História da Igreja
Capítulo 17: Preservados um para o outro


“Preservados um para o outro”, capítulo 17 de Santos: A História da Igreja de Jesus Cristo nos Últimos Dias, Volume 3, Com Coragem, Nobreza e Independência, 1893–1955, 2021

Capítulo 17: “Preservados um para o outro”

Capítulo 17

Preservados um para o outro

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centro de Salt Lake City e automóveis da década de 1920 na neve

Enquanto a Igreja continuava a se difundir pelo mundo, o presidente Heber J. Grant se debatia com relação ao futuro da educação na Igreja. O custo de operação das escolas da Igreja aumentara dez vezes nos 25 anos anteriores. Algumas iniciativas haviam gerado economias, como a substituição do caro sistema de escolas de estaca pelo programa do seminário. No entanto, a Universidade Brigham Young, a Universidade dos Santos dos Últimos Dias e outras faculdades da Igreja estavam crescendo. Se essas instituições quisessem oferecer a mesma qualidade de educação que a Universidade de Utah e outras faculdades locais mantidas pelo estado, precisariam de mais recursos do que os fundos de dízimo poderiam proporcionar.1

As despesas eram uma fonte de inquietação contínua para o profeta. “Desde que me tornei presidente, nada tem me preocupado mais do que isso”, disse ele à Junta Geral de Educação da Igreja em fevereiro de 1926. Só a Universidade Brigham Young pretendia gastar mais de um milhão de dólares com a expansão do campus. “Está além de nossas possibilidades”, declarou o presidente Grant. “É isso.”2

Alguns membros da junta partilhavam a preocupação do profeta e defendiam o fechamento de todas as faculdades e universidades da Igreja, inclusive a BYU. Mas os apóstolos David O. McKay e John Widtsoe, que tinham estudado em escolas da Igreja e servido como comissários de educação da Igreja, contestaram esse posicionamento, afirmando que os jovens adultos precisavam das escolas da Igreja devido à importante educação religiosa que elas ofereciam.

“Essas instituições foram estabelecidas por causa da influência que teriam sobre nossos filhos”, afirmou o élder McKay em uma reunião de junta em março. Ele acreditava que as faculdades e universidades da Igreja eram cruciais para transformar os jovens em santos dos últimos dias fiéis.

O élder Widtsoe concordou. “Reconheço o valor das faculdades da Igreja na formação de um homem”, disse ele. “Acho que a Igreja cometeria um grave erro se não mantivesse um estabelecimento de ensino superior.”3

Por volta dessa época, o conselheiro do presidente Grant, Charles W. Nibley, encontrou-se com William Geddes, um membro da Igreja de Idaho, ao norte de Utah. Norma e Zola, filhas de William, estavam entre os santos dos últimos dias que frequentavam a Universidade de Idaho. O pequeno ramo delas se reunia em um velho salão alugado, onde os moradores da cidade às vezes realizavam bailes nas noites de sábado. Quando Norma e Zola chegavam à Igreja na manhã de domingo, o lugar cheirava a cigarro e havia lixo e garrafas de bebidas alcoólicas vazias espalhadas pelo chão.4

William desejava que houvesse uma capela melhor para suas filhas perto da faculdade. “A universidade nunca conseguirá atrair estudantes santos dos últimos dias”, disse ele ao presidente Nibley, “a menos que haja instalações melhores”.5

O presidente Grant e a junta de educação examinaram a situação em Idaho ao discutirem o futuro da educação na Igreja. Decidiram continuar a custear a Universidade Brigham Young, mas retirando gradualmente o financiamento da maioria das demais faculdades da Igreja. A Igreja também começaria a ministrar educação religiosa aos estudantes, ampliando o seminário para o nível universitário. A junta testaria o novo programa na Universidade de Idaho. Bastava encontrar alguém que pudesse se mudar para Moscow, a pequena cidade onde ela se situava.6

Em outubro, a Primeira Presidência se reuniu com Wyley Sessions, um ex-agente agrícola da Universidade de Idaho que havia acabado de voltar de seu serviço como presidente da Missão Sul-Africana. Eles o haviam indicado para um cargo em uma empresa açucareira local, mas, enquanto a Primeira Presidência conversava com ele sobre a oportunidade, o presidente Nibley fez uma pausa e se voltou para o profeta.

“Estamos cometendo um erro”, disse ele.

“Receio que sim”, concordou o presidente Grant. “Não me sinto bem com a ideia de contratar o irmão Sessions para a empresa açucareira.”

A sala ficou em silêncio por um minuto. Em seguida, o presidente Nibley anunciou: “Irmão Sessions, você é o homem que devemos enviar à Universidade de Idaho para cuidar de nossos rapazes e nossas moças que estão estudando lá e para avaliar a situação e nos indicar o que a Igreja deve fazer pelos alunos santos dos últimos dias matriculados em universidades estaduais”.

“Ah não, irmãos”, respondeu Wyley. “Estão me chamando para outra missão?” Sua designação na África do Sul durara sete anos, e ele e sua esposa, Magdalen, haviam ficado quase sem nenhum tostão.

“Não, irmão Sessions, não vamos chamá-lo para outra missão”, riu o profeta. “Estamos lhe dando uma excelente oportunidade para prestar um esplêndido serviço à Igreja.” Acrescentou então que seria uma oportunidade profissional — um cargo remunerado.

Wyley se pôs de pé com ar de tristeza. O presidente Nibley foi até ele e lhe segurou o braço.

“Não fique decepcionado”, disse ele. “É isto que o Senhor deseja de você.”7


A neve cobria Salt Lake City no Ano-Novo de 1927, mas um belo sol entrava pelas janelas da casa da família Widtsoe, diminuindo a sensação de frio.8 Eudora, de 14 anos, era a única filha que ainda morava com os pais, mas a família estava toda reunida para as festas de fim de ano, e Leah estava radiante por ter os filhos por perto.

Marsel, com 24 anos, estava noivo e a poucos meses de se formar na Universidade de Utah. Ele esperava poder ir em breve para a Universidade de Harvard, como seu pai, e talvez estudar administração de empresas.9 Sua irmã mais velha, Ann, por sua vez, havia se casado recentemente com Lewis Wallace, um jovem advogado santo dos últimos dias, e se mudara com ele para Washington, D.C. No entanto, uma profunda saudade de casa a trouxera de volta a Utah, e Leah estava preocupada com ela. Ainda assim, tanto Leah quanto John eram gratos pela bondade e misericórdia do Senhor para com sua família.10

À medida que o novo ano avançava, John voltou a se ocupar de seus deveres nos Doze, e Leah passava seu tempo livre ajudando sua mãe com um novo projeto literário.11 Durante anos, Leah havia visto Susa reunir informações e anotar histórias sobre seu pai, Brigham Young, com o objetivo de um dia publicar sua biografia. Porém, algum tempo antes, Leah havia notado que, embora sua mãe estivesse avançando em outros manuscritos, como sua história das mulheres santos dos últimos dias, deixara de lado a biografia.

“Mãe, e o livro sobre seu pai?”, perguntou Leah um dia. “Parou de escrevê-lo?”

“Está além das minhas forças”, respondeu Susa. “Quando se está ao lado de uma montanha, é impossível descrevê-la a contento, pois a proximidade atrapalha a visão.”

“Ainda assim, é algo que a senhora tem que fazer”, insistiu Leah. “Um dia a senhora deve escrever esse livro sobre seu pai, e terei prazer em ajudá-la.”12

Desde essa época, Susa havia escrito dois enormes manuscritos sobre Brigham Young e pedido a Leah que a ajudasse a transformá-los em uma biografia única e coesa. Leah achou trabalhoso e às vezes enfadonho, mas sabia que a mãe precisava de seu auxílio. Susa era uma escritora nata, com uma mente privilegiada e opiniões fortes. Leah, por sua vez, ajudava a estruturar o texto da mãe e conferia um toque de elegância. Juntas na casa de Susa, elas faziam um ótimo trabalho em equipe.13

Na manhã de 23 de maio de 1927, a rotina de Leah foi interrompida repentinamente quando chegou uma carta de Preston, Idaho, onde Marsel estava lecionando no seminário. Pouco tempo antes, depois de ajudar um motorista em apuros na beira da estrada, Marsel contraíra um forte resfriado. Embora seus amigos apostassem em sua melhora, a febre continuava muito alta. A pneumonia poderia se instalar em seus pulmões e pôr em risco sua vida.14

Na mesma hora, Leah pegou um trem para Preston e logo estava ao lado de Marsel. No dia seguinte, a febre baixou alguns graus, deixando Leah esperançosa de que ele ia se recuperar. Porém, sem outros sinais de melhora, os medos de Leah retornaram. John se juntou a ela em Preston, suplicando ao Senhor que poupasse a vida de Marsel. Chamou um de seus amigos, que era médico, para cuidar do jovem. Outros amigos deram bênçãos do sacerdócio a Marsel e permaneceram ao lado dele à noite.

Exausta, Leah teve um colapso nervoso em 27 de maio. Naquela noite, porém, Marsel mostrou sinais de recuperação. Sua noiva, Marion Hill, chegou na manhã seguinte. Os pulmões de Marsel pareciam estar limpos, e a febre tornou a baixar. Porém, mais tarde naquele dia, sua respiração ficou pesada e seu corpo, inchado. Leah não saiu de sua cabeceira, assim como John e Marion, durante toda a tarde. As horas se passaram, mas ele não reagiu. Morreu naquela mesma noite.15

Leah ficou inconsolável. A morte já levara quatro de seus filhos. Agora, seu único filho vivo, cujo futuro parecia tão brilhante e certo no início do novo ano, tinha partido.16


Na mesma época daquele ano, cerca de 2.500 quilômetros a leste de Salt Lake City, Paul Bang, de 8 anos, estava se preparando para o batismo. Ele era o sexto de dez filhos — quatro meninas e seis meninos. Eles viviam em uma sala em forma de L, atrás da mercearia de seus pais em Cincinnati, Ohio, uma movimentada cidade de mais de 400 mil habitantes, no meio-oeste dos Estados Unidos. Para manter certa privacidade, a família tinha dividido o cômodo em quartos com a utilização de cortinas. Mas ninguém tinha privacidade de verdade. À noite, dormiam em camas dobráveis que ocupavam tanto espaço que era difícil transitar.17

Christian Bang Sr., o pai de Paul, era da Alemanha. Quando era pequeno, sua família se mudara para Cincinnati, onde muitos imigrantes alemães haviam se estabelecido durante o século 19. Em 1908, Christian se casou com Rosa Kiefer, também filha de imigrantes alemães. Três anos depois, Elise Harbrecht, uma amiga de Rosa, deu-lhe um Livro de Mórmon, e ela e Christian o leram com interesse. Após um ano de reuniões com os missionários, eles foram batizados em uma casa de banhos judaica, pois o rio Ohio, que ficava nas proximidades, estava congelado.18

O ramo de Cincinnati era semelhante a muitos ramos da Igreja no leste dos Estados Unidos. A cidade já contara com uma próspera congregação de santos, mas havia encolhido ao longo dos anos à medida que cada vez mais membros da Igreja se mudavam para Utah. Na época em que os pais de Paul se filiaram à Igreja, os santos dos últimos dias eram uma raridade na área. Quando os missionários batizaram um menino em 1912, centenas de pessoas foram ao rio para espiar. Um jornal publicou um artigo sobre o batismo no dia seguinte, avisando aos leitores que os missionários estavam na área.

“Não medirão esforços para atrair abertamente muitos conversos”, dizia a matéria.19

Depois de entrar para a Igreja, os pais de Paul assistiam às reuniões com os missionários e alguns outros santos em um pequeno salão alugado. Pouco depois, um membro da Igreja se mudou para Utah, outro morreu e dois pararam de frequentar. Christian e Rosa também cogitaram ir para Utah, mas decidiram ficar em Ohio, já que sua família e seus negócios estavam lá.20

Assim como outros ramos distantes de Salt Lake City, o Ramo Cincinnati se beneficiava com a chegada de membros da Igreja mais experientes. Logo depois que a família Bang se uniu à Igreja, um casal de Utah, Charles e Christine Anderson, mudou-se para Cincinnati e começou a ir à igreja com eles.

A família Anderson recebera a investidura e o selamento no templo, além de ter passado muitos anos servindo em alas e estacas no Oeste americano. Eles estavam entre os muitos santos que haviam deixado Utah em busca de oportunidades em outros lugares. Nascido na Suécia, Charles tinha inventado um novo tipo de esfregão e viera para o leste a fim de fabricá-lo. Não sabia nada sobre Cincinnati, exceto que era uma grande cidade e um próspero centro de negócios. No entanto, o presidente da Missão dos Estados do Sul o chamou imediatamente para reorganizar e presidir o ramo. O pai de Paul foi chamado como primeiro conselheiro.21

Não era uma época fácil para ser santo dos últimos dias em Cincinnati. A imprensa e os manifestantes vinham se opondo à Igreja na região havia anos. Certa vez, quando Frank Cannon, o filho apóstata de George Q. Cannon, realizara um comício na cidade, o jornal local havia até chamado Cincinnati de “campo de batalha na guerra contra a propagação do mormonismo na América”.22

Mesmo assim, apesar da oposição, os pais de Paul se empenharam ao máximo para criar os filhos no evangelho. Participavam das reuniões semanais na igreja e serviam fielmente no pequeno ramo. A cada manhã, seu pai reunia a todos para a oração familiar e para recitar o Pai Nosso, uma prática comum entre os cristãos alemães. Às segundas-feiras, a mãe dele geralmente convidava os missionários para jantar. A família e os missionários se sentavam ao redor de uma grande mesa na cozinha anexa aos fundos da loja. Como a mãe de Paul nunca jogava fora algo que ainda tivesse serventia, cozinhava a comida velha da mercearia, tendo o cuidado de aparar as partes podres das frutas, dos vegetais e das carnes antes de servi-los. Seu pai então insistia que os missionários comessem até explodir.23

A família Bang também fazia questão de batizar cada filho assim que completasse 8 anos de idade.24 Em 5 de junho de 1927, Paul e outras quatro pessoas foram batizados em um lugar chamado Anderson’s Ferry, no rio Ohio. Além dos pais, estavam presentes para comemorar a ocasião o presidente Anderson e alguns de seus amigos.

Não havia uma multidão para testemunhar o evento nem saíram artigos no jornal. Porém, o batismo foi noticiado na Liahona, the Elders’ Journal, a revista oficial das missões norte-americanas da Igreja. O nome de Paul até apareceu na publicação.25


Wyley e Magdalen Sessions não foram bem recebidos quando chegaram à Universidade de Idaho. Moscow ficava no norte do estado, área com baixa concentração de membros da Igreja. Muitas pessoas tinham vindo à região para cultivar o solo fértil ou para tentar a sorte na mineração e na atividade madeireira. Os moradores da região tinham um pé atrás com a Igreja, e a presença de Wyley os tirou do sério.

“Quem é este sujeito, este tal de Sessions?”, perguntavam algumas pessoas. “O que veio fazer aqui? O que é que ele quer?”26

Se alguém fizesse essas duas últimas perguntas diretamente a Wyley, nem ele saberia responder ao certo. A Primeira Presidência o havia orientado a dar assistência aos alunos santos dos últimos dias na universidade, mas o modo de atuação ficava inteiramente a seu critério. Ele sabia que os alunos precisavam de instrução religiosa frequente e de um novo lugar para se reunirem. No entanto, além de seu trabalho como presidente de missão, Wyley não tinha experiência com educação religiosa. Ele se formara em agronomia. Se os estudantes quisessem aprender sobre fertilizantes, ele poderia ensiná-los. Mas ele não era um estudioso da Bíblia.27

Logo após chegar a Moscow, Wyley e Magdalen se matricularam em programas de pós-graduação na universidade para aprofundar seus estudos e conhecer melhor a instituição e o corpo docente. Wyley estudou filosofia e educação, cursou algumas disciplinas de religião e da Bíblia e começou a redigir uma tese sobre religião em universidades estaduais norte-americanas. Magdalen, por sua vez, optou por aulas de serviço social e inglês.

Wyley e Magdalen encontraram um aliado em C. W. Chenoweth, chefe do departamento de filosofia, que estava preocupado com a ausência de educação religiosa nas universidades estaduais. Ele havia sido capelão na Primeira Guerra Mundial e agora atuava como pastor em uma igreja perto de Moscow. “Se vocês vieram a este campus para implementar um programa religioso”, disse ele a Wyley e Magdalen, “é melhor estarem preparados para enfrentar a competição da universidade”.

Com o incentivo do dr. Chenoweth, o casal Sessions elaborou planos para estabelecer um programa semelhante ao seminário para estudantes santos dos últimos dias em universidades públicas. Eles se inspiraram em programas de educação religiosa de outras universidades, tendo o cuidado de respeitar a separação entre a igreja e o estado. As aulas de religião precisavam atender aos padrões do estado para cursos de nível superior, mas o programa também tinha que ser completamente independente da própria universidade. Quando a Igreja construiu um edifício para as aulas, teve que ser fora do campus.28

Sabendo que a universidade não apoiaria o novo programa enquanto ele e a Igreja não conquistassem a confiança das personalidades locais, Wyley entrou para a câmara de comércio e para um grupo cívico a fim de ter contato com membros importantes da comunidade. Ele descobriu que líderes empresariais, ministros e professores locais haviam formado um comitê para mantê-lo sob observação e se certificar de que não estivesse tentando impor a influência da Igreja sobre a universidade. Fred Fulton, um corretor de seguros, era o líder do comitê. Sempre que Wyley participava de eventos da câmara de comércio, sentava-se ao lado de Fred e tentava fazer amizade com ele.

Em uma reunião, Fred disse a Wyley: “Seu descarado, você é muito ousado”. Ele então confessou seu papel no comitê. “Toda vez que nos vemos”, disse ele, “sua simpatia é tão grande que gosto cada vez mais de você”.29

A cidade logo se mostrou mais aberta para a família Sessions. Com a ajuda de Wyley, a Igreja encontrou e comprou um terreno perto do campus para estabelecer o centro estudantil dos santos. Depois, Wyley e um arquiteto da Igreja procuraram a universidade e a câmara de comércio para definir o projeto do edifício e coordenar a aprovação e supervisão da construção. No segundo semestre de 1927, Wyley começou a dar aulas de religião, e a universidade concordou em conceder créditos universitários aos participantes. Enquanto isso, Magdalen organizou uma série de atividades sociais para os estudantes santos dos últimos dias, como Norma e Zola Geddes.30

Um dia, enquanto Wyley caminhava com Jay Eldridge, decano de ensino, eles passaram em frente ao terreno do novo centro estudantil da Igreja. “Você foi muito esperto ao comprar esse lote”, comentou o dr. Eldridge com Wyley. Em seguida, perguntou como a Igreja pretendia denominar o novo programa. “Vocês não podem chamar de seminário”, afirmou ele. “Até porque já usaram esse nome em seus seminários do Ensino Médio.”

“Não sei”, respondeu Wyley. “Não pensei muito sobre isso.”

O dr. Eldridge parou. “Vou lhe dizer o nome”, anunciou. “O que você está vendo é o Instituto de Religião Santo dos Últimos Dias.”

Wyley gostou da sugestão, assim como a Junta Geral de Educação da Igreja.31


Em setembro de 1927, Leah Widtsoe se sentia espiritual, mental e fisicamente exausta. A morte repentina de seu filho Marsel a mergulhara em uma forte depressão. “Nem sei se a vida realmente vale a pena”, disse ela a John certo dia. “Se não fosse por seu amor, certamente não valeria.”32

Marsel havia sido enterrado em 31 de maio, no Cemitério de Salt Lake. No dia seguinte, Leah e John completaram 29 anos de casados, mas passaram o dia tentando fazer uma faxina após o funeral. Amigos e familiares os visitaram com frequência nas semanas e nos meses seguintes, mas, mesmo com seu apoio e amor, o processo de cura era lento.33 Eles conseguiram se alegrar com a notícia da gravidez de sua filha Ann. No entanto, Ann também estava infeliz em seu casamento, de modo que decidiu ficar em Utah com os pais em vez de voltar para junto do marido em Washington, D.C.

A depressão de Leah transformava a maioria dos dias em uma luta. As designações de John na Igreja exigiam viagens constantes, mas, quando estava em casa, ele ficava sempre ao lado dela, o que trazia certo alívio. “Oro para que sejamos preservados um para o outro”, disse-lhe ela naquele verão. “Com você, posso travar qualquer batalha!”34

O bebê de Ann, chamado John Widtsoe Wallace, nasceu em 8 de agosto de 1927, tornando Leah e John avós.35 Um mês depois, Harold Shepstone, um jornalista inglês, conheceu a mãe de Leah durante uma visita a Salt Lake City. Susa lhe contou tudo sobre a biografia de Brigham Young que ela e Leah estavam escrevendo, e ele pediu para dar uma olhada. Susa lhe confiou uma cópia do manuscrito, e ele concordou em ajudá-la a encontrar uma editora.

“Será uma leitura interessantíssima”, disse ele, “mas com certeza ainda vai ser preciso resumir bastante”.36

Nem todas aquelas boas notícias foram suficientes para levantar o ânimo de Leah. Susa a convidou para uma viagem à Califórnia, talvez esperando que uns dias no litoral melhorassem seu estado de espírito.37 Mas, pouco após a compra das passagens, o presidente Grant chamou John para ser o novo presidente da Missão Europeia. John ficou atordoado pelo restante do dia e mal dormiu naquela noite. A Missão Europeia era uma das maiores e mais antigas da Igreja, e o presidente tinha a responsabilidade de supervisionar nove outros presidentes de missão, que estavam alocados em países espalhados por milhares de quilômetros — da Noruega à África do Sul. Normalmente, chamava-se para presidi-la um apóstolo com mais experiência.38

Leah recebeu bem o novo chamado mesmo que a afastasse de casa e de seus entes queridos em Utah. O último ano havia sido um pesadelo, e ela precisava de mudanças na vida. Por toda parte, ela encontrava coisas que a faziam se lembrar de Marsel, e a partida para a Europa lhe permitiria processar melhor o luto. John até acreditava que o presidente Grant tinha sido inspirado a chamá-los para a missão a fim de ajudá-los a lidar com a perda do filho.39

A preparação se estendeu pelos dois meses seguintes.40 Enquanto Leah fazia as malas, pensou em Harold Shepstone e na biografia de Brigham Young. Determinada a cobrar dele a promessa de ajudá-la a encontrar uma editora, empacotou o manuscrito.41

Em 21 de novembro, Leah e John foram designados por imposição de mãos para a missão. Depois, voltaram para casa a fim de dar adeus à tia de John, Petroline, que estava com 74 anos. Leah e John haviam se oferecido a fim de levá-la para a Europa com eles, mas ela julgava não ter forças suficientes para isso. No entanto, estava feliz por John ter a oportunidade de voltar à Europa e ensinar o evangelho, assim como ela e a mãe dele haviam feito 20 anos antes.

Mais tarde naquele dia, uma multidão foi se despedir de Leah, John e sua filha, Eudora, na estação de trem. Susa lhes entregou uma carta para ser aberta apenas dentro do trem. “Seguirei vocês em sua jornada e no grande trabalho que ambos realizarão”, escreveu ela. “A tia e eu estaremos na plataforma de desembarque quando vocês voltarem para casa, serenas, sorridentes e exultantes pelo retorno de nossos filhos mais queridos.”

Ela também exortou Leah a se preparar para as muitas dificuldades que certamente enfrentaria na missão. “Às vezes, nosso Pai precisa ser implacável”, escreveu ela, “quando Seus filhos necessitam adquirir experiência por meio das tristezas, privações e lutas”.42

  1. Secretário da Junta Geral de Educação da Igreja para Joseph F. Smith, 30 de novembro de 1901, Centennial History Project Records, BYU; Junta de Educação da Igreja, Minutas, 3 de fevereiro de 1926; 3 e 10 de março de 1926.

  2. Junta de Educação da Igreja, Minutas, 3 de fevereiro de 1926.

  3. Junta de Educação da Igreja, Minutas, 3 de março de 1926. Tópico: Academias da Igreja.

  4. Greene, Entrevista; Greene, A Life Remembered, p. 33; Wright, “Beginnings of the First LDS Institute of Religion at Moscow, Idaho”, pp. 68–70.

  5. Greene, A Life Remembered, p. 33; By Study and Also by Faith, p. 64; Wright, “Beginnings of the First LDS Institute of Religion at Moscow, Idaho”, pp. 70–72.  

  6. Junta de Educação da Igreja, Minutas, 23 de março de 1926; 25 de junho de 1926; 1º de setembro de 1926; 12 de outubro de 1926; Grant, Diário, 24 de março de 1926; By Study and Also by Faith, pp. 64–65. Tópico: Seminários e Institutos.

  7. Grant, Diário, 13 de setembro de 1926; Heber J. Grant para Marriner W. Eccles e Henry H. Rolapp, 13 de setembro de 1926, Correspondência mista da Primeira Presidência, Biblioteca de História da Igreja; Sessions, Entrevista de história oral [1972], p. 4; Griffiths, “First Institute Teacher”, pp. 175–182; Tomlinson, “History of the Founding of the Institutes of Religion”, pp. 151–159.

  8. Widtsoe, Diário, 1º de janeiro de 1927.

  9. Widtsoe, Diário, 21 de novembro e 14 de dezembro de 1926; Widtsoe, In a Sunlit Land, p. 236; Thomas Hull para John A. Widtsoe e Leah D. Widtsoe, 15 de junho de 1927, Documentos da família Widtsoe, Biblioteca de História da Igreja.

  10. Widtsoe, Diário, 7 e 9 de outubro de 1926; 8 e 14 de dezembro de 1926; 1º de janeiro de 1927; “Anne Widtsoe and Lewis Wallace Married”, Ogden (UT) Standard-Examiner, 10 de outubro de 1926, seção 2, p. [1]; Leah D. Widtsoe para John A. Widtsoe, 20 de fevereiro de 1927, Documentos da família Widtsoe, Biblioteca de História da Igreja.

  11. Ver Widtsoe, Diário, janeiro e fevereiro de 1927; Leah D. Widtsoe para John A. Widtsoe, 20 de fevereiro de 1927, Documentos da família Widtsoe, Biblioteca de História da Igreja.

  12. Leah D. Widtsoe, “I Remember Brigham Young”, Improvement Era, junho de 1961, vol. 64, p. 385; Widtsoe, Entrevista de história oral, pp. 11–12; Susa Young Gates para Heber J. Grant e conselheiros, 5 de dezembro de 1922; Susa Young Gates para James Kirkham e Albert Hooper, 12 de novembro de 1929, Documentos de Susa Young Gates, Biblioteca de História da Igreja.  

  13. Widtsoe, Entrevista de história oral, pp. 11–12; Leah D. Widtsoe para John A. Widtsoe, 20 de fevereiro de 1927; Susa Young Gates para Leah D. Widtsoe, 28 de julho de 1928; Lucy G. Bowen para Leah D. Widtsoe e John A. Widtsoe, 25 de novembro de 1930, Documentos da família Widtsoe, Biblioteca de História da Igreja; “Mrs. Susa Young Gates”, Deseret News, 27 de maio de 1933, p. 4. Tópico: Brigham Young.

  14. J. E. Fisher para John A. Widtsoe e Leah D. Widtsoe, 22 de maio de 1927, Documentos da família Widtsoe, Biblioteca de História da Igreja; Widtsoe, Diário, 23 de maio de 1927; Susa Young Gates, rascunho do obituário de Marsel Widtsoe, Documentos da família Widtsoe, Biblioteca de História da Igreja; “Karl M. Widtsoe Dies of Pneumonia”, Deseret News, 30 de maio de 1927, seção 2, p. [1].

  15. Widtsoe, Diário, 23–28 de maio de 1927; Widtsoe, In a Sunlit Land, pp. 29, 236.

  16. Leah D. Widtsoe para a Primeira Presidência, 16 de setembro de 1933, Arquivos missionários da Primeira Presidência, Biblioteca de História da Igreja; Widtsoe, Entrevista de história oral, p. 33; Widtsoe, In a Sunlit Land, pp. 235–237.

  17. Fish, “My Life Story”, pp. [1]–[2]; Paul Bang, “My Life Story”, pp. 1, 7–8; U.S. Department of Commerce, Bureau of the Census, Fifteenth Census of the United States: 1930, vol. 1, p. 836.

  18. Christian Bang Sr., “My Story”, pp. [1]–[3]; Fish, “My Life Story”, p. [1]; Fish, Kramer e Wallis, History of the Mormon Church in Cincinnati, pp. 52–54.

  19. Fish, Kramer e Wallis, History of the Mormon Church in Cincinnati, pp. 21–42, 45–50; “Mormons Baptize Child in the Ohio”, Commercial Tribune (Cincinnati), 16 de setembro de 1912, p. 12.

  20. Christian Bang Sr., “My Story”, p. [3]; Alexander, Mormonism in Transition, pp. 105–106.

  21. Anderson, “My Journey through Life”, vol. 4, pp. 117–118; Christian Bang Sr., “My Story”, p. [5]; Anderson, Twenty-Three Years in Cincinnati, pp. 2–3, 13, 45; Johnson e Johnson, “Twentieth-Century Mormon Outmigration”, pp. 43–47; Plewe, Mapping Mormonism, pp. 144–147. Tópico: Emigração.

  22. “World-Wide Attack on Mormonism Now Planned”, Commercial Tribune (Cincinnati), 30 de junho de 1912, p. [16]; “Fight on Mormonism to Start in Cincinnati”, Commercial Tribune, 26 de janeiro de 1915, p. 3; “Cannon Makes Severe Attack on Mormonism”, Commercial Tribune, 3 de fevereiro de 1915, p. 10.

  23. Fish, “My Life Story”, pp. [3], [6]; Christian Bang Sr., “My Story”, p. [5]; Paul Bang, “My Life Story”, pp. 6, 8.

  24. Entradas da família Bang, Distrito Ohio Sul, Missão dos Estados do Norte, nº 27–33, 324, 334, em Ohio (Estado), parte 2, Coleção de registros de membros, Biblioteca de História da Igreja.

  25. “News from the Missions”, Liahona, the Elders’ Journal, 12 de julho de 1927, vol. 25, p. 42; Entrada sobre Paul Bang, Distrito Ohio Sul, Missão dos Estados do Norte, nº 334, em Ohio (Estado), parte 2, Coleção de registros de membros, Biblioteca de História da Igreja; Paul Bang, “My Life Story”, p. 7; Picturesque Cincinnati, p. 77. O nome dele foi publicado errado na Liahona: “Paul Bancy”.

  26. Sessions, Entrevista de história oral, [1972], pp. 4–5; Sessions e Sessions, Entrevista de história oral [1965], p. 12; Wright, “Beginnings of the First LDS Institute of Religion at Moscow, Idaho”, pp. 66–68; Tomlinson, “History of the Founding of the Institutes of Religion”, pp. 159–161.

  27. J. Wyley Sessions para Heber J. Grant, 13 de novembro de 1926, Correspondência mista da Primeira Presidência, Biblioteca de História da Igreja; Sessions e Sessions, Entrevista de história oral [1965], p. 10; Tomlinson, “History of the Founding of the Institutes of Religion”, pp. 154–155.

  28. Sessions e Sessions, Entrevista de história oral [1965], pp. 10–11; Tomlinson, “History of the Founding of Institutes of Religion”, pp. 161, 183–186.

  29. Sessions, Entrevista de história oral [1972], p. 5; Tomlinson, “History of the Founding of Institutes of Religion”, pp. 161–162; Griffiths, “First Institute Teacher”, p. 182.

  30. Sessions e Sessions, Entrevista de história oral [1965], pp. 11–13; Sessions, Entrevista de história oral [1972], pp. 8–9; Tomlinson, “History of the Founding of Institutes of Religion”, pp. 159–168; Griffiths, “First Institute Teacher”, pp. 182–185.

  31. Sessions e Sessions, Entrevista de história oral [1965], pp. 11–12; Tomlinson, “History of the Founding of Institutes of Religion”, pp. 168–173. Tópico: Seminários e Institutos.

  32. Leah D. Widtsoe para John A. Widtsoe, 20 de setembro de 1927, Documentos da família Widtsoe, Biblioteca de História da Igreja; John A. Widtsoe para Heber J. Grant, 17 de outubro de 1927, Arquivos da administração geral da Primeira Presidência, Biblioteca de História da Igreja; Leah D. Widtsoe para a Primeira Presidência, 16 de setembro de 1933, Arquivos missionários da Primeira Presidência, Biblioteca de História da Igreja.

  33. Widtsoe, Diário, 31 de maio–7 de junho de 1927; Widtsoe, In a Sunlit Land, pp. 236–237.

  34. Leah D. Widtsoe para John A. Widtsoe, Telegrama, 31 de agosto de 1927; Leah D. Widtsoe para John A. Widtsoe, 20 de setembro de 1927, Documentos da família Widtsoe, Biblioteca de História da Igreja; Widtsoe, Diário, 21 de junho–21 de setembro de 1927.

  35. Widtsoe, Diário, 8 de agosto de 1927.

  36. Widtsoe, Entrevista de história oral, pp. 12–13; Widtsoe, Diário, 16 e 24 de setembro de 1927; Harold Shepstone para Susa Young Gates, 25 de outubro de 1927; 2 de dezembro de 1927, Documentos de Susa Young Gates, Biblioteca de História da Igreja.  

  37. Hal e Bichette Gates para Susa Young Gates, Telegrama, 24 de setembro de 1927, Correspondência da família, Documentos de Susa Young Gates, Biblioteca de História da Igreja; Leah D. Widtsoe para John A. Widtsoe, 20 de setembro de 1927, Documentos da família Widtsoe, Biblioteca de História da Igreja.

  38. Widtsoe, Diário, 29–30 de setembro de 1927; Widtsoe, In a Sunlit Land, p. 189; John A. Widtsoe para James E. Talmage e Merry B. Talmage, 1º de novembro de 1927, Documentos de John A. Widtsoe, Biblioteca de História da Igreja; Van Orden, Building Zion, pp. 93–94; “Mission Presidents in Convention”, Latter-day Saints’ Millennial Star, 20 de setembro de 1928, vol. 38, pp. 600–602.

  39. Leah D. Widtsoe para a Primeira Presidência, 16 de setembro de 1933, Arquivos missionários da Primeira Presidência, Biblioteca de História da Igreja; Leah D. Widtsoe para John A. Widtsoe, 12 de julho de 1927; Leah D. Widtsoe para Louisa Hill, 11 de maio de 1928, Documentos da família Widtsoe, Biblioteca de História da Igreja; Widtsoe, In a Sunlit Land, p. 189; John A. Widtsoe para James E. Talmage e Merry B. Talmage, 1º de novembro de 1927, Documentos de John A. Widtsoe, Biblioteca de História da Igreja.

  40. Ver Widtsoe, Diário, outubro–novembro de 1927.

  41. Widtsoe, Entrevista de história oral, p. 13; Susa Young Gates para Harold J. Shepstone, 5 de outubro de 1927, Documentos de Susa Young Gates, Biblioteca de História da Igreja.

  42. Widtsoe, Diário, 21 de novembro de 1927; Widtsoe, In the Gospel Net, pp. 102–105, 133, 135; Susa Young Gates para Leah D. Widtsoe e John A. Widtsoe, 21 de novembro de 1927, Documentos da família Widtsoe, Biblioteca de História da Igreja.