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Capítulo 26: Doutrina e Convênios 71–75


Capítulo 26

Doutrina e Convênios 71–75

Introdução e cronologia

No outono de 1831, os ex-membros da Igreja Ezra Booth e Symonds Ryder tentaram desacreditar a Igreja e seus líderes e dissuadir as pessoas de se tornarem membros da Igreja. Fizeram isso falando contra a Igreja em reuniões públicas e publicando ativamente críticas antimórmon nos jornais locais, o que suscitou um antagonismo disseminado. Em 1º de dezembro de 1831, o profeta Joseph Smith recebeu a revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 71. Nela, o Senhor instruiu Joseph Smith e Sidney Rigdon a defender a Igreja e dissipar as falsidades pela proclamação do evangelho a partir das escrituras, conforme guiados pelo Espírito.

A rápida expansão da Igreja em Kirtland, Ohio, e também a mudança do bispo Edward Partridge para Missouri, criou a necessidade de chamar outro bispo em Ohio. Em 4 de dezembro de 1831, Joseph Smith recebeu as três revelações que hoje estão combinadas em Doutrina e Convênios 72 (versículos 1–8, 9–23 e 24–26). Nessas revelações, o Senhor chamou Newel K. Whitney para servir como bispo, em Ohio, explicando suas responsabilidades.

Após um mês de pregação do evangelho para dissipar as falsidades espalhadas por Ezra Booth e Symonds Ryder, Joseph Smith e Sidney Rigdon retornaram a Hiram, Ohio. Em 10 de janeiro de 1832, Joseph Smith recebeu a revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 73, na qual o Senhor instrui Joseph e Sydney a retomar a tradução da Bíblia.

A revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 74 foi recebida em 1830, antes que Joseph se mudasse para Ohio. Contém a explicação que o Senhor dá sobre 1 Coríntios 7:14.

Em uma conferência da Igreja realizada em 25 de janeiro de 1832, Joseph Smith recebeu as duas revelações que se encontram em Doutrina e Convênios 75 (versículos 1–12 e 13–36). Nessas revelações, o Senhor instruiu os élderes no tocante a seus deveres missionários e lhes designou companheiros de missão.

1830Doutrina e Convênios 74 é recebida.

Outubro de 1831O jornal Ohio Star começou a publicar nove cartas do apóstata Ezra Booth, denunciando a Igreja e seus líderes.

1º de novembro de 1831Uma conferência da Igreja promulgou a resolução de publicar as revelações de Joseph como o Livro de Mandamentos.

1º de dezembro de 1831Doutrina e Convênios 71 é recebida.

4 de dezembro de 1831Doutrina e Convênios 72 é recebida.

10 de janeiro de 1832Doutrina e Convênios 73 é recebida.

25 de janeiro de 1832Doutrina e Convênios 75 é recebida.

Doutrina e Convênios 71: Informações históricas adicionais

Em outubro de 1831, o jornal Ohio Star começou a publicar cartas que criticavam a Igreja e seus líderes. As cartas foram escritas por Ezra Booth, um antigo pregador metodista que se tornara membro da Igreja após ler o Livro de Mórmon e ver o profeta Joseph Smith curar milagrosamente o braço reumático de Alice (Elsa) Johnson. Contudo, o orgulho levou Ezra a criticar o profeta e a Igreja. Ele tinha viajado para Missouri como missionário no verão de 1831, mas se desiludiu com os rigores da jornada. Também ficou desapontado quando a terra de Sião e a liderança de Joseph Smith não atenderam a suas expectativas. (Ver Matthew McBride, “Ezra Booth e Isaac Morley”, em Revelações em Contexto, ed. Matthew McBride e James Goldberg, 2016, pp. 131–132, ou history.LDS.org; Mark Lyman Staker, Hearken, O Ye People: The Historical Setting for Joseph Smith’s Ohio Revelations [Dai ouvidos, ó povo: O cenário histórico das revelações de Joseph Smith em Ohio], 2009, p. 296.)

Depois de retornar do Missouri em setembro de 1831, Ezra Booth começou a criticar a Igreja e o profeta Joseph Smith. Em uma conferência de élderes realizada em 6 de setembro, Ezra foi proibido “de pregar o evangelho como élder desta Igreja” (em The Joseph Smith Papers, Documents, Volume 2: julho de 1831–janeiro de 1833, ed. Matthew C. Godfrey e outros, 2013, p. 61). Mais tarde, naquele mês, ele e outro dissidente, Symonds Ryder, renunciaram a sua condição de membros da Igreja. Em suas cartas ao jornal Ohio Star, Ezra Booth denunciou o profeta Joseph Smith como um impostor, alegando que suas revelações eram um estratagema para desviar dinheiro das pessoas. A história de Joseph Smith relata que as cartas de Booth, “com suas palavras vãs, falsas e tendenciosas que tinham a intenção de destruir a obra do Senhor, expunham a fraqueza, a perversidade e a insensatez de [Ezra Booth] e manchavam sua imagem diante do mundo” (in Manuscript History of the Church [Manuscrito de história da Igreja], vol. A-1, página 154, josephsmithpapers.org).

Symonds Ryder (ou Simonds Rider) tomou conhecimento do evangelho restaurado por meio de Ezra Booth. Symonds se tornou membro da Igreja depois de testemunhar o que ele considerou ser um milagre. Pouco depois de seu batismo, ele foi ordenado élder da Igreja. Relatos posteriores sugerem que quando ele recebeu um chamado oficial para pregar o evangelho, percebeu que haviam errado seu nome no certificado. Supondo que um chamado por revelação estaria isento de erros, Symonds começou a questionar até que ponto Joseph Smith tinha inspiração profética. Symonds foi influenciado também pela fé hesitante de seu grande amigo Ezra Booth, que retornara desapontado de sua missão no Missouri. Mais do que tudo, suas preocupações com o princípio da consagração parecem tê-lo levado a seu desafeto (ver A. S. Hayden, Early History of the Disciples in the Western Reserve, Ohio [Primórdios da história dos discípulos na reserva ocidental, Ohio], 1857, pp. 220–221, 251–252). Depois de se separar da Igreja, no outono de 1831, Symonds Ryder entregou cópias de uma das revelações não publicadas do profeta Joseph Smith ao jornal Western Courier em uma tentativa de dissuadir as pessoas de filiarem-se à Igreja. Ryder mais tarde afirmou que os recém-conversos poderiam descobrir naquelas revelações que “um estratagema estava sendo elaborado para tirar-lhes suas propriedades e colocá-las sob o controle de Joseph Smith, o profeta” (em Joseph Smith Papers, Documents, Volume 2: julho de 1831–janeiro de 1833, pp. 144–145; ver também Hayden, Early History of the Disciples, p. 221).

A revelação do Senhor que se encontra em Doutrina e Convênios 71 foi dada como resultado da agitação e da publicidade negativa causadas por Ezra Booth e Symonds Ryder.

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Mapa 5: A região de Nova York, Pensilvânia e Ohio nos EUA

Doutrina e Convênios 71

O Senhor instrui Joseph Smith e Sidney Rigdon a responder às críticas contra a Igreja

Doutrina e Convênios 71:1. Proclamar o evangelho “pelas escrituras, conforme [o] Espírito”

O Senhor disse ao profeta Joseph Smith e Sidney Rigdon que respondessem às críticas feitas contra a Igreja ensinando as verdades do evangelho “pelas escrituras, conforme a porção do Espírito e do poder que vos será dada” (D&C 71:1). Esse conselho serve de padrão para todos os membros da Igreja, ao responderem aos que criticam a Igreja e seus ensinamentos. O profeta Alma, no Livro de Mórmon, ensinou que a pregação da palavra de Deus tem “um efeito mais poderoso sobre a mente do povo do que a espada ou qualquer outra coisa” (Alma 31:5). O élder Neal A. Maxwell (1926–2004), do Quórum dos Doze Apóstolos, ensinou: “O Senhor nos disse que ‘a espada do Espírito (…) é a palavra de Deus’ (Efésios 6:17). Ela pode facilitar a comunicação e penetrar mais que qualquer outra coisa. Assim, as santas escrituras e as palavras dos profetas vivos ocupam uma posição privilegiada. Elas são a chave para o ensino pelo Espírito, de modo a comunicar-nos com o que o profeta Joseph Smith chamou de ‘a linguagem da inspiração’ (Teachings of the Prophet Joseph Smith, sel. Joseph Fielding Smith, Salt Lake City: Deseret Book Co., 1976, p. 56)” (“Teaching by the Spirit—‘The Language of Inspiration’” [Ensinar pelo Espírito: A linguagem da inspiração], discurso proferido em um simpósio do Sistema Educacional da Igreja, 15 de agosto de 1991, p. 1).

Doutrina e Convênios 71:2–7. “Confundi vossos inimigos”

O Senhor ordenou que o profeta Joseph Smith e Sidney Rigdon pregassem o evangelho aos santos e às pessoas das regiões circunvizinhas (ver D&C 71:2). Além disso, o Senhor os instruiu a “[confundir seus] inimigos” (D&C 71:7), ou em outras palavras, refutar suas falsas afirmações convidando-os a reunir-se com eles e a debater suas declarações. Em obediência ao mandamento do Senhor, Sidney Rigdon convidou Ezra Booth a reunir-se com ele em uma preleção, em 25 de dezembro de 1831, “na qual ele ‘analisaria’ as cartas de Booth e mostraria que eram uma ‘exposição injusta e falsa dos assuntos que abordavam’” (em Joseph Smith Papers, Documents, Volume 2: julho de 1831–janeiro de 1833, p. 145). Também pediu a Symonds Ryder que se encontrasse com ele em uma reunião pública, na qual debateriam sobre o Livro de Mórmon. Nenhum deles aceitou o convite.

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fazenda de John Johnson, em Hiram, Ohio

O profeta Joseph Smith e sua esposa Emma se mudaram para Hiram, Ohio, para a casa de John Johnson, de modo que o profeta pudesse continuar seu trabalho de tradução da Bíblia (ver cabeçalho das seções D&C 6471).

No mês seguinte, o profeta Joseph Smith e Sidney Rigdon se empenharam em dissipar os sentimentos hostis em relação à Igreja resultantes dos artigos que Ezra Booth havia publicado nos jornais. Os dois pregaram em toda a região norte de Ohio, ensinando o evangelho e refutando as afirmações feitas contra a Igreja e seus líderes. De acordo com o profeta, seus esforços em seguir o conselho do Senhor e responder por meio da pregação das verdades do evangelho pelo poder do Espírito “muito fizeram para acalmar os sentimentos exaltados resultantes das cartas escandalosas que estavam sendo publicadas no jornal ‘Ohio Star’, em Ravenna, pelo (…) apóstata Ezra Booth” (em Manuscript History of the Church, vol. A-1, página 179, josephsmithpapers.org).

O élder Robert D. Hales, do Quórum dos Doze Apóstolos, ensinou que, quando encontramos críticas contra a Igreja e seus ensinamentos, é essencial responder de modo semelhante ao que Cristo faria, de acordo com a orientação do Espírito:

“Quando respondemos aos nossos acusadores como fez o Salvador, nós nos tornamos não somente mais semelhantes a Cristo, mas também convidamos outros a sentir Seu amor e segui-Lo.

Não existe uma fórmula ou instruções por escrito para se responder de maneira cristã. O Salvador tinha um modo diferente de responder de acordo com cada situação. (…)

Ao respondermos aos outros, cada circunstância será diferente. Felizmente, o Senhor conhece o coração dos nossos acusadores e como podemos responder a eles do modo mais eficaz. Quando os verdadeiros discípulos buscam a orientação do Espírito, eles recebem a inspiração adequada para tratar cada opositor. E a cada um, os verdadeiros discípulos respondem de maneira a convidar o Espírito a estar presente” (“Coragem cristã: O preço de seguir a Jesus”, A Liahona, novembro de 2008, p. 72–73).

Doutrina e Convênios 71:9. “Arma alguma que se forme contra vós prosperará”

O profeta Joseph Smith e Sidney Rigdon receberam a promessa do Senhor de que, se permanecessem fiéis, seus inimigos seriam humilhados (ver D&C 71:7). O Senhor então reiterou a promessa que Ele fez à antiga Israel por meio do profeta Isaías de que “toda a ferramenta preparada contra ti não prosperará” (Isaías 54:17; ver D&C 71:7). Em outras palavras, Deus e Sua obra sempre triunfarão, a despeito dos ataques dos que criticam a Igreja. Apesar da apostasia e dos ataques de Ezra Booth e Symonds Ryder, os missionários continuaram a ter sucesso na pregação do evangelho. Ira Ames, que morava em Nova York, relembrou que, quando leu as cartas de Booth nos jornais, “teve a impressão de que havia algo bom em relação ao mormonismo. Era um assunto muito discutido na vizinhança” (em Hayden, Early History of the Disciples, p. 302). Algum tempo depois de Ira Ames ter lido as cartas de Booth, os missionários foram à cidade de Ira, e ele foi batizado, tornando-se membro da Igreja (ver Hayden, Early History of the Disciples, p. 303). Assim, embora Booth e Ryder quisessem dissuadir as pessoas de aceitarem o evangelho restaurado, sua influência aumentou a exposição das pessoas à Igreja, e em algumas ocasiões isso contribuiu para que houvesse mais conversões.

Doutrina e Convênios 72: Informações históricas adicionais

Em obediência ao mandamento do Senhor (ver D&C 71:1–7), em 3 de dezembro de 1831, o profeta Joseph Smith e Sidney Ridgon viajaram de Hiram para Kirtland, Ohio, para proclamar o evangelho e ajudar a dissipar os sentimentos hostis contra a Igreja. De acordo com a história do profeta, no dia seguinte, 4 de dezembro, “muitos dos élderes e membros se reuniram para conhecerem seus deveres e serem edificados”, e após discutirem seu “bem-estar temporal e espiritual”, o profeta recebeu três revelações correlatas, que agora se encontram em Doutrina e Convênios 72 (em Manuscript History of the Church, vol. A-1, página 176, josephsmithpapers.org). Com a expansão da Igreja no Missouri e a mudança do bispo Edward Partridge para Independence, os santos de Ohio ficaram sem bispo. Em uma das revelações, o Senhor declarou a necessidade de chamar um novo bispo em Ohio (ver D&C 72:2).

Doutrina e Convênios 72

O Senhor chama Newel K. Whitney como bispo em Ohio e explica os deveres de um bispo

Doutrina e Convênios 72:2–3. “Que todo mordomo preste contas de sua mordomia, tanto nesta vida como na eternidade”

Como alguns membros da Igreja, em Ohio, viviam sob a lei da consagração, era necessário um bispo para receber as propriedades consagradas, distribuir e supervisionar as mordomias individuais, coletar os excedentes e distribuir fundos do armazém aos necessitados (ver o comentário para D&C 42:30–39, neste manual). O Senhor exigiu que os santos “[prestassem] contas” de suas mordomias ao bispo (D&C 72:3). O princípio da mordomia se baseia no ensinamento de que todas as coisas pertencem ao Senhor e que somos Seus mordomos (ver D&C 104:13–16). Embora não recebamos mordomias sob a lei da consagração atualmente, o Senhor ainda nos confere responsabilidades tanto espirituais quanto temporais, pelas quais somos responsáveis perante Ele.

O élder Joseph B. Wirthlin (1917–2008), do Quórum dos Doze Apóstolos, ensinou a respeito de uma responsabilidade da qual precisamos prestar contas:

“Todos vocês têm um chamado eterno do qual nenhuma autoridade na Igreja pode desobrigá-los. É um chamado que lhes foi dado pelo próprio Pai Celestial. Com relação a esse chamado eterno, como acontece com todos os outros chamados, vocês têm uma mordomia. (…) Essa, que é a maior de todas as mordomias, é a gloriosa responsabilidade que seu Pai Celestial lhes deu de zelar e cuidar de sua própria alma.

Algum dia no futuro, todos nós ouviremos a voz do Senhor chamar-nos a Sua presença para prestar contas de nossa mordomia mortal. Essa prestação de contas irá acontecer quando formos chamados para ‘[comparecer] diante dele no grande dia do julgamento’ (2 Néfi 9:22)” (“Sempre fiéis”, A Liahona, julho de 1997, p. 16).

Doutrina e Convênios 72:8. “Meu servo Newel K. Whitney é o homem que será designado”

Newel K. Whitney era um comerciante que tinha uma loja em Kirtland, Ohio, com seu sócio, A. Sidney Gilbert. Antes de conhecer o evangelho restaurado, Newel e sua esposa, Ann, pertenciam à congregação dos batistas reformados de Sidney Rigdon, e “desejavam as coisas do Espírito. Certa noite, em 1829, enquanto oravam para serem guiados, receberam uma poderosa manifestação espiritual. Ann relatou:

‘O Espírito repousou sobre nós, e uma nuvem cobriu a casa. Fomos tomados de solene assombro. Vimos a nuvem e sentimos o Espírito do Senhor. Então, ouvimos uma voz saindo da nuvem, dizendo: ‘Preparai-vos para receber a palavra do Senhor, porque ela está chegando’. Maravilhamo-nos grandemente com isso, mas daquele momento em diante soubemos que a palavra do Senhor estava chegando a Kirtland’ [Andrew Jenson, Latter-day Saint Biographical Encyclopedia [Enciclopédia biográfica dos santos dos últimos dias], 4 vols., 1901–1936, volume 1, p. 223]” (“Newel K. Whitney: A Man of Faith and Service” [Newel K. Whitney: Homem de fé e serviço], Museum Treasures, history.LDS.org).

Pouco depois dessa experiência, a família Whitney ouviu a palavra do Senhor quando Sidney Rigdon convidou os missionários a pregarem a sua congregação. A família Whitney filiou-se à Igreja em novembro de 1830. Meses depois, Joseph e Emma Smith chegaram a Kirtland. O profeta escreveu: “Minha mulher e eu moramos [com] a família do irmão Whitney por várias semanas e recebemos todo tipo de atenção e bondade, o que era de se esperar, especialmente da irmã Whitney” (em Manuscript History of the Church [Manuscrito da história da Igreja], vol. A-1, página 93, josephsmithpapers.org). Posteriormente, em setembro de 1832, a família Whitney convidou Joseph e Emma Smith a morar num dos cômodos de sua loja, que se tornou a sede da Igreja por um tempo.

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loja de Newel K. Whitney, em Kirtland, Ohio

Newel K. Whitney foi chamado como bispo. Sua loja acabou se tornando um armazém por meio do qual ele podia ajudar a atender às necessidades dos pobres (ver D&C 72:8–12).

Quando Newel foi chamado em dezembro de 1831 para servir como bispo em Ohio, ele expressou sentimentos de inadequação ao profeta Joseph Smith. O neto do bispo Whitney, o élder Orson F. Whitney (1855–1931), do Quórum dos Doze Apóstolos, relatou como seu avô se sentiu quando foi chamado como bispo, e o consolo que recebeu:

“A ideia de assumir tamanha responsabilidade (o ofício de bispo) foi quase maior que a capacidade dele de suportar. Embora poucos homens tivessem dons naturais à altura dele para essa posição quanto ele, ele ainda assim não acreditava em sua capacidade e se sentia incapaz de aceitar essa sagrada confiança. Perplexo, ele recorreu ao profeta:

‘Não consigo me ver como um bispo, irmão Joseph; mas se disser que é a vontade do Senhor, eu tentarei’.

‘Você não precisa acreditar em minhas palavras apenas’, respondeu gentilmente o profeta, ‘vá você mesmo e pergunte ao Pai’.

“Newel (…) decidiu fazer o que o profeta lhe aconselhara. Sua oração sincera e humilde foi respondida. No silêncio da noite e na solidão de seu quarto, ouviu a voz dos céus dizer: ‘Tua força está em mim’. Poucas e simples foram as palavras, porém de grande significado. Suas dúvidas se desvaneceram como o orvalho ante a aurora. Imediatamente procurou o profeta, disse-lhe que estava satisfeito e pronto para aceitar o ofício para o qual tinha sido chamado” (B. H. Roberts, A Comprehensive History of the Church, vol. 1, p. 271).

Newel K. Whitney serviu como bispo até seu falecimento em 1850.

Doutrina e Convênios 72:9–19. Os deveres de um bispo

Durante esse período de organização, a Igreja não estava dividida em alas ou ramos com bispos ou presidentes de ramo presidindo cada unidade, como ocorre agora. Em 4 de dezembro de 1831, havia apenas dois bispos — o bispo Edward Partridge no Missouri e o bispo Newel K. Whitney em Ohio. As responsabilidades descritas pelo Senhor em Doutrina e Convênios 72:9–19 eram, primeiramente, relacionadas ao papel do bispo Whitney e à lei da consagração.

Embora não vivamos a lei da consagração da mesma maneira que os santos daquela época, muitos dos deveres descritos em Doutrina e Convênios 72 ainda se aplicam aos bispos atualmente. Os bispos são responsáveis por supervisionar a distribuição de alimentos e suprimentos dos armazéns do bispo aos membros que estiverem necessitados, e eles recebem e são responsáveis pelos fundos da Igreja na forma de dízimo, ofertas de jejum e outras doações (ver D&C 72:10). Os bispos servem como representantes do Senhor quando os membros prestam contas de suas responsabilidades e chamados (ver D&C 72:11). Eles zelam pelo bem-estar espiritual e temporal dos santos. Eles têm o dever principalmente de procurar os pobres e necessitados que residam na área de sua ala e cuidar deles (ver D&C 72:11–12). Como juízes em Israel, os bispos também têm a solene responsabilidade de determinar e certificar a dignidade dos membros que irão ser batizados, receber o sacerdócio, servir missão, entrar na casa do Senhor e servir em chamados na ala (ver D&C 72:17). Além disso, como juízes gerais, eles são responsáveis por convocar e conduzir conselhos disciplinares em sua ala, em casos de transgressões sérias (ver D&C 58:17–18).

Doutrina e Convênios 73: Informações históricas adicionais

Após um mês de pregação do evangelho no leste de Ohio para dissipar as falsidades espalhadas pelas cartas de Ezra Booth contra a Igreja e seus líderes, o profeta Joseph Smith e Sidney Rigdon retornaram à casa de John Johnson em Hiram, Ohio. Alguns dias depois, em 10 de janeiro de 1832, o profeta ditou a revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 73, “dando a conhecer a vontade do Senhor” para os élderes da Igreja até a convocação da conferência seguinte, que foi realizada duas semanas depois (em Manuscript History of the Church, vol. A-1, página 179, josephsmithpapers.org).

Doutrina e Convênios 73

O Senhor instrui Joseph Smith e Sidney Rigdon a continuarem a tradução da Bíblia

Doutrina e Convênios 73:3–4. “É preciso traduzir outra vez”

O Senhor ordenou que o profeta Joseph Smith e Sidney Rigdon voltassem a trabalhar na tradução inspirada da Bíblia e continuassem a pregar localmente até a próxima conferência da Igreja (ver D&C 73:3–4). Após a conferência, no entanto, eles deveriam dedicar totalmente seu tempo ao “trabalho da tradução até que [estivesse] terminado” (D&C 73:4). O profeta Joseph Smith e Sidney Rigdon trabalharam diligentemente na tradução da Bíblia desse tempo em diante até 2 de julho de 1833, quando os tradutores escreveram aos santos que estavam no Missouri que eles haviam terminado a tradução da Bíblia naquele dia. Partes da tradução de Joseph Smith estão contidas na Pérola de Grande Valor (o livro de Moisés e Joseph Smith—Mateus) e na edição SUD da Bíblia, que se encontra disponível em um número cada vez maior de idiomas. A tradução de Joseph Smith da Bíblia teve “uma influência significativa na Igreja sobre o modo que o conteúdo de Doutrina e Convênios foi moldado”. Mais da metade da atual Doutrina e Convênios é formada por revelações recebidas durante o período de três anos em que Joseph Smith trabalhou na tradução da Bíblia. Muitas revelações foram recebidas como respostas diretas a perguntas que Joseph foi inspirado a fazer à medida que seu entendimento do evangelho se expandia durante o trabalho de restaurar as partes claras e preciosas da Bíblia” (Elizabeth Maki, “Tradução da Bíblia por Joseph Smith”, em Revelações em Contexto, p. 103, ou history.LDS.org).

Para uma explicação adicional sobre a tradução de Joseph Smith da Bíblia, ver o comentário para Doutrina e Convênios 35:20, neste manual.

Doutrina e Convênios 74: Informações históricas adicionais

Quando o historiador e registrador da Igreja John Whitmer transcreveu a revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 74 para o livro oficial de registros, ele registrou a data como sendo 1830 (ver The Joseph Smith Papers, Documents, Volume 1: julho de 1828–junho de 1831, ed. Michael Hubbard MacKay e outros, 2013, p. 228). Anos mais tarde, as pessoas que editavam a história de Joseph Smith erroneamente escreveram que o profeta recebeu essa revelação em janeiro de 1832, quando ele fazia a revisão inspirada do Novo Testamento. Entretanto, John Whitmer identificou o condado de Wayne, Nova York, como o lugar onde Joseph Smith ditou a revelação e 1830 como a data em que ela foi recebida. O profeta descreveu posteriormente essa revelação como uma “Explicação da primeira epístola aos coríntios, capítulo 7, versículo 14” (em Manuscript History of the Church, vol. A-1, página 178, josephsmithpapers.org). A passagem que se encontra em 1 Coríntios 7:14 era citada com frequência na época de Joseph Smith para justificar o batismo de bebês.

Doutrina e Convênios 74

O Senhor explica o significado de 1 Coríntios 7:14

Doutrina e Convênios 74:1–5. As tradições falsas de nossos pais

Doutrina e Convênios 74 fornece um importante contexto histórico para os ensinamentos do apóstolo Paulo que se encontram em 1 Coríntios 7:14. Seu conselho aos santos de Corinto abordava o problema que surgia quando a mulher se convertia ao evangelho de Jesus Cristo, mas o marido ainda praticava a lei de Moisés. Lemos em Doutrina e Convênios 74:3 que surgiam conflitos quando o pai decidia que seus filhos homens seriam circuncidados e se tornariam sujeitos à lei de Moisés, que havia sido cumprida pelo Salvador e por Seu sacrifício expiatório. Muitas crianças que se encontravam nessas circunstâncias, tendo sido criadas sob a lei de Moisés, chegavam à idade adulta e “[davam] ouvidos às tradições de seus pais e não [acreditavam] no evangelho de Cristo” (D&C 74:4). Paulo aconselhou os santos que já eram casados com descrentes a não se divorciarem de seus cônjuges, mas que permanecessem casados e vivessem fielmente. Ao fazerem isso, os cônjuges poderiam exercer uma influência santificadora sobre a família (ver 1 Coríntios 7:13–14; D&C 74:1).

O apóstolo Paulo não estava ensinando que as crianças nasciam impuras ou pecadoras. Em vez disso, ele ensinou que um cônjuge fiel pode exercer uma influência justa que pode levar os filhos, quando chegarem à idade da responsabilidade, a obedecerem ao evangelho e a se tornarem “santos” (1 Coríntios 7:14; D&C 74:1) por intermédio do Salvador Jesus Cristo.

De acordo com Doutrina e Convênios 74:5, Paulo aconselhou os que ainda não eram casados a não se casarem com descrentes, a não ser que o cônjuge aceitasse que “se abolisse entre eles” a lei de Moisés. O Senhor explicou que essas recomendações não eram mandamentos dados por Ele, mas conselhos do próprio Paulo.

Doutrina e Convênios 74:6–7. “A tradição que dizia serem as criancinhas imundas”

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representação de Jesus segurando uma criança no colo

O profeta Joseph Smith esclareceu 1 Coríntios 7:14, explicando que as criancinhas são santas e não precisam de ordenanças de salvação até se tornarem responsáveis (ver D&C 68:27; 74:5–7).

Alguns dos judeus que seguiam a lei de Moisés nos dias do apóstolo Paulo acreditavam na falsa tradição de que filhos homens nasciam impuros, a não ser que entrassem em um convênio com Deus por meio da circuncisão. Tal ensinamento, contudo, entrava em conflito com o conselho dos profetas de que as criancinhas são inocentes devido à Expiação de Jesus Cristo (ver Mosias 3:16), “têm vida eterna” (Mosias 15:25) e “estão vivas em Cristo” (Morôni 8:12, 22). Além disso, ensinar que as criancinhas são impuras contradiz o propósito do Senhor ao instituir a prática da circuncisão com Abraão. Com o entendimento adicional da tradução de Joseph Smith, aprendemos que a circuncisão representa um convênio entre o Senhor e a posteridade de Abraão, e que “as crianças não são responsáveis perante [o Senhor] até que tenham oito anos de idade” (Tradução de Joseph Smith, Gênesis 17:11 [no Guia para Estudo das Escrituras], scriptures.LDS.org).

Para ensinamentos adicionais sobre a salvação de criancinhas, ver o comentário para Doutrina e Convênios 29:46–50, neste manual.

Doutrina e Convênios 75: Informações históricas adicionais

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representação de Joseph Smith

O profeta Joseph Smith foi ordenado em 25 de janeiro de1832, em Amherst, Ohio, presidente do Sumo Sacerdócio, que significa o presidente da Igreja (ver D&C 75, cabeçalho da seção).

Em 25 de janeiro de 1832, a Igreja convocou uma conferência em Amherst, Ohio, a cerca de 80 quilômetros a leste de Kirtland. A história do profeta Joseph Smith relata que durante a conferência “os élderes demonstraram certa ansiedade em que eu indagasse ao Senhor, a fim de que soubessem qual era Sua vontade, ou o que seria mais aprazível a Ele que fizessem, para que os homens se conscientizassem de sua condição” (em Manuscript History of the Church, vol. A-1, página 180, josephsmithpapers.org). Orson Pratt, que foi chamado como presidente dos élderes durante a conferência, relatou posteriormente: “Nessa conferência, o profeta Joseph foi reconhecido como o presidente do sumo sacerdócio, sendo-lhe impostas as mãos pelo élder Sidney Rigdon, que selou sobre sua cabeça as bênçãos que ele havia recebido anteriormente”. O élder Pratt também comentou que “a pedido do sacerdócio, o profeta perguntou ao Senhor, e uma revelação foi dada e escrita na presença de toda a assembleia, designando muitos dos élderes para missões” (“History of Orson Pratt” [História de Orson Pratt], The Latter-day Saints’ Millennial Star, vol. 27, 28 de janeiro de 1865, p. 56). O profeta ditou duas revelações durante a conferência, que foram posteriormente combinadas e se encontram em Doutrina e Convênios 75. A primeira revelação (D&C 75:1–22) foi dada a um grupo de élderes que havia se candidatado ao serviço missionário. A segunda revelação (D&C 75:23–36 foi dada a um segundo grupo de élderes que queria saber o que o Senhor desejava deles.

Doutrina e Convênios 75

O Senhor chama e orienta os companheiros missionários

Doutrina e Convênios 75:2–5. As recompensas da fiel proclamação do evangelho

O Senhor prometeu grandes bênçãos aos que proclamassem fielmente o evangelho, que incluíam honra, glória e vida eterna (ver D&C 75:5). O presidente Spencer W. Kimball (1895–1985) ensinou quais são as bênçãos adicionais que nos advêm por compartilharmos fielmente o evangelho com as pessoas:

“Pregar o evangelho traz paz e alegra a nossa própria vida, engrandece nosso próprio coração e alma em benefício dos outros, aumenta nossa própria fé, fortalece nosso próprio relacionamento com o Senhor e aprofunda nosso próprio entendimento das verdades do evangelho.

O Senhor prometeu-nos bênçãos grandiosas segundo nosso empenho ao pregarmos o evangelho. Receberemos auxílio do outro lado do véu e ocorrerão milagres espirituais. O Senhor disse-nos que nossos pecados serão esquecidos mais prontamente quando levarmos almas a Cristo e permanecermos firmes ao prestarmos testemunho ao mundo” (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Spencer W. Kimball, 2006, p. 286).

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missionárias conversando com um jovem

Os santos fiéis que pregam o evangelho ganharão a vida eterna (ver D&C 75:1–5).

Doutrina e Convênios 75:27. “Ser-lhes-á dado a conhecer do alto (…) aonde deverão ir”

Em ambas as revelações que se encontram em Doutrina e Convênios 75, o Senhor enfatizou a importância da oração no trabalho missionário. O Senhor prometeu que, se os que fossem chamados como missionários perguntassem a Ele em oração, “o Consolador [lhes] [ensinaria] todas as coisas que lhes [fossem] convenientes” (D&C 75:10) e lhes diria “aonde [deveriam] ir” para pregar o evangelho (D&C 75:27). O élder Dallin H. Oaks, do Quórum dos Doze Apóstolos, testificou que, se orarmos pedindo ajuda e seguirmos os sussurros do Espírito, o Senhor nos guiará ao compartilharmos o evangelho com as pessoas:

“Precisamos orar pedindo a ajuda e a orientação do Senhor para que sejamos instrumentos em Suas mãos em relação a alguém que já esteja pronto agora — alguém que Ele deseja que ajudemos hoje. Daí, precisamos estar alertas para ouvir e seguir os sussurros de Seu Espírito sobre como agir.

Essa inspiração virá. Sabemos, por incontáveis testemunhos pessoais, que à Sua própria maneira e a Seu próprio tempo, o Senhor está preparando pessoas para aceitarem Seu evangelho. Essas pessoas estão buscando e, se procurarmos identificá-las, o Senhor atenderá as suas orações ao atender as nossas. Ele irá inspirar e guiar aqueles que têm o desejo e sinceramente buscam orientação sobre como, onde, quando e com quem compartilhar o Seu evangelho” (“Compartilhar o evangelho”, A Liahona, janeiro de 2002, pp. 8–9).

Doutrina e Convênios 75:29. “Seja diligente em todas as coisas”

O mandamento do Senhor de “[ser] diligente em todas as coisas” (D&C 75:29) incluía Seu mandamento aos que receberam o chamado para servir missão de que providenciassem o sustento de sua própria família enquanto estivessem servindo. Se tais preparativos não pudessem ser feitos, esses homens eram obrigados a permanecer em casa, cuidar de suas famílias e trabalhar na Igreja local (ver D&C 75:24–28). Ser diligente em todas as coisas significa exercer esforço persistente, cuidadoso e enérgico, especialmente ao servir ao Senhor e obedecer a Seus mandamentos. As escrituras contêm vários exemplos e admoestações referentes à diligência. O presidente Dieter F. Uchtdorf, da Primeira Presidência, ensinou: “Se fizermos diligentemente as coisas que mais importam, seremos conduzidos ao Salvador do mundo” (“As coisas que mais importam”, A Liahona, novembro de 2010, p. 21).