1990–1999
Tradições Familiares
April 1990


Tradições Familiares

“As tradições que nos aproximam da grande herança que nos foi concedida são algo que toda família deveria procurar conservar”

Os profetas nos ensinaram que, antes que o mundo existisse, houve um conselho nos céus. O Presidente Brigham Young instruiu os santos:

“O conselho… decretou: ‘Que haja uma terra e que haja um firmamento em cima e embaixo dela.’ E assim foi. Eles disseram: ‘Que haja calor e frio’, e assim foi. Eles disseram: ‘Que haja primavera, verão, outono e inverno’, e assim aconteceu.

‘Quem redimirá a terra, quem descerá e fará o sacrifício pela terra e todas as coisas que ela contém?’ O irmão mais velho disse: ‘Eis-me aqui’, e então acrescentou: ‘Manda-me.’ Mas o segundo, que era ‘Lúcifer, o Filho da Manhã’, disse: ‘Eis-me aqui, manda-me e serei teu filho, e redimirei todo filho e filha de Adão e Eva que vive e que viverá sobre a terra.’ ‘Mas’, disse o Pai, ‘isso não resolverá tudo. Eu dou a cada indivíduo e pessoa o livre-arbítrio; todos devem usá-lo para alcançar a exaltação em meu reino e, já que eles têm o poder para escolher, devem exercê-lo. Eles são meus filhos; os atributos que em mim vês existem também em meus filhos, e eles devem usar seu arbítrio. Se tentares salvar a todos, deverás salvá-los em iniqüidade e corrupção.’” (Discursos de Brigham Young, pp. 53-54.)

Quando esses espíritos vêm para a terra, saídos do conselho nos céus, continuam desejando o livre-arbítrio; aliás, estão dispostos até mesmo a se sacrificarem por essa liberdade. Estamos testemunhando hoje a ocorrência de eventos admiráveis no mundo: evidência do grande desejo que o homem tem de liberdade. A história da experiência mortal do homem indica que esse desejo tem raízes espirituais.

Existe no homem um desejo inato, dominante e compulsivo de ser livre, e que parece ser mais precioso do que a própria vida.

Outro desejo que trazemos da existência pré-mortal é o de saber quem somos e de onde viemos, bem como quais são nossas oportunidades no grande plano eterno. As respostas para tais perguntas só podem ser realmente encontradas no evangelho de nosso Senhor e Salvador.

Ao ouvirmos os brados de ajuda daqueles que agora estão procurando lidar com sua recém-adquirida liberdade, que estão tentando usá-la e compreendê-la, podemos voltar-nos para as escrituras e ler de que forma o Senhor preparou outra nação para a liberdade.

As escrituras registram que Israel viveu na terra do Egito por quatrocentos e trinta anos. Durante algum tempo o povo havia prosperado, sob a liderança de José. Lemos:

“Sendo pois José falecido, e todos os seus irmãos, e toda aquela geração.

Os filhos de Israel frutificaram, e aumentaram muito, e multiplicaram-se, e foram fortalecidos grandemente; de maneira que a terra se encheu deles.

Depois levantou-se um novo rei sobre o Egito, que não conhecera a José;

O qual disse ao seu povo: Eis que o povo dos filhos de Israel é muito, e mais poderoso do que nós.

Eia, usemos sabiamente para com ele, para que não se multiplique, e aconteça que, vindo guerra, ele também se ajunte com os nossos inimigos, e peleje contra nós, e suba da terra.” (Êxodo 1:6–10.)

Então a narrativa continua, contando como os israelitas foram escravizados pelos egípcios. Moisés cresceu, foi instruído e encarregado de livrá-los da escravidão e de conduzi-los à sua própria terra prometida. A tarefa foi difícil, pois Israel tinha vivido cerca de dois séculos em escravidão; muitas das práticas idólatras proeminentes na terra lhe haviam sido ensinadas. Teria sido impossível a Moisés conduzir seu povo sem a orientação do Senhor.

A fim de reedificar a fé e relembrar-lhes quem era o seu verdadeiro Deus, Moisés foi instruído a estabelecer certos princípios e práticas entre eles, para ajudá-los a voltar para a verdadeira doutrina. Primeiro, o Senhor os instruiu a construir um tabernáculo que poderia ser levado de um lugar para outro, em sua jornada para a terra prometida. Esse tabernáculo deveria ser uma casa de adoração, onde as cerimônias sagradas poderiam ser realizadas. Deveria ser usado por aqueles que estivessem dispostos a seguir a lei do Senhor.

Quando os filhos de Israel eram desobedientes, o privilégio das bênçãos de um tabernáculo lhes era negado. Lemos:

“E tomou Moisés a tenda, e a estendeu para si fora do arraial, desviada longe do arraial, e chamou-lhe a tenda da congregação: e aconteceu que todo aquele que buscava o Senhor saiu à tenda da congregação, que estava fora do arraial.” (Êxodo 33:7.)

Quando os filhos de Israel novamente acharam graça à vista do Senhor, o tabernáculo foi levado com eles de um lugar para outro, em busca da terra prometida. Era o seu guia durante o dia e sua segurança à noite.

Mais tarde, quando alcançaram a terra que deveriam habitar, o Rei Salomão construiu um templo magnífico no Monte Sião, em Jerusalém, onde poderiam continuar a usufruir uma casa de adoração oficial. Os israelitas adoraram no Templo de Salomão durante trezentos e cinqüenta anos, mas deixaram de ser fiéis, e suas desavenças causaram conflito nas tribos. Isto os enfraqueceu de tal forma que quando Nabucodonosor, rei da Babilônia, os atacou, derrotou-os e saqueou o templo, destruindo-o. Os israelitas perderam não só seu lugar de adoração mas, por muitos anos, seus lares, pois Nabucodonosor levou-os cativos para a Babilônia.

Além do tabernáculo como lugar de adoração, o Senhor lhes deu a lei escrita, em placas de pedra. Tais mandamentos foram escritos pelo dedo do Senhor e conservados como guia e orientação. Os Dez Mandamentos eram o fundamento da lei hebraica. Quatro deles referem-se à nossa atitude para com Deus; os seis restantes à nossa atitude para com o próximo. A reverência a Deus foi o alicerce dos Dez Mandamentos. Eis a base para uma sociedade edificada na lei e na ordem.

O Senhor tinha outra forma de lembrar Israel das bênçãos que lhe havia concedido. Fez com que fossem estabelecidos costumes religiosos que se tornaram parte da vida do povo, e que representavam as formas pelas quais podiam expressar fé em Deus. Israel se recusou a abandonar tais práticas, mesmo depois de ter sido levada em cativeiro. Os israelitas entenderam que o domínio de Deus não se limitava a fronteiras nacionais ou políticas, e não desistiram de sua fé, mesmo em meio a provações em terra estranha. Não tinham mais seu templo, mas restavam-lhes a lei e os costumes religiosos para adorar a seu Deus.

A maioria de nós não será chamada para ajudar as nações a organizarem a liberdade recém-adquirida mas todos podemos envolver-nos e garantir que a luz da liberdade continue ardendo em nossas almas. Podemos ter certeza de que, por meio de nossas ações, damos o exemplo de como a liberdade deve ser gozada.

Seguindo o padrão estabelecido pelo Senhor para a Israel antiga, ele nos ordenou que construíssemos casas de adoração, a fim de que houvesse lugar para o ensino do evangelho. Depois de obtermos conhecimento, podemos fazer convênios com ele de que seremos obedientes à sua vontade e, como recompensa, receberemos as bênçãos que ele prometeu, como resultado de nossa fidelidade. Possuímos templos em muitas nações, onde as pessoas dignas podem adorar, receber ensinamentos e fazer convênios de servir a Deus e obedecer à sua lei.

Desde o início da existência do homem na terra foi-lhe ensinado que deve ser obediente à lei.

“Há uma lei, irrevogavelmente decretada nos céus, desde antes da fundação deste mundo, na qual se baseiam todas as bênçãos.

E quando de Deus obtemos uma bênção, é pela obediência àquela lei na qual a bênção se baseia.” (D&C 130:20–21.)

Em todas as eras, os profetas nos ensinaram a obediência às leis do Senhor, que são o alicerce de nossa existência terrena e o estabelecimento da ordem em meio ao caos.

O Presidente Wilford Woodruff ensinou:

“O Deus dos céus, que criou esta terra e nela colocou seus filhos, deu-lhes uma lei pela qual poderão ser exaltados e salvos num reino de glória. Pois uma lei foi dada a todos os reinos, e todas as coisas são governadas pela lei, através do universo. Seja qual for a lei que a pessoa observe, ela é preservada por essa lei e recebe as recompensas que ela garante. É desejo de Deus que todos os seus filhos obedeçam à lei maior, para que possam receber a glória maior, instituída para todos os seres imortais. Deus deu a todos eles o livre-arbítrio, com o direito de escolher a lei que quiserem.” (The Discourses of Wilford Woodruff, selecionados por G. Homer Durham, Salt Lake City: Bookcraft, 1946, p. 10.)

O Senhor não foi tão explícito na instituição de costumes religiosos, no que se refere a festas e festivais que nos lembrem das bênçãos recebidas hoje. No entanto, as tradições que nos aproximam da grande herança que nos foi concedida são algo que toda família deveria procurar conservar.

Ajoelhemo-nos diariamente em oração familiar e estudemos as escrituras juntos. Guardemos semanalmente o Dia do Senhor, assistindo às reuniões, principalmente à sacramental, e nos comportando apropriadamente, em atividades adequadas para o dia santificado. Reunamos também nossa família em noite familiar semanal. Seria apropriado sairmos, semanalmente, com nossa esposa, para lembrar-nos da grande bênção que elas são em nossa vida. Jejuemos e paguemos o dízimo e as ofertas ao Senhor. Ouvir as mensagens transmitidas nas conferências gerais a cada seis meses também deve ser uma tradição familiar. Organizemos, anualmente, reuniões de família que conservem viva nossa grande herança do evangelho.

Outras tradições que deveriam fazer continuamente parte de nossa vida são as bênçãos paternas e a patriarcal, a preparação missionária e para o templo, a freqüência regular nessa casa sagrada, sempre que possível, e reunião em família nas ocasiões em que ordenanças sagradas são realizadas em favor de um ente querido.

Se criarmos tradições honradas em família, a luz do evangelho poderá crescer e se tornar muito mais brilhante na vida de nossos filhos, de geração em geração. Podemos aguardar aquele dia glorioso em que estaremos juntos, em unidades familiares eternas, para colher a alegria eterna prometida pelo Pai Eterno a seus filhos dignos.

Nossas atividades e tradições familiares podem ser um farol para o resto do mundo, como exemplo do que devemos fazer para merecer suas maiores bênçãos e viver em paz e harmonia até o dia de sua volta, como nosso Rei.

Esta obra na qual estamos empenhados é do Senhor. Deus vive! Jesus é o Cristo, o Salvador do mundo, é o meu testemunho solene, em nome de Jesus Cristo, amém.