2015
A Arma Secreta
Janeiro de 2015


A Arma Secreta

A autora mora no Arizona, EUA.

Todos tinham subestimado a capacidade de Eva.

“Fazendo o bem sem olhar a quem mais feliz eu sou também” (Músicas para Crianças, pp. 116–117).

“A Eva não! Ela é menina”, cochichou Bruno atrás do Artur.

Mas Artur era o capitão da equipe de queimada naquele dia e já fizera sua escolha. “Escolho a Eva”, repetiu ele um pouco mais alto. Túlio, o capitão da outra equipe, sorriu com desdém. Até mesmo o treinador Garcia ficou surpreso com a segunda escolha de Artur.

Eva também aparentou surpresa e depois, com timidez, deu um passo adiante. Bruno resmungou.

Eva não era uma menina qualquer. Era a menor menina da classe. Ela não tinha cara de ser muito rápida, e a bola parecia até maior do que ela. “Ela não deve nem conseguir levantar a bola”, disse Bruno quando Eva se aproximou.

“Talvez ela seja nossa arma secreta”, rebateu Artur, tentando mostrar segurança na voz. Mas não foi por isso que ele a escolheu. Eva uma vez dissera a Artur que não gostava de praticar esportes com os colegas porque era sempre a última a ser escolhida. Os outros meninos zombavam de Eva, mas o pai e a mãe de Artur tinham lhe dito que os meninos deviam mostrar respeito pelas meninas. Assim, ele escolheu Eva. Ao ver Túlio escolher o menino mais alto da classe, Artur torceu para ter tomado a decisão certa.

Depois de formados os times, o treinador Garcia apitou, e as equipes correram para os cantos opostos do campo. O treinador Garcia entregou a bola a Túlio, que deu uma olhada na equipe de Artur antes de fixar a atenção em Eva. Preparou o braço e atirou a bola.

Paf! A bola foi ao chão e quicou sem acertar ninguém. Artur deu uma piscadela. Eva tinha mudado de posição bem a tempo. Todos em volta dele pareciam surpresos, mas Artur só sorriu. Escolher Eva talvez tivesse sido uma boa ideia, afinal de contas.

A partida continuou. Túlio continuou tentando atingir Eva, mas ela continuou esquivando-se e safando-se. Ninguém conseguia atingi-la com a bola. Túlio e outros colegas de equipe estavam tão obcecados em acertar Eva que nem se esforçaram muito para visar outras pessoas. Artur sorriu — o tamanho de Eva na verdade era uma vantagem na queimada, pois como era pequena e ágil era mais difícil atingi-la.

Por fim a equipe de Artur venceu a partida. “Era mesmo uma arma secreta”, concluiu Bruno. “A Eva é ótima.”

“Pois é”, concordou Túlio. “Na próxima vez, vou chamá-la para minha equipe. Tenho certeza de que vamos ganhar!” Eva sorriu ao voltar para a sala de aula, cercada dos companheiros de equipe.

Artur não conseguia parar de sorrir ao seguir o grupo. Ele tinha sido bondoso com Eva e ajudado os outros meninos a respeitarem um pouco mais as meninas. A maior arma secreta na verdade não tinha nada de secreta — era apenas ser bondoso.