2019
600 Quilômetros de Fé
Julho de 2019


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600 Quilômetros de Fé

Esperei por este evento por 38 anos, antecipando que isso aconteceria comigo. Acha que eu vou cair? Nunca vou me afastar.”

Em uma manhã chuvosa de sábado antes de uma Conferência de Distrito de Kolwezi, em 2013, o Presidente Ellie Monga, Conselheiro na Missão da República Democrática do Congo em Lubumbashi e o Élder Jeffrey Wright, secretário de finanças da missão, deram as boas-vindas a dois estranhos no escritório da missão. Suas roupas estavam enlameadas e eles, exaustos. Eles chegaram empurrando uma única bicicleta surrada e carregavam um pacote embrulhado em um plástico rasgado e sujo.

O Presidente Monga e o Élder Wright informaram-se sobre a sua jornada e descobriram que esses dois peregrinos cansados, irmãos Yumba Muzimba Paul e Muba Wa Umbalo Delphin, tinham vindo de Kinkondja, uma cidade localizada a 600 km, norte de Kolwezi. Eles haviam partido 8 dias antes como parte de um grupo maior que viajavam para participar da conferência do distrito. No caminho, a maioria do grupo ficou doente e decidiu voltar para suas casas — mas esses dois irmãos decidiram completar a jornada sozinhos, alternando entre pedalar a bicicleta e sentar-se como passageiro de trás. Eles explicaram que viajaram os últimos três dias continuamente durante a noite sem parar e sem comida — e depois que um pneu ficou vazio, empurraram a bicicleta pela chuva ao longo das estradas lamacentas. A bicicleta deles estava quebrada e esses irmãos não tinham dinheiro para ferramentas ou peças. Eles não tinham comido por três dias. Não sabiam como financiariam uma viagem de retorno à sua casa.

O irmão Paul e o irmão Delphin explicaram que representavam cerca de sessenta Santos que moravam na região de Kinkondja e vieram trazer o dízimo desses Santos e participar da conferência do distrito. Isso foi uma surpresa para o Presidente Monga e o Élder Wright, já que não havia nenhum ramo oficialmente organizado da Igreja, em Kinkondja. O Élder Wright registou em seu diário: “Foi uma honra recebê-los [os envelopes do dízimo]. Foi uma honra processá-los.” Élder Wright continuou: “Nunca senti antes, como se estivesse a lidar com dinheiro tão sagrado, em toda a minha vida”.

O irmão Paul relatou que ele era um dos três homens de Kinkondja que havia começado a escrever para o então presidente da Igreja, Spencer W. Kimball, em 1975, pedindo que missionários fossem enviados à RDC — na época conhecido como Zaire — e especialmente à sua própria aldeia. O irmão Delphin acrescentou que seu falecido pai era um desses três homens. (Isso foi muito antes da Igreja ter sido formalmente organizada no país e antes da chegada dos primeiros missionários, em 1986.) Esses irmãos explicaram ainda que, anos antes, ambos haviam sido batizados e ordenados ao Sacerdócio Aarônico. Mas, na instrução anterior dos líderes da Igreja, foi-lhes dito que eles não poderiam ser ordenados ao Sacerdócio de Melquisedeque, porque naquela época eles viviam muito longe de uma unidade organizada da Igreja.

Nos dois seguintes dias, o Presidente Monga e o Élder Wright ensinaram e treinaram o irmão Paul e o irmão Delphin nos deveres e obrigações do Sacerdócio de Melquisedeque. Durante a sua entrevista com o irmão Paul, o Élder Wright enfatizou as obrigações associadas à ordenação ao Sacerdócio e lembrou o irmão Paul de que “o Sacerdócio é um evento irreversível com pesadas consequências baseadas no Juramento e Convênio do Sacerdócio”. Falando em Kiluba, sua língua nativa, através da tradução do Presidente Monga, o irmão Paul respondeu: “Esperei por este evento por 38 anos, antecipando que isso aconteceria comigo. Acha que eu vou cair? Nunca vou me afastar.”

Ambos os irmãos foram apoiados para receber o Sacerdócio de Melquisedeque na conferência do distrito e depois ordenados pelo Élder Wright, com o Presidente Monga traduzindo suas palavras para Kiluba. Depois de suas ordenações, eles foram autorizados pelo Presidente Monga a batizar suas esposas e filhos e a administrar o sacramento aos Santos, no seu retorno a Kinkondja. O irmão Delphin, o mais novo dos dois irmãos, recebeu uma instrução adicional para dedicar o túmulo de seu pai a “honrá-lo como um dos primeiros conversos e pioneiros da grande obra no Congo”.

O Élder Wright escreveu em seu diário: “Eu disse ao presidente da missão [Presidente McMullin] naquela noite, sobre a condição de sua bicicleta e mencionei que iria recondicioná-la, comprar outra [segunda] bicicleta e comprar algumas ferramentas para consertar a bicicleta.” Ele e o Presidente McMullin também financiaram um transporte para casa, junto com as suas bicicletas, em um dos grandes camiões que percorriam a rota para Kinkondja. Antes de partir, os irmãos receberam materiais da Igreja para levar de volta à sua aldeia — entre esses materiais havia uma bandeja e copos para sacramento, para que esses recém-ordenados e autorizados portadores do sacerdócio pudessem realizar a ordenança do sacramento, a cada semana.

Essa Conferência do Distrito de Kolwezi, em 2013, foi memorável para todos os envolvidos. O Presidente do Distrito pediu aos irmãos de Kinkondja, que compartilhassem seus poderosos testemunhos na reunião do sacerdócio e na sessão de domingo, da conferência. Eles tinham chegado muito cansados, e muito cedo, no sábado de manhã. No final da Conferência, eles — e todos os que ouviram suas histórias e seus testemunhos — saíram revigorados, satisfeitos e sentindo o amor de Deus em seus corações.