2020
Transformar minhas dúvidas em ações
Fevereiro de 2020


Transformar minhas dúvidas em ações

Durante uma de minhas provações mais difíceis, a mudança de minha perspectiva me ajudou a fortalecer minha fé.

Depois de algumas semanas difíceis como nova missionária na Austrália, comecei a pensar que não era capaz de ser uma missionária e que precisava ir para casa. Expressei meus sentimentos de ansiedade ao presidente da missão e, depois de muito ponderar e orar, ele me transferiu para uma nova área com uma nova companheira. Nós nos tornamos amigas imediatamente, e meus sentimentos anteriores de ansiedade e depressão foram aos poucos desaparecendo. Mas, com apenas quatro meses de serviço missionário, eu ainda sentia que tudo ia ser mais difícil daquele momento em diante.

Um dia, no final de uma reunião de distrito, recebemos uma visita surpresa do presidente da missão. Ele me passou o telefone e disse que era minha mãe. Imediatamente me senti mal e sabia que havia algo errado. Meus olhos se encheram de lágrimas até mesmo antes de ela me dizer que meu irmão mais novo, Elliot, tinha sido diagnosticado com câncer. Meu coração se entristeceu no mesmo instante e, naquele momento, desejei estar com minha família e nada mais. Mas, ao ser consolada por minha mãe, ela me disse que minha fé e minhas orações seriam mais eficazes na Austrália do que em casa.

Consegui ligar para Elliot e dizer o quanto eu o amava. Elliot esteve muito próximo de mim durante toda a minha vida, e eu desejava muito que pudesse estar lá ao seu lado. Encerrei nossa conversa ao orar por ele em samoano e prometer que ensinaria o idioma nativo de nossa família quando voltasse.

Mais tarde naquela noite, chorei enquanto orava ao Pai Celestial. Fiz uma pergunta: “Por quê?” “Por que com Elliot?” “Por que com nossa família de novo?” Já tínhamos visto e sentido a dor do câncer e os terríveis efeitos da quimioterapia, e minha mente estava cheia de memórias da longa batalha de meu pai contra o câncer e da dor que sofreu. “Por que isso está acontecendo de novo?” Eu precisava saber. Como missionária, as pessoas sempre me faziam perguntas semelhantes, mas até as respostas simples do evangelho que sempre lhes dava não eram boas o suficiente para mim.

Ao me ajoelhar para orar, com sentimentos de agonia e incerteza em meu coração, um sentimento de paz tomou conta de mim. Decidi orar novamente. Dessa vez, perguntei ao Pai Celestial: “Como devo agir?” em vez de “Por quê?” “Como posso fazer com que essa provação me fortaleça e fortaleça minha fé?” “Como essa provação vai afetar Elliot e o restante de minha família?” “Como esse desafio pode me ajudar a me tornar uma missionária melhor e mais eficaz?” “Como posso usar esse momento difícil para ajudar a trazer paz a quem não conhece o evangelho ou a Expiação de Jesus Cristo?”

Concentrar-me em “Como” em vez de “Por quê?” me ajudou a ver as coisas através das lentes da fé. Essa mudança de foco também renovou minha admiração pelas respostas simples do evangelho, que de fato são verdades eternas. O Pai Celestial realmente nos ama. As provações, o sofrimento e o câncer não são um castigo. O élder Jeffrey R. Holland, do Quórum dos Doze Apóstolos, disse: “Suporta teus fardos espirituais [e físicos], pois Deus conversará contigo por meio deles e os usará para realizar Sua obra se os suportar bem” (“O Messias inconveniente”, A Liahona, março de 1989, p. 23).

Senti muita paz e consolo em Jesus Cristo durante esse período difícil. Sabia que Ele já havia sentido o desespero que eu estava sentindo, com tudo o que Elliot sentiria e sofreria nos próximos meses. Também encontrei muito consolo nas escrituras, nos discursos da conferência, em meu amável presidente e nas atenciosas companheiras de missão. Não tenho certeza de como receberia essa notícia sem um conhecimento maior do plano eterno que o Pai Celestial tem para nossa família.

Às vezes pode parecer mais fácil perguntar: “Por quê?” e culpar o Pai Celestial pelas provações que ocorrem em minha vida. Por meio dessa e de outras experiências que aconteceram, sei que sempre seremos abençoados e auxiliados em nossas tribulações se confiarmos em Seu amor inabalável e Sua infinita sabedoria (ver Alma 36:3).

Depois de meses de quimioterapia para Elliot e muito tempo depois de voltar de minha missão, continuo refletindo sobre essa experiência sempre que surgem novas provações em minha vida. Provavelmente, nunca vou saber por que meu irmão teve que suportar essa provação, mas sei que um dia teremos as respostas para todas as nossas perguntas. Sei que, no momento em que mudei minha pergunta para o Pai Celestial de “por quê?” para “como”, fui capaz de confiar em Jesus Cristo e permitir que essa provação me ajudasse a me tornar mais como Ele.