1990–1999
Santificar o Templo
April 1990


Santificar o Templo

“Entrar no templo é um privilégio a ser merecido, e não um direito que acompanha automaticamente a condição de membro da Igreja”

Irmãos, recomendo-vos o que temos ouvido dos que nos falaram esta noite. Recebemos muitos conselhos e inspiração, aplicáveis igualmente a homens e rapazes.

Em diversas ocasiões, nos anos passados, dirigi minhas palavras, nestas reuniões do sacerdócio, aos portadores do Sacerdócio Aarônico. Nesta noite, se me permitis, decidi dirigir-me aos homens, com a esperança de transmitir aos jovens algum valor de longo alcance.

Tenho aqui dois cartões de crédito. Muitos de vós estais bem familiarizados com cartões como estes.

O primeiro é um cartão de crédito bancário. Permite-me adquirir mercadorias a crédito e depois saldá-las todas de uma só vez. É valioso e deve ser bem guardado. Se for roubado e usado desonestamente, poderá causar-me grande prejuízo e talvez consideráveis transtornos. Ao aceitá-lo do meu banco, celebro um contrato com ele, e sujeito-me a obrigações e acordos. Aceitando o cartão, concordo em preencher as condições sob as quais foi emitido.

Ele é válido por apenas um ano, tendo que ser renovado anualmente se eu quiser continuar gozando os privilégios que me faculta. Não é realmente meu; continua pertencendo ao banco. Se eu falhar no cumprimento dos requisitos, o banco poderá cancelar o crédito e retomar o cartão.

O outro cartão que tenho aqui nós chamamos de recomendação para o templo. Representa uma espécie de cartão de crédito com o Senhor, dando-me acesso a muitos de seus maiores dons. O cartão bancário diz respeito às coisas do mundo; a recomendação, às coisas de Deus.

Para obter uma recomendação para o templo, o contemplado precisa, igualmente, ter provado sua elegibilidade, e esta elegibilidade está baseada na dignidade pessoal. Uma vez concedida, ela não é válida para sempre, mas precisa ser renovada anualmente. Além disso, está sujeita à retomada se o portador fizer qualquer coisa que o desqualifique para seus privilégios.

A elegibilidade para uma recomendação para o templo não se fundamenta nas condições financeiras. Estas não têm nada a ver com o assunto. Ela baseia-se na consistente conduta pessoal, na virtude da vida de cada um. Não se preocupa com questões financeiras, mas com as coisas da eternidade.

O cartão bancário abre a porta para o crédito financeiro. A recomendação para o templo abre a porta para a Casa do Senhor. Diz respeito à entrada nos recintos sagrados, a fim de realizar obra sagrada e divina.

Temo que algumas pessoas recebam a recomendação para o templo antes de estarem realmente preparadas. Sinto que, às vezes, apressamos indevidamente certas pessoas, para que entrem no templo. Os conversos, e aqueles que voltaram recentemente à atividade, necessitam de uma medida substancial de maturidade na Igreja. Precisam compreender os grandiosos conceitos do evangelho eterno. Precisam ter demonstrado durante certo tempo a capacidade de disciplinar a própria vida, de modo a serem dignas de entrar na Casa do Senhor, pois as obrigações ali assumidas são eternas. Por este motivo, há muitos anos, a Primeira Presidência determinou que um converso à Igreja deveria esperar um ano após o batismo para poder ir à Casa do Senhor, na expectativa de que, durante esse ano, ele cresceria em entendimento, bem como na capacidade de exercer a medida de autodisciplina capaz de resultar em dignidade pessoal. Em 1833, o Senhor revelou ao Profeta Joseph Smith:

“Na verdade vos digo que é do meu desejo que a mim seja construída uma casa… para a salvação de Sião…

E se o meu povo a mim construir uma casa em nome do Senhor, e não permitir que nela entre coisa alguma impura para profaná-la, a minha glória sobre ela descansará;

Sim, e a minha presença aí estará, pois entrarei nela, e todos os puros de coração que a ela vierem, verão a Deus.

Mas se ela for violada, eu não entrarei nela, e a minha glória aí não estará; pois eu não entrarei em templos impuros.” (D&C 97:10–17.)

Esta, concedo, é uma linguagem descritiva, definitiva e vigorosa do Senhor, concernente à sua santa casa.

Nosso templo ostenta na fachada os dizeres “Santidade ao Senhor”, aos quais eu gostaria de acrecentar a injunção “Santifica Esta Casa!”

Afirmo que todo portador do Sacerdócio de Melquisedeque tem a obrigação de fazer com que a Casa do Senhor seja conservada sagrada e livre de qualquer violação. Esta obrigação cabe primordial e obrigatoriamente aos bispos e presidentes de estaca. Eles tornam-se os juízes da elegibilidade dos que pretendem entrar no templo. Adicionalmente, todos nós temos uma obrigação: primeiro, quanto à sua própria dignidade pessoal; e, segundo, quanto à dignidade daqueles que incentivar ou ajudar a ir à Casa do Senhor.

Em tempos passados, os Presidentes da Igreja preocupavam-se tanto com esse assunto que exigiam que o Presidente assinasse pessoalmente cada recomendação. Com o crescimento da Igreja, isso se tornou impraticável. Leio-vos uma circular endereçada aos presidentes de estaca e bispos de ala, datada de 10 de novembro de 1891:

“Caros Irmãos: Ficou decidido que já não é necessário que os que quiserem ir ao templo para realizar ordenanças, enviem‘suas recomendações ao Presidente Woodruff para serem endossadas por ele. A assinatura do bispo e do presidente de estaca serão suficientes.

Diante desta decisão, o bispo e o presidente de estaca perceberão a maior necessidade de cuidado, para que nenhuma pessoa indigna seja recomendada para ordenanças no templo.

(Ass.) Vossos irmãos, Wilford Woodruff, George Q. Cannon, Joseph F. Smith, Primeira Presidência de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.” (James R. Clark, comp., Messages of the First Presidency of The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 6 vols., Salt Lake Citv: Bookcraft, 1965-1975, 3:229.)

Nessa época, havia três templos em funcionamento na Igreja: St. George, Manti e Logan. O Templo de Lago Salgado ainda não havia sido dedicado. Agora temos quarenta e três templos funcionando. Se em 1891 era muito trabalhoso para o Presidente da Igreja endossar todas as recomendações para o templo, imaginai a situação hoje. Independente do número ou circunstâncias, a emissão e assinatura de uma recomendação para o templo nunca deve tornar-se um assunto corriqueiro.

Esse pequeno documento, simples na aparência, certifica que o portador preencheu certos requisitos precisos e exigentes, e que é digno de entrar na Casa do Senhor e participar das mais sagradas ordenanças administradas em qualquer parte da terra. Essas ordenanças dizem respeito não só às coisas da vida, mas às coisas da eternidade. Só na Casa do Senhor é exercida a plenitude do sacerdócio eterno, com autoridade que alcança além do véu da morte.

Tudo que acontece no templo é eterno em suas conseqüências. Ali lidamos com assuntos de imortalidade, com coisas da eternidade, com coisas do homem e sua relação com seu Divino Pai e seu Redendor. As mãos têm de estar limpas, o coração puro e os pensamentos preocupados com as solenidades da eternidade, quando nos encontramos nesse recinto sagrado.

Nele é ensinado o plano da jornada eterna do homem. Nele são solenizados convênios sagrados e eternos. Entrar no templo é um privilégio a ser merecido e não um direito que acompanha automaticamente a condição de membro da Igreja.

Como se faz jus a esse privilégio? Pela obediência às leis e ordenanças do evangelho.

Como sabeis, espera-se que a toda pessoa que solicita uma recomendação para o templo sejam feitas perguntas específicas para determinar sua dignidade. Não é preciso dizer que deve haver total honestidade da parte da pessoa interrogada. As perguntas não se destinam a causar embaraço nem devem fazê-lo. O bispo é advertido a não imiscuir-se em questões altamente pessoais e sensíveis. Ao mesmo tempo, o bispo deve estar convencido de que o requerente é digno de entrar na Casa do Senhor.

Algumas dessas perguntas são de caráter específico; dizem respeito a coisas como dízimo e Palavra de Sabedoria.

Espera-se que a pessoa seja um dizimista integral. O pagamento de dízimo é uma resposta fiel a um mandamento do Senhor, um sinal de obediência à vontade divina. Ademais, a longa observação tem demonstrado que o pagamento fiel e honesto do dízimo é indicador de fidelidade em outros assuntos.

A obediência à Palavra de Sabedoria é necessária? As Autoridades Gerais estão convencidas há muito de que certamente é. A observância da Palavra de Sabedoria diz respeito ao cuidado com o próprio corpo que, o Senhor tem assegurado, é por si próprio um templo, o tabernáculo do espírito. Disse ele: “Sim, o homem é o tabernáculo de Deus; mesmo templos; e qualquer templo que for violado, Deus o destruirá.” (D&C 93:35.)

Lembro-me do que um bispo me contou acerca de uma mulher que pretendia uma recomendação para o templo. Ao perguntar-lhe se observava a Palavra de Sabedoria, respondeu que vez por outra tomava uma xícara de café, e disse: “Ora, bispo, não vai deixar que isto me impeça de ir ao templo, não é?”, ao que o bispo replicou: “Irmã, certamente a senhora não vai permitir que uma xícara de café se interponha entre a irmã e a Casa do Senhor.”

Dízimo e Palavra de Sabedoria tratam de coisas diretas e facilmente discerníveis. Existem assuntos um pouco mais sutis, mas de importância ainda maior. Dizem respeito à honestidade fundamental, à integridade básica, o grau em que aceitamos e praticamos as leis de Deus incorporadas nos ensinamentos da Igreja.

Nós apoiamos as autoridades locais e as Autoridades Gerais? Isto nada tem a ver com homenagens prestadas àqueles chamados por Deus para presidir. É uma questão básica de reconhecimento do fato de que Deus chamou um profeta para ficar à testa da sua igreja, e chamou outros para colaborar com ele em âmbito geral, e que aquilo que eles esposam e ensinam é resultado de orarem unidos, ponderarem juntos, buscarem a vontade do Senhor, receberem conhecimento dessa vontade e seguirem-na.

Da mesma forma, a menos que exista lealdade para com o bispo e presidente de estaca em âmbito local, haverá ausência de harmonia, haverá suspeita e hesitação em servir com fidelidade, haverá aquele tipo de divisão que é sempre mortal à fé. É preciso lembrar sempre que nenhum Presidente da Igreja, conselheiro na Presidência, autoridade geral, membro de uma presidência de estaca ou bispado ou de quorum de élderes está ali porque desejou e pediu o privilégio. Cada qual está ali porque foi “chamado por Deus, pela profecia e pela imposição das mãos por quem tem autoridade para pregar o evangelho e administrar as suas ordenanças”. (5.a Regra de Fé.)

A lealdade à liderança é um requisito fundamental para todos os que servem no exército do Senhor. Uma casa dividida contra si mesma não pode prevalecer.(Vide Marcos 3:25.) A união é fundamental e essencial. Declarou o Senhor: “Se vós não sois um, não sois meus.” (D&C 38:27.) Deixar de apoiar os líderes é incompatível com o serviço no templo.

Honestidade com os outros, inclusive obediência à lei constitucional, é outro requisito.

“Cremos na submissão aos reis, presidentes, governadores e magistrados, na obediência, honra e manutenção da lei.” (12.a Regra de Fé.)

Vez por outra recebemos cartas de pessoas que advogam abertamente a oposição ao pagamento de impostos, queixando-se de que bispos e presidentes de estaca lhes estão negando a recomendação por causa de suas atividades. No decorrer da história desta obra, houve ocasiões em que a Igreja e seus membros se opuseram à lei do país. Nessas ocasiões, defendemos nosso caso nos tribunais. Nas vezes em que os tribunais decidiram contra nós, aceitamos e cumprimos a decisão, embora sendo uma empreitada difícil. Obediência à lei quando essa lei foi declarada constitucional, é obrigatória para os santos dos últimos dias, e por isso se torna um padrão de dignidade para entrar no templo.

Nesse contexto geral, gostaria de dizer que tomamos a posição de que pais que deixam de pagar a pensão determinada por tribunal, a seus filhos, não podem aspirar aos privilégios da Casa do Senhor. As escrituras são claras e diretas em sua declaração concernente à responsabilidade dos pais com referência aos filhos. Quando acontece o divórcio e cresce o ressentimento, como sói acontecer, certos homens vão quase a extremos para furtar-se às suas obrigações. Quando isso se torna uma violação dos termos impostos pelo tribunal, transforma-se num ato de desacato à doutrina e ensinamento da Igreja.

A recomendação para o templo que tendes, se obtida honestamente, é um atestado de dignidade moral. É inconcebível imaginar que um homem mulherengo e infiel à esposa se considere digno de entrar no templo. Desnecessário dizer que alguém assim não deve receber uma recomendação.

Existe, porém, outro grupo menos visível, do qual gostaria de falar. Tenho em meu escritório um arquivo de cartas recebidas de mulheres queixando-se do tratamento que recebem do marido no lar. Elas falam sobre a atividade de alguns desses homens em responsabilidades da Igreja, e alguns são, até portadores de recomendações para o templo. E falam de maus tratos, tanto sutil como abertamente. Falam de maridos que perdem o autodomínio e gritam com a esposa e filhos. Falam de homens que exigem relações íntimas que ofendem, de homens que as rebaixam, e de pais que parecem não saber nada a respeito de paciência e clemência com respeito a seus filhos.

Irmãos, quando o bispo vos entrevistar para uma recomendação para o templo, ele provavelmente não abordará esses delicados assuntos pessoais. Vós deveis julgar no próprio coração se sois culpados de prática ímpia, impura ou, de qualquer forma, condenável perante o Senhor.

Que coisa única e extraordinária é uma recomendação para o templo. Não passa de um pedaço de papel com um nome e assinaturas, mas na realidade é um atestado, certificando que o portador é “honesto, verdadeiro, casto, benevolente, virtuoso”, e que acredita em fazer o bem a todos, que “se houver qualquer coisa virtuosa, amável ou louvável”, ele a procurará. (13.a Regra de Fé.)

Mais importante, e acima de quaisquer outras qualificações, é a convicção, por parte do portador de recomendação, de que Deus, o Pai Eterno, vive, que Jesus Cristo é o Filho vivo do Deus vivente, e que esta é a obra sagrada e divina deles.

Irmãos, creio que a maioria dos que têm uma recomendação para o templo preenchem todos os requisitos. Famento reconhecer que pode existir uns poucos que não o fazem e não deveriam entrar na Casa do Senhor. Sei que é difícil para um bispo negar a recomendação para alguém de sua ala, e que talvez se encontre na linha divisória com referência à conduta pessoal. Tal negativa poderá ofender o solicitante, mas ele deve saber que, sem genuína dignidade, não obterá nenhuma bênção, e condenação cairá sobre a cabeça daquele que cruzar indignamente a soleira da Casa de Deus.

Poderia falar de um assunto pertinente ao templo? Fembro-vos da absoluta obrigação de não discutir fora do templo o que acontece lá dentro. Assuntos sagrados merecem consideração sagrada. Estamos sob a obrigação, imperativa e séria, de não usar a linguagem do templo ou falar de assuntos do templo fora dele. Há cinqüenta e sete anos fui ao templo pela primeira vez. Foi diferente de qualquer experiência tida na Igreja. Um rapaz de meu conhecimento foi ao templo na mesma época. Em seguida passou a usar frases da linguagem do templo de modo frívolo. Era uma coisa ofensiva; a traição de um penhor sagrado. Tenho-o observado no transcorrer dos anos. Tendo sido um membro fiel, ele foi-se tornando totalmente inativo e abandonou a fé recebida de seus pais. Penso que grande parte do que aconteceu começou com a pequena irreverência de trivializar a linguagem que não é trivial.

Irmãos, não podemos discutir fora do templo o que acontece lá dentro. Tendes liberdade de fazê-lo enquanto estais ali. Se tendes dúvidas, conversai com o presidente do templo ou um de seus conselheiros. Quando sairdes da Casa do Senhor, sede fiéis ao penhor de não falar daquilo que é sagrado e santo.

Diz o Senhor: “Lembrai-vos de que aquilo que vem do alto é sagrado e deve ser mencionado com cuidado e por constrangimento do Espírito.” (D&C 63:64.) E novamente: “Não brinques com coisas sagradas.” (D&C 6:12.)

Concluindo, repito que esta recomendação que temos, é preciosa e maravilhosa. Ela nos torna elegíveis para o privilégio exclusivo e marcante de entrar na casa que diz em seus muros: “Santidade ao Senhor — A Casa do Senhor.” Vivei de modo a serdes dignos de servir nessa casa. Mantende-a sagrada. Fazei vossa parte para conservar a Casa do Senhor livre de qualquer influência ou pessoa impura ou aviltante. Gozai a sua beleza, e as maravilhas das coisas que ali são faladas, a beleza e bênção das ordenanças ali administradas.

A vós, jovens, que estais aqui e ainda não fostes ao templo, sugiro que aproveiteis a oportunidade de serdes batizados em favor dos mortos. E deixai que essa sagrada experiência se torne uma âncora em vossa vida, para que vos conduzais em todas as circunstâncias de modo a obterdes o cartão de crédito especial e restrito do Senhor, uma recomendação para sua santa casa, para usufruirdes das bênçãos e privilégios. Assim oro em nome de Jesus Cristo, amém.