O Casamento Plural em Kirtland e Nauvoo


Os santos dos últimos dias acreditam que a monogamia — o casamento entre um homem e uma mulher — é a lei estabelecida por Deus para o casamento.1 Nos tempos bíblicos, o Senhor ordenou que alguns de Seu povo praticassem o casamento plural — o casamento entre um homem e mais de uma mulher.2 Alguns dos primeiros santos dos últimos dias também receberam esse mandamento dado por meio dos profetas de Deus e obedeceram a ele.

Após receber uma revelação com o mandamento para praticar o casamento plural, Joseph Smith casou-se com várias esposas e iniciou a prática entre pessoas próximas. Esse princípio foi um dos aspectos mais desafiadores da Restauração — pessoalmente para Joseph e para outros membros da Igreja. O casamento plural testou a fé e provocou controvérsia e oposição. Poucos santos dos últimos dias aceitaram de início a restauração de uma prática bíblica completamente contrária ao que acreditavam ser correto. Mas, muitos testificaram mais tarde das poderosas experiências espirituais que os ajudaram a sobrepujar sua hesitação e deu-lhes coragem para aceitar essa prática.

Embora o Senhor tenha ordenado a adoção — e mais tarde a descontinuação — do casamento plural nos últimos dias, Ele não deu instruções exatas de como obedecer a esse mandamento. Frequentemente, mudanças culturais e sociais significativas causam equívocos e dificuldades. Os líderes e membros da Igreja viveram esses desafios enquanto obedeciam ao mandamento de praticar o casamento plural e, mais tarde, enquanto trabalhavam para descontinuá-lo, após o Presidente da Igreja, Wilford Woodruff, redigir uma declaração inspirada, conhecida como Manifesto, em 1890, que levou ao fim do casamento plural na Igreja. Em tudo, os líderes e membros da Igreja buscaram seguir a vontade de Deus.

Muitos detalhes sobre a antiga prática do casamento plural são desconhecidos. O casamento plural foi introduzido entre os santos gradualmente, e foi solicitado aos participantes que mantivessem seus atos confidenciais. Eles não discutiram suas experiências publicamente ou em escritos até os santos dos últimos dias terem mudado para Utah e os líderes da Igreja terem reconhecido a prática publicamente. O registro histórico sobre o casamento plural é, portanto, pequeno: poucos registros da época contêm detalhes, e os relatos nem sempre são confiáveis. Alguma ambiguidade sempre acompanhará nosso conhecimento sobre esse assunto. Assim como os participantes, nós “vemos por espelho, em enigma” e nos é pedido que andemos pela fé.3

O Início do Casamento Plural na Igreja

A revelação do casamento plural só foi redigida em 1843, mas os primeiros versos sugerem que parte da revelação surgiu do estudo de Joseph Smith do velho testamento em 1831. Pessoas próximas a Joseph Smith declararam mais tarde que ele recebeu a revelação nesse período.4 A revelação registrada em Doutrina e Convênios 132, declara que Joseph orou para saber porque Deus justificava Abraão, Isaque, Jacó, Moisés, Davi e Salomão no que diz respeito a terem muitas esposas. O Senhor respondeu que Ele lhes ordenou que adotassem tal prática.5

Os membros da Igreja acreditavam que estavam vivendo nos últimos dias, nos quais as revelações chamaram de a “dispensação da plenitude dos tempos”.6 Princípios antigos — como profetas, sacerdócio e templos — seriam restaurados na Terra. O casamento plural era um desses princípios antigos.

A poligamia havia sido permitida durante milênios em muitas culturas e religiões, mas, com poucas exceções, foi rejeitada na cultura ocidental.7 Na época de Joseph Smith, a monogamia era a única forma legal de casamento nos Estados Unidos. Joseph sabia que a prática do casamento plural criaria oposição pública. Após receber o mandamento, ele ensinou alguns membros sobre o assunto, mas não divulgou esse ensinamento abertamente nos anos de 1830.8

Quando Deus ordena uma tarefa difícil, Ele algumas vezes envia mensageiros adicionais para encorajar Seu povo a obedecer. Coerente com esse padrão, Joseph contou aos membros que um anjo apareceu a ele três vezes entre 1834 e 1842 e ordenou-lhe que desse continuidade ao casamento plural, nos momentos em que ele hesitou em seguir em frente. Durante a terceira e última aparição, o anjo veio com uma espada desembainhada, ameaçando Joseph com destruição a menos que seguisse em frente e obedecesse plenamente ao mandamento.9

Uma evidência fragmentada sugere que, ao receber a primeira visita do anjo, Joseph Smith obedeceu à instrução recebida e se casou com mais uma mulher, Fanny Alger, em Kirtland, Ohio, em meados de 1830. Muitos santos dos últimos dias que viviam em Kirtland relataram décadas depois que Joseph Smith casou-se com Alger, que morava e trabalhava na casa dos Smiths, após obter o consentimento dela e de seus pais.10 Sabe-se pouco sobre esse casamento, e nada existe sobre as conversas entre Joseph e Emma a respeito de Alger. Após o casamento com Alger ter terminado em separação, parece que Joseph deixou o assunto do casamento plural de lado até que a Igreja se mudou para Nauvoo, Illinois.

O Casamento Plural e o Casamento Eterno

A mesma revelação que ensinou sobre o casamento plural era uma parte de uma revelação maior dada a Joseph Smith — que o casamento poderia continuar após a morte e que o casamento eterno era essencial para herdar a plenitude que Deus deseja para Seus filhos. No início de 1840, Joseph Smith ensinou em particular ao apóstolo Parley P. Pratt que a “ordem celestial” permitia a Pratt e sua esposa ficarem juntos “para o tempo e para toda a eternidade”.11 Joseph também ensinou que homens como Pratt — que se casou novamente após a morte de sua primeira esposa — poderia casar-se (ou selar-se) a suas esposas para a eternidade, sob condições adequadas.12

O selamento de marido e mulher para a eternidade tornou-se possível pela restauração das chaves e das ordenanças do sacerdócio. Em 3 de abril de 1836, Elias, o profeta do Velho Testamento, apareceu a Joseph Smith e a Oliver Cowdery no Templo de Kirtland e restaurou as chaves do sacerdócio necessárias para realizar ordenanças pelos vivos e pelos mortos, incluindo o selamento das famílias.13 Os casamentos realizados pela autoridade do sacerdócio podiam unir entes queridos para a eternidade, mediante a retidão; os casamentos realizados sem essa autoridade terminariam na morte.14

Um casamento realizado pela autoridade do sacerdócio significava que a procriação de filhos e a perpetuação da família continuariam pelas eternidades. A revelação de Joseph Smith sobre o casamento declarava que a “continuação das sementes para todo o sempre” ajudava a cumprir os propósitos de Deus para Seus filhos.15 Essa promessa foi dada a todos os casais que foram casados pela autoridade do sacerdócio e eram fiéis a seus convênios.

O Casamento Plural em Nauvoo

Durante muito tempo na história ocidental, “interesses” da família — econômicos, políticos e considerações sociais — dominaram a escolha de um cônjuge. Os pais tinham poder para arranjar casamentos ou proibir uniões que desaprovavam. No fim do Século XVIII, a escolha pessoal e o romance começaram a rivalizar com os motivos e as práticas tradicionais.16 Na época de Joseph Smith, muitos casais insistiam em se casar por amor, como Joseph e Emma fizeram, quando fugiram para se casar, contra a vontade dos pais dela.

Os motivos que levaram os santos dos últimos dias a praticar o casamento plural geralmente eram mais religiosos que econômicos ou românticos. Além do desejo de serem obedientes, um grande incentivo era a esperança de viver na presença de Deus com os membros da família. Na revelação sobre o casamento, o Senhor prometeu aos participantes “coroas de vidas eternas” e “exaltação nos mundos eternos”.17 Homens e mulheres, pais e filhos, ancestrais e descendentes seriam “selados” uns aos outros — um comprometimento duradouro pelas eternidades, de acordo com a promessa de Jesus de que as ordenanças do sacerdócio realizadas na Terra poderiam ser “ligadas no céu”.18

O primeiro casamento plural em Nauvoo aconteceu quando Louisa Beaman e Joseph Smith foram selados em abril de 1841.19 Joseph casou-se com muitas esposas adicionais e autorizou outros santos dos últimos dias a praticar o casamento plural. A prática se espalhou vagarosamente no início. Em junho de 1844, quando Joseph morreu, aproximadamente 29 homens e 50 mulheres haviam participado do casamento plural, além de Joseph e suas esposas. Quando os santos entraram no Vale do Lago Salgado em 1847, pelo menos 196 homens e 521 mulheres haviam participado de casamentos plurais.20 Os participantes desses primeiros casamentos plurais prometeram manter seu envolvimento confidencial, embora antecipassem o tempo em que a prática seria reconhecida publicamente.

Todavia, os rumores se espalharam. Alguns homens usaram esses rumores de maneira inescrupulosa para seduzir mulheres a unirem-se a eles em uma prática não autorizada, algumas vezes denominada como “esposa espiritual”. Quando isso foi descoberto, os homens foram excomungados da Igreja.21 Os rumores levaram os líderes e os membros a emitir negações cuidadosamente escritas que denunciavam esposas espirituais e poligamia, mas que mantinham silêncio sobre o que Joseph Smith e outras pessoas viam como casamento plural “celestial” divinamente ordenado.22 As declarações enfatizavam que a Igreja não praticava outra lei matrimonial que não fosse a monogamia, enquanto deixava em aberto a possibilidade de que indivíduos, sob a direção do profeta vivo de Deus, pudessem fazê-lo.23

Joseph Smith e o Casamento Plural

Durante o período no qual o casamento plural foi praticado, os santos dos últimos dias diferenciavam o selamento para esta vida e para toda a eternidade dos selamentos apenas para a eternidade. Selamentos para esta vida e para toda a eternidade incluíam compromissos e relacionamentos durante essa vida, incluindo a possibilidade de relações sexuais. Selamentos apenas para a eternidade indicavam relacionamentos apenas na próxima vida.

Evidências indicam que Joseph Smith participou em ambos os tipos de selamentos. O número exato de mulheres a quem ele foi selado durante sua vida é desconhecido porque existem poucas evidências.24 Algumas das mulheres que foram seladas a Joseph Smith testificaram mais tarde que seus casamentos foram para esta vida e para toda a eternidade, enquanto outras indicaram que seus relacionamentos foram apenas para a eternidade.25

A maioria das mulheres que foram seladas a Joseph Smith tinham entre 20 e 40 anos de idade na época de seu selamento a ele. A mais velha, Fanny Young, tinha 56 anos de idade. A mais jovem foi Helen Mar Kimball, filha de amigos próximos de Joseph, Heber C. e Vilate Murray Kimball, que foi selada a Joseph vários meses antes de completar 15 anos. O casamento nessa idade, inapropriado para os padrões de hoje, era legal naquela época e algumas mulheres casavam-se na adolescência.26 Helen Mar Kimball falou que seu selamento com Joseph Smith havia sido “apenas para a eternidade”, sugerindo que o casamento não envolvia relações sexuais.27 Após a morte de Joseph, Helen casou-se novamente e tornou-se uma clara defensora de Joseph e do casamento plural.28

Após seu casamento com Louisa Beaman e antes de seu casamento com outras mulheres solteiras, Joseph Smith foi selado a várias mulheres que já eram casadas.29 Nem essas mulheres e nem Joseph deram muitas explicações sobre esses selamentos, embora muitas mulheres tenham dito que os selamentos foram apenas para a eternidade.30 Outras mulheres não deixaram registros, tornando desconhecido se seus selamentos foram para esta vida e para toda a eternidade ou apenas para a eternidade.

Há muitas possíveis explicações para essa prática. Esses selamentos talvez tenham criado o caminho para se formar um vínculo ou ligação eternos entre a família de Joseph e outras famílias da Igreja.31 Esses laços se estendiam tanto verticalmente, de pais para filhos, quanto horizontalmente, de uma família para outra. Hoje, esses laços eternos são realizados no templo por meio dos casamentos de indivíduos que também são selados à própria família, desta maneira ligando famílias eternamente. Os selamentos de Joseph Smith com mulheres que já eram casadas pode ter sido uma versão antiga de unir famílias umas às outras. Em Nauvoo, muitos, se não todos, os primeiros maridos parecem ter continuado a morar na mesma casa com sua esposa enquanto Joseph estava vivo, e não existem registros documentados de reclamações sobre esses selamentos.32

Esses selamentos podem também ser explicados pela relutância de Joseph em participar do casamento plural devido à tristeza que causaria em sua esposa Emma. Ele pode ter acreditado que os selamentos com mulheres casadas cumpriria o mandamento do Senhor sem exigir dele relações matrimoniais normais.33 Isso poderia explicar porque, de acordo com Lorenzo Snow, o anjo tenha repreendido Joseph por ter “hesitado” em relação ao casamento plural mesmo após ter participado da prática.34 Após essa repreensão, de acordo com essa interpretação, Joseph retomou essencialmente selamentos com mulheres solteiras.

Outra possibilidade é que, em uma época em que a expectativa de vida era menor do que hoje, mulheres fiéis sentiam urgência em serem seladas pela autoridade do sacerdócio. Muitas dessas mulheres eram casadas com não membros ou ex-mórmons, e mais de uma das mulheres expressou mais tarde infelicidade em seus casamentos. Vivendo em um tempo em que era difícil conseguir o divórcio, essas mulheres podem ter acreditado que o selamento a Joseph Smith lhes daria bênçãos que, de outra maneira, elas não teriam na próxima vida.35

As mulheres que se uniram a Joseph Smith no casamento plural arriscaram a reputação e o respeito próprio ao serem associadas com um princípio tão contrário a sua cultura e tão facilmente mal-entendido pelas pessoas. “Fiz um sacrifício maior do que dar minha vida”, disse Zina Huntington Jacobs, “pois não tinha expectativa de ser considerada uma mulher honrada nunca mais”. Contudo, ela escreveu: “Li as escrituras e pela humilde oração ao meu Pai Celestial eu obtive um testemunho por mim mesma”.36 Após a morte de Joseph, a maioria das mulheres seladas a ele mudaram-se para Utah com os santos, permaneceram fiéis membros da Igreja e defenderam tanto o casamento plural quanto Joseph.37

Joseph e Emma

O casamento plural era difícil para todos os envolvidos. Para a esposa de Joseph, Emma, era uma provação excruciante. Registros das reações de Emma ao casamento plural são raros; ela não deixou relatos escritos por ela mesma, tornando impossível determinar seus pensamentos. Joseph e Emma amavam e respeitavam um ao outro profundamente. Após ter aderido ao casamento plural, ele expressou com toda a alma seus sentimentos em seu diário para sua “amada Emma”, a quem ele descrevia como “nobre, firme, inabalável, imutável e afetuosa Emma”. Após a morte de Joseph, Emma guardou um cacho do cabelo dele em um medalhão que ela usava no pescoço.38

Emma aprovou, pelo menos durante um tempo, quatro dos casamentos plurais de Joseph em Nauvoo,e aceitou todas as quatro esposas em sua casa. Ela pode ter aprovado outros casamentos também.39 Mas é provável que ela não soubesse de todos os selamentos de Joseph.40 Ela oscilou em sua visão do casamento plural, algumas vezes apoiando e outras vezes condenando.

No verão de 1843, Joseph Smith ditou a revelação do casamento, um texto longo e complexo contendo tanto gloriosas promessas quanto firmes advertências, algumas direcionadas à Emma.41 A revelação instruía homens e mulheres de que deviam obedecer às leis e aos mandamentos de Deus a fim de receberem a plenitude de Sua glória.

A revelação do casamento requeria que a esposa desse seu consentimento antes que o marido pudesse participar do casamento plural.42 No entanto, no fim da revelação, o Senhor disse que se a primeira esposa “não aceitar esta lei” — o mandamento da prática do casamento plural — o marido seria “isento da lei de Sara”, que presumivelmente era o requisito necessário para o homem ganhar o consentimento de sua primeira esposa antes de se casar com outras mulheres.43 Após Emma se opor ao casamento plural, Joseph foi colocado em um dilema agonizante, forçado a decidir entre a vontade de Deus e a vontade de sua amada Emma. Ele pode ter acreditado que a rejeição de Emma ao casamento plural o eximia da lei de Sara. A decisão dela de “não aceitar esta lei” permitiu a ele casar-se com outras esposas sem o consentimento dela. Devido à morte prematura de Joseph e à decisão de Emma de permanecer em Nauvoo e não debater o casamento plural após a Igreja ter se mudado para o oeste, muitos aspectos da história deles permanecem conhecidos apenas pelos dois.

Provação e Testemunho Espiritual

Anos depois em Utah, participantes do casamento plural em Nauvoo debateram seus motivos para participarem da prática. Deus declarou no Livro de Mórmon que a monogamia era o padrão; algumas vezes, no entanto, Ele ordenou o casamento plural para que Seu povo pudesse “suscitar posteridade para [Ele]”.44 O casamento plural realmente resultou no crescimento no número de filhos nascidos de pais que acreditavam no evangelho restaurado.45

Alguns santos também viram o casamento plural como um processo redentor de sacrifício e purificação espiritual. De acordo com Helen Mar Kimball, Joseph Smith declarou que “a prática desse princípio seria a provação mais difícil que os santos teriam para testar sua fé”. Embora tenha sido uma das mais “severas” provações de sua vida, ela testificou que também havia sido “uma das maiores bênçãos”. 46 Seu pai, Heber C. Kimball, concordou. “Nunca me senti tão aflito”, ele disse sobre o momento em que soube do casamento plural em 1841. “Chorei durante dias. (…) Tinha uma boa esposa. Eu era feliz”.47

A decisão de aceitar uma provação tão dolorosa geralmente acontecia apenas após sincera oração e intensa ponderação. Brigham Young disse, ao aprender sobre o casamento plural, que “foi a primeira vez na minha vida em que desejei a morte”.48 “Tive que orar incessantemente”, ele disse, “e tive que exercitar fé e o Senhor me revelou a veracidade disso e fiquei satisfeito”.49 Heber C. Kimball encontrou consolo apenas após sua esposa Vilate ter uma visão confirmando a veracidade do casamento plural. “Ela me disse que”, relembrou a filha de Vilate algum tempo depois, “nunca viu um homem tão feliz como meu pai ficou quando ela descreveu a visão e lhe disse que estava satisfeita e que sabia que vinha de Deus”.50

Lucy Walker relembrou sua perturbação interna quando Joseph Smith a convidou para se tornar sua esposa. “Todo sentimento de minha alma se opunha a isso”, ela escreveu. Ainda assim, após muitas noites ajoelhada em oração quase sem descansar, ela encontrou alívio quando o quarto “encheu-se com influência divina” que era similar a “brilhante luz do sol”. Ela disse: “Minha alma se encheu com calma e doce paz que nunca havia sentido”, e “felicidade suprema tomou conta de todo meu ser”.51

Nem todos tiveram tais experiências. Alguns santos dos últimos dias rejeitaram o princípio do casamento plural e saíram da Igreja, enquanto outros se negaram a participar da prática, mas permaneceram fiéis.52 Contudo, para muitos homens e muitas mulheres, a repulsa e a angústia inicial foi seguida de grande esforço, determinação e por fim, luz e paz. Experiências sagradas permitiram aos santos seguirem em frente com fé.53

Conclusão

O desafio de introduzir um princípio tão controverso quanto o casamento plural é quase impossível de se descrever. Um testemunho espiritual de sua veracidade permitiu a Joseph Smith e a outros santos dos últimos dias aceitarem esse princípio. Embora tenha sido muito difícil, a introdução do casamento plural em Nauvoo realmente “suscitou posteridade” a Deus. Um número substancial de membros da Igreja de hoje descende de fiéis santos dos últimos dias que praticaram o casamento plural.

Os membros da Igreja não praticam mais o casamento plural.54 De acordo com os ensinamentos de Joseph Smith, a Igreja permite que um homem cuja esposa tenha falecido seja selado a outra mulher quando ele se casa novamente. Além disso, é permitido aos membros realizar ordenanças em favor de homens e mulheres falecidos que se casaram mais de uma vez na Terra, selando-os a todos os cônjuges com quem eles foram legalmente casados. A exata natureza desses relacionamentos na próxima vida não é conhecida, e muitos relacionamentos familiares serão resolvidos na próxima vida. Os santos dos últimos dias são encorajados a confiar em nosso sábio Pai Celestial, que ama Seus filhos e faz todas as coisas para o crescimento e a salvação deles.55

Recursos

  1. Ver “A Família: Proclamação ao Mundo”; Jacó 2:27, 30.
  2. Doutrina e Convênios 132:34–39; Jacó 2:30; ver também Gênesis 16.
  3. I Coríntios 13:12; Jeffrey R. Holland, “Eu Creio, Senhor”, A Liahona maio de 2013, p. 93.
  4. Ver Andrew Jenson, “Plural Marriage”, Historical Record 6 (maio de 1887), pp. 232–233; “Report of Elders Orson Pratt and Joseph F. Smith”, Millennial Star 40 (16 de dezembro de 1878), p. 788; Danel W. Bachman, “New Light on an Old Hypothesis: The Ohio Origins of the Revelation on Eternal Marriage”, Journal of Mormon History vol. 5, 1978, pp. 19–32.
  5. Ver Doutrina e Convênios 132:1, 34–38.
  6. Doutrina e Convênios 112:30; 124:41; 128:18.
  7. “Polygamy”, The Oxford Dictionary of World Religions, ed. John Bowker, New York: Oxford University Press, 1997, p. 757; John Cairncross, After Polygamy Was Made a Sin: The Social History of Christian Polygamy, Londres: Routledge & Kegan Paul, 1974.
  8. Lorenzo Snow, testemunho, Estados Unidos Testemunho 1892 (Caso do Lote do Templo), parte 3, p. 124, Church History Library, Salt Lake City; Orson Pratt, Journal of Discourses, vol. 13, p.193; Carta de Ezra Booth para Ira Eddy, 6 de dezembro de 1831, Ohio Star, 8 de dezembro de 1831.
  9. Ver Brian C. Hales, “Encouraging Joseph Smith to Practice Plural Marriage: The Accounts of the Angel with a Drawn Sword”, Mormon Historical Studies vol. 11, nº. 2, outono de 2010, pp. 69–70.
  10. Ver Andrew Jenson, Anotações de Pesquisa, Andrew Jenson Collection, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City; Benjamin F. Johnson to Gibbs, 1903, Benjamin F. Johnson Papers, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City; “Autobiography of Levi Ward Hancock”, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City.
  11. Parley P. Pratt, The Autobiography of Parley Parker Pratt, One of the Twelve Apostles of The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, ed. Parley P. Pratt Jr., Nova York: Russell Brothers, 1874, p. 329.
  12. Hyrum Smith, sermão, 8 de abril de 1844, Minutas do Escritório Geral de História da Igreja, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City.
  13. Essas são as mesmas chaves do sacerdócio que Elias, o profeta, havia conferido aos apóstolos antigos. (Ver Mateus 16:19; 17:1–9; Doutrina e Convênios 2.)
  14. Doutrina e Convênios 132:7; 131, 2–3.
  15. Doutrina e Convênios 132:19–20, 63; ver também “Becoming Like God”.
  16. Stephanie Coontz, Marriage, A History: From Obedience to Intimacy, or How Love Conquered Marriage, Nova York: Viking Penguin, 2005, pp. 145–160; Lawrence Stone, The Family, Sex and Marriage in England, 1500–1800, abridged ed., Middlesex, Reino Unido: Penguin Books, 1985, pp. 217–253.
  17. Doutrina e Convênios 132:55, 63.
  18. Doutrina e Convênios 132:46; Mateus 16:19.
  19. A prática do casamento plural de Joseph Smith tem sido debatida por autores santos dos últimos dias em publicações oficiais, semioficiais e independentes. Ver, por exemplo, Jenson, “Plural Marriage”, pp. 219–234; B. H. Roberts, A Comprehensive History of The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 6 vols., Salt Lake City: Deseret News Press, 1930, vol. 2, pp 93–110, Danel W. Bachman and Ronald K. Esplin, “Plural Marriage”, Encyclopedia of Mormonism, 4 vols., New York: Macmillan, 1992, vol. 2, pp.1091-1095; and Glen M. Leonard, Nauvoo: A Place of Peace, a People of Promise, Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book e Brigham Young University, 2002, pp. 343–349.
  20. Brian C. Hales, Joseph Smith’s Polygamy, 3 vols., Salt Lake City: Greg Kofford Books, 2013, vol.1, p. 3, vol. 2, p.165.
  21. Joseph Smith, Diário, 19, 24 e 26 de maio de 1842; 4 de junho de 1842, disponível em josephsmithpapers.org. Defensores do “esposas espirituais” ensinavam que as relações sexuais eram permitidas fora das relações matrimoniais legais, sob condição de que as relações permanecessem secretas.
  22. Nas negações, “poligamia” era para ser entendida como o casamento entre um homem e mais de uma mulher sem a sanção da Igreja.
  23. Ver, por exemplo, “On Marriage”, Times and Seasons, 1º de outubro de 1842, pp. 939–940; e diário de Wilford Woodruff, 25 de novembro de 1843, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City; Parley P. Pratt, “This Number Closes the First Volume of the ‘Prophet,’” The Prophet, 24 de maio de 1845, p. 2. George A. Smith explicou: “Qualquer um que leia as negações com cuidado, como foram nomeadas, da pluralidade de esposas em conexão com as circunstâncias, verá que elas claramente denunciam adultério, fornicação, luxúria vulgar e a pluralidade de esposas por aqueles que não haviam sido ordenados para fazê-lo” (Carta de George A. Smith a Joseph Smith III, 9 de outubro de 1869, Journal History of The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 9 de outubro de 1869, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City).
  24. Números estimados ficam entre 30 e 40. Ver Hales, Joseph Smith’s Polygamy, vol. 2, pp. 272–273.
  25. Ver Hales, Joseph Smith’s Polygamy, vol. 2, pp. 277–302. Apesar de alegações de que Joseph Smith tivesse tido filhos dentro do casamento plural, testes genéticos feitos até o momento deram resultados negativos, embora seja possível que ele tenha tido dois ou três filhos com esposas plurais. (Ver Ugo A. Perego, “Joseph Smith, the Question of Polygamous Offspring, and DNA Analysis”, Newell G. Bringhurst and Craig L. Foster, eds., The Persistence of Polygamy: Joseph Smith and the Origins of Mormon Polygamy [Independence, MO: John Whitmer Books, 2010], pp. 233–256.)
  26. J. Spencer Fluhman, “A Subject that Can Bear Investigation’: Anguish, Faith, and Joseph Smith’s Youngest Plural Wife”, Robert L. Millet, ed., No Weapon Shall Prosper: New Light on Sensitive Issues, Provo and Salt Lake City: Brigham Young University Religious Studies Center and Deseret Book, 2011, pp. 104–119; Craig L. Foster, David Keller, and Gregory L. Smith, “The Age of Joseph Smith’s Plural Wives in Social and Demographic Context”, in Bringhurst and Foster, eds., The Persistence of Polygamy, pp. 152–183.
  27. Helen Mar Kimball Whitney, Autobiografia, (2) Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City.
  28. Helen Mar Kimball Whitney, Plural Marriage as Taught by the Prophet Joseph: A Reply to Joseph Smith, Editor of the Lamoni, Iowa,) “Herald”, Salt Lake City: Juvenile Instructor Office, 1882; Helen Mar Kimball Whitney, Why We Practice Plural Marriage, Salt Lake City: Juvenile Instructor Office, 1884.
  29. Números estimados desses selamentos variam entre 12 e 14. (Ver Todd Compton, In Sacred Loneliness: The Plural Wives of Joseph Smith [Salt Lake City: Signature Books, 1997], pp. 4, 6; Hales, Joseph Smith’s Polygamy, vol. 1, pp. 253–276, 303–48.) Para um resumo antigo dessa prática, ver John A. Widtsoe, “Evidences and Reconciliations: Did Joseph Smith Introduce Plural Marriage?” Improvement Era 49, nº. 11, novembro de 1946, pp. 766–767.
  30. Hales, Joseph Smith’s Polygamy, vol. 1, pp. 421–437. A poliandria, o casamento de uma mulher com mais de um homem, normalmente envolve o compartilhamento de recursos financeiros, residenciais e sexuais, e os filhos são frequentemente criados por todos do grupo. Não há nenhuma evidência que os selamentos de Joseph Smith funcionavam dessa maneira e muitas evidências mostram o contrário.
  31. Rex Eugene Cooper, Promises Made to the Fathers: Mormon Covenant Organization, Salt Lake City: University of Utah Press, 1990, pp. 138–145; Jonathan A. Stapley, “Adoptive Sealing Ritual in Mormonism”, Journal of Mormon History 37, nº. 3, verão de 2011, pp. 53–117.
  32. Para uma análise das evidências, ver Hales, Joseph Smith’s Polygamy, vol. 1, pp. 390–396.
  33. Richard Lyman Bushman, Joseph Smith: Rough Stone Rolling, New York: Knopf, 2005, p. 440.
  34. Ver Lorenzo Snow, testemunho, Estados Unidos,Testemunho 1892 (Caso do Terreno do Templo), parte 3, p. 124.
  35. A revelação do casamento forneceu poderoso incentivo para casamentos realizados pela autoridade do sacerdócio. (Ver Doutrina e Convênios 132:17–19, 63.)
  36. Zina Huntington Jacobs, resumo autobiográfico, Zina Card Brown Family Collection, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City; grafia modernizada.
  37. Esse registro histórico é impressionante devido à falta de críticas encontradas entre aquelas que foram esposas plurais de Joseph Smith, embora a maioria das esposas não tenha deixado registros.
  38. Joseph Smith, Diário, 16 de agosto de 1842, Andrew H. Hedges, Alex D. Smith, and Richard Lloyd Anderson, eds., Journals, Vol. 2: dezembro de 1841–abril de 1843, vol. 2 dos Diários da Série The Joseph Smith Papers, editado por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin, e Richard Lyman Bushman, Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2011, pp. 93–96, disponível em josephsmithpapers.org; Mary Audentia Smith Anderson, ed., Joseph Smith III and the Restoration. Independence, MO: Herald House, 1952, p. 85.
  39. Jenson, “Historical Record”, pp. 229–230, 240; Emily Dow Partridge Young, testemunho, Estados Unidos, Testemunho 1892 (Caso do Terreno do Templo), part 3, pp. 365–366, 384; Orson Pratt, Journal of Discourses, vol. 13, p. 194.
  40. Hales, Joseph Smith’s Polygamy, vol. 2, p. 8, pp. 48–50, 80; Bushman, Rough Stone Rolling, p. 473.
  41. Doutrina e Convênios 132:54, 64. A advertência à Emma Smith também é válida para todos os que recebem ordenanças sagradas pela autoridade do sacerdócio, mas não vivem os convênios associados a essas ordenanças. Ver, por exemplo, Salmos 37:38; Isaías 1:28; Atos 3:19–25; e Doutrina e Convênios 132:26, 64.
  42. Doutrina e Convênios 132:61. Em Utah, a primeira esposa fazia parte da cerimônia do casamento plural, ficando entre o marido e a noiva e colocando a mão da noiva na mão do marido. “Celestial Marriage”, The Seer vol. 1, fevereiro de 1853, p. 31.
  43. Doutrina e Convênios 132:65; ver também Gênesis 16:1–3.
  44. Jacó 2:30.
  45. A respeito dos filhos, ver anotação 6 do “Plural Marriage and Families in Early Utah”.
  46. Helen Mar Kimball Whitney, Why We Practice Plural Marriage, pp. 23–24.
  47. Heber C. Kimball, Discourse, 2 de setembro de 1866, George D. Watt Papers, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City, transcrição da taquigrafia por LaJean Purcell Carruth.
  48. Brigham Young, Journal of Discourses, vol. 3, p. 266.
  49. Brigham Young, Discourse, 18 de junho de 1865, George D. Watt Papers, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City, transcrição da taquigrafia por LaJean Purcell Carruth; ver também Brigham Young, Journal of Discourses, vol. 11, p. 128.
  50. Orson F. Whitney, Life of Heber C. Kimball, an Apostle: The Father and Founder of the British Mission, Salt Lake City: Kimball Family, 1888, p. 338; ver também Kiersten Olson, “‘The Embodiment of Strength and Endurance’: Vilate Murray Kimball (1806–1867)”, Women of Faith in the Latter Days, Vol. 1, 1775–1820, ed. Richard E. Turley Jr. e Brittany A. Chapman, Salt Lake City: Deseret Book, 2011, p.137.
  51. Lucy Walker Kimball, “Brief Biographical Sketch”, pp. 10–11, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City.
  52. Sarah Granger Kimball, por exemplo, rejeitou o casamento plural em Nauvoo, mas foi para o oeste com os santos. Muitos dos indivíduos que rejeitaram o casamento plural, incluindo Emma Smith, mais tarde se tornaram membros da Igreja Reorganizada de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
  53. Por exemplo, ver “Evidence from Zina D. Huntington-Young”, Saints’ Herald, 11 de janeiro de 1905, p. 29; Mary Elizabeth Rollins Lightner, “Mary Elizabeth Rollins”, Susa Young Gates Papers, Utah State Historical Society.
  54. Gordon B. Hinckley, “O Que as Pessoas Estão Perguntando a Nosso Respeito?A Liahona, Conferência Geral de outubro de 1998; “Poligamia”, página de tópicos da Sala de Imprensa.
  55. Alma 26:35; Doutrina e Convênios 88:41; 1 Néfi 11:17.

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