2000–2009
A Oração
October 2001


A Oração

“Tendo (…) fé, seremos capazes de orar pelo que desejamos e de apreciar as coisas que recebemos.”

O mundo aparenta estar em choque. Há guerras e rumores de guerra. A economia se enfraquece em todos os continentes. Colheitas são prejudicadas por falta de chuva em todas as partes do mundo. E os céus recebem uma avalanche de orações daqueles que estão em perigo. Em público, ou em particular, eles imploram a Deus que lhes dê ajuda, consolo e orientação.

É provável que vocês tenham observado nos dias de hoje, assim como eu, que as orações não só se têm tornado mais freqüentes como também mais sinceras. Nas reuniões de que participo, meu lugar ao púlpito fica, com freqüência, ao lado da pessoa que é convidada para proferir a oração. Fico maravilhado com o que ouço. As palavras proferidas são claramente inspiradas por Deus, tanto em eloqüência quanto em sabedoria. E o tom empregado é o de um temo filho em busca de ajuda, não a que certamente viria de um pai terreno, mas a de um Pai Celestial Todo-Poderoso que conhece nossas necessidades antes mesmo de as manifestarmos.

Essa retomada do fervor na oração, em um momento em que o mundo parece tão fora de controle, é tão antiga quanto o próprio ser humano. Em tempos de tragédia e perigo, as pessoas voltam-se a Deus em oração. Até o rei Davi reconheceria o que está acontecendo. Vocês se lembram das palavras dele, registradas no livro de Salmos:

“O Senhor será também um alto refúgio para o oprimido; um alto refúgio em tempos de angústia.

Em ti confiarão os que conhecem o teu nome; porque tu, Senhor, nunca desamparaste os que te buscam”.1

O grande aumento na quantidade de orações sinceras e sua aceitação pública é, para mim, tanto quanto para outros, algo notável. Nos últimos tempos, mais de uma pessoa disse-me, energicamente e com um tom de preocupação na voz, “Vamos esperar que essa mudança perdure.”

Essa preocupação é justificável. Nossa experiência pessoal e o registro das escrituras sobre o relacionamento de Deus com Seus filhos ensinam-nos isso. A dependência que temos de Deus pode enfraquecer rapidamente quando as orações são atendidas. E, quando os problemas diminuem, o mesmo acontece com as orações. O Livro de Mórmon repete essa triste história muitas e muitas vezes.

Lemos no livro de Helamã: “Oh! Como pudestes vos esquecer de vosso Deus, no próprio dia em que ele vos libertou?”2 E mais adiante, no mesmo livro, quando Deus responde às orações com bondade infinita, esse terrível padrão é descrito novamente:

“E assim podemos ver quão falso e também quão inconstante é o coração dos filhos dos homens; sim, podemos ver como o Senhor, na grandeza de sua infinita bondade, abençoa e faz prosperar os que colocam nele a sua confiança.

Sim, e vemos que é justamente quando ele faz prosperar seu povo, sim, aumentando seus campos, seu gado e seus rebanhos e ouro e prata e toda sorte de coisas preciosas de todo tipo e de todo estilo, preservando-lhes a vida e livrando-os das mãos de seus inimigos, abrandando o coração dos inimigos para que não lhes façam guerra; sim, e, em resumo, fazendo tudo para o bem e a felicidade de seu povo; sim, então é quando endurecem o coração, esquecendo-se do Senhor seu Deus e pisando o Santíssimo — sim, e isto em virtude de seu conforto e de sua enorme prosperidade.

E assim vemos que se o Senhor não castiga seu povo com numerosas aflições, sim, se não o fere com morte e com terror e com fome e com toda sorte de pestilências, dele não se lembram.”3

E, ainda nas palavras da escritura, vemos o motivo pelo qual nos esquecemos tão facilmente da fonte de nossas bênçãos e paramos de sentir necessidade de orar com fé:

“Oh! Quão insensatos e quão presunçosos e quão malignos e diabólicos e quão rápidos em cometer iniqüidades e quão lentos em praticar o bem são os filhos dos homens! Sim, quão apressados são em dar ouvidos às palavras do maligno e em colocar o coração nas coisas vãs do mundo!

Sim, quão rápidos em se ensoberbecerem; sim, quão rápidos em se vangloriarem e em praticarem toda sorte de iniqüidades; e quão lentos são em se recordarem do Senhor seu Deus e em dar ouvidos a seus conselhos; sim, quão lentos em trilhar os caminhos da sabedoria.

Eis que não desejam que o Senhor seu Deus, que os criou, os governe e reine sobre eles; apesar de sua grande bondade e misericórdia para com eles, desprezam seus com selhos e não o desejam como guia.”4

Desses três curtos versículos de escritura, vemos três causas para o triste distanciamento da humilde oração. Primeiro: embora Deus implore que façamos nossas orações, o inimigo de nossa alma as menospreza e ridiculariza. A admoestação presente em 2 Néfi é verdadeira: “E agora, meus amados irmãos, percebo que ainda meditais em vosso coração; e é-me doloroso falar-vos sobre isso. Porque, se désseis ouvidos ao espírito que ensina o homem a orar, saberíeis que deveis orar; porque o espírito mau não ensina o homem a orar, mas ensina-lhe que não deve orar”.5

Segundo: Esquecemo-nos de Deus por causa da vaidade. Um pouco de prosperidade e paz, ou uma leve tendência para isso, leva-nos a uma sensação de auto-suficiência. Rapidamente, sentimos que estamos no controle de nossa vida e que as mudanças para melhor são resultado do nosso próprio esforço, e não algo proveniente de Deus, que Se comunica conosco por meio da voz mansa e delicada do Espírito. O orgulho cria um ruído dentro de nós que torna a voz suave do Espírito difícil de ser ouvida. E logo, imersos em nossa vaidade, não mais damos ouvidos a ela. Rapidamente chegamos à conclusão de que não precisamos mais dela.

A terceira causa encontra-se enraizada profundamente em nós. É inerente à nossa natureza. Somos filhos espirituais de um Pai Celestial de amor que nos mandou para esta vida mortal para ver se optaríamos — optaríamos livremente — por obedecer Seus mandamentos e seguir Seu Filho Amado. Eles não nos compeliram a isso. Nem poderiam, pois seria como interferir no plano de felicidade que traçaram para nós. Portanto, existe em nós um desejo, uma dádiva de Deus, de sermos responsáveis por nossas próprias escolhas.

O desejo de fazermos as nossas próprias escolhas faz parte da força que nos impulsiona em direção à vida eterna. Mas ele também pode, se somente enxergarmos a vida com uma perspectiva mortal, dificultar ou mesmo tornar impossível a nossa dependência de Deus, quando sentimos a força desse desejo de ser independentes. Esta verdadeira doutrina a seguir, pode parecer cruel:

“Porque o homem natural é inimigo de Deus e tem-no sido desde a queda de Adão e sê-lo-á para sempre; a não ser que ceda ao influxo do Santo Espírito e despoje-se do homem natural e torne-se santo pela expiação de Cristo, o Senhor; e torne-se como uma criança, submisso, manso, humilde, paciente, cheio de amor, disposto a submeter-se a tudo quanto o Senhor achar que lhe deva infligir, assim como uma criança se submete a seu pai.”6

Aqueles que se submetem como uma criança fazem-no porque sabem que o Pai deseja somente a felicidade para Seus filhos e porque somente Ele conhece o caminho. Esse é o testemunho que precisamos preservar, orando como uma criança submissa, tanto nos tempos felizes quanto nos difíceis.

Tendo essa fé, seremos capazes de orar pelo que desejamos e de apreciar as coisas que recebemos. Somente tendo essa fé, faremos nossas orações com o cuidado ordenado por Deus. Quando Deus nos ordenou que orássemos, utilizou termos como “orai incessantemente”, “orai sempre” e “orações fervorosas”.

Essas ordens não exigem que utilizemos muitas palavras. Na verdade, o Salvador nos disse que não precisamos multiplicar as palavras quando oramos. O cuidado na oração exigido por Deus não se refere a um palavreado rebuscado nem a longas horas de solidão. Isso é ensinado com clareza em Alma, no Livro de Mórmon:

“Sim, e quando não clamardes ao Senhor, deixai que se encha o vosso coração, voltado continuamente para ele em oração pelo vosso bem-estar, assim como pelo bem-estar de todos os que vos rodeiam”.7

O nosso coração só pode aproximar-se de Deus quando estiver cheio de amor por Ele e confiança em Sua bondade. Joseph Smith, ainda menino, deu-nos um exemplo de como podemos orar tendo o coração cheio de amor por Deus e passar a orar incessantemente em meio a uma vida repleta de provações e bênçãos.

Começa com Joseph indo orar no bosque, tendo fé que um Deus de amor responderia à sua oração e o tiraria da confusão em que se encontrava. Sua certeza baseava-se na leitura da palavra de Deus e no testemunho assim recebido de que isso era verdade. Disse que havia lido em Tiago: “Peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada”.8 Sua fé em perguntar a Deus, em oração, veio-lhe depois de ponderar sobre a escritura que lhe garantira a natureza amorosa de Deus. Ele orou da maneira que devemos orar, com fé em um Deus de amor.

Ele orou com o intento não só de ouvir, mas também com o de obedecer. Não pediu somente para saber a verdade, mas comprometeu-se a agir segundo aquilo que Deus iria dizer-lhe. Seu relato deixa claro que ele orou com real intenção, determinado a submeter-se à resposta, qualquer que ela fosse. Ele escreveu:

“Jamais uma passagem de escritura penetrou com mais poder no coração de um homem do que essa, naquele momento, no meu. Pareceu entrar com grande força em cada fibra de meu coração. Refleti repetidamente sobre ela, tendo consciência de que se alguém necessitava da sabedoria de Deus, era eu, pois eu não sabia como agir e, a menos que conseguisse obter mais sabedoria do que a que tinha então, nunca saberia; pois os religiosos das diferentes seitas interpretavam as mesmas passagens de escritura de maneira tão diferente que destruíam toda a confiança na solução do problema por meio de uma consulta à Bíblia.”9

O Pai e Seu Filho amado apareceram a ele em resposta à sua oração. E foi-lhe dito o que fazer, conforme desejara. Ele obedeceu como uma criança. Foi-lhe respondido que não se unisse a nenhuma daquelas igrejas. Ele fez o que lhe disseram. E graças à sua fidelidade, nos dias, meses e anos que se seguiram, suas orações foram respondidas com uma abundância de luz e verdade. A plenitude do evangelho de Jesus Cristo e as chaves do reino de Deus foram restauradas sobre a Terra. Sua humilde dependência de Deus levou à Restauração do evangelho, com autoridade e ordenanças sagradas. Devido à essa Restauração, temos a oportunidade de optar pela independência mais valiosa: a de sermos livres do jugo do pecado pelo poder purificador da Expiação de Jesus Cristo.

A missão de Joseph Smith foi singular, e sua humilde oração pode ser um modelo de grande utilidade para nós. Ele começou como devemos iniciá-la, tendo fé em um Deus de amor que pode e quer comunicar-Se conosco e ajudar-nos. Essa fé estava enraizada nas impressões que lhe ocorreram depois que ponderou sobre as palavras dos servos de Deus registradas nas escrituras. Precisamos e devemos buscar constante e diligentemente a palavra de Deus. Se descuidarmos do estudo das palavras dos servos de Deus, também descuidaremos das nossas orações.

Se negligenciarmos as palavras de vida que nos foram dadas pelos profetas, pode ser que não deixemos de orar, mas nossas orações se tornarão mais repetitivas, mais mecânicas, sem real intenção. Nosso coração não pode voltar-se para um Deus a quem não conhecemos e as escrituras e as palavras dos profetas vivos nos ajudam a conhecê-Lo. Ao conhecê-Lo melhor, nós O amaremos mais.

Devemos também servi-Lo para amá-Lo. Joseph Smith fez isso, chegando mesmo a entregar a própria vida, servindo-O. Joseph orava com o intento de obedecer. Essa obediência sempre inclui o serviço ao próximo. Nosso serviço na obra de Deus permite que sintamos parte do que Ele sente e que O conheçamos melhor.

“Pois como conhece um homem o mestre a quem não serviu e que lhe é estranho e que está longe dos pensamentos e desígnios de seu coração.”10 Ao aumentarmos nosso amor por Ele, o mesmo acontecerá com nosso desejo de nos aproximar do Pai em oração.

As palavras e a música desta conferência levarão vocês a fazer aquilo que os fortalecerá contra o perigo de um distanciamento da sincera oração. De tudo o que ouvirem, sem tirão inspiração para buscar as escrituras. Sigam essa inspiração. Vocês serão lembrados, durante esta conferência, acerca do serviço que se comprometeram a prestar quando entraram nas águas do batismo. Optem por obedecer.

Se ponderarem sobre as escrituras e passarem a cumprir os convênios que fizeram com Deus, posso prometer que amarão a Deus e sentirão muito mais o Seu amor por vocês. E, com isso, suas orações virão do fundo do coração, cheias de gratidão e de súplicas. Sentirão maior dependência de Deus. Encontrarão a coragem e a determinação para agir no Seu serviço, sem medo e com paz no coração. Irão orar sempre. E nunca irão esquecê-Lo, a despeito do que aconteça depois.

Presto-lhes meu testemunho de que Deus, o Pai, vive. Ele nos ama. Ouve nossas orações e as responde com o que há de melhor para nós. A medida que O conhecermos melhor, por meio de Suas palavras e no Seu serviço, nós O amaremos mais. Sei que isso é verdade.

A plenitude do Evangelho de Jesus Cristo e a verdadeira Igreja de Jesus Cristo foram restauradas por intermédio do Profeta Joseph Smith. As chaves do sacerdócio existem somente nesta Igreja. Sei, tão certo como vivo, que o Presidente Gordon B. Elinckley possui e usa essas chaves na Terra. Jesus Cristo vive — eu sei — e dirige Sua Igreja nos dias de hoje. Ele os ensinará por meio de Seus servos, durante esta conferência.

No nome sagrado de Jesus Cristo. Amém.