2005
Resgate
Março de 2005


Resgate

“Sabemos que é pela graça que somos salvos, depois de tudo o que pudermos fazer.” (2 Néfi 25:23)

Baseado em uma experiência pessoal

“Quer vir deslizar depois da aula?” “Claro”, disse eu. Eu tinha sete anos de idade e havia chegado recentemente à Escola Garnet Hill, em Glasgow, Escócia. Eu não tinha certeza do que era deslizar, mas eu estava ansioso por fazer amizade.

Logo estávamos diante de uma cerca de ferro. Do outro lado da cerca, uma rampa íngreme de concreto descia entre altos muros até a base do prédio. A rampa tinha sido polida como vidro pelos inumeráveis sapatos das crianças, o que a tornara lisa e escorregadia — perfeita para deslizar.

Eu estava um pouco temeroso ao acompanhar meus novos amigos e pular a cerca. Eu sabia que estávamos invadindo propriedade alheia. No entanto, meus temores logo foram esquecidos quando eu me curvei para a frente e dei a partida para a minha primeira e emocionante deslizada, ouvindo o vento assobiar em meus ouvidos e quase não enxergando nada de tão rápido que descia. Escalar de volta a rampa escorregadia era muito mais difícil. Era preciso tomar impulso contra a parede do edifício, correr o mais rápido possível e agarrar a cerca de ferro ao chegar ao topo para não deslizar de volta.

Deslizar e escalar. Até perdi a conta do tempo até que a chuva começou a cair. Abrigamo-nos contra a parede do edifício, ao pé da rampa, esperando que a chuva passasse. Logo começou a escurecer. “Tenho de ir para casa”, eu disse. “Minha mãe e meu pai devem estar preocupados.”

Mas só consegui chegar à metade da rampa antes de deslizar de volta. A chuva tinha tornado a superfície mais escorregadia que antes. Após várias tentativas desesperadas, todos desistimos. Estávamos aprisionados ali. Com a chegada da noite, a chuva fina continuava a cair. Não ousávamos gritar por socorro, porque temíamos problemas maiores por estarmos onde não devíamos. Encolhidos ao pé da rampa, com frio e medo, começamos a chorar.

Depois do que nos pareceu um tempo enorme, um foco de luz caiu sobre nós e ouvimos a voz áspera do policial local. “Subam aqui já!”

“Não conseguimos! Está escorregadio demais!” respondeu uma voz trêmula.

O policial pulou a cerca, segurou-se firmemente a ela e estendeu-nos a outra mão com grande esforço. Um por um nos arrastamos até a metade da rampa e agarramos sua mão. Depois de nos colocar a salvo, ele nos deu uma reprimenda amigável e nos mandou voltar depressa para casa e para nossos pais.

Quando entrei para a Igreja mais tarde, aquele resgate da minha juventude ajudou-me a compreender o papel do Salvador no plano de salvação. Não podemos retornar ao Pai Celestial por nós mesmos. Nossos pecados se interpõem entre nós e o Pai Celestial como uma rampa íngreme que não conseguimos escalar. Porém, um Salvador amoroso estende a mão para salvar-nos do pecado, da mesma forma que o policial se esticou todo para nos resgatar do concreto escorregadio. Mas o policial se esticou apenas até certo ponto. Tivemos que fazer a nossa parte escalando tanto quanto nos era possível. Da mesma maneira, devemos arrepender-nos de nossos pecados e fazer o melhor que pudermos para guardar os mandamentos. O Salvador faz o resto.

O alívio que senti ao dirigir-me para casa e encontrar meus pais representou apenas uma pequena parte da alegria que podemos sentir ao ser resgatados pelo Salvador e podermos retornar a nosso Pai Celestial.

Tom Roulstone é membro do Ramo Qualicum, Estaca Nanaimo British Columbia.

“A paz e a renovação do arrependimento está a seu alcance por meio do sacrifício expiatório do Senhor Jesus Cristo.”

Élder Jeffrey R. Holland do Quórum dos Doze Apóstolos, “Personal Purity” [Pureza Pessoal], A Liahona, janeiro de 1999, 92.