1990–1999
A Família Eterna
October 1996


A Família Eterna

O plano do Pai é que o amor e o companheirismo da família continuem pelas eternidades.

Desejo falar a todos os que gostariam de saber a respeito de famílias eternas. Há um ano, a Primeira Presidência e o Quórum dos Doze Apóstolos da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias divulgaram uma proclamação ao mundo concernente à família. Ela resume princípios eternos do evangelho que têm sido ensinados desde o início da história da humanidade, sim, até mesmo antes da criação da Terra.

A doutrina da família começa com pais celestiais. Nossa maior aspiração é ser como Eles. O Apóstolo Paulo ensinou que Deus é o pai de nossos espíritos. (Ver Hebreus 12:9.) Na proclamação, lemos: “Na esfera pré-mortal, os filhos e filhas que foram gerados em espírito conheciam e adoravam a Deus como seu Pai Eterno e aceitaram Seu plano, segundo o qual Seus filhos poderiam obter um corpo físico e adquirir experiência terrena a fim de progredirem rumo à perfeição, terminando por alcançar seu destino divino como herdeiros da vida eterna”. A proclamação também reitera ao mundo que “o casamento entre homem e mulher foi ordenado por Deus e que a família é essencial ao plano do Criador para o destino eterno de Seus filhos”. (“A Família, Proclamação ao Mundo”. A Liahona, janeiro de 1996, p. 114.) Desde o princípio, Deus estabeleceu a família como unidade eterna. Adão e Eva foram unidos em matrimônio para esta vida e para toda a eternidade: “E assim se confirmaram todas as coisas a Adão por uma ordenança sagrada, e se pregou o Evangelho, e se proclamou o decreto que deveria estar no mundo até o seu fim; e assim foi. (Moisés 5:59) (…) E conheceu Adão a sua esposa e ela concebeu filhos e filhas; e eles começaram a multiplicar-se e a encher a terra”. (Moisés 5:2)

O próprio Salvador falou sobre o sagrado convênio e promessa do casamento quando conferiu autoridade a Seus discípulos para ligarem nos céus os convênios sagrados feitos na Terra. “E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus; e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.” (Mateus 16:19)

Nestes últimos dias, a promessa de famílias eternas foi renovada em 1829, quando os poderes do Sacerdócio de Melquisedeque foram restaurados na Terra. Sete anos depois, no Templo de Kirtland, as chaves para a realização das ordenanças seladoras foram restauradas, conforme registrado em Doutrina e Convênios: “Elias, o profeta, que foi transladado aos céus sem ter experimentado a morte, estava em pé diante de nós, e disse: Eis que chegado é o tempo exato do qual falou Malaquias (…) as chaves desta dispensação são postas em vossas mãos”. (D&C 110:13, 14, 16)

A restauração dessas chaves e da autoridade do sacerdócio deu oportunidade a todas as pessoas dignas de receberem as bênçãos de uma família eterna. “Sim, os corações de milhares e dezenas de milhares grandemente se regozijarão em conseqüência das bênçãos que serão derramadas e da investidura com a qual os Meus servos têm sido investidos nesta casa.” (D&C 110:9)

Qual é a promessa dos selamentos realizados nos templos? O Senhor dá as linhas gerais da promessa e dos requisitos, neste versículo sagrado: “E novamente, na verdade Eu te digo, se um homem tomar uma esposa conforme a Minha palavra, que é a Minha lei, e pelo novo e eterno convênio, e for selado pelo Santo Espírito da promessa, por aquele que é ungido, e que encarreguei com esse poder e com as chaves deste sacerdócio; e lhes for dito — Surgireis na primeira ressurreição; e se for depois da primeira ressurreição, na próxima ressurreição; e herdareis tronos, reinos, principados, e poderes, domínios, todas as alturas e profundidades — então será escrito no Livro de Vida do Cordeiro (…) e estará em pleno vigor quando deixarem este mundo; e passarão pelos anjos e deuses que ali estão, e entrarão para a sua exaltação e glória em todas as coisas, conforme selado sobre as suas cabeças, glória que será uma plenitude e uma continuação das sementes para todo o sempre”. (D&C 132:19)

Conforme ensinado nas escrituras, um vínculo eterno não se forma apenas como resultado dos convênios seladores que fazemos no templo. Nossa conduta nesta vida determinará o que seremos por todas as eternidades futuras. A fim de recebermos as bênçãos do selamento que o Pai Celestial nos concedeu, precisamos guardar os mandamentos e agir de modo que nossa família deseje viver conosco nas eternidades. Os relacionamentos familiares que temos aqui na Terra são importantes, mas eles são muito mais importantes por causa de seu efeito sobre nossa família, por gerações, nesta vida e por toda a eternidade.

É um mandamento divino que marido e mulher se amem um ao outro acima de qualquer outra pessoa. O Senhor diz claramente: “Amarás a tua esposa de todo o teu coração e a ela te apegarás e a nenhuma outra”. (D&C 42:22) A proclamação declara: “Segundo o modelo divino, o pai deve presidir a família com amor e retidão, tendo a responsabilidade de atender às necessidades de seus familiares e de protegê-los. (Ver D&C 83:2-4; I Timóteo 5:8.) [Segundo o modelo divino,] a responsabilidade primordial da mãe é cuidar dos filhos”. Segundo o modelo divino, marido e mulher são parceiros iguais quanto às responsabilidades de seu casamento em relação aos filhos. Por mandamento direto de Deus, “os pais têm o sagrado dever de (…) [ensinar os filhos] a amar e servir uns aos outros, guardar os mandamentos de Deus e ser cidadãos cumpridores da lei [nos países onde residem]”. (A Liahona, janeiro de 1996, p. 114; grifo do autor. Ver D&C 68:25-28; Mosias 4:14-15.)

Devido à importância da família para o plano eterno de felicidade, Satanás esforça-se para destruir sua santidade, aviltar a importância do papel do homem e da mulher, encorajar a impureza moral e a violação da sagrada lei da castidade, além de desestimular a concepção e a criação de filhos como uma das maiores prioridades dos pais.

A unidade familiar é tão fundamental para o plano de salvação que Deus advertiu-nos de que “as pessoas que violam os convênios de castidade, que maltratam o cônjuge ou os filhos, ou que deixam de cumprir suas responsabilidades familiares, deverão um dia responder perante Deus [seu Criador]. (…) A desintegração da família fará recair sobre pessoas, comunidades e nações as calamidades preditas pelos profetas antigos e modernos”. (A Liahona, janeiro de 1996, p. 114)

Embora a salvação individual baseie-se na obediência, é igualmente necessário compreendermos que cada um de nós é parte integral e importante de uma família, e que as bênçãos maiores só podem ser alcançadas em uma família eterna. Quando a família vive segundo o modelo de Deus, as relações que se têm em seu seio são as mais valiosas da mortalidade. O plano do Pai é que o amor e o companheirismo da família continuem pelas eternidades. O fato de sermos membros de uma família traz consigo a grande responsabilidade de amarmos, edificarmos, fortalecermos e cuidarmos de cada um de seus integrantes, a fim de que todos perseverem em retidão até o fim da mortalidade e vivam juntos eternamente. Não basta apenas salvar a nós mesmos. É igualmente importante a salvação de pais, irmãos e irmãs de nossa família. Se voltarmos sozinhos para o Pai Celestial, Ele nos perguntará: “Onde está o restante da família?” É por isso que ensinamos que as famílias são eternas. A natureza eterna de uma pessoa torna-se a natureza eterna da família.

A natureza eterna do corpo e do espírito é uma questão freqüentemente considerada por aqueles que vivem na mortalidade. Todos os que habitam esta Terra fazem parte de uma família humana e são filhos eternos de Deus, nosso amoroso Pai Celestial. Após o nascimento e a morte, todos seremos ressuscitados por causa da Expiação de Jesus Cristo, o Filho Unigénito de Deus o Pai. Dependendo de sua obediência às leis, ordenanças e mandamentos de Deus, cada mortal pode receber as bênçãos da vida eterna, isto é, voltar a viver na presença do Pai Celestial e de Seu Filho Jesus Cristo, tendo uma descendência eterna para todo o sempre. Fazendo e cumprindo os convênios sagrados das ordenanças do templo, as pessoas podem retornar à presença de Deus e reunir-se a sua família eternamente.

O lar é o local onde somos criados e onde nos preparamos para viver na mortalidade. É também onde nos preparamos para a morte e a imortalidade, devido a nossa crença e compreensão de que há vida após a morte não só para o indivíduo, mas também para a família.

Algumas das maiores lições dos princípios do evangelho, a respeito da natureza eterna da família, são aprendidas ao observarmos como os membros da Igreja, ao enfrentarem adversidades, aplicam os princípios do evangelho em sua vida e no lar. No ano passado, fui testemunha da alegria daqueles que honram e reverenciam os ensinamentos do evangelho sobre a família eterna em tempos de adversidade.

Poucos meses atrás, tive a oportunidade de visitar um homem que sofria de uma doença terminal. Era um portador devotado do sacerdócio, que se defrontava com a realidade da vida terrena. Encontrou força, entretanto, no exemplo do Salvador que, no Pai Nosso, disse: “Portanto, vós orareis assim: (…) seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”. (Mateus 6:9-10) Meu amigo adquiriu coragem vendo que, quando teve de suportar uma dor e uma agonia intensa no Jardim de Getsêmani, ao completar o sacrifício expiatório, Jesus disse o seguinte: “Pai meu, se este cálice não pode passar de mim sem eu o beber, faça-se a tua vontade”. (Mateus 26:42)

Meu amigo aceitou as palavras “seja feita a tua vontade” ao enfrentar as próprias adversidades e tribulações dolorosas. Como membro fiel da Igreja, ele agora se via diante de algumas sérias questões. Suas dúvidas eram particularmente tocantes: “Fiz tudo que precisava para perseverar fielmente até o fim? Como será a morte? Minha família está preparada para permanecer fiel e ser autosuficiente depois que eu partir?”

Tivemos oportunidade de conversar sobre todas essas questões, que são claramente respondidas na doutrina ensinada pelo Salvador. Falamos sobre como ele se esforçara para ser fiel, fazer o que Deus lhe pedira, ser honesto ao tratar com seus semelhantes, cuidar de sua família e amá-la. Não é isso que significa perseverar até o fim? Conversamos a respeito do que acontece imediatamente após a morte, e do que Deus nos ensinou sobre o mundo dos espíritos. É um lugar paradisíaco e cheio de felicidade para aqueles que viveram retamente. Não é algo para se temer.

Após nossa conversa, ele reuniu a esposa e os familiares — filhos e netos — para ensinar-lhes novamente a doutrina da Expiação e que todos serão testados. Todos entenderam que, tal como disse o Salvador, embora haja pesar pela separação temporária, não se deve lamentar por aqueles que morrem no Senhor. (Ver Apocalipse 14:13; D&C 42:46.) Sua bênção prometia-lhe consolo e a certeza de que tudo acabaria bem, que ele não sentiria dor e teria mais tempo para preparar a família para sua partida — até mesmo que saberia quando chegasse a hora de partir. Os membros da família contaram-me que, na noite anterior a sua morte, ele disse que partiria no dia seguinte. Faleceu na tarde do dia subseqüente, em paz e com toda a família a seu lado. Recebemos essa paz e esse consolo quando compreendemos o plano do evangelho e sabemos que as famílias são eternas.

Comparem esses acontecimentos com um incidente que me aconteceu quando tinha mais ou menos vinte anos. Quando eu servia na Força Aérea, um dos pilotos de meu esquadrão acidentou-se durante uma missão de treinamento e morreu. Fui designado para acompanhar meu companheiro em sua jornada final de volta ao lar, para ser enterrado no Brooklyn, subúrbio da cidade de Nova York. Tive a honra de permanecer ao lado da família durante o velório e os serviços fúnebres e de representar o governo dos Estados Unidos na apresentação da bandeira à triste viúva, ao lado da sepultura. O serviço fúnebre foi sombrio e triste. Nenhuma menção se fez à bondade ou às realizações do falecido. Seu nome nem mesmo foi citado. Ao término da reunião, a viúva virou-se para mim e perguntou: “Bob, o que vai realmente acontecer com o Don?” Tive, então, oportunidade de transmitir a ela a bela doutrina da Ressurreição e a certeza de que, se batizados e selados no templo para esta vida e para toda a eternidade, eles poderiam ficar juntos para sempre. O ministro religioso, que se encontrava perto dela, disse: “Essa é a mais bela doutrina que já ouvi”.

A plenitude do evangelho de Jesus Cristo proporciona grande consolo nos momentos difíceis da mortalidade. Lança luz onde há trevas e calma onde há confusão. Oferece esperança eterna quando há desespero mortal. É mais do que uma bela doutrina. É uma realidade para nós o fato de que, se formos obedientes e obtivermos as recompensas eternas que Deus nos concede e se nos achegarmos a Ele e aceitarmos a doutrina eterna, seremos abençoados.

Outro acontecimento que tocou minha vida ocorreu recentemente, quando da morte de um jovem portador de doença terminal. Ele sabia que a doença iria primeiramente privá-lo da coordenação motora e da capacidade de locomoção; depois, iria impedi-lo de falar; e, finalmente, seu sistema respiratório não funcionaria mais. Contudo, ele também acreditava que as famílias são eternas. Com esse conhecimento, falou a seus filhos por meio de gravações de vídeo. Fez gravações que deveriam ser entregues a eles em ocasiões importantes e sagradas, tais como batismos, ordenações ao sacerdócio e casamentos, depois que ele partisse. Falou-lhes com terno amor de um pai cônscio de que, embora sua família fosse eterna, durante algum tempo não poderia estar com ela fisicamente, mas que, espiritualmente, jamais a deixaria.

Os exemplos de fé dados por viúvos e viúvas, juntamente com os exemplos de seus filhos após o falecimento do cônjuge ou de um dos pais, constituem uma inspiração para todos nós. Podemos aprender grandes lições quando observamos sua fé e obediência ao esforçarem-se para permanecer fiéis para que, uma vez mais, fiquem juntos como famílias na eternidade.

O conhecimento e a compreensão da doutrina de que Deus vive, de que Jesus é o Cristo e de que seremos ressuscitados e poderemos viver na presença de Deus, o Pai e de Seu Filho Jesus Cristo torna possível suportar coisas que, de outra forma, seriam trágicas. Essa doutrina traz um brilho de esperança a um mundo que, em outros aspectos, é escuro e triste. Ela responde às indagações simples a respeito de onde viemos, por que estamos aqui e para onde vamos. Essas verdades devem ser ensinadas e vividas em nosso lar.

Deus vive. Jesus é o Cristo. Por meio de Sua Expiação, teremos a oportunidade de ressuscitar. Isso não é apenas uma bênção individual: é muito mais. É uma bênção para cada um de nós e para nossa família. Que sejamos eternamente gratos, que vivamos na presença de Deus, o Pai Eterno, e de Seu Filho, Jesus Cristo, que fiquemos juntos por todas as eternidades, que compreendamos a alegria, e que não apenas ensinemos essa doutrina, mas que sejamos fiéis a ela em nossa vida e em nossa família. Oro em nome de Jesus Cristo. Amém.