Conferência Geral
Paz Pessoal em Tempos Desafiantes
Conferência Geral de outubro de 2021


Paz Pessoal em Tempos Desafiantes

Nunca foi tão importante procurar a paz pessoal.

Recentemente, fui designado para dedicar uma zona da cidade histórica de Nauvoo. Como parte desta designação, pude visitar a Cadeia de Liberty, no Missouri. Ao visitar esta prisão, contemplei os eventos que a tornam numa parte tão significativa da história da Igreja. A vida dos Santos foi ameaçada devido a uma ordem de extermínio, emitida pelo governador do Missouri. Além disso, o Profeta Joseph e alguns companheiros escolhidos foram injustamente aprisionados na Cadeia de Liberty. Um dos motivos da violenta oposição aos nossos membros foi o facto da maioria deles se opor à escravatura.1 Esta intensa perseguição a Joseph Smith e aos seus seguidores, constitui um exemplo extremo do exercício injusto do arbítrio que pode ter impacto nas pessoas justas. Os momentos de Joseph na Cadeia de Liberty demonstram que a adversidade não é uma evidência do desagrado do Senhor nem uma retirada das Suas bênçãos.

Fiquei profundamente comovido ao ler o que o Profeta Joseph Smith declarou enquanto estava confinado na Cadeia de Liberty: “Ó Deus, onde estás? E onde está o pavilhão que cobre [o] teu esconderijo?”2 Joseph perguntou por quanto tempo o povo do Senhor iria “[Suportar] esses agravos e essas opressões ilícitas”.3

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O Elder Cook Visita a Cadeia de Liberty

Enquanto me encontrava na Cadeia de Liberty, fiquei profundamente comovido ao ler a resposta do Senhor: “Meu filho, paz seja com [a] tua alma; [a] tua adversidade e [as] tuas aflições não durarão mais [do] que um momento. E então, se as suportares bem, Deus te exaltará no alto; triunfarás sobre todos os teus inimigos”.4 É claro que a oposição pode refinar-nos para um destino eterno e celestial.5

As palavras preciosas do Salvador: “Meu filho, paz seja com [a] tua alma”6, ressoam em mim pessoalmente e têm um grande significado para os nossos dias. Elas fazem-me lembrar dos Seus ensinamentos aos discípulos, durante o Seu ministério mortal.

Antes do sofrimento de Cristo no Jardim do Getsêmani e na cruz, Ele ordenou aos Seus Apóstolos: “Que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei a vós”7 e posteriormente consolou-os com estas palavras: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”.8

Um dos títulos mais queridos do nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo, é o de “Príncipe da Paz”.9 Em última instância, o Seu reino será estabelecido com paz e amor.10 Estamos ansiosos pelo reinado milenar do Messias.

Apesar desta visão do reinado milenar, sabemos que a paz mundial e a harmonia não prevalecem nos nossos dias.11 Em toda a minha vida, nunca vi uma falta de civismo tão grande. Somos bombardeados com linguagem rancorosa e contenciosa, atos provocadores e devastadores que destroem a paz e a tranquilidade.

A paz no mundo ou até mesmo nas nossas comunidades, não é prometida nem garantida até à Segunda Vinda de Jesus Cristo. O Salvador, instruiu os Seus Apóstolos que a Sua missão terrena não alcançaria a paz universal. Ele ensinou: “Não cuideis que vim trazer a paz à terra”.12 A paz universal não fazia parte do ministério mortal inicial do Salvador. A paz universal não existe hoje em dia.

No entanto, a paz pessoal pode ser alcançada apesar da raiva, da contenda e divisão que destrói e corrompe o nosso mundo de hoje. Nunca foi tão importante procurar a paz pessoal. Um belo e apreciado hino novo, escrito para os jovens de hoje pelo irmão Nik Day, intitulado “Paz em Cristo” declara: “Quando não há paz na Terra, há paz em Cristo.”13 Fomos abençoados com este hino pouco antes da pandemia mundial da COVID-19.

Este hino reflete lindamente o desejo de paz e enfatiza acertadamente que a paz está ancorada na vida e na missão de Jesus Cristo. O Presidente Joseph F. Smith declarou: “Jamais poderá vir ao mundo esse espírito de paz e amor (…) até que a humanidade receba a verdade e a mensagem de Deus (…) e reconheça o seu conhecimento e autoridade, que são divinos”.14

Embora nunca devamos recuar nos esforços para alcançar a paz universal, temos a garantia de que podemos ter a paz pessoal, tal como Cristo ensina. Este princípio está estabelecido em Doutrina e Convénios: “Aprendei que aquele que pratica as obras da retidão receberá [a] sua recompensa, sim, paz neste mundo e vida eterna no mundo vindouro”.15

Quais são algumas das “obras de retidão” que nos ajudarão a lidar com as disputas, a diminuir as contendas e a encontrar paz neste mundo? Todos os ensinamentos de Cristo apontam nessa direção. Mencionarei alguns que considero particularmente importantes.

Primeiro: Amar a Deus, Viver os Seus mandamentos e Perdoar a Todos

O Presidente George Albert Smith tornou-se Presidente da Igreja em 1945. Ele foi conhecido durante os seus anos como Apóstolo, como um líder que amava a paz. Nos 15 anos que antecederam o seu chamado como Presidente, os desafios e provações de uma depressão mundial estrondosa, seguida pela morte e destruição causadas pela Segunda Guerra Mundial, não foram nada pacíficas.

No final da Segunda Guerra Mundial, durante a sua primeira conferência geral como Presidente, em outubro de 1945, o Presidente Smith relembrou aos Santos do convite do Salvador de amar o próximo e perdoar os seus inimigos e depois ensinou: “Esse é o espírito que todos os Santos dos Últimos Dias devem procurar possuir se esperam algum dia estar na Sua presença e receber das Suas mãos gloriosas as boas-vindas ao lar”.16

Segundo: Procurar os Frutos do Espírito

O Apóstolo Paulo, na sua Epístola aos Gálatas, estabelece a dicotomia entre as obras de retidão que nos qualificam para herdar o reino de Deus e as obras que podem, na ausência de arrependimento, desqualificar-nos. Entre aquelas que nos qualificam estão os frutos do Espírito: “(…) caridade, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, [e] temperança”.17 Paulo também inclui o carregar os fardos uns dos outros e não nos cansarmos de fazer o bem.18 Entre as obras que não são retas, ele inclui o ódio, a ira e a contenda.19.

Uma das grandes lições do época do Velho Testamento está relacionada com o Pai Abraão. Abraão e Ló, o seu sobrinho, eram ricos mas descobriram que não podiam habitar juntos. Para eliminar a contenda, Abraão permitiu que Ló escolhesse as terras que desejava. Ló escolheu a planície do Jordão, que era muito bem irrigada e ao mesmo tempo bela. Abraão ficou com a planície menos fértil de Mamre. As escrituras ensinam que Abraão então montou a sua tenda e construiu “um altar ao Senhor”.20 Ló, por outro lado, “armou as suas tendas até Sodoma”.21 Para termos relacionamentos pacíficos, a lição é clara, devemos estar dispostos a chegar a um acordo e a eliminar disputas no que diz respeito a assuntos que não envolvam a retidão. Conforme ensinou o rei Benjamim: “E não tereis desejo de ferir-vos uns aos outros, mas, sim, de viver em paz”.22 Mas, no que se refere à conduta relacionada com a retidão e com os imperativos doutrinários, devemos permanecer firmes e constantes.

Se quisermos ter a paz que é a recompensa das obras de retidão, não montaremos as nossas tendas voltadas para o mundo. Montaremos as nossas tendas voltadas para o templo.

Terceiro: Exercer o Arbítrio para Escolher a Retidão

A Paz e o arbítrio estão interligadas como elementos essenciais do plano de salvação. Tal como descrito nos Tópicos do Evangelho “Arbítrio e Responsabilidade”: “O arbítrio é a capacidade e o privilégio, concedidos por Deus, de escolher e agir por nós mesmos”.23 Portanto, o arbítrio está no cerne do crescimento pessoal e da experiência que nos abençoa à medida que seguimos o Salvador.24

O arbítrio foi uma questão principal no “Conselho pré-mortal do Céu” e no conflito entre aqueles que escolheram seguir Cristo e os seguidores de Satanás.25 Abandonar o orgulho e o controlo e escolher o Salvador permitir-nos-ia ter a Sua luz e a Sua paz. Mas a paz pessoal seria desafiada quando as pessoas exercessem o seu arbítrio de forma maléfica e prejudicial.

Estou confiante de que a doce certeza que sentimos no nosso coração foi fortalecida pelo conhecimento que tínhamos do que o Salvador do mundo alcançaria a nosso favor. Isto é maravilhosamente apresentado no manual Pregar [o] Meu Evangelho: “Ao confiarmos na Expiação de Jesus Cristo, Ele pode ajudar-nos a suportar as nossas provações, doenças e dores. Podemos ser cheios de alegria, paz, e consolo. Tudo o que é injusto nesta vida pode ser corrigido através da Expiação de Jesus Cristo”.26

Quarto: Construir Sião no Nosso Coração e no Nosso Lar

Somos filhos de Deus e fazemos parte da Sua família. Também fazemos parte da família em que nascemos. A instituição da família é a base, quer da felicidade como para a paz. O Presidente Russell M. Nelson ensinou-nos ― e durante esta pandemia temos aprendido ― que a observância religiosa apoiada pela Igreja e centrada no lar pode “(…) libertar o poder das famílias (…) com vista a transformar o[s] [nossos] lar[es] num santuário de fé”.27 Se tivermos esta prática religiosa nos nossos lares, também teremos a paz do Salvador.28 Estamos cientes de que muitos não têm as bênçãos de um lar reto e contendem, regularmente, com aqueles que optam pela iniquidade. O Salvador pode dar-nos proteção e paz para nos conduzir, em última instância, à segurança e proteção contra as tempestades da vida.

Asseguro-vos que a alegria, o amor e a satisfação vivenciados pelas famílias retas e amorosas, produzem paz e felicidade. O Amor e a bondade estão no cerne de termos Sião no nosso coração e no nosso lar.29

Quinto: Seguir as Recomendações Atuais do Nosso Profeta

A nossa paz aumenta consideravelmente quando seguimos o profeta do Senhor, o Presidente Russell M. Nelson. Dentro de momentos teremos a oportunidade de o ouvir. Ele foi preparado desde a fundação do mundo para este chamado. A sua preparação pessoal tem sido notável.30

Ele ensinou-nos que podemos “sentir paz e alegria duradouras, mesmo em tempos difíceis”, ao nos esforçarmos para ser mais semelhantes ao nosso Salvador Jesus Cristo.31 Ele aconselhou-nos a “nos arrependermos diariamente” para receber o poder da “purificação, da cura e do fortalecimento do Senhor”.32 Sou uma testemunha pessoal de que a revelação foi recebida, e continua a ser recebida do Céu pelo nosso amado profeta.

Quando o honramos e apoiamos como nosso profeta, adoramos o nosso Pai Celestial e o nosso Salvador Jesus Cristo. Somos ministrados pelo Espírito Santo.

Testifico e presto o meu testemunho pessoal apostólico de que Jesus Cristo, o Salvador e Redentor do mundo, lidera e guia a Sua Igreja restaurada. A Sua vida e missão expiatória são a verdadeira fonte de paz. Ele é o Príncipe da Paz. Presto o meu testemunho seguro e solene de que Ele vive. Em nome de Jesus Cristo. Amém.

Notas

  1. “O povo de Independence não gostava que os santos pregassem aos índios e desaprovassem a escravatura” [Saints: The Story of the Church of Jesus Christ in the Latter Days (Santos: A História da Igreja de Jesus Cristo nos Últimos Dias), vol. 1, The Standard of Truth, 1815–1846 (O Estandarte da Liberdade - 2018], 172].

  2. Doutrina e Convénios 121:1.

  3. Doutrina e Convénios 121:3.

  4. Doutrina e Convénios 121:7-8.

  5. Ver 2 Néfi 2:11-15.

  6. Doutrina e Convénios 121:7.

  7. João 13:34.

  8. João 14:27.

  9. Isaías 9:6; 2 Néfi 19:6. O Salvador também ensinou nas Suas bem-aventuranças: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5:9).

  10. “Com julgamento e justiça… para sempre” (ver Isaías 9:6–7; 2 Néfi 19:6–7; ver também Gálatas 5:22).

  11. Ver Doutrina e Convénios 1:35. Ler a declaração do Presidente Wilford Woodruf em 1894 e novamente em 1896, (ver The Discourses of Wilford Woodruff (Discursos de Wilford Woodruff), ed. G. Homer Durham [1946], 251–52; ver também Marion G. Romney, em Relatórios da Conferência, abr. 1967, 79–82; Ezra T. Benson, “ThePower of the Word” (O Poder da Palavra) , Ensign, mai. 1986, 79–80; Dallin H. Oaks, “Preparation for the Second Coming” (Preparação para Segunda Vinda), Liahona, mai. 2004).

  12. Mateus 10:34.

  13. Nik Day, “Paz em Cristo,” tema da Música do Mutual, Liahona, jan. 2018; New Era, jan. 2018, 24–25. O Hino “Paz em Cristo” ensina:

    Quando vivemos como Ele [viveu]

    Em Cristo há paz.

    Ele dá-nos fé,

    quando não há mais.

    Dá-nos poder

    para continuar.

    Na tempestade

    abrigo nos dá.

    Quando Paz não tens,

    em Cristo há paz.

  14. Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph F. Smith, 1998, p. 400.

  15. Doutrina e Convénios 59:23.

  16. Ver Joseph F. Smith, em Conference Report (Relatório da Conferência), outubro de 1945.

  17. Gálatas 5:22-23.

  18. Ver Gálatas 6:2, 9.

  19. Ver Gálatas 5:20.

  20. Génesis 13:18.

  21. Génesis 13:12.

  22. Mosías 4:13.

  23. Tópicos do Evangelho: “Arbítrio e Responsabilidade”, https://www.churchofjesuschrist.org/study/manual/gospel-topics/agency-and-accountability?lang=por

  24. Somos “livres para escolher a liberdade e a vida eterna, por [intermédio] do grande Mediador de todos os homens”. (2 Néfi 2:27). O arbítrio também permite que as más escolhas devastadoras de outros causem dor e sofrimento e, por vezes, até mesmo a morte. As escrituras deixam claro que o Senhor Deus nos deu o arbítrio para que o homem pudesse escolher o bem ou o mal (ver 2 Néfi 2:16).

  25. Ver Tópicos do Evangelho: “Arbítrio e Responsabilidade”, https://www.churchofjesuschrist.org/study/manual/gospel-topics/agency-and-accountability?lang=por

  26. Pregar [o] Meu Evangelho: Um Guia para o Serviço Missionário (2019), https://www.churchofjesuschrist.org/study/manual/preach-my-gospel-a-guide-to-missionary-service?lang=por; ênfase acrescentada.

  27. Russell M. Nelson, “Tornar-se Um Santos dos Últimos Dias Exemplar”, Conferência Geral, outubro de 2018.

  28. Ver Doutrina e Convénios 19:23.

  29. Fui afortunado por crescer num lar onde prevalecia a paz. Isso deveu-se principalmente à influência da nossa mãe, que era um membro fiel da Igreja. O meu pai era excelente em todos os aspetos, mas era menos ativo. A minha mãe honrou o nosso pai e evitou contendas. Ela ensinou-nos, quando crianças, a orar e a frequentar a igreja. Também nos ensinou a amar e a servir outros (ver Mosias 4:14–15). Crescer num lar assim trouxe-nos paz e foi uma grande bênção na minha vida.

  30. Russell M. Nelson licenciou-se na Escola de Medicina da Universidade de Utah, foi o melhor da sua turma aos 22 anos. Há muito que desejava ser um cirurgião e recebeu a melhor formação disponível nas principais instituições médicas. Cumpriu fielmente os compromissos militares na Coreia e Japão. Durante muitos anos ele foi um pioneiro na cirurgia de coração aberto e obteve reconhecimento mundial. Tão notável quanto esta preparação de abençoar as pessoas de todas as partes do mundo com as suas técnicas de medicina, a preparação espiritual do Presidente Nelson foi ainda mais importante. Ele é pai de uma grande família de filhos, netos e bisnetos. Tem servido fielmente a sua família e a Igreja ao longo da sua vida.

  31. Ver Russell M. Nelson, “Mensagem de Abertura”, Conferência Geral , abr. 2020, ver também Russell M. Nelson, “Alegria e Sobrevivência Espiritual”, Liahona, nov. 2016.

  32. Russell M. Nelson, “Mensagem de Abertura,” 6.