2000–2009
O Doce Poder da Oração
Abril 2003


O Doce Poder da Oração

Devemos orar de acordo com a vontade de nosso Pai Celestial. Ele quer testar-nos, fortalecer-nos e ajudar-nos a alcançar todo o nosso potencial.

Nestes dias de computadores, telefones e pagers, as pessoas se comunicam mais do que nunca umas com as outras. Mesmo assim, freqüentemente carecemos de uma boa comunicação. Ao visitar recentemente uma casa de repouso, conversei com uma mulher sobre sua família. Ela disse-me que tinha três filhos, dois dos quais a visitavam regularmente.

“E quanto ao terceiro filho?” perguntei.

“Não sei onde ele está”, respondeu ela em meio às lágrimas. “Não tenho notícias dele há vários anos. Nem ao menos sei quantos netos tenho.”

Por Que Oramos

Se essa mãe anseia tanto por ouvir notícias de seus filhos, é fácil perceber por que um Pai Celestial amoroso deseja ouvir Seus filhos.1 Por meio da oração, podemos mostrar nosso amor a Deus. E Ele fez com que isso fosse muito fácil. Podemos orar a Ele a qualquer momento. Não é preciso nenhum equipamento especial. Nem ao menos temos que carregar baterias ou pagar uma taxa de serviços mensal.

Algumas pessoas só oram quando enfrentam problemas pessoais. Outras não oram nunca. Uma escritura faz o seguinte comentário: “Não vos lembrais do Senhor vosso Deus nas coisas com que ele vos abençoou, mas sempre recordais vossas riquezas, não para agradecer ao Senhor vosso Deus por elas (…)”.2

Os profetas há muito tempo nos ensinam a orar humilde e freqüentemente.3

Como Orar

Jesus ensinou-nos como orar.4 Oramos a nosso Pai Celestial5, em nome de Jesus Cristo6, pelo poder do Espírito Santo.7 Essa é a “verdadeira ordem da oração”,8 contrastando com as “vãs repetições”9 ou recitações para “serem vistas pelos homens”.10

Jesus revelou que oramos a um sábio Pai que sabe do que precisamos antes que Lhe peçamos.11

Mórmon ensinou a seu filho Morôni que devemos orar “com toda a energia de [nosso] coração”.12 Néfi exclamou: “Oro por [meu povo] continuamente durante o dia e meus olhos molham meu travesseiro durante a noite (…) e clamo a meu Deus com fé e sei que ele ouvirá o meu clamor”.13

O doce poder da oração pode ser intensificado pelo jejum, ocasionalmente, quando for conveniente para uma necessidade particular.14

Podemos fazer orações até em silêncio. Podemos orar em pensamento, particularmente quando as palavras atrapalhariam.15 Freqüentemente nos ajoelhamos para orar; podemos orar em pé ou sentados.16 A posição física é menos importante do que a submissão a Deus.

Encerramos nossa oração dizendo: “em nome de Jesus Cristo. Amém”.17 Quando ouvimos a oração de outra pessoa, dizemos de modo audível o nosso “amém”, que significa: “Essa é minha oração também”.18

Quando Orar

Quando devemos orar? O Senhor disse: “Buscai diligentemente, orai sempre e sede crentes; e todas as coisas contribuirão para o vosso bem (…)”.19

Alma disse: “Aconselha-te com o Senhor em tudo que fizeres e ele dirigir-te-á para o bem; sim, quando te deitares à noite, repousa no Senhor, para que ele possa velar por ti em teu sono; e quando te levantares pela manhã, tem o teu coração cheio de agradecimento a Deus (…)”. 20

Podemos orar em segredo, regularmente com nossa família, às refeições e nas atividades diárias. Em resumo, somos um povo que ora.

Experiência Pessoal com a Oração

Muitos de nós temos experiências com o doce poder da oração. Uma das minhas foi compartilhada com um patriarca de estaca do sul de Utah. Eu o conheci em meu consultório médico há mais de 40 anos, nos primeiros dias das cirurgias cardíacas. Aquele santo homem sofria muito por causa de um coração fraco. Ele implorou ajuda, achando que sua condição era causada por uma válvula cardíaca lesada que poderia ser consertada.

Uma minuciosa avaliação revelou que ele tinha duas válvulas defeituosas. Embora uma delas pudesse ser corrigida cirurgicamente, a outra não podia. Portanto, não era recomendável realizar uma cirurgia. Ele ouviu essa notícia com profundo desapontamento.

As consultas subseqüentes terminaram com o mesmo conselho. Por fim, em desespero, ele disse-me, muito emocionado: “Dr. Nelson, orei pedindo ajuda e fui guiado até você. O Senhor não me irá revelar como consertar aquela segunda válvula, mas Ele pode revelar isso a você. Sua mente está muito preparada. Se você me operar, o Senhor fará com que saiba o que precisa fazer. Por favor, realize a operação da qual necessito e ore pela ajuda de que você necessita”.21

Sua grande fé teve um profundo efeito sobre mim. Como eu poderia recusar-me a ajudá-lo? Depois de uma fervorosa oração que fizemos juntos, concordei em tentar. Ao preparar-me para aquele dia fatídico, orei repetidas vezes, mas ainda não sabia o que fazer para consertar sua válvula tricúspide defeituosa. Até no momento de começar a cirurgia,22 meu assistente perguntou: “O que você vai fazer com isso?”

Eu disse: “Não sei”.

Começamos a operação. Depois de consertar a obstrução da primeira válvula,23 expusemos a segunda válvula. Descobrimos que ela estava intacta, mas tão acentuadamente dilatada que não podia funcionar como deveria. Enquanto examinava aquela válvula, uma mensagem se formou com clareza em minha mente: Reduza a circunferência do anel. Transmiti aquela mensagem a meu assistente. “O tecido da válvula será suficiente se conseguirmos reduzir eficazmente o tamanho do anel até suas dimensões normais.”

Mas como? Não poderíamos colocar uma cinta, como as que usamos para apertar a cintura de uma calça larga. Não poderíamos apertá-la com uma faixa, como a que segura a sela de um cavalo. Então uma imagem surgiu com clareza em minha mente, mostrando como poderíamos dar os pontos (fazendo uma prega aqui, uma dobra ali) para alcançar o objetivo desejado. Ainda me lembro daquela imagem mental — completa com linhas pontilhadas nos lugares em que as suturas deveriam ser feitas. A cirurgia de reparo foi realizada como fora desenhada em minha mente. Testamos a válvula e descobrimos que a insuficiência tinha sido notavelmente reduzida. Meu assistente disse: “É um milagre”.

Respondi: “E a resposta a uma oração”.

A recuperação do paciente foi muito rápida e seu alívio, gratificante. Ele não apenas me ajudou de modo maravilhoso, mas fez com que o auxílio cirúrgico para outras pessoas com problemas semelhantes se tornasse possível. Não tenho mérito nenhum nisso. Todo o louvor deve ser dado àquele fiel patriarca e a Deus, que respondeu a nossas orações. Aquele homem fiel viveu muitos anos e depois foi para sua glória eterna.

Perguntar ao Senhor

Quando oramos, não devemos achar que podemos dar conselhos ao Senhor, mas devemos perguntar a Ele,24 e ouvir Seu conselho.25 A primeira oração de Joseph Smith deu início à Restauração do evangelho.26 Em 1833, ele recebeu a Palavra de Sabedoria, depois de pedir conselho ao Senhor.27 A revelação que o Presidente Spencer W. Kimball recebeu em 1978 sobre o sacerdócio veio após muito perguntar ao Senhor.28 A inspiração para a construção de templos menores veio ao Presidente Gordon B. Hinckley depois de ele ter ponderado o assunto.29

Respostas a Orações

Nem todas as nossas orações serão atendidas da forma que desejamos. De vez em quando, a resposta será não. Não devemos ficar surpresos com isso. Os pais mortais amorosos não dizem sim a todos os pedidos de seus filhos.30

Numa recente reunião de noite familiar com outros membros da família, nossos netos estavam-se divertindo bastante. Um neto de seis anos ficou muito chateado quando seu pai disse que era hora de ir para casa. Então o que aquele adorável menino fez? Ele procurou-me e disse: “Vovô, tenho sua permissão para desobedecer meu pai?”

Eu disse: “Não, meu querido. Uma das grandes lições da vida é aprender que a felicidade vem por meio da obediência.31 Vá para casa com sua família, e você será feliz.” Embora desapontado, ele acatou obedientemente.

Devemos orar de acordo com a vontade de nosso Pai Celestial.32 Ele quer testar-nos, fortalecer-nos e ajudar-nos a alcançar todo o nosso potencial. Quando o Profeta Joseph Smith estava preso na Cadeia de Liberty, ele suplicou por auxílio. Suas orações foram respondidas com uma explicação: “(…) todas essas coisas te servirão de experiência e serão para o teu bem”. 33

Hino de Oração

Sinto-me inspirado a concluir esta mensagem sobre a oração com uma oração, apresentada em forma de hino. O Senhor disse que “o canto dos justos é uma prece a mim”.34 A música é do nosso livro de Hinos, 35 para o qual escrevi uma nova letra. Com agradecimentos a Craig Jessop, Mack Wilberg e outros queridos amigos do Coro do Tabernáculo, ouviremos esse hino de oração. Irmão Jessop, por favor:

[O Coro do Tabernáculo, então, cantou “Our Prayer to Thee” (Nossa Oração a Ti).]

Em nome de Jesus Cristo. Amém.

  1. Muitos versículos referem-se aos que são “vagarosos para lembrar-se do Senhor”. (Ver Mosias 9:3; 13:29; Helamã 12:5.)

  2. Helamã 13:22.

  3. Por exemplo: Ver Jeremias 29:11–13 ; Joel 2:32; Filipenses 4:6; 1 Néfi 15:8–11; Alma 37:37.

  4. Ao realizar a Expiação, Ele manteve fervorosa comunicação com Seu Pai, tanto no Getsêmani (ver Lucas 22:39-44), quanto na cruz do Calvário. (Ver Lucas 23:33–34, 46.)

  5. Ver Mateus 6:9; Tradução de Joseph Smith, Mateus 6:10; Lucas 11:2; 3 Néfi 13:9.

  6. Ver Jacó 4:4–5; 3 Néfi 20:31; 27:9; Moisés 5:8.

  7. Ver Morôni 6:9; 10:4-5.

  8. Bruce R. McConkie, A New Witness for the Articles of Faith, 1985, p. 380.

  9. Mateus 6:7.

  10. Mateus 6:5.

  11. Ver Mateus 6:8.

  12. Morôni 7:48.

  13. 2 Néfi 33:3; ver também Jacó 3:1; Alma 31:38; D&C 37:2.

  14. Ver Mateus 17:21; Marcos 9:29; I Coríntios 7:5; Mosias 27:22-23; Alma 5:46; 3 Néfi 27:1; D&C 88:76.

  15. Um de nossos hinos declara que “a fervorosa prece traz conforto à solidão”. (Hinos, 82.)

  16. O que for mais conveniente à ocasião.

  17. Para outras instruções úteis, ver Dallin H. Oaks, “The Language of Prayer”, Ensign, maio de 1993, pp. 15–18.

  18. Ver The American Heritage Dictionary, 4ª ed., 2000, p. 57: “Amém… . Usado no final de uma oração ou declaração para expressar assentimento ou aprovação. Inglês médio, do inglês arcaico, do latim amen, do grego, do hebraico ‘amen, certamente, verdadeiramente, de ’ãman, ser firme”.

  19. D&C 90:24; grifo do autor.

  20. Alma 37:37; grifo do autor. Ver também Mosias 26:39; Alma 26:22. Para ensinamento equivalente de Paulo, ver I Tessalonicenses 5:17.

  21. Embora suas palavras não tenham sido citadas literalmente, essa é uma representação precisa de sua declaração.

  22. Essa operação foi realizada em 24 de maio de 1960.

  23. Ele tinha estenose (estreitamento) da válvula mitral, causada por um surto anterior de febre reumática.

  24. O Senhor disse: “Se pedires, receberás revelação sobre revelação, conhecimento sobre conhecimento (…)”. (D&C 42:61) Como exemplo, consulte a seção 9 de Doutrina e Convênios. O Senhor explicou: “(…) deves estudá-lo bem em tua mente; depois me deves perguntar se está certo e, se estiver certo, farei arder dentro de ti o teu peito; portanto sentirás que está certo. Mas se não estiver certo, não terás tais sentimentos; terás, porém, um estupor de pensamento (…)”. (Vv. 8–9). Ver também Jacó 4:10.

  25. Ver Êxodo 15:26; Deuteronômio 13:17–18; I Samuel 15:22; Jeremias 26:4-6; Ômni 1:13; D&C 41:1; 133:16.

  26. Ver Joseph Smith — História 1:15-20.

  27. Ver D&C 89.

  28. Ver Declaração Oficial 2.

  29. Ver Church News, 1º de agosto de 1998, pp. 3, 12; 13 de março de 1999, p. 9; 4 de março de 2000, p. 7; 24 de junho de 2000, p. 9.

  30. Até o Filho de Deus passou por algo assim: “Dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua”. (Lucas 22:42) Tanto o Pai quanto o Filho sabiam o que precisava ser feito.

  31. A respeito da obediência à lei divina. (Ver Abraão 3:25) A respeito da obediência ao sábio conselho de pais amorosos. (Ver Efésios 6:1; Colossenses 3:20.)

  32. Ver Helamã 10:4–5.

  33. D&C 122:7.

  34. D&C 25:12.

  35. Hymns, n° 337; música composta por Joseph Parry; melodia: SWANSEA.