2014
A Igreja na Coreia — A Luz do Evangelho Brilha em Meio às Dificuldades
Setembro de 2014


Pioneiros em Todo o Mundo

A Igreja na Coreia — A Luz do Evangelho Brilha em Meio às Dificuldades

Os primeiros membros da Igreja coreanos estabeleceram alicerces de fé sobre os quais dezenas de milhares de membros se firmaram nos dias atuais.

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Seoul Korea Temple, spires, Angel Moroni and landscaped temple grounds.

O trabalho missionário começou na Coreia na década de 1950 depois da Guerra da Coreia. Mas o primeiro contato da Igreja com a Coreia foi em janeiro de 1910, quando Alma Owen Taylor, recém-desobrigado do cargo de presidente da Missão Japão, e o Élder Frederick A. Caine, um missionário que havia servido no Japão, passaram várias semanas visitando a Coreia e a China. A Primeira Presidência aprovou sua viagem àqueles países para avaliar a possibilidade do trabalho missionário. O Presidente Taylor observou que os coreanos tinham um crescente interesse pelo cristianismo ao passo que seu país estava sofrendo uma decadência sob o governo japonês. Contudo, ele se perguntava se os coreanos estariam mais interessados no cristianismo por motivos políticos do que por aceitarem a Cristo como seu eterno Salvador.

A Conversão do Dr. Kim Ho Jik

Nas décadas subsequentes à visita do Presidente Taylor, os coreanos suportaram árduas provações, incluindo a colonização e ocupação militar japonesa, a Guerra da Ásia e do Pacífico, a opressão da Rússia e da China, a tomada da Coreia do Norte pelos comunistas e a Guerra da Coreia.

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Korea conference with Hearld B. Lee 1954

Ainda assim, graças à providência divina, uma réstia de esperança para os coreanos começou a crescer em Nova York, EUA. Syngman Rhee, presidente da Coreia, enviou Kim Ho Jik, diretor da Estação Experimental Agrícola Suwon, para os Estados Unidos a fim de aprender como melhorar a nutrição na dieta dos coreanos. Ho Jik escolheu a Universidade Cornell, que tinha um excelente programa de pós-graduação em Nutrição. Em 1949, ele começou o doutorado — e também começou a frequentar as reuniões de várias igrejas, nos arredores de Ithaca, Nova York, a fim de encontrar a “igreja verdadeira”.1

Ho Jik fez amizade com um homem chamado Oliver Wayman. Ao contrário de outros conhecidos de Ho Jik, Oliver não bebia nem fumava ou dizia palavrões. Ele também nunca trabalhava aos domingos. Certo dia, Ho Jik perguntou a Oliver: “O que o faz viver dessa maneira?” Em resposta a essa pergunta, Oliver lhe deu um livro intitulado Regras de Fé, do Élder James E. Talmage (1862–1933), do Quórum dos Doze Apóstolos.

Ho Jik leu Regras de Fé em uma semana e depois leu o Livro de Mórmon. Ele acreditou nos dois livros e disse a Oliver que o Livro de Mórmon era “mais completo e mais fácil de compreender do que a Bíblia”.2 Ho Jik aceitou a mensagem do evangelho como uma terra árida que recebe a tão esperada chuva. Sua fé cresceu dia a dia. Começou a receber as lições dos missionários e decidiu ser batizado.

Em 29 de julho de 1951, Kim Ho Jik, com 46 anos, foi batizado no Rio Susquehanna — ele quis ser batizado perto de onde o Profeta Joseph Smith e Oliver Cowdery haviam sido batizados cem anos antes. Quando estava saindo das águas, ouviu uma voz bem clara que dizia: “Apascenta as minhas ovelhas”. Essa inspiração o levou a dedicar o restante de sua vida a ajudar o evangelho a criar raízes na Coreia.

Em setembro de 1951, a Guerra da Coreia chegou a um impasse, e assim o Dr. Kim retornou à Coreia. Ele sentiu grande desejo de pregar o evangelho restaurado. Frequentou a Igreja em uma base militar americana em Busan, onde deu aulas na classe de Doutrina do Evangelho e compartilhou seu testemunho com visitantes coreanos. Os soldados americanos ensinavam o evangelho em inglês para os jovens, e o Dr. Kim gentilmente traduzia para eles. Essa foi uma forma eficaz de compartilhar o evangelho, e como os coreanos confiavam no Dr. Kim, seu exemplo influenciou muitos deles.

Depois de sofrer muito com a Guerra da Coreia, o povo aceitou avidamente o evangelho de Jesus Cristo. A devoção do Dr. Kim finalmente produziu frutos em 3 de agosto de 1952, quando as quatro primeiras pessoas foram batizadas em Busan, Coreia.

O Dr. Kim contou mais tarde para um grupo de santos: “Eu não me importaria em sacrificar minha vida, meu dinheiro ou meu cargo, contanto que pudesse estar com meu Salvador”.3 Sua vida foi uma evidência desse comprometimento de servir a Deus.

Mesmo sem uma missão no país, o evangelho se espalhou rapidamente na Coreia. O crescimento foi considerado extraordinário pelas Autoridades Gerais. Em setembro de 1954, ao voltar para Utah após uma viagem à Coreia, o Élder Harold B. Lee (1899–1973), do Quórum dos Doze Apóstolos, expressou sua esperança de que a Igreja em breve começaria a pregar oficialmente o evangelho na Coreia. Ele descreveu a fé e o entusiasmo dos santos coreanos.4 Em 7 de abril de 1955, a Primeira Presidência e o Quórum dos Doze Apóstolos dividiram a Missão Japonesa na Missão do Extremo Oriente Norte e Missão do Extremo Oriente Sul. A Coreia foi incluída na Missão Extremo Oriente Norte. Os santos dos últimos dias coreanos queriam que missionários fossem enviados à Coreia, mas sabiam que a situação política na Coreia era instável, por isso esperaram e oraram fervorosamente.

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President Joseph Fielding Smith Jr. standing in front of a microphone.

O Início do Trabalho Missionário

Em 2 de agosto de 1955, de pé no belo Monte Jang-Choong Dan, em Seul, o Presidente Joseph Fielding Smith (1876–1972), que na época era Presidente do Quórum dos Doze Apóstolos, dedicou a Coreia para a abertura do trabalho missionário de tempo integral e orou para que o país reconquistasse a paz e a prosperidade.5 Naquela noite, organizou o Distrito da Coreia, com Kim Ho Jik como presidente. Mais tarde, ele visitou Busan para organizar o Ramo de Busan.

Em abril de 1956, embora a situação política da Coreia continuasse instável, o recém-chamado presidente da Missão Extremo Oriente Norte foi inspirado a enviar os Élderes Richard Detton e Don Powell para a Coreia. Os soldados santos dos últimos dias e 64 membros coreanos, como o Dr. Kim, haviam aberto o caminho para a luz do sol e a água, e os missionários proveram os nutrientes. Muitas pessoas se converteram, e a Igreja começou a crescer.

A Fé dos Primeiros Membros

A fé dos santos coreanos cresceu constantemente, mas foi testada com muita frequência. O irmão Chuin Nak Seo, que após seu batismo entrou para o exército para cumprir suas obrigações militares, relembrou alguns momentos difíceis: “Nos três anos de serviço militar, minha fé e meu testemunho foram postos à prova. Certo dia, o comandante da companhia estava bêbado e trouxe muitas bebidas alcoólicas e obrigou os integrantes da companhia a beber. Como meus colegas sabiam que eu era SUD, sempre esvaziavam o copo para mim. Mas naquela noite, o comandante embriagado estava me observando cuidadosamente e ordenou que eu bebesse do copo. Eu disse que não tomava bebidas alcoólicas, mas ele me ordenou que o fizesse. Mas desobedeci novamente. Ele sacou sua pistola e apontou para mim, mandando-me beber. Todos prenderam o fôlego e ficaram observando. Novamente, eu disse de modo bem claro: ‘Eu não bebo, senhor’. Senti que aquele momento foi muito longo. Por fim, ele disse: ‘Desisto’, e guardou a pistola. Todos suspiraram de alívio e voltamos para os alojamentos. Na manhã seguinte, o comandante da companhia foi falar comigo e se desculpou pelo que havia feito na noite anterior. Mais tarde, ele costumava vir pedir meu conselho a respeito de assuntos pessoais”.6

O irmão Chun serviu como missionário de tempo integral na Coreia e posteriormente como bispo na Ala Alameda, em Maryland, EUA.

O irmão Jung Dae Pan também estava entre os que aprenderam o evangelho com os primeiros missionários que serviram na Coreia. Ele havia desistido de cursar a Universidade Nacional de Seul para fazer faculdade de Teologia. Seu sonho era tornar-se pastor e liderar uma comunidade cristã na Coreia.

Certo dia, um amigo lhe deu um exemplar do Livro de Mórmon em inglês, porque ainda não havia sido publicada uma tradução em coreano. Ele se sentiu muito motivado a ler o livro. Chegou até a lê-lo durante uma aula. Quando seus colegas lhe perguntaram o que era, respondeu que era um livro como a Bíblia e recomendou que o comprassem.

No final, o irmão Jung acabou tendo problemas na faculdade. Os administradores o chamaram e disseram que ele havia sucumbido às tentações de Satanás e caído em heresia e o obrigaram a escolher entre a faculdade e o Livro de Mórmon. A decisão não foi difícil para ele, porque já sabia que o Livro de Mórmon era verdadeiro.

Contudo, depois que o irmão Jung se filiou à Igreja, passou por muitas dificuldades sociais e econômicas. A bolsa de estudos da faculdade e o sustento financeiro da igreja que frequentava anteriormente foram suspensos, e todos os seus amigos o abandonaram. O Dr. Kim cuidou muito bem dele. Posteriormente, o irmão Jung contribuiu muito para o crescimento da Igreja na Coreia, traduzindo Doutrina e Convênios e revisando os hinos. As belas letras que ele traduziu ainda tocam o coração dos membros coreanos.

O número de membros fortes foi crescendo gradualmente. Em julho de 1962, a Missão Coreana foi oficialmente organizada. Gail E. Carr, um ex-missionário que havia servido na Coreia, foi chamado como o novo presidente de missão. Esse novo presidente fez da tradução e publicação do Livro de Mórmon em coreano uma de suas maiores prioridades. Depois de muito ponderar e orar, designou o trabalho de tradução a um dos missionários de tempo integral, o Élder Han In Sang. O Élder Han, depois de examinar as duas traduções prévias,7 conseguiu terminar a nova tradução, e o Livro de Mórmon foi impresso pela primeira vez em 1967.

Com o Livro de Mórmon em seu próprio idioma, muitos coreanos começaram a pesquisar a Igreja a convite de seus amigos. Os visitantes eram tão numerosos que os missionários não precisavam procurar pesquisadores, e alguns missionários ensinavam o dia inteiro.

O zelo dos santos coreanos pelo trabalho missionário também desempenhou um grande papel no crescimento da Igreja. Um excelente membro missionário foi Lee Sung Man, da Ala Jamsil, que se filiou à Igreja na década de 1950. Ele teve muitos sucessos e revezes na vida, mas sempre tinha uma atitude positiva em relação à sua vida religiosa. Trabalhando como sapateiro, ele empilhava exemplares do Livro de Mórmon em sua sapataria e convidava os clientes a levar um de graça se o lessem. Mais de 50 pessoas, incluindo parentes, filiaram-se à Igreja por causa dele. Ele leu as obras-padrão dezenas de vezes. Encontraram-nas a seu lado quando ele faleceu.8

A Primeira Estaca e o Primeiro Templo da Coreia

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President Spencer W. Kimball speaking at a pulpit with a man next to him translating.

Os voluntários do programa mórmon Mãos Que Ajudam auxiliam na preparação de toneladas de kimchi, um prato coreano tradicional, em um festival em Seul. O kimchi é distribuído aos pobres por igrejas e organizações cívicas.

Em 1973, muitos santos dos últimos dias coreanos começaram a esperar pelo dia em que teriam uma estaca. Em 8 de março de 1973, o Presidente Spencer W. Kimball (1895–1985), que na época era do Quórum dos Doze Apóstolos, organizou a primeira estaca da Coreia. Cerca de 800 pessoas assistiram à reunião. A histórica primeira estaca da Coreia foi organizada com oito alas e dois ramos. Os membros da Igreja na Coreia passaram a poder seguir Jesus Cristo sob uma liderança de estaca formada por líderes da Igreja coreanos e passaram a receber bênçãos de um patriarca ordenado, que também era coreano.

O trabalho missionário tornou-se ainda mais fervoroso. Quase 1.200 pessoas foram batizadas em 1973. O número total de membros da Igreja na Coreia em breve passou de 8.000, incluindo mais de 700 portadores do Sacerdócio de Melquisedeque em 31 alas e ramos.

Doze anos depois, após um crescimento constante, os santos coreanos foram abençoados por um templo muito esperado. Em 14 de dezembro de 1985, o Presidente Gordon B. Hinckley (1910–2008), que na época era Primeiro Conselheiro na Primeira Presidência, dedicou o Templo de Seul Coreia. Esse templo foi particularmente significativo para o Presidente Hinckley, que tinha um vínculo muito especial com os santos coreanos. Ele disse: “O povo coreano sofreu com uma guerra agressiva, mas ama a paz e é um povo bondoso. Derramei mais lágrimas na Coreia do que em qualquer outro lugar do mundo”.9 O Presidente Hinckley proferiu a oração dedicatória, e muitos presentes verteram lágrimas. Era um dia frio de inverno, mas o cálido Espírito do Senhor estava presente no templo naquele dia e tocou o coração de todos.

Uma das pinturas do templo mostra a irmã Ho Hee Soon, que foi batizada em agosto de 1970. Ela começou a fazer o trabalho do templo quando tinha mais de 80 anos de idade. Realizou investiduras por pelo menos 1.500 pessoas. Somente em 2007, ela realizou ordenanças vicárias para mais de 600 pessoas. Um pintor americano, tocado pelo serviço dela, pintou seu retrato e o doou para o Templo de Seul a fim de comemorar o empenho incansável dela de salvar almas.

Muitos outros santos coreanos eram dedicados no trabalho do templo. A Estaca Masan (hoje Estaca Changwon), por exemplo, começou a realizar caravanas regulares ao templo em 1995. Na segunda sexta-feira de cada mês, um ônibus fretado pegava os membros das cidades de Jinhae-gu, Changwon, Jinju, Sacheon e Geoje, a caminho de Seul. O ônibus chegava ao templo às 2 ou 3 horas da madrugada, e os membros tiravam um cochilo por algumas horas antes de participar das ordenanças iniciatórias às 5 horas. Depois, assistiam a sessões de investiduras até tarde da noite, antes de voltar para casa, após às 10 horas da noite. No dia seguinte, iam à Igreja e visitavam membros o dia inteiro. O irmão Kim Choongseok, que na época era presidente da estaca, relembra: “Eles ficavam exaustos, mas felizes”.

Agora, com décadas de presença, a Igreja na Coreia amadureceu muito. Os líderes locais da Igreja dão forte apoio aos valores familiares e a outras prioridades proféticas. Mais membros coreanos estão reconhecendo a importância de adorar juntos, em família — por meio de noites familiares, orações em família e estudo das escrituras em família. E mais adolescentes coreanos estão servindo missão de tempo integral do que nunca. Graças à luz do evangelho, os membros coreanos estão edificando um futuro que é tão brilhante quanto sua fé.

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Mormon Helping Hands volunteers in Korea.

Notas

  1. Ver Denny Roy, “Kim Ho Jik: Pioneiro na Coreia”, A Liahona, fevereiro de 1989, p. 8.

  2. Kim Ho Jik, em Denny Roy, “Kim Ho Jik”, A Liahona, p. 8.

  3. Kim Ho Jik, em Denny Roy, “Kim Ho Jik”, A Liahona, p. 8.

  4. Ver Harold B. Lee, Conference Report, outubro de 1954, pp. 125–131.

  5. Ver Robert H. Slover, “Korea Dedicated to Preach the Gospel”, Church News, 10 de setembro de 1955, p. 4.

  6. Extraído do diário de Chun Nak Seo.

  7. O Livro de Mórmon foi traduzido pela primeira vez para o coreano em 1961, por Hong Byung Shik, e uma seleção contendo o livro de 3 Néfi foi publicada em 1962. Alguns consideraram essa tradução muito forçada e literal, por isso Chung Dae Pan, que foi designado pelo Élder Gordon B. Hinckley, começou e completou uma nova tradução em 1964.

  8. Conforme relatado pelo bispo do irmão Lee em seu funeral em 8 de abril de 2011.

  9. Extraído de anotações do autor na dedicação do Templo de Seul Coreia, em 14 de dezembro de 1985.