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Capítulo 24: Doutrina e Convênios 64–65


Capítulo 24

Doutrina e Convênios 64–65

Introdução e cronologia

Em 27 de agosto de 1831, o profeta Joseph Smith e vários élderes retornaram a Ohio de sua viagem até Sião, ou Independence, Missouri. Durante a viagem de ida e volta ao Missouri, alguns dos élderes tiveram desentendimentos, mas a maioria deles havia se reconciliado. Em 11 de setembro, o profeta recebeu a revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 64. Nessa revelação o Senhor ordenou os membros da Igreja a se perdoarem uns aos outros e ensinou-lhes sobre os sacrifícios que Ele requer dos santos dos últimos dias.

Em setembro de 1831, Joseph Smith e sua família se mudaram de Kirtland para Hiram, Ohio, cerca de 50 quilômetros a sudeste de Kirtland. Em 30 de outubro de 1831, ele recebeu a revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 65. Nessa revelação, o Senhor ensinou que o evangelho será levado a todas as nações em preparação para a Segunda Vinda do Salvador e que os santos devem orar pelo crescimento do reino de Deus.

1º de setembro de 1831Ezra Booth e Isaac Morley retornam a Ohio após sua missão no Missouri.

Setembro a dezembro de 1831Ezra Booth escreve uma série de cartas que criticam Joseph Smith e a Igreja e as publica no jornal Ohio Star.

11 de setembro de 1831Doutrina e Convênios 64 é recebida.

12 de setembro de 1831Joseph e Emma Smith se mudam para Hiram, Ohio.

30 de outubro de 1831Doutrina e Convênios 65 é recebida.

Doutrina e Convênios 64: Informações históricas adicionais

Ezra Booth foi pregador metodista antes de se filiar à Igreja em 1831. Quando o Senhor ordenou aos líderes da Igreja e a outros que fossem ao Missouri no verão de 1831, Ezra Booth e Isaac Morley, seu companheiro missionário, estavam entre os élderes que foram chamados pelo Senhor para ir a pé até o Missouri “pregando a palavra pelo caminho” (D&C 52:23). Ezra achou injusto quando soube que o profeta Joseph Smith e outros líderes da igreja estavam viajando para Missouri em barcos e diligências. Ao chegar ao Missouri, muitos dos élderes, inclusive Ezra Booth, ficaram desapontados com o aspecto da terra e com a falta de conversos na cidade fronteiriça de Independence. Ezra também sentia que Joseph Smith não se portava como um profeta, porque ele tinha um “espírito de leviandade e descontração, um temperamento facilmente irritável e uma tendência habitual a brincadeiras e piadas” (em The Joseph Smith Papers, Documents, Volume 2: julho de 1831–janeiro de 1833, ed. Matthew C. Godfrey e outros, 2013, p. 60, nota 332). Contrariando a revelação que fora dada aos élderes (ver D&C 60:8), Ezra Booth e Isaac Morley retornaram rapidamente a Ohio de barco e diligência, em vez de pregarem o evangelho ao longo do caminho.

Após chegarem a Ohio, Ezra Booth se opôs abertamente ao profeta Joseph Smith e à Igreja. Os líderes da Igreja tomaram providências contra Ezra Booth em 6 de setembro de 1831, revogando sua autoridade de pregar o evangelho. Pouco tempo depois, Ezra começou a escrever uma série de cartas criticando o profeta e a Igreja, que foram publicadas no jornal Ohio Star. Também nessa época, em resposta ao mandamento do Senhor, muitos irmãos de Ohio estavam se preparando para se mudarem para Missouri. Em 11 de setembro de 1831, Joseph Smith recebeu a revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 64. No dia seguinte, o profeta e sua família se mudaram de Kirtland para Hiram, Ohio.

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Mapa 5: A região de Nova York, Pensilvânia e Ohio nos EUA

Doutrina e Convênios 64:1–19

O Senhor nos assegura de Sua disposição de nos perdoar e ordena que perdoemos uns aos outros

Doutrina e Convênios 64:1–7. “Eu, o Senhor, perdoo os pecados daqueles que confessam seus pecados perante mim e pedem perdão”

Alguns dos irmãos que fizeram a viagem de ida e volta ao Missouri eram culpados de críticas e contendas. O Senhor exerceu grande compaixão e misericórdia ao perdoá-los de seus pecados. O profeta Joseph Smith foi um dos que havia pecado e fora perdoado. Entretanto, o Senhor esclareceu que aqueles que haviam criticado o profeta o fizeram “sem razão” (D&C 64:6). O Senhor disse que Ele perdoa os pecados “daqueles que confessam seus pecados perante [Ele] e pedem perdão” (D&C 64:7).

O élder Richard G. Scott (1928–2015), do Quórum dos Doze Apóstolos, explicou que a confissão é necessária para se obter o perdão: “É sempre necessário confessarmos nossos pecados ao Senhor. Se forem transgressões sérias, como imoralidade, é preciso confessá-las a um bispo ou presidente de estaca. Por favor, entendam que confissão não é arrependimento. É um passo essencial, mas não é suficiente. A confissão parcial, mencionando os erros menores, não ajudará a resolver uma transgressão oculta mais séria. Essencial ao arrependimento é a disposição de contar tudo o que fizeram ao Senhor e, quando necessário, a Seu juiz do sacerdócio. (…) Lembrem-se: ‘O que encobre suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e as deixa alcançará misericórdia’ (Provérbios 28:13)” (“Encontrar o perdão”, A Liahona, julho de 1995, p. 81).

Doutrina e Convênios 64:7. O que significa pecar para morte?

O Senhor prometeu que Ele iria “[perdoar] os pecados daqueles que confessam seus pecados perante [Ele] e pedem perdão, se não pecaram para morte” (D&C 64:7; grifo do autor). O élder Bruce R. McConkie (1915–1985), do Quórum dos Doze Apóstolos, explicou: “Aqueles que se afastam da luz e da verdade do evangelho, que se entregam a Satanás, que se filiam à causa dele, apoiando-a e defendendo-a, e que assim se tornam filhos dele — ao agirem dessa maneira pecam para a morte. Para eles não há mais arrependimento, perdão, nem qualquer esperança de qualquer tipo de salvação. Como filhos de Satanás, eles são filhos de perdição” (Mormon Doctrine, 2ª ed., 1966, p. 737; ver também Mateus 12:31–32; Hebreus 10:26–27; 1 João 5:16–17; Alma 5:41–42).

É importante notar que os filhos de perdição diferem daqueles membros da Igreja que tinham um testemunho da verdade, mas que depois se tornaram inativos e se afastaram dos princípios do evangelho. Os filhos de perdição cometem o pecado imperdoável de negar o Espírito Santo. Por terem se rebelado abertamente contra Deus e se recusado a serem redimidos por meio do sacrifício de Jesus Cristo, para eles é “como se não tivesse havido redenção” (Mosias 16:5). Como os filhos de perdição não podem ser redimidos da morte espiritual, ou segunda morte, o pecado deles é “para morte” (D&C 64:7).

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representação de Jesus e Seus discípulos na encosta de uma colina

O Senhor repreendeu Seus discípulos, em Jerusalém, porque eles “em seu coração não se perdoaram” (D&C 64:8).

Doutrina e Convênios 64:8–11. “Deveis perdoar uns aos outros”

Os élderes e líderes da Igreja que receberam o perdão do Senhor foram instruídos a estender seu perdão pessoal a outras pessoas. O Senhor explicou que, durante Seu ministério mortal, Seus discípulos “procuraram pretextos uns contra os outros e em seu coração não se perdoaram” (D&C 64:8). Uma demonstração superficial de perdão não é suficiente. O Senhor exige o “coração dos filhos dos homens” (D&C 64:22). O presidente Dieter F. Uchtdorf, da Primeira Presidência, explicou por que perdoar os outros é essencial para nosso crescimento espiritual:

“Perdoar os outros é um pré-requisito para receber o perdão.

Para nosso próprio bem, precisamos da coragem moral para perdoar e pedir perdão. Nossa alma jamais alcançará mais nobreza e coragem do que quando perdoarmos. Inclusive quando perdoarmos a nós mesmos.

Cada um de nós tem a obrigação, segundo a palavra de Deus, de exercer perdão e misericórdia e perdoar uns aos outros. Há uma grande necessidade desses atributos em nossa família, em nosso casamento, nas alas, nas estacas, na comunidade e em nosso país.

Receberemos a alegria do perdão em nossa vida quando estivermos dispostos a perdoar os outros espontaneamente. Perdoar da boca para fora não basta. Precisamos expurgar o coração e a mente de sentimentos e pensamentos amargos, e deixar que entrem a luz e o amor de Cristo. Como resultado, o Espírito do Senhor encherá nossa alma da alegria que acompanha a divina paz de consciência (ver Mosias 4:2–3)” (“O ponto de retorno seguro”, A Liahona, maio de 2007, p. 101).

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representação do profeta Joseph Smith de pé entre dois homens

Joseph Smith perdoou verdadeiramente aos que lhe fizeram mal.

Doutrina e Convênios 64:15–16. Ezra Booth e Isaac Morley

Ezra Booth e Isaac Morley foram designados pelo Senhor a fazerem a viagem de ida e volta ao Missouri como companheiros missionários. Eles deveriam viajar a pé, “pregando a palavra pelo caminho” (D&C 52:23; ver também D&C 42:6–8). Fizeram isso a contragosto em sua viagem para Missouri, mas deixaram de fazê-lo na viagem de volta a Ohio. Em Doutrina e Convênios 64:15–16, ficamos sabendo que Ezra Booth e Isaac Morley perderam as bênçãos do Espírito porque não “guardaram a lei nem o mandamento”, e “em seu coração procuraram o mal”.

Ao que parece, Isaac Morley rapidamente se arrependeu porque o Senhor declarou que ele fora perdoado (ver D&C 64:16). Isaac imediatamente obedeceu ao mandamento do Senhor de vender sua fazenda (ver D&C 63:38–39; 64:20), e depois se mudou com a família para Missouri, onde serviu como conselheiro do bispo Edward Partridge. Ezra Booth, contudo, não se arrependeu, mas continuou a permitir que suas dúvidas e opiniões críticas o levassem a um caminho de apostasia total.

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cópia do jornal Ohio Star em uma escrivaninha.

Ezra Booth renunciou a suas crenças e publicou uma série de cartas no jornal Ohio Star, criticando o profeta Joseph Smith e a Igreja.

Doutrina e Convênios 64:20–43

O Senhor explica as exigências acerca do estabelecimento de Sião

Doutrina e Convênios 64:21–22. “Manter na terra de Kirtland uma posição firme pelo espaço de cinco anos”

Embora alguns dos santos tenham sido ordenados a se mudarem para Missouri, outros, tal como Frederick G. Williams, deveriam permanecer em Kirtland, Ohio. O Senhor prometeu que Kirtland seria uma “posição firme” da Igreja por pelo menos mais cinco anos (D&C 64:21). Essa promessa foi cumprida, e durante aquele período, o Templo de Kirtland foi construído e dedicado, as chaves do sacerdócio foram restauradas por mensageiros celestes ao profeta Joseph Smith e Oliver Cowdery, e um grande derramamento de bênçãos espirituais foi conferido aos santos. Entretanto, em 1837, surgiram problemas entre os membros da Igreja, em Kirtland, e vários apostataram. Joseph Smith partiu de Kirtland em janeiro de 1838 e foi para Missouri. A maioria dos santos fiéis que ficaram em Kirtland partiram em julho de 1838.

Doutrina e Convênios 64:23–25. “Trabalhareis enquanto é hoje”

O Senhor usou a palavra hoje para Se referir ao período de tempo desde quando Doutrina e Convênios 64 foi recebida até a Segunda Vinda (ver D&C 64:23). Do ponto de vista do Senhor, hoje se refere a “esta vida”, o tempo que temos para “[executar] [nossos] labores” e “[preparar-nos] para o encontro com Deus” (Alma 34:32; ver também Alma 34:31, 33–35). Em Doutrina e Convênios 64:24, a palavra amanhã se refere à hora da destruição dos iníquos e à Segunda Vinda de Jesus Cristo.

O presidente Henry B. Eyring, da Primeira Presidência, ensinou sobre a importância de servir ao Senhor “hoje”:

“As escrituras deixam bem claro o perigo da procrastinação, ou adiar: O de descobrirmos que nosso tempo se esgotou. Deus, que nos dá cada dia como um tesouro, pedirá que prestemos contas. Nós vamos chorar, e Ele vai chorar também, se tivermos planejado arrepender-nos e servi-Lo num futuro que nunca chegou, ou se tivermos ficado sonhando com um passado no qual a oportunidade de agir desvaneceu. O dia de hoje é um dom precioso de Deus. A atitude de deixar as coisas para ‘algum dia’ pode roubar-nos as oportunidades de aproveitar nosso tempo e receber as bênçãos da eternidade. (…)

É difícil saber quando já fizemos o bastante para que a Expiação transforme nossa natureza e, assim, nos torne merecedores da vida eterna. Não sabemos quantos dias teremos para prestar o serviço necessário para que essa mudança ocorra. Mas sabemos que teremos dias suficientes, basta que não os desperdicemos. (…)

Para aqueles que estão desanimados com as circunstâncias em que se encontram e, por isso, sentem-se tentados a achar que não podem servir ao Senhor hoje, faço duas promessas. Por mais difíceis que as coisas pareçam hoje, elas vão melhorar amanhã se vocês optarem hoje por servir ao Senhor de todo o coração. (…)

A outra promessa que lhes faço é que, ao decidirem servir ao Senhor hoje, vocês sentirão o Seu amor e passarão a amá-Lo ainda mais” (“Hoje”, A Liahona, maio de 2007, pp. 89–91).

Doutrina e Convênios 64:23–24. “Pois aquele que paga o dízimo não será queimado na sua vinda”

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molhos em um campo

Os iníquos serão queimados como restolho no último dia se não obedecerem aos mandamentos do Senhor (ver D&C 64:23–24).

As instruções dadas a Newel K. Whitney, Sidney Gilbert, Isaac Morley, Frederick G. Williams e outros na revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 64 incluíam detalhes a respeito de suas propriedades pessoais e seus labores para ajudar a construir o reino de Deus. A palavra dízimo em Doutrina e Convênios 64:23 refere-se às contribuições de todos os santos à Igreja, particularmente os que estavam sob a lei da consagração, em vez de uma porcentagem das rendas. O Senhor prometeu que aqueles que obedecessem às leis de sacrifício e consagração escapariam do fogo que destruiria no último dia os que não se arrependessem. Nosso entendimento atual da lei do dízimo foi esclarecido posteriormente em 1838, quando o Senhor deu a revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 119.

Para mais informações sobre o dízimo, veja o comentário para Doutrina e Convênios 119:1–4, neste manual.

Doutrina e Convênios 64:26–30. Sidney Gilbert e Newel K. Whitney

Sidney Gilbert e Newel K. Whitney eram sócios comerciais que foram chamados para trabalhar “a serviço do Senhor” como “agentes” comerciais (D&C 64:29). Suas lojas de mercadorias, em Independence, Missouri, e em Kirtland, Ohio, funcionariam posteriormente como armazéns do Senhor, operando sob os princípios da lei da consagração (ver D&C 78:3). O Senhor advertiu Sidney e Newel a não contraírem dívidas com seus inimigos (ver D&C 64:27).

O presidente Thomas S. Monson fez a todos os que estão a serviço do Senhor o lembrete de serem dignos: “Temos o encargo de ser bons exemplos. Somos revigorados pela verdade de que a maior força no mundo atual é a do poder de Deus agindo por meio do homem. Se estivermos a serviço do Senhor, temos o direito de receber Sua ajuda. Nunca se esqueçam dessa verdade. Esse auxílio divino, contudo, depende de nossa dignidade. Cada um deve-se perguntar: Minhas mãos estão limpas? Meu coração é puro? Sou um servo digno do Senhor?” (“Exemplos de retidão”, A Liahona, maio de 2008, p. 65.)

Doutrina e Convênios 64:31–33. “De pequenas coisas provém aquilo que é grande”

O profeta Joseph Smith e outros líderes da Igreja provavelmente devem ter se sentido sobrecarregados com os desafios que enfrentavam ao se depararem com as necessidades de uma Igreja em crescimento em Ohio e o estabelecimento de Sião no Missouri. Alguns membros, como Ezra Booth, estavam preocupados porque o estabelecimento de Sião não ocorrera tão rapidamente quanto eles tinham imaginado. No entanto, o Senhor prometeu que tudo o que Ele havia declarado previamente ainda iria se cumprir (ver D&C 64:31). O Senhor encorajou os santos fatigados, ajudando-os a ver que estavam “lançando o alicerce de uma grande obra” (D&C 64:33). Essa perspectiva divina deve ter ajudado os santos a prosseguir com confiança e energia renovadas.

Não é raro desanimar-nos com nossa capacidade ou oportunidade pessoal de ajudar na edificação do reino de Deus. O élder Bruce D. Porter (1952–2016), dos setenta, disse:

“Não precisamos ser chamados para servir longe de nossa casa nem estar em posição proeminente na Igreja ou no mundo para edificar o reino do Senhor. Fazemo-lo em nosso próprio coração, ao procurarmos ter o Espírito de Deus em nossa vida. Fazemo-lo em nossa família, ajudando nossos filhos a desenvolver fé; e também por intermédio das organizações da Igreja, ao magnificarmos nossos chamados e partilharmos o evangelho com nossos amigos e vizinhos.

Enquanto os missionários trabalham nos campos já prontos para a ceifa, há os que trabalham em casa para fortalecer o reino na ala e na comunidade onde residem. Desde o seu início, a Igreja vem sendo edificada por homens comuns que magnificaram seus chamados com humildade e devoção. Não importa para qual trabalho somos chamados, apenas que trabalhemos ‘com toda diligência’ (D&C 107:99). Nas palavras de revelação moderna: ‘Portanto não vos canseis de fazer o bem, porque estais lançando o alicerce de uma grande obra. E de pequenas coisas provém aquilo que é grande’ (D&C 64:33)” (“Edificar o reino”, A Liahona, julho de 2001, pp. 97–98).

Doutrina e Convênios 64:34–36. “O Senhor requer o coração e uma mente solícita”

O Senhor exige que Seu povo obedeça à Sua lei de boa vontade para receber uma herança na terra de Sião, neste mundo ou no próximo (ver D&C 38:17–20; 58:44; 63:20, 49; 64:34; 88:17–20). Aqueles que tiverem sido trazidos ao evangelho e recebido uma herança na terra de Sião nesta vida, mas posteriormente vierem a quebrar o convênio que fizeram com Deus e forem “rebeldes”, serão “afastados” ou “cortados” da terra de sua herança (D&C 64:35–36; ver também Deuteronômio 28:63–64). O Senhor lembrou aos santos que aqueles que servem a Deus “com o coração e uma mente solícita” vão desfrutar as bênçãos de Sião nos últimos dias (D&C 64:34).

O élder Donald L. Hallstrom da presidência dos setenta, explicou a importância de servir a Deus com “o coração e uma mente solícita”:

“Se amamos a Deus de todo o coração, estaremos dispostos a entregar-Lhe tudo o que possuímos. O élder Neal A. Maxwell (1926–2004) disse: ‘A entrega de nossa vontade a Deus é, realmente, a única coisa pessoal e ímpar que temos para depositar no altar de Deus. (…) As muitas outras coisas que damos a Deus (…) são na verdade coisas que Ele já nos deu e que nos emprestou. Mas quando começamos a nos submeter permitindo que nossa vontade seja absorvida pela vontade de Deus, então estaremos realmente dando algo a Ele’ (‘Sharing Insights from My Life’ [Compartilhar perspectivas da minha vida], em Brigham Young University 1998–99 Speeches, 1999, p. 4). (…)

Ter ‘uma mente solícita’ (D&C 64:34) denota nosso maior empenho e melhor raciocínio para buscar a sabedoria de Deus. Sugere que nosso mais devotado estudo por toda a vida deve ser de coisas que sejam de natureza eterna. Significa que deve haver uma relação inseparável entre ouvir a palavra de Deus e obedecer a ela.

O apóstolo Tiago disse: ‘Sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes’ (Tiago 1:22).

Alguns de nós ‘ouvem’ seletivamente e ‘fazem’ quando lhes é conveniente. Mas, para os que entregam o coração e a mente ao Senhor, não importa se o fardo é leve ou pesado. Demonstramos um coração e uma mente consagrados seguindo constantemente os mandamentos de Deus, por mais difíceis que sejam nossas circunstâncias” (“The Heart and a Willing Mind” [O coração e uma mente solícita], Ensign, junho de 2011, pp. 31–32).

Doutrina e Convênios 64:35–36. “Os rebeldes não são do sangue de Efraim”

Efraim era neto do profeta Jacó do Velho Testamento, cujo nome foi mudado para Israel. Efraim recebeu a bênção da primogenitura (ver Gênesis 48:20). A expressão “sangue de Efraim” (D&C 64:36) refere-se às pessoas que (1) são descendentes literais de Efraim, e também às pessoas que (2) não são da casa de Israel, mas que foram adotadas na tribo de Efraim, por meio do batismo na Igreja restaurada. Apenas aqueles que são membros da Igreja fiéis e obedientes são considerados pertencentes ao sangue de Efraim. Os rebeldes, embora eles possam ser descendentes literais de Efraim, não receberão uma herança em Sião (ver D&C 64:35–36).

O presidente Joseph Fielding Smith (1876–1972) explicou a importância da primogenitura de Efraim e a responsabilidade que os descendentes de Efraim têm de abençoar as pessoas nos últimos dias: “Nesta dispensação, é essencial que Efraim fique à testa, exerça em Israel o direito de primogenitura que lhe foi dado por revelação direta. Por conseguinte, Efraim tem que ser reunido primeiro, a fim de preparar o caminho, por meio do evangelho e do sacerdócio, para as demais tribos de Israel quando chegar a hora de serem reunidas em Sião” (Doutrinas de Salvação, comp. Bruce R. McConkie, 1954–1956, 3 vols., volume 3, pp. 255–256).

Doutrina e Convênios 65: Informações históricas adicionais

Joseph e Emma Smith moravam na propriedade de Isaac Morley quando o Senhor ordenou a Isaac que vendesse sua fazenda (ver D&C 63:65; 64:20). Em 12 de setembro de 1831, o profeta Joseph Smith mudou-se com sua família para Hiram, Ohio, onde estavam vários membros novos da Igreja, indo morar com John e Alice (Elsa) Johnson e sua família. Uma reunião da igreja foi realizada na casa da família Johnson em um domingo, 30 de outubro de 1831. Naquele mesmo dia, o profeta recebeu a revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 65.

O profeta Joseph Smith havia terminado sua tradução inspirada dos primeiros capítulos de Mateus mais de seis meses antes de essa revelação ter sido recebida. William E. McLellin escreveu, no entanto, que essa revelação se referia tematicamente a Mateus 6:10, na qual o Senhor ora: “Venha o teu reino” (ver The Joseph Smith Papers, Documents, Volume 2: julho de 1831–janeiro de 1833, p. 92).

Doutrina e Convênios 65

O Senhor declara que o evangelho encherá toda a Terra

Doutrina e Convênios 65:2. “As chaves do reino de Deus foram confiadas ao homem na Terra”

Em 5 de março de 1832, o Senhor declarou que o profeta Joseph Smith havia recebido “as chaves do reino” (D&C 81:2). Essas chaves também são conhecidas como as “chaves da Igreja” (D&C 42:69) e constituem o poder e a autoridade de presidir e governar sobre os assuntos da Igreja do Senhor na Terra. O presidente Joseph Fielding Smith ensinou sobre a importância das chaves do reino de Deus:

“Direi agora algumas palavras a vocês sobre o sacerdócio e sobre as chaves que o Senhor nos conferiu nesta última dispensação do evangelho.

Possuímos o santo sacerdócio de Melquisedeque, que é a autoridade e o poder delegados por Deus ao homem na Terra para fazer todas as coisas necessárias à salvação da humanidade.

Também possuímos as chaves do reino de Deus na Terra, cujo reino é A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

Essas chaves constituem o direito de presidir. São o poder e a autoridade para governar e dirigir todos os assuntos do Senhor na Terra. Os que portam essas chaves têm poder para governar e controlar a forma como todos os outros devem servir no sacerdócio. Todos podemos portar o sacerdócio, mas só podemos utilizá-lo conforme autorizados e dirigidos a fazê-lo pelos que possuem as chaves.

Esse sacerdócio e essas chaves foram conferidas a Joseph Smith e Oliver Cowdery por Pedro, Tiago e João, e por Moisés e por Elias, o profeta, e outros profetas antigos. Eles foram concedidos a todo homem designado membro do Conselho dos Doze, mas, como constituem o direito de presidir, só podem ser exercidos plenamente pelo apóstolo mais antigo de Deus na Terra, que é o presidente da Igreja.

Quero dizer, com toda ênfase e clareza, que temos o santo sacerdócio, e que as chaves do reino de Deus estão aqui. Elas somente são encontradas em A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias” (“Eternal Keys and the Right to Preside” [As chaves eternas e o direito de presidir], Ensign, julho de 1972, pp. 87–88).

Doutrina e Convênios 65:2. “Até encher toda a Terra”

Daniel 2, no Velho Testamento, contém o relato de um sonho que o rei Nabucodonosor teve e que o profeta Daniel interpretou. A revelação que se encontra em Doutrina e Convênios 65 indica que o sonho do rei Nabucodonosor era uma profecia a respeito do crescimento e destino do reino de Deus nos últimos dias.

Em abril de 1834, Wilford Woodruff participou de uma reunião do sacerdócio em Kirtland, Ohio, onde o profeta Joseph Smith profetizou sobre o destino do reino de Deus. O presidente Woodruff relatou mais tarde o que ocorreu naquela reunião: “O profeta convocou todos os portadores do sacerdócio a se reunirem na pequena escola de madeira que havia ali. Era uma casa pequena, com uns quatro metros quadrados. Mas ela comportava todo o Sacerdócio de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias que estava na cidade de Kirtland. (…) Quando nos reunimos, o profeta conclamou os élderes de Israel a, com ele, prestar testemunho desta obra. (…) Quando terminaram, o profeta disse: ‘Irmãos, fui muito edificado e instruído por seus testemunhos nesta noite, mas quero dizer-lhes perante o Senhor que vocês sabem tanto a respeito dos destinos desta Igreja e Reino quanto um bebê no colo da mãe. Vocês não compreendem’. Fiquei surpreso. Ele disse: ‘Vocês veem apenas um pequeno grupo de portadores do sacerdócio aqui reunidos nesta noite, mas esta Igreja encherá a América do Norte e do Sul, ela encherá o mundo’” (em Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith, 2007, p. 144).

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Edifício dos Escritórios da Igreja, Salt Lake City, Utah

O reino de Deus cresce à medida que o evangelho rola “até encher toda a Terra” (D&C 65:2).

O presidente Gordon B. Hinckley (1910–2008) descreveu como a profecia de Daniel a respeito do evangelho continua a ser cumprida:

“A Igreja tornou-se uma grande família que se espalha pelo mundo. O Senhor está cumprindo Sua promessa de que Seu evangelho será como a pedra cortada da montanha, sem auxílio de mãos, que rolaria e encheria toda a Terra, conforme a visão de Daniel (ver Daniel 2:31–45; D&C 65:2). Um grande milagre está acontecendo bem diante de nossos olhos. (…)

Quando a Igreja foi organizada, em 1830, não havia mais que seis membros, um número reduzidíssimo de fiéis, todos moradores de um lugarejo desconhecido. Hoje, tornamo-nos a quarta ou quinta maior igreja da América do Norte, com congregações em todas as cidades de alguma importância. As estacas de Sião hoje florescem em todos os estados norte-americanos, em todas as províncias do Canadá, em todos os estados do México, em todas as nações da América Central e em toda a América do Sul.

Existem congregações da Igreja por toda parte das Ilhas Britânicas e da Europa, onde milhares de pessoas se tornaram membros ao longo dos anos. Esta obra já alcançou as nações dos Bálcãs, incluindo a Bulgária, a Albânia e outros países daquela parte do mundo. Ela se encontra espalhada pela vastidão da Rússia. Estende-se até a Mongólia, atravessa as nações asiáticas, chega à Oceania, à Austrália e à Nova Zelândia, e alcança a Índia e a Indonésia. Ela está florescendo em muitas nações africanas. (…)

E isso é apenas o começo. Esta obra continuará a crescer e a prosperar, e cobrirá toda a Terra” (“A pedra cortada da montanha”, A Liahona, novembro de 2007, pp. 83–84).

Doutrina e Convênios 65:3. “Preparai a ceia do Cordeiro, aprontai-vos para o Esposo”

A referência feita pelo Senhor à “ceia do Cordeiro” e ao “Esposo” (D&C 65:3) são alusões a imagens usadas pelo Senhor e Seus apóstolos no Novo Testamento (ver Mateus 22:2–14; 25:1–13; Apocalipse 19:7–9). Jesus Cristo é o Cordeiro de Deus e o Esposo, e a Igreja é Sua noiva (ver Apocalipse 19:7–9). Na época de Sua Segunda Vinda, os santos justos irão se regozijar. A alegre reunião do Senhor com Seu povo é simbolizada na festa da celebração do casamento. Em cumprimento do convite do Senhor de preparar a vinda do Esposo e a ceia de casamento do Cordeiro, os santos devem buscar os justos dos quatro cantos da Terra e convidá-los a se arrependerem e serem batizados. Aqueles que derem ouvido ao convite e guardarem seus convênios com o Senhor se “[vestirão] de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as obras justas dos santos” (Apocalipse 19:8), e essas pessoas terão a alegria de dar as boas-vindas ao Senhor e regozijar-se com Ele em Sua Vinda.

Doutrina e Convênios 65:6. O reino de Deus e o reino dos céus

O pedido ou oração que se encontra em Doutrina e Convênios 65:6 ilustra a importante relação entre a Igreja de Deus na Terra e a organização divina dos céus. O élder James E. Talmage (1862–1933), do Quórum dos Doze Apóstolos, explicou:

“O reino de Deus é a Igreja estabelecida por divina autoridade na Terra; esta instituição não pretende ter autoridade temporal sobre as nações, seu cetro de poder é o do Santo Sacerdócio, que deve ser usado ao se pregar o evangelho e na administração de suas ordenanças para a salvação da humanidade, tanto dos vivos quanto dos mortos. O reino dos Céus é o sistema divinamente ordenado de governo e domínio em todos os assuntos, temporais e espirituais; esse será estabelecido na Terra somente quando seu Cabeça legal, o Rei dos reis, Jesus, o Cristo, vier para reinar. (…)

O reino de Deus foi estabelecido entre os homens para prepará-los para o reino dos céus que há de vir; e sob o abençoado reinado de Cristo como Rei, os dois serão transformados em um só” (Jesus, o Cristo, 1916, pp. 765–766).