1990–1999
Um Samaritano dos Últimos Dias
April 1990


Um Samaritano dos Últimos Dias

“Devemos aproximar-nos dos irmãos menos ativos, tornando-nos realmente seus amigos e apoiando-os enquanto procuram sua cura espiritual.”

Qeridos irmãos, convosco hoje à tarde, neste serviço de adoração, sinto em minha alma um profundo sentimento de apreço. Transmito, em nome dos membros da Igreja da Ásia, onde estamos trabalhando, o amor deles ao Presidente Benson e aos outros líderes que chegaram a conhecer e amar, bem como a todos os membros da Igreja, em todo o mundo. É uma alegria trabalhar com eles.

Expresso meu amor e gratidão por minha família e meus idosos pais, por seu constante apoio.

Quando penso na enormidade do trabalho que temos pela frente, um ilimitado senso de humildade me invade. Cheguei à conclusão de que a obra de salvação da humanidade está além da capacidade de qualquer homem. É realmente uma obra divina.

Uma das parábolas mais conhecidas do Salvador é a parábola do bom samaritano. Conforme relata Lucas, um certo doutor da lei tentou Jesus, dizendo: “Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” (Lucas 10:25.)

Nos tempos do Novo Testamento, ser doutor da lei era o equivalente a ser um escriba, que era por profissão um estudioso e um mestre da lei, incluindo a lei escrita do Pentateuco, e “as tradições dos anciãos”. (Bible Dictionary, s. v. Lawyer.)

Este homem erudito quis testar o conhecimento do Mestre concernente à lei, ou mostrar sua própria sabedoria. O Salvador respondeu com uma pergunta: “Que está escrito na lei? Como lês?” (Lucas 10:26.)

O doutor da lei respondeu: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.” (Vers. 27.)

Tornou-lhe Jesus: “Respondeste bem; faze isso, e viverás.” (Vers. 28.)

A resposta foi dada por ele mesmo, através do que inquiriu dele o Senhor, que depois o instruiu a viver de acordo com aquilo que já sabia, mas o homem não se deu por satisfeito com uma resposta tão simples. Lucas conta que ele, “querendo justificar-se”, fez ao Salvador uma pergunta adicional: “E quem é o meu próximo?” (Vers. 29.) Jesus respondeu com a história:

“Descia um homem de Jerusalém para Jerico, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e, espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto.

E ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo.

E d’igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e vendo-o, e passou de largo.

Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele, e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão;

E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele;

E, partindo ao outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que demais gastardes, eu to pagarei quando voltar.” (Versículos 30–35.)

Para um melhor entendimento desta parábola, lembremos que a obra do ministério no santuário havia sido designada à tribo de Levi. Era dever dos levitas ajudar os sacerdotes em seus serviços religiosos. Da mesma forma, a responsabilidade essencial do sacerdote era servir de mediador entre seu povo e Deus, representando-o oficialmente através de serviços de adoração e sacrifícios. (Vide Bible Dictionary, s. v. Priest e Levites.)

O povo de Samaria consistia de uma mistura de israelitas e gentios, desprezados pelos judeus. Tanto o sacerdote como o levita se recusaram a ajudar o homem meio morto, que obviamente precisava deles, e chegaram a se distanciarem dele, “passando de largo”. Foi o desprezado samaritano que teve compaixão do homem ferido. Atou-lhe cuidadosamente as feridas, deitou nelas azeite, desinfetou-as, e colocando-o na sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, onde passou a noite, administrando-lhe os devidos cuidados. Depois pagou a despesa e garantiu ao hospedeiro que tudo o mais que ele gastasse, lhe seria pago mais tarde.

O Salvador então fez a seguinte pergunta ao doutor da lei: “Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?” (Vers. 36.)

O homem foi apanhado em sua própria armadilha, mas respondeu acuradamente: “o que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira.” (Vers. 37.)

Esta foi a segunda vez, nesta breve conversação, que o doutor da lei religiosa foi instruído pelo Salvador a viver de acordo com o conhecimento que possuía dos princípios.

Presumo que muitos dos presentes visualizaram esta parábola como requerendo de nós que ajudemos os feridos que necessitarem de nossos préstimos, seja por estarem machucados ou enfermos, mesmo que sejam estranhos. A beleza das parábolas do Salvador está nas suas muitas aplicações, sendo infindável seu valor didático. Gostaria de sugerir uma aplicação dos princípios desta parábola em um acgntecimento mais atual.

Muitos são os filhos de Deus que se acham feridos ou enfermos espiritualmente. Muitos já gozaram do companheirismo da congregação dos santos, mas estão agora à margem do caminho. São os menos ativos. Geralmente sabemos quem são e nos associamos a eles de várias maneiras, mas, como não estão fisicamente enfermos, com freqüência fazemos o papel do sacerdote ou do levita e “passamos de largo”.

Nesta dramática parábola, Jesus fez um contraste entre o modo de agir dos dois respeitados religiosos e o do desprezado samaritano. Nela há pelo menos uma centelha de semelhança entre o presidente do quorum dos élderes, o líder do grupo dos sumos sacerdotes, um membro do bispado, ou um mestre familiar, e o irmão que jaz inativo à margem do caminho. Talvez não os desprezemos, mas às vezes os ignoramos ou deixamos de lado. Podemos ser um bom samaritano, cuidando compassivamente destes irmãos negligenciados.

Podemos atar suas feridas espirituais, prestando-lhes o serviço necessário, derramando o azeite benfazejo da amizade e suprindo suas almas com o bálsamo regenerador do genuíno amor fraternal. Podemos acomodá-los em nosso carro e levá-los a nossos lares e lugares de adoração, devotando-lhes o tempo e a atenção necessários para congregá-los amorosamente. O bom samaritano passou a noite ao lado do amigo ferido, permanecendo com ele até que estivesse a caminho da recuperação. Da mesma forma, aproximemo-nos dos irmãos menos ativos, tornando-nos realmente seus amigos e apoiando-os à medida que procuram a cura espiritual.

Esta parábola ensina também que um pouco de sacrifício e investimento de tempo e dinheiro pode ser necessário. Esses cuidados não devem ser ministrados por obrigação, mas de todo o coração. Na verdade, mesmo o doutor da lei parece ter captado o espírito dos ensinamentos do Senhor na parábola, pois foi ele quem definiu o próximo como sendo “aquele que usou de misericórdia”. (Vers. 37.)

Quase todos conhecemos alguém espiritualmente enfermo ou ferido, que jaz meio morto à margem do caminho e que precisa desesperadamente da assistência de um bom irmão SUD — isto é, um Samaritano dos Últimos Dias. O profeta nos lembra repetidamente que a salvação dos menos ativos é um de nossos grandes desafios.

Conto uma parábola simples, conforme relatada por meio de um intérprete por um presidente de Escola Dominical, em Hong Kong:

“Um peru empreendedor reuniu o seu bando e, seguindo instruções e demonstrações, ensinou os companheiros a voar. Passaram a tarde toda enlevados em planar nos ares e voar grandes distâncias, maravilhados com a visão de novos panoramas. Depois da reunião, todos os perus voltaram para casa andando.”

Não é o entendimento dos princípios do evangelho que nos traz as bênçãos dos céus, mas o fato de os vivermos.

Oro que possamos desenvolver um coração receptivo e compreensivo, que nos motive a procurar nossos irmãos menos ativos, tornando-nos verdadeiramente bons samaritanos dos últimos dias. Em nome de Jesus Cristo, amém.