2019
Saltos de Fé
Março de 2019


Saltos de Fé

Algumas semanas antes de servir missão tive a oportunidade de realizar um dos meus maiores sonhos – saltar de um avião de paraquedas. Lembro-me de estar no avião cheia de entusiasmo e ansiosa por saltar e realizar o meu sonho. Chegámos à altitude desejada, abriram a porta do avião e foi uma loucura, porque o vento entrava com muita força e fazia muito barulho.

Mas quando cheguei à porta para saltar, lembro-me de pensar “caramba, mas o que é que estou aqui a fazer?!”. Fiquei com medo e hesitei em sair do avião. Porém o meu instrutor, sem medo algum, atirou-se para fora e como eu estava agarrada a ele, lá fomos os dois pelo ar, em queda livre.

Enquanto caíamos em queda livre, o vento ficou ainda mais forte. Não conseguia ouvir nada, o meu coração estava tão acelerado que parecia que me ia sair pela boca! Foi uma confusão de emoções. Quando o paraquedas abriu foi mágico! Aquilo que antes era uma confusão imensa tornou-se calmo. Já não sentia aquele barulho intenso do vento. Agora tinha um silêncio tão bom. Eu sentia-me segura porque tinha o instrutor comigo, estava calma, tranquila e feliz por ter conseguido realizar este sonho.

Porque é que vos estou a contar isto? Queria aplicar esta experiência à nossa vida.

Gosto de pensar que o avião é a nossa vida no seu estado confortável, com uma bela vista. Sentimos entusiasmo porque as nossas escolhas estão a levar-nos a sítios bons e que gostamos. Mas de repente, abre-se aquela porta e entra o vento e há confusão em todo o lado. Os desafios e as escolhas difíceis que temos de fazer deixam-nos confusos, atrapalhados e ansiosos sem saber o que fazer. O medo e a dúvida instalam-se.

É preciso alguma coragem para dar um salto de fé – como saltar de um avião. São muitas as razões que nos podem levar a dar um salto de fé. A nossa vontade de mudar, ou as circunstâncias da vida em que temos de escolher o que fazer, motivam-nos a ter esta coragem. Mas, mesmo após darmos o salto de fé, a nossa vida continua uma confusão. Só depois de alguns momentos é que conseguimos sentir uma grande paz e um grande sentimento de felicidade.

A escritura de D&C 58:4 vem-me à mente. “Pois após muitas tribulações vêm as bênçãos. Portanto, vem o dia em que sereis coroados de muita glória; ainda não é chegada a hora, mas está próxima.”. Depois das tribulações vêm as bênçãos. Ao confiarmos no Senhor e “saltarmos”, estamos a demonstrar a nossa fé, porém o adversário também trabalha muito bem e ele vai sempre tentar fazer com que duvidemos das nossas escolhas. As coisas más vão continuar a existir, mas são-nos prometidas muitas bênçãos, pois Deus é justo e no fim tudo valerá a pena.

Ao escolhermos ser batizados e pertencer à Igreja, estamos a dar um salto de fé. Ao aceitarmos um chamado que achamos que não se adequa a nós, ou quando seguimos uma inspiração que nos assusta um bocadinho, tudo isto são saltos de fé.

Por fim, penso no instrutor como os nossos amigos verdadeiros, a nossa família, os líderes da Igreja, aquelas pessoas que querem o nosso melhor. Que nos incentivam e motivam a saltar, que nos confortam e nos dão bons conselhos e que estão connosco ao longo desses saltos de fé. Ao longo das nossas vidas podemos ter vários instrutores. Nos meus vários saltos de fé, tive vários “instrutores” como os meus pais, irmãos ou um líder, mas Cristo sempre esteve presente por meio deles. Ele é o instrutor principal. Ele é o melhor instrutor que podemos ter. Ele sabe como nos consolar e sabe como nos ajudar. Apesar de na altura não ter percebido isso, agora consigo olhar para trás e ver que Ele estava sempre lá e nunca me abandonou.

Lembro-me de que houve uma altura na minha vida em que as coisas não estavam a correr muito bem, e orava bastante para sentir o conforto do Espírito Santo. Um dia, a caminho de uma aula do seminário, cheia de sono e sem grande vontade, fiz uma oração para que pudesse aprender algo naquela aula. E foi mesmo no final da aula que isso aconteceu. Ao folhear as escrituras da Bíblia, li Deuteronómio 31:6 “Sede fortes e corajosos; não temais, nem vos espanteis diante deles; porque o Senhor teu Deus é o que vai contigo; não te deixará nem te desamparará.”

Quando li isto, soube que era uma resposta à minha oração. Naquela aula do seminário aprendi algo que precisava de recordar – eu não estava sozinha. Tinha Cristo, o meu instrutor, ao meu lado, nos desafios da vida e Ele nunca iria abandonar-me.

A nossa vida nem sempre vai ser fácil. As dificuldades aparecem e nós temos de tomar uma atitude e dar saltos de fé, mas não podemos esquecer-nos que não estamos sós e que podemos vencer o medo.

Neste momento o meu salto de fé é ir para missão. Fui incentivada por muitos pequenos instrutores, como a minha família, o exemplo dos missionários e de amigos que estão a servir ou que já serviram missão. Tudo me ajudou a tomar este passo. No entanto é o amor que tenho por esta Igreja, pelos ensinamentos que aprendi aqui e o amor que tenho por Deus que me empurraram para fora do avião e me deram confiança.

Eu acredito que a missão não vai ser fácil, assim como não foram os primeiros segundos da queda livre, mas sei que depois tudo irá ficar bem e que serei abençoada.

É uma alegria ser membro da Igreja, aprender tantas coisas maravilhosas e ter a esperança que temos de que quando as coisas estão a ir mal, há sempre forma de melhorar.

Nunca estamos sós, Deus conhece cada um de nós. Ele sabe o quão difícil esta vida pode ser, mas também sabe como nos ajudar. Basta só segurarmos na Sua mão e não a largar.

Este evangelho exige sacrifício, é preciso trabalho, só assim poderemos progredir e ajudar outros. Mas, Cristo faz-nos fortes. Somos todos filhos e filhas de Deus e temos um potencial enorme, temos é de o usar para o bem.