de Oliver Cowdery ao General William Clark, 14 fev. 1831, William Clark Letter Book, p. 103.

  23. Ver Oliver Cowdery, em History of the Church, 1:182.

Cronologia

Data

 

Evento Significativo

Set.–out. 1830

São chamados missionários para pregar aos lamanitas

Nov. 1830

Missionários visitam a Reserva Ocidental (Ohio) e batizam 127 pessoas

Dez. 1830

Sidney Rigdon e Edward Partridge viajam a Nova York para conhecer o Profeta

Dez. 1830

Joseph recebe por revelação parte do antigo livro de Enoque

Jan. 1831

Missionários chegam à parte oeste de Missouri e começam a pregar aos índios em território selvagem

Fev. 1831

Parley P. Pratt retorna ao leste para prestar contas de sua missão

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Indian territory

Indian territory at the time of the first Lamanite mission. Several of these “reservations” were created and occupied prior to President Andrew Jackson’s 1830 Indian Removal Act.

Arkansas

Arkansas River

Canadian River

Cherokee Nation

Cherokee Neutral Lands

Cherokee Outlet

Chickasaw Nation

Chocktaw Nation

Creek Nation

Iowa

Kansas

Kickapoo

Miami

Missouri

Missouri River

New York Indians

Omaha

Osage

Otoe and Missouri

Otoes

Ottawas

Pawnees

Peorias and Kaskaskia

Potawatomi

Quapaw

Red River

Sauk and Fox, of Minnesota

Sauk and Fox, of Mississippi

Seminole Nation

Seneca

Shawnee

Texas

Unorganized Territory

Wea and Piankasha

Western Boundary of the United States

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newspaper clipping

Shortly after their call, the missionaries to the Lamanites signed a covenant of cooperation before leaving New York. The original has not been found, but scholars believe that this transcription printed in the Ravenna, Ohio Star, on 8 December 1831 is an accurate representation of the agreement.

Courtesy of the Brigham Young University Library

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early missionaries traveling

Missionaries to the Lamanites trudging through the snow

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map of Ohio land tracts

Some colonial charters allowed the colonies to claim extensive tracts of western land. As pointed out in the text, Ohio’s “Western Reserve” derived its name from the fact that it was part of Connecticut’s claim in the West. It consisted of eight northeastern Ohio counties.

Ashtabula

Cuyahoga

Geauga

Lake Erie

Lorain

McRon

Medina

Ohio

Ohio Erie Canal

Ohio River

Pennsylvania

Portage

Trumbull

Virginia

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John Murdock

John Murdock (1792–1871) was a missionary, bishop, pioneer of 1847, member of Salt Lake high council, and patriarch.

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Frederick G. Williams

Frederick G. Williams (1787–1842) was the Prophet Joseph Smith’s family physician, counselor, and friend. He was always very liberal in his contributions to the Church. After his death, his wife, son, and daughter-in-law emigrated to Utah with the Saints.

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map of missionary journey

The missionaries traveled approximately fifteen hundred miles during the fall and winter of 1830–31 to bring the gospel to the Lamanites who had been relocated west of Missouri. The trip was made on foot, except for a steamboat ride between Cincinnati, Ohio, and Cairo, Illinois.

Indian Territory

Missouri

Illinois

Indiana

Kentucky

Ohio

Pennsylvania

New York

Mississippi River

Arrived at Independence on 13 January

Independence

Began work among Indians in 1831

St. Louis

Week-long storm–snow three feet deep in some places

Cairo

Preached to Wyandot Indians

Ohio River

Ice forced them to go overland at mouth of Ohio River

Sandusky

Caught river steamboat about 20 December 1830

Cincinnati

Stu-boy incident

Amherst

Conversion of Sidney Rigdon and many others

Kirtland

Painesville

Fairport

Preached to Catteraugus Indians

Buffalo

Fayette

Journey began late October 1830

First notice of preaching the gospel in Ohio was 16 November 1830

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William Clark

William Clark (1770–1838). After returning from his epic exploration of the Louisiana Purchase with Meriweather Lewis, William Clark was made Indian agent for the tribes of the Louisiana Territory by President Thomas Jefferson. Clark spent most of the rest of his life as a government Indian official. He became Superintendent of Indian Affairs in 1822 and was in this position when Oliver Cowdery wrote to him.

Courtesy of the Library of Congress

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handwritten letter

Oliver Cowdery’s 14 February 1831 letter to William Clark proposing to establish schools for Indian children

Courtesy of Kansas City Historical Society