Apêndice: “Transformai-vos pela renovação do vosso entendimento”
Devocional da Universidade Brigham Young–Idaho
13 de maio de 2003
Quando eu tinha 16 anos de idade, lembro-me de voltar para casa mais cedo de uma atividade social certa noite, eu estava bem acordado e sem vontade de me deitar. Pensei em jogar basquete no quintal, mas sabia que os vizinhos não iriam gostar do barulho, porque provavelmente já estavam dormindo. Também pensei em talvez tocar um pouco de música em meu fonógrafo, mas sabia que meus pais seriam contra isso, já que o quarto deles ficava abaixo do meu!
Em cima de minha cama, estava um exemplar do Livro de Mórmon que minha mãe sempre colocava ali na esperança de que eu o lesse. Naquela época, eu tinha lido algumas partes do Livro de Mórmon, mas não tinha realmente lido o livro todo. De fato, a única frase que certamente me lembrava do livro era: “Eu, Néfi, tendo nascido de bons pais”. Naquela noite, não tendo muitos motivos além de não ter nada melhor para fazer, comecei a ler o Livro de Mórmon.
Na manhã seguinte, às 11 horas, por ser sábado, meus pais acharam que eu estava dormindo, porque tinha que trabalhar apenas à tarde. No entanto, eu estava bem acordado. Estava lendo as palavras finais de Morôni: “Sim, vinde a Cristo, sede aperfeiçoados nele e negai-vos a toda iniquidade; e se vos negardes a toda iniquidade e amardes a Deus com todo o vosso poder, mente e força, então sua graça vos será suficiente” (Morôni 10:32). Após ler o convite conclusivo e a despedida de Morôni, eu me ajoelhei ao lado de minha cama e pus à prova a promessa que ele fez anteriormente: “E quando receberdes estas coisas, eu vos exorto a perguntardes a Deus, o Pai Eterno, em nome de Cristo, se estas coisas não são verdadeiras; e se perguntardes com um coração sincero e com real intenção, tendo fé em Cristo, ele vos manifestará a verdade delas pelo poder do Espírito Santo” (Morôni 10:4).
Naquela manhã de sábado, pedi o testemunho do Espírito Santo e o recebi com mais clareza e poder do que qualquer conclusão experimental ou dedução racional que já fiz. Ele se tornou o alicerce do qual surgiram as convicções mais importantes.
Na manhã da segunda-feira seguinte, na escola, conheci um bom amigo, que não era membro da Igreja e com quem tive muitas conversas sobre o evangelho. Ele me disse que tinha uma lista de 50 anacronismos no Livro de Mórmon que demonstravam que o Livro de Mórmon não se baseia em um texto antigo, mas era uma invenção do século 19. (Um anacronismo se refere a uma pessoa, um evento ou uma coisa que esteja cronologicamente fora do lugar, seria como dizer que Júlio César foi dirigindo seu SUV para Roma.)
Bem, eu disse a meu amigo que ele estava muito atrasado, pois eu tinha um testemunho seguro do Livro de Mórmon! Mas, eu disse a ele: “Dê-me sua lista que vou guardá-la”. Guardei essa lista e, ao longo dos anos, e à medida que mais pesquisas e estudos eram feitos por vários analistas e acadêmicos, um item após o outro saiu da lista. Por fim, há alguns anos, eu estava falando para um grupo da Universidade Cornell e mencionei minha lista, e percebi que, depois desses muitos anos, apenas um item permaneceu — mas eu podia esperar. Depois de minha apresentação, um renomado professor veio até mim e disse: “Bem, você pode remover seu último item, pois nossos estudos indicam que não é um anacronismo”.
Pense por um minuto em como teria sido minha vida se eu tivesse retido minha convicção do Livro de Mórmon até que eu tivesse resolvido todas as perguntas que meu amigo havia me dado. Sempre digo que, quando se trata das verdades mais fundamentais, não tenho dúvidas, embora eu tenha algumas perguntas! Há algumas coisas das quais precisamos ter certeza que transcendem nosso entendimento incompleto e nossas perguntas imediatas. Morôni apontou o caminho para recebermos conhecimento real tanto das perguntas mais fundamentais quanto das verdades mais sublimes.
Em 11 de janeiro de 2003, na Primeira Reunião de Treinamento Mundial de Liderança, o presidente Boyd K. Packer, do Quórum dos Doze Apóstolos, pediu a nossos líderes que “medissem tudo o que aprenderam sobre sua ordenação e seu chamado em comparação às verdades fundamentais” e delineou essas verdades. Entre elas estão a missão divina de Jesus Cristo e a Igreja que Ele estabeleceu; a perda das preciosas verdades do evangelho, a mudança das ordenanças e a perda das chaves apostólicas na Apostasia; a Restauração sob a direção do Pai e do Filho e por meio do profeta Joseph Smith do que havia sido perdido; e a persistência das chaves apostólicas e do sacerdócio na Igreja hoje.
O presidente Packer apontou para o Espírito Santo como o sextante que cada pessoa recebe no batismo a fim de discernir e estabelecer em nossa vida essas verdades. O élder Neal A. Maxwell, também do Quórum dos Doze Apóstolos, abordou de modo semelhante nossa responsabilidade de receber revelação pessoal para que cada um de nós tenha um testemunho seguro dessas verdades mais fundamentais.
Qual é exatamente a natureza da veracidade da revelação e do testemunho do Espírito?
Da informação ao conhecimento
Diz-se que estamos em meio a uma revolução da informação — computadores, armazenamento de informações, análise e sistemas de recuperação; redes; inteligência artificial; satélites de comunicação; sistemas de televisão e telefone. Embora estejamos inundados de informações, muitos estão se afogando em ignorância. De fato, mesmo no contexto dessa grande revolução secular, uma questão-chave é como traduzimos informações em conhecimento, como encaixamos os bits e as peças, os dados, em padrões nos quais podemos realmente dizer que sabemos algo. Depois de integrar a informação ao conhecimento, como sabemos que o que sabemos está correto ou completo? Tanto os cientistas quanto os filósofos concordam que, em um sentido fundamental, não o fazemos. Todo conhecimento empírico é provisório, sujeito a mais informações e a diferentes modelos interpretativos.
Às vezes, porém, confundimos nosso conhecimento provisório com as coisas conhecidas. Em uma manchete do New York Times, lemos “Mass Found in Elusive Particle; Universe May Never Be the Same” [Massa encontrada em partícula esquiva; o universo pode nunca mais ser o mesmo] (5 de junho de 1998). O artigo sugeriu que, agora que os cientistas sabem que os neutrinos têm massa, isso vai diminuir a expansão do universo. De alguma forma, acho que o universo é o mesmo hoje, como era um dia antes de a comunidade científica revisar suas teorias!
É possível, portanto, conhecer sem conhecer. Na verdade, está escrito que, no Conselho dos Céus, Satanás, que certamente tinha muitas informações, “não conhecia a mente de Deus; por conseguinte, procurou destruir o mundo” (Moisés 4:6). Paulo falou sobre aqueles que “sempre aprendem, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade” (2 Timóteo 3:7). Amós predisse que, em nossos dias, haveria fome de conhecimento, e Morôni falou de um véu de incredulidade que faz com que os homens permaneçam na cegueira de sua mente (Éter 4:15).
Por outro lado, o Senhor ordenou que O sirvamos com toda a mente (ver Doutrina e Convênios 4:2) e que busquemos aprender pelo estudo e pela fé (ver Doutrina e Convênios 88:118). Ele nos aconselhou a buscar conhecimento de países e reinos, da história e da natureza, das coisas passadas, das coisas presentes e das coisas futuras (Doutrina e Convênios 88:79; 93:24, 53). Ele prometeu que o véu será tirado de nossa mente (Doutrina e Convênios 10:1) e que será iluminado pelo Espírito (Doutrina e Convênios 11:13). Como consequência, seremos livres e santos (Helamã 14:30; Doutrina e Convênios 20:31). Conheceremos a verdade, e a verdade nos libertará (João 8:32).
Livres de quê? Da ignorância, do pecado e das dores da morte. “Se pedires, receberás revelação sobre revelação, conhecimento sobre conhecimento, para que conheças os mistérios e as coisas pacíficas — aquilo que traz alegria, que traz vida eterna” (Doutrina e Convênios 42:61).
O caráter do conhecimento espiritual — O paradigma divino
Em todos os campos de inteligência humana, quase todas as proposições podem ser sujeitas à pergunta “por quê?” Todos os pais entendem isso. Mas, após lhe perguntarem “por que” repetidas vezes, você chega a um ponto em que a única resposta é: “Bem, é assim que é!” Na verdade, estamos dizendo que é exatamente assim que o mundo se construiu. Também sabemos que, às vezes, até mesmo essas verdades básicas são derrubadas por outras evidências. Essas são as revoluções na história da ciência. Não há nada que não possa ser finalmente estabelecido sem aguardar mais experiências? Sim.
Há nesta vida certas verdades tão fundamentais que precisam ser estabelecidas tão firmemente em nossa mente e em nosso coração que nenhuma outra prova de sua veracidade é necessária. Para enfrentar os testes da mortalidade, nosso Pai Celestial forneceu um testemunho seguro desses entendimentos cruciais no qual podemos encaixar a luz e o conhecimento adicionais que receberemos posteriormente. Talvez não saibamos todas as respostas; de fato, talvez não compreendamos todas as perguntas, mas teremos estabelecido em nossa vida uma estrutura de entendimento que fornecerá não apenas um alicerce intelectual e espiritual inabalável, mas transformará nossa própria vida.
Que testemunho é esse que nos dá um entendimento que transcende a compreensão dos sentidos? O testemunho do Espírito Santo. O entendimento recebido do Espírito Santo tem três aspectos fundamentais: primeiro, diz respeito às verdades mais cruciais e transcendentes; segundo, é definitivo em sua veracidade; e terceiro, muda o comportamento.
A compreensão do testemunho do Espírito Santo fornece, em primeiro lugar, uma arquitetura de conhecimento, salas nas quais o conhecimento adicional possa ser colocado. Outra maneira de dizer isso é que o Espírito Santo nos dá um entendimento das primeiras premissas da sabedoria. Vocês se lembram de que o autor de Provérbios declarou que o princípio da sabedoria é o temor do Senhor.
O profeta Joseph Smith disse que havia três certezas necessárias para um homem ou uma mulher suportar as provações da vida: o conhecimento de que Deus existe; um entendimento de Sua natureza, Seus atributos e Suas perfeições; e a convicção de que o curso da vida que estamos buscando está de acordo com Sua vontade.
Quando eu estava na faculdade, aprendi que a premissa ou proposição original de um silogismo ou raciocínio dedutivo é fundamental. Podemos trabalhar por meio de linhas de raciocínio maravilhosamente sofisticadas e complexas, que parecem convincentes o suficiente em cada passo da lógica, mas, se as premissas forem falhas ou incompletas, toda a linha de raciocínio também será falha, por mais brilhante que sejam as deduções.
Por exemplo, se começarmos com a premissa de que a vida surgiu por acaso e que seu desenvolvimento é em grande parte aleatório, interpretaremos informações ou dados físicos, biológicos e sociais de certa forma, de modo a distorcer e fragmentar nosso entendimento. Tais pensamentos terão consequências para a maneira como nossa sociedade age e como agimos. Se, por outro lado, começarmos com a premissa de que a vida mortal surgiu por desígnio e se desenvolverá de acordo com a lei eterna, entenderemos os bits e as partes de nossas informações de uma maneira diferente, veremos a interligação e a plenitude da vida. Compreenderemos a hierarquia da verdade, veremos padrões e propósitos em lugares em que outras pessoas veem a desordem e o acaso. Jó compreendeu a importância da premissa original quando, mesmo nas profundezas de sua miséria, declarou:
“Porém onde se achará a sabedoria? E onde está o lugar da inteligência? (…) Porém disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal, a inteligência” (Jó 28:12, 28).
A abrangência da razão humana é impressionante — em si mesma de origens eternas e divinas e iluminada ao nascer pela luz de Cristo —, mas não subestimemos o estreitamento da perspectiva decorrente da busca da verdade de Deus. Estou cada vez mais surpreso com os limites e perigos a que Paulo chamaria de psicologia “carnal”, sociologia, filosofia, ciência política, literatura, teatro, música, física, química e biologia.
Não podemos ficar presos por construções ou explicações teóricas que nos impeçam de “passar dos limites do tempo”. Devemos rejeitar a premissa da causalidade aleatória e sem propósito que nos impele a fazer perguntas erradas, concentrar-nos no transitório em detrimento da perseverança, fazer inferências impróprias e sugerir recomendações incompletas ou inadequadas. Em resumo, arriscamos pregar para o estabelecimento da verdade as doutrinas transitórias dos homens, pois, como Paulo disse, “agora vemos por espelho, em enigma”, ao passo que somos convocados por nosso Pai Celestial para vê-Lo “face a face”. Como Paulo escreveu: “Agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido” (1 Coríntios 13:12).
Tudo isso é o motivo pelo qual os profetas nos aconselharam a mergulhar nas profundezas das escrituras e das palavras dos profetas vivos com fé e oração. Em verdade, as escrituras, sob a orientação do Espírito Santo, constituem o verdadeiro “guia para os perplexos”.
Segundo, como já sugerimos, esse conhecimento é definitivo. Embora nossas experiências, observações e faculdades racionais possam nos levar a certas conclusões, elas nunca podem compelir a convicção que dissipa a dúvida e motiva a perseverança. Jesus disse a Pedro que nem a carne nem o sangue o levaram a entender que Jesus é o Cristo, mas seu “Pai, que está nos céus” (Mateus 16:17). O apóstolo Paulo escreveu: “Ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo” (1 Coríntios 12:3). Conseguem ver por que é uma coisa horrenda negar o testemunho do Espírito Santo? Ao contrário de outras evidências, ela finaliza o argumento. Essa confirmação pelo Espírito traz uma certeza desconhecida em qualquer outra área de pensamento. Pode haver muitas demonstrações filosóficas relativas à existência de Deus ou à herança divina de Jesus, ou à veracidade da Restauração, mas permanecem na arena da especulação, por mais convincentes que sejam.
Uma vez que uma pessoa buscou e recebeu o testemunho do Espírito Santo, a pessoa assume uma obrigação que muda sua vida. Isso sugere a terceira característica desse entendimento do Espírito. Ela é transformadora. Paulo escreveu que tinha a “mente de Cristo” (1 Coríntios 2:16), e o povo do rei Benjamim declarou que eles não tinham “mais disposição para praticar o mal, mas, sim, de fazer o bem continuamente” (Mosias 5:2). Tendo recebido o testemunho do Espírito, eles foram chamados e responderam ao Espírito. Conhecendo Cristo por meio do Espírito, nós O amamos, guardamos Seus mandamentos e somos ainda mais consolados e ensinados pelo Espírito, até que, como Mórmon declarou: “Quando ele aparecer, sejamos como ele, porque o veremos como ele é; que tenhamos esta esperança; que sejamos purificados, como ele é puro” (Morôni 7:48; ver também 1 João 3:1–3).
Em sua epístola aos romanos, o apóstolo Paulo escreveu:
“E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:2).
Paulo faz distinção entre a natureza humana distorcida pela desobediência e as falsas crenças, e a natureza sujeita a Deus e renovada pelo Santo Espírito. Somente quando essa renovação começa a acontecer é que sabemos quais são as perguntas certas e pelo que devemos orar (ver Romanos 8:6–8, 26–27). À medida que o Espírito trabalha em nós, temos uma renovação do entendimento preparada para discernir a verdade e poder alcançar “a mente de Cristo” (1 Coríntios 2:14, 16; Atos 17:11).
Alma argumenta que, ao submetermos nossa vontade ao Pai por meio da fé em Cristo, nosso entendimento “começa a iluminar-se e [nossa] mente começa a expandir-se” (Alma 32:34). Nos últimos dias, o Senhor disse que Ele “requer o coração e uma mente solícita” (Doutrina e Convênios 64:34) e aconselhou-nos a “[entesourar] sempre em [nossa] mente as palavras de vida” (Doutrina e Convênios 84:85), santificando-nos para que nossa “mente concentre-se em Deus; e dias virão em que [nós] o [veremos]; porque ele (…) desvendará sua face [a nós]” (Doutrina e Convênios 88:68).
O poder transformador do conhecimento espiritual não se limita ao indivíduo. Como Paulo observou, assim como nós, enquanto povo, sacrificamos nossa vontade para fazer a vontade de Deus e tornamos nossa mente unida à Dele, a comunidade dos santos será aperfeiçoada, de modo que não haverá divisão entre nós e seremos “unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer” (1 Coríntios 1:10; ver também Romanos 14:1, 5, 19).
Os requisitos para obter conhecimento espiritual
Como alcançamos um conhecimento tão abrangente, definitivo e transformador? Consideremos quatro aspectos dos requisitos para se obter conhecimento espiritual: primeiro, uma busca urgente pela verdade; segundo, a disposição de obedecer à verdade descoberta; terceiro, disposição para prestar testemunho da verdade em todos os momentos e em todos os lugares; e, quarto, uma motivação para servir ao próximo na verdade.
Receptividade e aprendizado diligente: Uma forma de humildade
Primeiro, então, precisamos estar abertos ao ensino e diligentes em nossa busca pelo aprendizado do Espírito. Tal busca exige um senso de nossa própria necessidade e mais do que um interesse casual nas respostas que buscamos. O Senhor declarou que aqueles que têm fome e sede de justiça serão fartos do Espírito Santo (Mateus 5:6; 3 Néfi 12:6), mas ele também disse: “Ai de vós, que estais fartos! porque tereis fome” (Lucas 6:25). O Senhor declarou a João, o Revelador, que rejeitaria aqueles que são mornos, não sendo frios nem quentes, que têm o sentimento de que são autossuficientes e não precisam de nada (Apocalipse 3:16–17).
Há uma história em que um jovem foi a Sócrates, o antigo filósofo grego, pedindo que lhe fosse ensinada sabedoria. Relata-se que Sócrates imediatamente agarrou o rapaz, lançou e segurou a cabeça debaixo da água de um riacho adjacente até que finalmente permitiu que subisse, ofegante. Sócrates então disse: “Quando você quiser tanta sabedoria quanto quer ar, então posso ensiná-lo”.
Nas palavras de Robert Frost, precisamos estar distantes e profundos na água de nossos compromissos se alguma coisa duradoura tiver que ser alcançada. O profeta Joseph Smith vinculou a busca da verdadeira compreensão ao sacrifício e aconselhou que uma pessoa só pode conhecer a verdade se estiver preparada para sacrificar todas as coisas (Sixth Lecture on Faith).
Ao contrário de tal fome e sede é o que os profetas chamam de dureza de coração — a incapacidade de ver o que realmente é, de ouvir o que realmente está sendo dito e de sentir com o coração aberto. C. S. Lewis em seu último volume de As Crônicas de Nárnia, A Última Batalha (“Os Anões Não Se Deixam Tapear”, pp. 215–235), relata como, depois que as forças da Feiticeira Branca foram derrotadas por Aslan, o Leão (e representação de Cristo), e seus seguidores, as prisões e cadeias com que ela tinha amarrado tantos desapareceram. Dentro de um estábulo da prisão, um grupo de anões havia sido acorrentado em um círculo. De repente, o estábulo e suas correntes desapareceram e eles ficaram livres. Mas eles se recusaram a acreditar em sua própria libertação e permaneceram dentro de seu círculo fechado, sem sentir o ar fresco, sem ver o sol, sem sentir o cheiro das flores. Mesmo após Aslan ter rugido em seus ouvidos para despertá-los, eles confundiram o rugido com trovões ou um truque. Como Aslan observou, eles tinham tanto medo de serem levados para fora da prisão que agora tinham criado uma prisão em sua própria mente. Aslan comentou em outra ocasião: “Oh, filhos de Adão, com que esperteza vocês se defendem daquilo que lhes pode fazer o bem!” (C. S. Lewis, O Sobrinho do Mago.) Assim como Néfi escreveu tão melancolicamente:
“E só me resta lamentar a incredulidade e a iniquidade e a ignorância e a obstinação dos homens; porque não procuram conhecimento nem compreendem grande conhecimento, quando lhe é dado com clareza, sim, tão claramente quanto o podem ser as palavras” (2 Néfi 32:7).
Muitos não conseguem ouvir os sussurros do Espírito ou encontrar a verdade porque suas explicações de acontecimentos aparentemente milagrosos se tornam racionalizações. Muitos estudos sobre Cristo procuram explicar Sua missão e Sua influência explicando Sua filiação divina, e outros procuram explicar o profeta Joseph Smith explicando seu chamado profético. Como Jacó com tamanha sabedoria observou, é tolice perder tanta confiança em nossas observações e compreensão limitadas e rejeitar a sabedoria que vem do Espírito Santo. Mas, ele conclui, “é bom ser instruído, quando [damos] ouvidos aos conselhos de Deus” (2 Néfi 9:28–29).
Para sermos ensinados com sabedoria pelo Espírito, precisamos estar preparados para investir tudo o que estamos buscando, um estudo acelerado com muita oração e jejum. Foi dito que Alma “[jejuou] e [orou] durante muitos dias” para saber (Alma 5:46). Isso requer, então, não apenas um estudo diligente e fervoroso, mas o sacrifício de coisas que podem ser preciosas para nós, sim, nossos próprios pecados, as coisas que fazem parte de “nosso estilo de vida” que impedem o aprendizado. Devemos fazer como o pai de Lamôni declarou sobre seu desejo de conhecer a Deus: “Abandonarei todos os meus pecados para conhecer-te” (Alma 22:18). As últimas palavras de Jacó dão toda a soma da questão: “Oh! Sede sábios! Que mais poderei dizer?” (Jacó 6:12.)
Obediência
Após buscar a verdade com diligência, precisamos então estar preparados para obedecer à verdade. Alma fala sobre despertar e exercitar nossas faculdades (ou seja, nosso coração e nossa mente) para pôr à prova a palavra (Alma 32:27). Sem dúvida, isso não se refere ao aprendizado passivo, mas à prática ativa. O apóstolo João depreciou aqueles que dizem conhecer a Cristo, mas deixam de seguir Seu conselho: “Aquele que diz: Eu conheço-o, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade” (1 João 2:4). Como o Senhor declara em Doutrina e Convênios: “E homem algum recebe a plenitude [da verdade] a não ser que guarde seus mandamentos. Aquele que guarda seus mandamentos recebe verdade e luz, até ser glorificado na verdade e conhecer todas as coisas” (Doutrina e Convênios 93:27–28).
Essa busca também pode exigir paciência, esperando no Senhor, que disse: “Eis que vós sois criancinhas e não podeis suportar todas as coisas agora; é preciso que cresçais em graça e no conhecimento da verdade” (Doutrina e Convênios 50:40). E como o élder Neal A. Maxwell observou: “Não parece ser uma tarefa pequena estabelecer um equilíbrio entre buscar e se contentar em esperar mais luz e conhecimento!” (We Talk of Christ, We Rejoice in Christ, Salt Lake City: Deseret Book, Co., 1984, p. 93.)
Buscar diligentemente, aprender e seguir, acompanhado de uma espera paciente foi bem expresso nas palavras de John Henry Newman: “Não peço luz a fim de longe ver. Somente luz em cada passo ter” (Hinos, p. 60). Ao seguirmos a verdade em obediência, os canais da verdade se abrem cada vez mais para nossa visão e aumentamos nossa imagem da verdade. Há um profundo significado na declaração de Cristo de que “Eu sou a verdade”, com Sua convocação de se tornar como Ele é.
Testemunhar e servir
Por fim, se devemos adquirir conhecimento espiritual, precisamos estar preparados para testemunhar da verdade que alcançamos e estar dispostos a servir e edificar outras pessoas na verdade, desejando, assim como Enos, “o bem-estar de [nossos] irmãos” (Enos 1:9).
Em seu convite ao povo do rei Noé para entrar nas águas do batismo em convênio com o Senhor, Alma, o Pai, expressou maravilhosamente a conexão lógica de testemunhar e servir à verdade descoberta em Cristo e por meio do Espírito Santo. Os frutos da verdade descoberta são a disposição de consolar e carregar os fardos uns dos outros e de “servir de testemunhas de Deus em todos os momentos e em todas as coisas” (Mosias 18:8–9). Além disso, a integridade demonstrada por uma vida dedicada a falar a verdade e fazer o bem abre cada vez mais os horizontes da verdade. A promessa do Senhor então se cumpre em nossa vida: “Que a virtude adorne teus pensamentos incessantemente; então tua confiança se fortalecerá na presença de Deus; e a doutrina do sacerdócio destilar-se-á sobre tua alma como o orvalho do céu. O Espírito Santo será teu companheiro constante” (Doutrina e Convênios 121:45–46).
Santificados pelas coisas que sabemos, alcançamos a certeza que afasta a dúvida e o medo e, com o apóstolo Paulo, podemos enfrentar os desafios da vida com o “perfeito esplendor de esperança” de que nada “nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (2 Néfi 31:20; Romanos 8:39).
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