Conferência Geral
Para Curar o Mundo
Conferência geral de abril de 2022


Para Curar o Mundo

As feridas e as diferenças podem ser resolvidas e até curadas quando honramos a Deus, o Pai de todos nós, e a Jesus Cristo, o Seu Filho.

Irmãos e irmãs, nesta gloriosa época da Páscoa, somos imensamente abençoados por nos podermos reunir e receber conselhos e orientações dos servos de Deus.

A orientação e os ensinamentos sagrados do nosso Pai Celestial ajudam-nos a navegar pela vida nestes tempos perigosos. Tal como foi profetizado: “incêndios e tempestades”, “guerras, rumores de guerra e terramotos em diversos lugares”, “e toda [a] sorte de abominações”,1 “pragas”,2 “fomes, e pestes”3 estão a devastar famílias, comunidades e até nações.

Temos ainda um outro flagelo a varrer o globo: ataques à vossa e à minha liberdade religiosa. Este sentimento crescente procura remover a religião e a fé em Deus da praça pública, das escolas, dos padrões comunitários e do discurso cívico. Os opositores da liberdade religiosa procuram impor restrições à expressão de convicções sinceras. Eles até criticam e ridicularizam as tradições de fé.

Este tipo de atitude marginaliza as pessoas, desvalorizando os princípios pessoais, a justiça, o respeito, a espiritualidade e a paz de consciência.

O que é a liberdade religiosa?

É a liberdade de adoração em todas as suas configurações: liberdade de reunião, liberdade de expressão, liberdade de agir de acordo com as crenças pessoais e liberdade para que os outros façam o mesmo. A liberdade religiosa permite-nos decidir, por nós mesmos, aquilo em que acreditamos, o modo como queremos viver e agir de acordo com a nossa fé e com o que Deus espera de nós.

Os esforços para restringir esta liberdade religiosa não são recentes. Ao longo da história, as pessoas de fé têm sofrido imensamente nas mãos de outros. Os membros d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias não são exceção.

Desde o início, muitos na sua busca por Deus, têm sido atraídos a esta Igreja devido aos seus ensinamentos da doutrina divina, que incluem a fé em Jesus Cristo e na Sua Expiação, o arrependimento, o plano de felicidade e a Segunda Vinda do nosso Senhor.

A oposição, a perseguição e a violência atormentaram o nosso primeiro profeta dos últimos dias, Joseph Smith, e os seus seguidores.

Em 1842, apesar dos tumultos, Joseph publicou 13 princípios fundamentais da Igreja em fase de crescimento, inclusive este: “Pretendemos o privilégio de adorar a Deus Todo-Poderoso de acordo com os ditames [da] nossa própria consciência; e concedemos a todos os homens o mesmo privilégio, deixando-os adorar como, onde, ou o que desejarem”.4

A sua declaração é inclusiva, libertadora e respeitadora. Esta é a essência da liberdade religiosa.

O Profeta Joseph Smith também declarou:

“Declaro, ousadamente, perante os Céus, que estou pronto para morrer ao defender os direitos de um Presbiteriano, Batista ou de um bom homem, de qualquer denominação; pois o mesmo princípio que atropelaria os direitos dos (…) Santos dos Últimos Dias também atropelaria os Católicos ou qualquer outra denominação que pudesse ser impopular ou demasiado fraca para se defender.

É o amor à liberdade que inspira a minha alma — liberdade civil e religiosa para toda a humanidade”.5

Ainda assim, os primeiros membros da Igreja foram atacados e levados a percorrer milhares de quilómetros, de Nova Iorque até Ohio e até ao Missouri, onde o governador emitiu uma ordem que declarava que os membros da Igreja “[deviam] ser tratados como inimigos e [deviam] ser exterminados ou expulsos do estado”.6 Eles fugiram para Illinóis, mas o tormento continuou. Uma multidão assassinou o Profeta Joseph, pensando que ao matá-lo iriam destruir a Igreja e dispersar os crentes. Mas, os fiéis mantiveram-se firmes. O sucessor de Joseph, Brigham Young, liderou milhares num êxodo forçado de cerca de 2.100 quilómetros rumo ao oeste, para aquele que agora é o estado de Utah.7 Os meus próprios antepassados estavam entre os primeiros colonizadores pioneiros.

Desde aqueles dias de intensa perseguição, a Igreja do Senhor tem crescido a um ritmo constante, tendo perto de 17 milhões de membros, mais de metade dos quais a viver fora dos Estados Unidos da América.8

Em abril de 2020, a nossa Igreja celebrou o ducentésimo aniversário da Restauração do evangelho com uma proclamação ao mundo, elaborada pela nossa Primeira Presidência e pelo Quórum dos Doze Apóstolos. Esta começa por dizer: “Proclamamos solenemente que Deus ama os Seus filhos em todas as nações do mundo”.9

O nosso amado Presidente Russell M. Nelson declarou ainda:

“Acreditamos na liberdade, bondade e justiça para com todos os filhos de Deus!

Somos todos irmãos e irmãs, sendo que cada um de nós é filho de um Pai Celestial amoroso. O Seu Filho, o Senhor Jesus Cristo, convida todos a vir a Ele — ‘negro e branco, escravo e livre, homem e mulher’ (2 Néfi 26:33)”.10

Considerem comigo quatro maneiras pelas quais a sociedade e os indivíduos beneficiam da liberdade religiosa.

Primeiro. A liberdade religiosa honra o primeiro e o segundo grande mandamento, colocando Deus no centro da nossa vida. Em Mateus, lemos:

“Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento”.11

“E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.12

Seja numa capela, sinagoga, mesquita ou cabana com telhado de zinco, os discípulos de Cristo e todos os crentes que pensam da mesma forma, podem expressar devoção a Deus ao adorá-lo e ao demonstrar a sua disposição de servir os Seus filhos.

Jesus Cristo é o exemplo perfeito deste tipo de amor e serviço. Durante o Seu ministério, Ele cuidou dos pobres13 e curou os doentes14 e os cegos.15 Ele alimentou os famintos,16 abriu os Seus braços para as criancinhas17 e perdoou os que O maltrataram e até os que O crucificaram.18

As escrituras descrevem Jesus dizendo que Ele “andou fazendo o bem”.19 E assim devemos nós fazer.

Segundo. A liberdade religiosa fomenta as expressões de crença, esperança e paz.

Como igreja, juntamo-nos a outras religiões na defesa das pessoas de todas as crenças e ideologias e do seu direito de expressar as suas convicções. Isto não significa que aceitamos as suas crenças, nem elas as nossas, mas temos mais em comum do que temos com aqueles que desejam silenciar-nos.

Recentemente, representei a Igreja no Fórum Inter-religioso anual do G20 na Itália. Fui incentivado e até aclamado, quando me reuni com líderes governamentais e religiosos de todas as partes do mundo. Apercebi-me que as feridas e as diferenças podem ser resolvidas e até curadas quando honramos a Deus, o Pai de todos nós, e a Jesus Cristo, Seu Filho. Aquele que nos Cura é o nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo.

Tive um momento interessante ao encerrar o meu discurso. Os sete oradores que me antecederam não tinham terminado com recurso a nenhum tipo de tradição de fé ou em nome de Deus. E enquanto falava, pensei: “Será que só devo agradecer e sentar-me, ou encerro ‘Em nome de Jesus Cristo’?” Lembrei-me de quem eu era e sabia que o Senhor queria que eu dissesse o Seu nome ao concluir a minha mensagem. E eu assim o fiz. Em retrospetiva, foi a minha oportunidade de expressar a minha crença; e tive a liberdade religiosa para prestar o meu testemunho do Seu santo nome.

Terceiro. A religião inspira as pessoas a ajudar os outros.

Quando a religião tem espaço e liberdade para florescer, os crentes realizam atos de serviço simples e por vezes heroicos. A antiga frase judaica “tikkun olam”, que significa “reparar ou curar o mundo”, está atualmente a ser refletida nos esforços de muitos. Temos uma parceria com a Catholic Charities, conhecida como a Caritas Internacional, a Islamic Relief e diversas organizações judaicas, hindus, budistas, sikhs e cristãs, tais como o Exército da Salvação e a National Christian Foundation. Juntos servimos milhões de necessitados, sendo que ultimamente temos ajudado refugiados da guerra com tendas, sacos-cama e bens alimentares20 e com o fornecimento de vacinas, inclusive da polimielite21 e da COVID.22 A lista do que tem sido feito é extensa, mas a lista de necessidades também o é.

Sem dúvida que, as pessoas de fé, quando trabalham em conjunto, podem fazer intervenções significativas. E ao mesmo tempo, o serviço prestado individualmente fica, muitas vezes, por anunciar, mas muda vidas silenciosamente.

Penso no exemplo de Lucas quando Jesus Cristo estendeu a mão para a viúva de Naim. Jesus, acompanhado por um grupo de seguidores, chegou ao cortejo fúnebre do filho único daquela viúva. Sem ele, ela teria de enfrentar a ruína emocional, espiritual e até financeira. Jesus, vendo o seu rosto lavado em lágrimas, disse: “Não chores”.23 Ele, então, tocou o esquife que carregava o corpo, e o cortejo parou.

“Jovem”, ordenou Ele, “a ti te digo: Levanta-te.

E o que estava morto assentou-se, e começou a falar; e [Jesus] entregou-o à sua mãe”,24

Levantar os mortos é um milagre, mas todos os atos de bondade e preocupação por alguém que está em aflição são o caminho do convénio que cada um de nós deve seguir e também “[andar] fazendo o bem”, sabendo que “Deus [está connosco]”.25

E quarto. A liberdade religiosa atua como uma força unificadora e mobilizadora para moldar valores e moralidade.

No Novo Testamento lemos sobre muitos se afastarem de Jesus Cristo, dizendo da Sua doutrina: “Duro é este discurso; quem o pode ouvir?”26

Este clamor ainda hoje é ouvido por aqueles que procuram expulsar a religião do debate e da influência. Se a religião não estiver presente para ajudar a moldar o caráter e a mediar tempos difíceis, quem estará? Quem irá ensinar honestidade, gratidão, perdão e paciência? Quem irá demonstrar caridade, compaixão e bondade pelos esquecidos e oprimidos? Quem irá abraçar aqueles que são diferentes, mas no entanto, merecedores como o são todos os filhos de Deus? Quem irá abrir os braços para os necessitados sem esperar receber nada em troca? Quem irá reverenciar mais a paz e a obediência às leis do que às tendências do dia? Quem irá atender ao apelo do Salvador: “Vai, e faze da mesma maneira?”27

Nós iremos! Sim, irmãos e irmãs, nós iremos.

Convido-vos a defender a causa da liberdade religiosa. É uma expressão do princípio do arbítrio dado por Deus.

A liberdade religiosa traz equilíbrio às filosofias concorrentes. O bom da religião, o seu alcance e os atos diários de amor que a religião inspira só se multiplicam quando protegemos a liberdade de expressar e agir de acordo com as crenças fundamentais.

Testifico que o Presidente Russell M. Nelson é o profeta vivo de Deus. Testifico que Jesus Cristo lidera e guia esta Igreja. Ele expiou pelos nossos pecados, foi crucificado na cruz e ressuscitou ao terceiro dia.28 Por causa Dele, podemos viver novamente por toda a eternidade; e aqueles que assim o desejarem podem ficar com o nosso Pai Celestial. Esta verdade eu proclamo ao mundo inteiro. Sou grato pela liberdade de o poder fazer. Em nome de Jesus Cristo. Amém.