Jesus Cristo
Capítulo 6: O Meridiano Dos Tempos


Capítulo 6

O Meridiano Dos Tempos

Foi dado a conhecer a Moisés, com quem o Senhor falou “cara a cara, como qualquer fala com o seu amigo”,a o desenvolvimento da raça humana, tanto no passado como no futuro, em relação a sua época; e a vinda do Redentor foi reconhecida por ele, como o evento de maior importância entre todos os acontecimentos que seriam testemunhados pela Terra e seus habitantes. A maldição de Deus caíra, anteriormente, sobre os iníquos e, por causa deles, sobre a terra, “porque não davam ouvidos a sua voz nem acreditavam em seu Filho Unigénito, sim, naquele que ele declarou que viria no meridiano dos tempos, que foi preparado desde antes da fundação do mundo.”b Nesta Escritura, aparece a mais antiga menção da expressiva e profundamente significativa designação do período em que Cristo apareceria — o meridiano dos tempos. Se a expressão foi considerada como figurativa, lembremo-nos de que a figura provém do Senhor.

O termo “meridiano”, como usado comumente, transmite a idéia de uma divisão principal de tempo ou espaço.c Assim, os anos e os séculos da história humana são divididos pelo grande evento do nascimento de Jesus Cristo. Os anos precedentes à importante ocorrência são agora designados como o tempo Antes de Cristo (A.C.); enquanto os subseqüentes são especificados como Ano de nosso Senhor, ou em latim Anno Domini (A.D.). Assim, a cronologia do mundo foi ajustada e sistematizada em relação ao tempo do nascimento do Salvador; e este método de cálculo é usado em todas as nações cristãs. É instrutivo notar que um sistema semelhante foi adotado pelo ramo isolado da casa de Israel, trazido da terra da Palestina para o continente ocidental; pois, a partir da aparição do sinal prometido entre o povo, pressagiando o nascimento daquele que havia sido tão predito por seus profetas, o cálculo nefita dos anos, começando com a saída de Lei e sua colônia de Jerusalém, foi substituído pelos anais da nova era.d

A ocasião do advento do Salvador foi pré-indicada; e seu tempo foi especificamente revelado, através de profetas autorizados em cada um dos hemisférios. A longa história da nação israelita havia revelado uma sucessão de acontecimentos que, de maneira relativa, culminavam com a missão terrena do Messias. Para que melhor compreendamos o verdadeiro significado da vida e ministério do Senhor na carne, devemos considerar as condições políticas, sociais e religiosas do povo entre o qual Ele apareceu e com o qual viveu e morreu. Tal consideração envolve, no mínimo, um breve exame da história precedente da nação hebraica. A posteridade de Abraão, através de Isaque e Jacó, cedo se tornou conhecida pelo título de israelitas ou filhos de Israele do qual muito se orgulhavam e no qual encontravam promessas inspiradoras. Foram assim designados, coletivamente, durante os dias tenebrosos de seu cativeiro no Egito;f e também durante as quatro décadas do êxodo e a volta à terra prometida;g depois, como povo vigoroso, sob a administração dos juízes e como monarquia unida, durante os sucessivos reinados de Saul, Davi e Salomão.h

Imediatamente após a morte de Salomão, cerca de 975 A.C., de acordo com a cronologia mais aceita, a nação dividiu-se em conseqüência de uma revolta. A tribo de Judá, parte da tribo de Benjamim e alguns remanescentes de outras tribos permaneceram fiéis à sucessão real e aceitaram Roboão, filho de Salomão, como seu rei; enquanto as outras, comumente referidas como as Dez Tribos, quebraram sua fidelidade à casa de Davi e fizeram do efraimita Jeroboão o seu rei. As dez tribos mantiveram o título de Reino de Israel, embora também sejam conhecidas como Efraim.i Roboão e seus adeptos foram chamados de Reino de Judá. Por cerca de duzentos e cinqüenta anos, os dois reinos mantiveram sua autonomia separada; então, por volta de 722 ou 721 A. C., a independência do Reino de Israel foi destruída e o povo cativo foi transportado para a Assíria por Salmanezer e outros. Subseqüentemente, desapareceram de maneira tão completa, que passaram a ser chamados de Tribos Perdidas. O Reino de Judá foi reconhecido como nação, durante mais uns cento e trinta anos; depois, por volta de 588 A.C., foi subjugado por Nabucodonosor, através de quem se iniciou o cativeiro babilónico. Durante setenta anos, Judá foi mantida em exílio e escravidão virtual, em conseqüência de sua transgressão, como havia sido predito por Jeremias.j Então, o Senhor abrandou o coração de seus captores e iniciou-se sua restauração com o decreto de Ciro, o persa, que havia conquistado o reino da Babilônia. Foi permitido ao povo hebreu retornar à Judéia e iniciar a obra de reconstrução do templo de Jerusalém.k

Uma grande parte dos exilados hebreus aproveitou esta oportunidade para retornar às terras de seus pais, embora muitos tenham decidido permanecer no pais de seu cativeiro, preferindo Babilônia a Israel. “Toda esta congregação” de judeus, que voltou do exílio na Babilônia, era formada de “quarenta e dois mil trezentos e sessenta, afora os seus servos e as suas servas que foram sete mil trezentos e trinta e sete. “O tamanho relativamente pequeno da nação emigrante é demonstrado, mais além, pelo registro de seus animais de carga.l Embora aqueles que retornaram houvessem lutado, valentemente, para restabelecer-se como casa de Davi e recobrar uma parte de seu prestígio e glória, os judeus nunca mais constituíram um povo verdadeiramente independente. Foram oprimidos pela Grécia e Síria; mas, por volta de 164–163 A.C., o povo livrou-se, pelo menos em parte, do jugo estrangeiro, como resultado da revolta patriótica liderada pelos Macabeus, dos quais o mais preeminente foi Judas Macabeu. O trabalho do templo, que havia sido praticamente abolido por prescrição dos inimigos vitoriosos, foi restabelecido.m No ano 163 A.C., a estrutura sagrada foi rededicada e a alegre ocasião foi, a partir daí, celebrada com um festival por ano, chamado Festa da Dedicação.n Durante o reinado dos Macabeus, entretanto, o templo quase se transformou em ruínas, mais em conseqüência da incapacidade do povo reduzido e empobrecido para mantê-lo, do que de qualquer declínio de zelo religioso. Na esperança de garantirem maior proteção, os judeus fizeram uma aliança desigual com os romanos, tornando-se, eventualmente, seus tributários, condição essa que prevaleceu durante todo o período do ministério de nosso Senhor. No meridiano dos tempos, Roma era, virtualmente, dona do mundo. Quando Cristo nasceu, César Augusto o era imperador de Roma e a ele prestava vassalagem o idumeu Herodes,p cognominado o Grande, como rei da Judéia.

Os judeus mantiveram certa aparência de autonomia nacional sob o domínio romano e suas cerimônias religiosas não sofreram interferências sérias. As ordens estabelecidas no sacerdócio foram reconhecidas, e os atos oficiais do conselho nacional, ou Sinédrio,q foram apoiados pela lei romana, embora os poderes judiciais deste corpo não se estendessem à imposição da pena capital, sem a sanção do executivo imperial. Era política de Roma permitir liberdade de culto aos povos tributários e vassalos, desde que os deuses mitológicos, adorados pelos romanos, não fossem caluniados, nem sofressem profanaçãoa seus altares.

E desnecessário dizer que os judeus não apreciavam o domínio estrangeiro, embora tivessem, nesse campo, a experiência de muitas gerações, tendo sofrido desde a vassalagem nominal até a escravidão servil. Já constituíam, então, um povo grandemente dispersado. A população judaica da Palestina, no tempo do nascimento de Cristo, constituía apenas um pequeno remanescente da grande nação de Davi. Nessa época, as Dez Tribos, o antigo reino de Israel, já se encontravam perdidas para a história, e o povo de Judá havia sido grandemente espalhado entre as nações.

Em suas relações com outros povos, os judeus geralmente se esforçaram para manter uma exclusividade arrogante, sendo por isso ridicularizados pelos gentios. A lei mosaica exigia que Israel se mantivesse afastada de outras nações; e o povo dava extrema importância à sua linhagem abraâmica, como filhos do convênio, “povo santo ao Senhor Deus”, que ele havia escolhido “para que lhe fosse o seu povo próprio, de todos os povos que sobre a terra há.”r Judá havia experimentado os tristes efeitos da libertinagem com as nações pagãs e, na época da qual estamos agora tratando, um judeu que se permitisse uma associação desnecessária com um gentio tornava-se um ser impuro, sendo requerido um cerimonial purificador, para livrá-lo da conspurcação. Somente no isolamento rigoroso encontravam os líderes esperança de garantir a perpetuação da nação judaica.

Não é exagero dizer que os judeus odiavam todos os outros povos e eram, reciprocamente, desprezados e desdenhados por eles. Manifestavam especial antipatia com relação aos samaritanos, talvez porque este povo persistisse em seus esforços de estabelecer certa relação racial. Entre os samaritanos havia muita mistura e eram considerados pelos judeus como mestiços, indignos de qualquer respeito. Quando o rei da Assíria levou as Dez Tribos para o cativeiro, foram enviados estrangeiros para povoar Samaria.s Estes casaram-se com os israelitas que haviam escapado à escravidão; e certas modalidades da religião de Israel, incluindo pelo menos a adoração a Jeová, sobreviveram em Samaria. Os rituais samaritanos eram considerados não ortodoxos pelos judeus, e o povo como réprobo. No tempo de Cristo, a inimizade entre samaritanos e judeus era tão intensa, que os viajantes da Judéia à Galiléia preferiam dar grandes voltas, a passar pela província de Samaria, situada no meio do caminho. Os judeus não admitiam qualquer relação com os samaritanos.t

O orgulhoso sentimento de auto-suficiência, a obsessão pela exclusividade e isolamento — um traço tão distinto dos judeus daquela época — era inculcado no colo maternal e acentuado na sinagoga e na escola. O Talmud, v que foi escrito em forma sistemática, depois do ministério de Cristo, proibia aos judeus a leitura de livros de nações estrangeiras, declarando que aquele que assim transgredisse não poderia contar com os favores de Jeová.w Josefo endossa tal injunção e registra que sabedoria, entre os judeus, significava apenas familiaridade com a lei e habilidade para discorrer sobre ela.x Exigiam um conhecimento absoluto das leis, na mesma medida em que desencorajavam outros estudos. Dessa forma, a linha que separava os letrados dos iletrados passou a ser rigidamente estabelecida; e, como conseqüência inevitável, aqueles tidos por letrados, ou que como tal se consideravam, desprezavam os menos instruídos como uma classe à parte e inferior.y

Muito antes do nascimento de Cristo, os judeus haviam cessado de ser um povo unido mesmo em questões da lei, embora constituísse a mesma o fator básico para a conservação da solidariedade nacional. Cerca de oitenta anos após a volta do exílio babilónico, e não sabemos com exatidão desde quanto tempo antes dessa época, haviam sido reconhecidos como homens de autoridade certos eruditos, mais tarde chamados de escribas, e reverenciados como rabinosz ou mestres. Nos dias de Esdras e Neemias, esses especialistas da lei formavam uma classe titular, à qual se prestavam honras e deferências. Esdras é designado “o sacerdote, o escriba das palavras do mandamento do Senhor e dos seus estatutos sobre Israel.”a Os escribas daquele tempo faziam trabalho valioso sob a liderança de Esdras e, mais tarde, de Neemias, compilando os escritos sagrados então existentes; e, no sistema judeu, aqueles designados como guardiães e intérpretes da lei chegaram a ser conhecidos como membros da Grande Sinagoga ou Grande Assembléia, a respeito da qual temos pouca informação através de canais canônicos. Segundo os registros do Talmud, a organização consistia de cento e vinte eruditos eminentes. O escopo de sua obra, de acordo com a admoestação perpetuada por eles próprios, é assim expresso: Sede cuidadosos no julgamento; formai homens letrados e erguei uma sebe ao redor da lei. Eles seguiram esta inj unção, estudando muito e considerando cuidadosamente todos os detalhes tradicionais de administração, multiplicando o número de escribas e rabinos, e, segundo a interpretação de alguns sobre a formação de homens cultos, escrevendo vários livros e tratados; ademais, ergueram uma sebe ou cerca ao redor da lei, adicionando numerosas regras que prescreviam, com grande exatidão, os cânones sociais estabelecidos para cada ocasião.

Os escribas e rabis tinham grande prestígio entre o povo, mais do que aqueles das ordens sacerdotais ou levíticas; e os ditos rabínicos tinham precedência às declarações dos profetas, uma vez que os últimos eram considerados apenas mensageiros ou intérpretes, enquanto os eruditos vivos constituíam por si mesmos fontes de sabedoria e autoridade. Os poderes seculares permitidos aos judeus pela suserania romana eram prerrogativa hierárquica, sendo que os membros dessas hierarquias podiam acumular, praticamente, todas as honras oficiais e profissionais. Como resultado natural dessa condição, não havia, praticamente, distinção alguma entre as leis judaicas civis e eclesiásticas, tanto com relação ao código como à administração. O rabinismo compreendia, como elemento essencial, a doutrina da autoridade idêntica da tradição oral rabínica e da palavra escrita da lei. O engrandecimento implicado na aplicação do título “Rabi” e a manifestação de soberba, aceitando tal adulação, foram especialmente proibidos pelo Senhor, que se proclamou o único Mestre; e quanto à interpretação do título, por alguns com o significado de “pai”, Jesus proclamou que não havia senão um Pai, isto é, Aquele que está no céu: “Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo; e todos vós sois irmãos. E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo.”a

Os escribas, fossem assim chamados, ou designados pelo título mais ilustre de rabino, foram, repetidamente, denunciados por Jesus, em virtude do literalismo estéril de seus ensinamentos e da ausência do espírito de retidão e conseqüente moralidade viril; e em tais denúncias estão os fariseus freqüentemente incluídos com os escribas. O julgamento de Cristo sobre eles é expressado na imprecação: “Ai de vós escribas e fariseus, hipócritas!”b

A época ou circunstâncias da origem dos fariseus não são estabelecidas por autoridade indiscutível; embora seja provável que a facção ou grupo tenha tido um início relacionado ao retorno dos judeus do cativeiro babilónico. Novas idéias e concepções adicionais do significado da lei foram promulgadas pelos judeus, que se haviam imbuído do espírito da Babilônia; e as inovações resultantes foram aceitas por alguns e rejeitadas por outros. O nome “fariseu” não aparece no Velho Testamento, nem nos apócrifos, embora seja provável que os assideus mencionados nos livros dos Macabeus c sejam os fariseus originais. Por derivação, o nome expressa a idéia de separatismo; o fariseu, na estimação de sua classe, era distintamente separado do povo comum, a quem se considerava realmente superior, da mesma forma que os judeus em relação a outras nações. Os fariseus e escribas eram um em todos os pontos fundamentais de sua crença e o rabinismo era, especificamente, sua doutrina.

No Novo Testámento, os fariseus são freqüentemente mencionados como oponentes dos saduceus; e tais eram as relações entre as duas seitas que é mais simples contrastá-las do que considerar cada uma separadamente. Os saduceus surgiram como organização reacionária, durante o segundo século A.C., em conexão com um movimento de rebeldia contra os Macabeus. Sua plataforma era a oposição à massa sempre crescente de saber tradicional, pelo qual a lei não estava sendo apenas limitada ou cercada para sua segurança, mas sob cujo peso estava sendo sepultada. Os saduceus defendiam a santidade da lei tal como fora escrita e preservada e rejeitavam todos os preceitos rabínicos, tanto os transmitidos oralmente quanto os copiados e codificados nos registros dos escribas. Os fariseus constituíam o partido mais popular; os saduceus representavam a minoria aristocrática. No tempo do nascimento de Cristo, os fariseus existiam como classe organizada, contando com mais de seis mil homens e com a simpatia e colaboração das mulheres judias;d enquanto os saduceus formavam uma facção tão pequena e de poder tão limitado que, quando colocados em posições oficiais, geralmente seguiam a política dos fariseus por questão de conveniência. Os fariseus eram os puritanos da época, inflexíveis na exigência do cumprimento das leis tradicionais, assim como da lei original de Moisés. A respeito, note-se a confissão de fé e prática feita por Paulo diante de Agripa — “Conforme a mais severa seita da nossa religião, vivi fariseu.”e Os saduceus orgulhavam-se de cumprir estritamente a lei, como a entendiam, independente de todos os escribas e rabinos. Eles defendiam o templo e suas ordenanças, e os fariseus, a sinagoga e seus ensinamentos rabínicos. E difícil decidir quais eram os mais técnicos, se julgarmos cada grupo pelos padrões de sua própria profissão de fé. Ilustrando: os saduceus defendiam a imposição literal e completa da penalidade mosaica — olho por olho, dente por dentef — enquanto os fariseus punham em dúvida, baseados na autoridade da sentença rabínica, considerando apresentar-se o texto em sentido figurado e que, portanto, a penalidade poderia ser paga em dinheiro ou mercadorias.

Os fariseus e saduceus diferiam em muitos aspectos importantes, senão fundamentais, de crença e prática, incluindo a preexistência de espíritos, a realidade de um estado futuro envolvendo recompensa e punição, a necessidade do desprendimento individual, a imortalidade da alma e a ressurreição dos mortos — aspectos esses defendidos pelos fariseus e negados pelos saduceus.g Afirma Josefo que, segundo a doutrina dos saduceus, o corpo e a alma perecem juntos; a observância da lei é tudo com o que se preocupam.h Constituíam eles “uma escola céptica de tradicionalistas aristocráticos, fiel apenas à lei mosaica.”i

Entre as muitas outras seitas e partidos estabelecidos sobre o terreno das diferenças políticas ou religiosas, ou de ambas, encontramos os essênios, os nazireus, os herodianos e os galileus. Os essênios caracterizavam-se pela devoção extrema; mesmo o rigor religioso dos fariseus era por eles considerado fraco e insuficiente; os membros de sua ordem passavam por severas provas, que se estendiam através deum primeiro e de um segundo noviciado; eram proibidos até de tocar qualquer alimento preparado por estranhos; praticavam uma temperança extrema e uma abnegação rígida ao lado do trabalho pesado — de preferência agricultura, e era-lhes vedado negociar como mercadores, participar de guerras e possuir ou empregar escravos.j Os nazireus não são citados no Novo Testamento, embora especificamente registrados em escrituras anteriores; k e, através de outras fontes que não as Escrituras, sabemos de sua existência durante e após o tempo de Cristo. O nazireu era uma pessoa, de qualquer sexo, obrigada à abstinência e sacrifício por um voto voluntário de serviço a Deus; o período do voto podia ser limitado ou durar toda a vida. enquanto os essênios cultivavam uma fraternidade ascética, os nazireus devotavam-se à disciplina solitária.

Os herodianos constituíam uma facção político-religiosa, que favorecia os planos dos Herodes, sob a crença de que somente através daquela dinastia o status do povo judeu seria mantido e o restabelecimento da nação assegurado. Encontramos menção dos herodianos, quando, colocando de lado suas antipatias partidárias, se uniram aos fariseus no esforço de condenar o Senhor Jesus e levá-Lo à morte.l Os galileus, ou povo da Galiléia, distinguiam-se dos israelitas da Judéia pela maior simplicidade e menor alarde de sua devoção em assuntos pertinentes à lei. Opunham-se às inovações e, entretanto, eram mais liberais e menos intolerantes do que os judeus professadamente devotos. Nas guerras, eram defensores preeminentes e conquistaram grande reputação por bravura e patriotismo. São mencionados em certas ocorrências trágicas durante a vida de nosso Senhor.m

A autoridade do sacerdócio era, aparentemente, reconhecida pelos judeus no tempo de Cristo; e a ordem de serviço, indicada para sacerdotes e levitas, era devidamente observada. Durante o reinado de Davi, os descendentes de Aarão, que eram os sacerdotes hereditários em Israel, tinham sido divididos em vinte e quatro turnos.n e os trabalhos do santuário eram designados a um turno de cada vez. Os representantes de apenas quatro desses turnos retornaram do cativeiro e, com eles, as ordens foram reconstruídas de acordo com o plano original. Nos dias de Herodes, o Grande, as cerimônias eram conduzidas com grande aparato, como que para acompanhar o esplendor da estrutura, que sobrepujava em magnificência todos os santuários anteriores. o Os sacerdotes e levitas eram, portanto, solicitados continuamente para servir, embora os indivíduos fossem trocados, a curtos intervalos, de acordo com o sistema estabelecido. Aos olhos do povo, os sacerdotes eram inferiores aos rabinos, e a erudição de um escriba transcendia em honra a ordenação no sacerdócio. A religião da época era mais uma questão de cerimônia e formalidade, de ritual e desempenho; ela havia perdido o espírito de adoração, e a verdadeira idéia da relação entre Israel e o Deus de Israel não era mais que um sonho do passado.

Tais eram, em resumo, os traços principais da condição do mundo, particularmente no que concerne ao povo judeu, quando Jesus Cristo nasceu no meridiano dos tempos.

Notas do Capítulo 6

  1. O Sinédrio. — Corte suprema ou sumo conselho dos judeus, seu nome deriva do grego sunedrion, que significa “conselho”. O Talmud traça a origem desta organização até o chamado dos setenta élderes que Moisés convocou para, juntamente com ele, formando setenta e um ao todo, administrarem como juízes em Israel (Núm. 11:16-17). O Sinédrio no tempo de Cristo, como também muito antes, compreendia setenta e um membros incluindo o sumo sacerdote que presidia a assembléia. Parece ter sido conhecido, em seu primeiro período, como Senado, e foi, ocasionalmente, assim designado mesmo depois da morte de Cristo (Josefo, Antiquities xii, 3:3 comparar com Atos 5:21); o nome “Sinédrio” passou a ser usado durante o reinado de Herodes, o Grande, mas o termo não é de uso bíblico; seu equivalente no Novo Testamento é “conselho” (Mat. 5:22; 10:17; 26:59), embora deva ser lembrado que o mesmo termo é aplicado a cortes de menor jurisdição que o Sinédrio e a tribunais locais. (Mat. 5:22; 10:17; 26:59; Marcos 13:9; ver também Atos 25:12.)

    A seguinte citação do Standard Bible Dictionary é interessante: “Aqueles aprovados como membros eram, em geral, da família sacerdotal e, especialmente, da nobreza dos saduceus. Mas, desde os dias da rainha Alexandra (69—68 A. C.), havia com esses sacerdotes principais também muitos fariseus, intitulados de escribas e anciãos. Encontramos essas três classes combinadas em Mat. 27:41; Marcos 11:27; 14:43, 53; 15:1. Como eram escolhidos esses membros não está muito claro. O caráter aristocrático da organização e a história de sua origem impedem a crença de que era por eleição. Seu núcleo, provavelmente, consistia dos membros de certas famílias antigas, às quais, entretanto, de tempos em tempos os governantes seculares adicionavam outras. O oficial presidente era o sumo sacerdote, que, no início, exercia mais do que a autoridade de um simples membro, reivindicando voz igual à do restante da organização. Mas, depois que o sumo sacerdócio foi rebaixado, de cargo hereditário para cargo conferido pelo governante político, a seu bel-prazer, e com as mudanças freqüentes no cargo introduzidas pelo novo sistema, o sumo sacerdote, naturalmente, perdeu o seu prestígio. Ao invés de ter em suas mãos o “governo da nação”, tornou-se um dos muitos a partilhar este poder; aqueles que tinham servido como sumo sacerdotes, sendo ainda estimados pela nação e não tendo perdido sua função por qualquer motivo que pudesse ser considerado válido pelo sentimento religioso da comunidade, exerciam grande influência sobre as decisões da assembléia. No Novo Testamento são tratados como governantes (Mat. 26:59; 27:41; Atos 4:5, 8; Lucas 23:13, 35; João 7:26.) e o testemunho de Josefo apoia este ponto de vista. As funções do Sinédrio eram religiosas, morais, e também políticas. Nesta última capacidade exerciam funções administrativas e judiciais. Como tribunal religioso, o Sinédrio exercia uma potente influência sobre todo o mundo judeu (Atos 9:2); mas como corte de justiça, depois da divisão do país após a morte de Herodes, sua jurisdição foi limitada à Judéia. Ali, entretanto, seu poder era absoluto, mesmo para pronunciar sentenças de morte (Josefo Ant. xiv, 9:3, 4; Mat. 26:3; Atos 4:5; 6:12; 22:30.), embora não tivesse autoridade para executar a sentença, exceto quando aprovado e ordenado pelo representante do governo romano. A lei pela qual governava o Sinédrio era, naturalmente, a judaica e, na sua execução este tribunal tinha uma diretriz própria, efetuando prisões segundo seu próprio critério. (Mat. 26:47)… Embora a autoridade geral do Sinédrio se estendesse sobre toda a Judéia, as cidades do interior tinham seus próprios conselhos locais (Mat. 5:22; 10:17; Marcos 13:9; Josefo, B. J. ii, 14:1) para a administração dos negócios da região. Estes eram constituídos de anciãos (Lucas 7:3), no mínimo 7, (Josefo, Ant. iv, 8:14; B. J. ii, 20:5) e em algumas das cidades maiores até vinte e três. Qual a sua relação com o conselho central em Jerusalém, não se sabe claramente… Certo grau de reconhecimento mútuo existia entre eles, pois quando os juízes da corte local não estavam de acordo, parece que levavam seus casos ao Sinédrio em Jerusalém. (Josefo, Ant. iv, 8:14; Mishna, Sanh. 11:2)”

  2. Talmud .— “O conjunto das leis civis e religiosas judaicas (e discussão direta ou remotamente relacionada à mesma) não incluídas no Pentateuco, comumente englobando o Mishna e o Gemara, mas, às vezes, limitados ao último e escritos em aramaico. Existe em duas grandes coleções, o Talmud Palestino ou Talmud da Terra de Israel ou Talmud do Oriente ou mais popularmente, Talmud de Jerusalém, contendo as discussões dos doutores da Palestina sobre o Mishna, do segundo até a metade do quinto século; e o da Babilônia, contendo as dos doutores judeus na Babilônia, de 190 até o século 7.” — New Standard Dict. O Mishna compreende as partes mais antigas do Talmud; o Gemara é constituído dos escritos posteriores e é, em grande parte, uma exposição do Mishna. Somente uma edição do Talmud Babilónico (publicada em Viena em 1682) contém 24 tomos (Geikie).

  3. Rabis — O título Rabi é equivalente em nossa língua a doutor, mestre ou professor. Por derivação, significa Mestre ou meu mestre, implicando, portanto, dignidade e posição associadas à cortesia no tratamento. Uma explicação clara do termo é dada por João (1:38) e por Mateus (23:8). Como título respeitoso, foi aplicado a Jesus em diversas ocasiões (Mat. 23:7, 8; 26:25, 49; Marcos 9:5; 11:21; 14:45; João 1:38, 49; 3:2, 26; 4:31; 6:25; 9:2; 1:8.) O título era de uso comparativamente recente no tempo de Cristo, e parece ter-se tornado comum durante o reinado de Herodes, o Grande, embora mestres anteriores, do tempo em que a classe não tinha o nome de Rabis, fossem geralmente reverenciados, sendo-lhes aplicado o título por uso posterior. Rab era um título inferior, e Raban superior a Rabi. Raboni expressava o mais profundo respeito, amor e honra (ver joão 20:16). No tempo do ministério do Senhor, os Rabis eram tidos em grande estima e regozijavam-se com as manifestações de precedência e honra entre os homens. Pertenciam quase exclusivamente ao poderoso partido farisaico.

    A citação seguinte é de Geikie, do livro “Life and Works of Chrisf”, vol. I, esp. 6: “Se as figuras mais importantes da sociedade da época do Cristo eram os fariseus, é porque eram rabis ou mestres da lei. Como tal, recebiam reverência supersticiosa, que era, na verdade, o grande motivo, para muitos, de cortejar o título ou unir-se ao partido. Os rabis eram comparados a Moisés, os patriarcas e os profetas, e reivindicavam igual reverência. Diz-se que Jacó e José eram, ambos, rabis… O Targum de Jonatas usa a palavra rabis ou escribas em todos os lugares em que aparece a palavra “profetas”. Josefo chama de rabis os profetas dos dias de Saul. No Targum de Jerusalém, todos os patriarcas são rabis cultos… Deviam ser mais queridos em Israel que os pais e mães — porque os pais valem apenas neste mundo (como era então ensinado) e o rabi para sempre. Eram colocados acima dos reis, pois não está escrito ‘Por meu intermédio reinarão os reis’? Sua entrada numa casa trazia bênçãos. Viver ou comer com eles era o maior privilégio… Os rabis iam ainda mais longe exaltando sua origem. O Mishna declara que é maior crime falar qualquer coisa que o desacredite, do que falar contra as palavras da Lei… ainda que em forma a Lei recebesse honra ilimitada. Todos os ditos dos rabis tinham que ser baseados em alguma palavra da mesma, que, entretanto, era explicada à sua própria maneira. O espírito dos tempos, o fanatismo selvagem do povo e sua própria inclinação, colaboravam igualmente para fazê-lo dar valor apenas às cerimônias e exterioridades inúteis, negligenciando completamente o espírito dos escritos sagrados. Mas ainda se acreditava que a Lei não necessitava de confirmação, enquanto as palavras dos rabis, sim. Desde que a autoridade romana sob a qual viviam os deixasse livres, os judeus, voluntariamente, colocavam todo o poder nas mãos dos rabis. Eles ou seus representantes preenchiam todos os cargos, desde os mais altos no sacerdócio até os mais inferiores na comunidade. Eram os casuístas, os mestres; os sacerdotes, os juízes, os magistrados e os médicos da pátria… A característica central e dominante dos ensinamentos dos rabis era o advento seguro de um Salvador nacional — o Messias ou Ungido de Deus ou na tradução grega do título, o Cristo. Em nação alguma, senão entre os judeus, havia essa concepção criado tais raízes e demonstrado tal vitalidade… Concordavam os rabis que Seu nascimento seria em Belém e que Ele seria da tribo de Judá.”

    Alguns rabis, individualmente, reuniram discípulos ao seu redor, tornando-se inevitável a manifestação de rivalidade. Criaram-se escolas e academias rabínicas, dependendo a popularidade de cada uma do prestígio de um certo rabi. As mais famosas dessas instituições no tempo de Herodes I eram a escola de Hillel e a de seu rival Shammai. Mais tarde, a tradição os revestiu do título “pais da antigüidade”. Parece, pelos assuntos triviais sobre os quais os seguidores dessas duas discordavam, que apenas por oposição poderia qualquer delas manter um lugar de honra. Hillel é considerado avô de Gamaliel, o rabi e doutor da lei a cujos pés Saulo de Tarso, depois Paulo, o apóstolo, recebeu suas primeiras instruções (Atos 22:3). Pelos registros históricos de pontos de vista, princípios e crenças advogados pelas escolas rivais de Hillel e Shammai, parece que a primeira defendia um maior grau de liberdade e tolerância, enquanto a última acentuava uma interpretação rígida e possivelmente estreita da lei e tradições a ela associadas. Que as escolas rabínicas dependiam da autoridade da tradição, é ilustrado por um incidente em que o prestígio do grande Hillel não é suficiente para impedir um tumulto, quando uma vez falou sem citar precedente; somente depois de afirmar que da mesma forma haviam falado seus mestres Abtalion é Shemajah, é que o tumulto cessou.

  4. Os saduceus negam a ressurreição.— Como explicado no texto, os saduceus formavam uma associação numericamente pequena comparados aos mais influentes e populares fariseus. Nos Evangelhos, os fariseus são muitas vezes mencionados geralmente em conexão com os escribas, enquanto os saduceus são nomeados com menos freqüência. Nos Atos dos Apóstolos, os saduceus aparecem quase sempre como adversários da Igreja. Esta condição era indubitavelmente devida à preeminência dada à ressurreição dos mortos nos temas das pregações apostólicas, os Doze continuamente prestando testemunho sobre a ressurreição real de Cristo. A doutrina dos saduceus negava a realidade e possibilidade de uma ressurreição corporal, baseando-se a discordância, principalmente, no fato de que Moisés, considerado o supremo legislador mortal de Israel e principal porta-voz de Jeová, nada havia escrito sobre a vida depois da morte. A seguinte citação, tirada do “Dictionary ofthe Bible”, de Smith, item “saduceus”, trata do assunto: “Era lógico para os saduceus negar a ressurreição do homem depois da morte, uma vez que negavam ter Moisés revelado a Lei Oral, pois, a respeito de um ponto tão importante quanto uma segunda vida além-túmulo, nenhum partido religioso entre os judeus se julgaria obrigado a aceitar qualquer doutrina como artigo de fé, a menos que tivesse sido proclamada por Moisés, seu grande legislador; e é exato que Moisés não faz qualquer asserção sobre a ressurreição dos mortos na lei escrita do Pentateuco. Este fato é apresentado aos cristãos de maneira notável, pelas conhecidas palavras do mesmo citadas por Cristo em uma discussão com os saduceus sobre esseassunto. (Êxo. 3:6, 16; Marcos 12:26, 27; Mat. 22:31, 32; Lucas 20:37) Não pode haver dúvida de que, em tal caso, Cristo citaria para Seus poderosos adversários o texto mais convincente da Lei; e, ainda, o texto citado não faz mais do que inferir essa grande doutrina. E verdade que passagens em outras partes do Velho Testamento expressam uma crença na ressurreição (Isa. 26:19; Dan. 12:2; Jó 19:26; e em alguns dos Salmos); e pode, à primeira vista, causar surpresa o fato de que os saduceus não estivessem convencidos pela autoridade dessas passagens. Mas, ainda que os saduceus considerassem sagrados os livros que continham tais passagens, é mais que duvidoso que qualquer judeu os considerasse tão sagrados quanto a Lei escrita. Para os judeus, Moisés era e é colossal, preeminente em autoridade sobre todos os profetas que se seguiram.”

  5. O templo de Herodes.— “O propósito de Herodes em seu grande empreendimento (a restauração e ampliação do templo num plano de magnificência sem precedentes) era engrandecer a si mesmo e a nação, e não render homenagem a Jeová. Seu propósito de reconstruir ou restaurar o templo numa escala de maior grandeza era olhado com suspeita e recebido com desagrado pelos judeus, que temiam que, uma vez demolido o edifício antigo, o arbitrário monarca abandonasse seu plano, deixando o povo sem um templo. Para acalmar esses temores, o rei passou a reconstruir e restaurar o velho edifício parte por parte dirigindo a obra de tal maneira, que, em ocasião alguma foram os serviços do templo seriamente interrompidos. Tão pouco da estrutura antiga permaneceu de pé, que o templo de Herodes deve ser considerado como nova criação. O trabalho foi iniciado cerca de dezesseis anos antes do nascimento de Cristo; e embora a Casa Santa tenha sido terminada praticamente em um ano e meio, tendo esta parte do trabalho sido realizada por um corpo de mil sacerdotes especialmente treinados para esse fim, a área do templo foi cenário de ininterruptas atividades de construção até o ano 63 D. C. Lemos que, no tempo do ministério de Cristo, o templo tinha quarenta e seis anos de construção; e ainda não estava terminado.

    “O registro bíblico fornece pouca informação a respeito deste último e o maior dos templos da antigüidade, pois o que sabemos sobre ele devemos principalmente a Josefo, com algum testemunho corroborativo encontrado no Talmud. Fundamentalmente a Casa Santa, ou Templo, era igual aos dois antigos santuários, embora externamente muito mais elaborado e imponente que ambos; mas, quanto aos pátios circundantes e os edifícios associados, o templo de Herodes era preeminentemente superior… Entretanto, sua beleza e grandiosidade estavam mais na excelência da arquitetura que na santidade de seu culto ou na manifestação da presença Divina dentro de suas paredes. Seu ritual e serviço eram em grande parte prescritos pelos homens, pois, embora a Lei Mosaica fosse aparentemente observada, havia sido suplementada e em muitas facetas suplantada pelas regras e prescrições sacerdotais. Os judeus declaravam considerá-lo santo, e proclamavam-no como a Casa do Senhor. Ainda que destituído dos acompanhamentos divinos dos antigos santuários aceitos por Deus, e profanado pela arrogância e usurpação sacerdotal, como também pelo interesse egoísta do comércio, era, não obstante, reconhecido mesmo por nosso Senhor, o Cristo, como a Casa de Seu Pai. (Mat. 21:12; comparar com Marcos 11:15, Lucas 19:45.) Por trinta anosou mais depois da morte de Cristo, os judeus continuaram a obra de complementação e embelezamento dos edifícios do templo. A complicada planta concebida e elaborada por Herodes havia sido praticamente terminada: o templo estava acabado, e pronto para ser logo em seguida destruído. Seu destino havia sido predito pelo próprio Salvador.” — do autor, “A Casa do Senhor”, pp. 54—61.

  6. Estado do mundo no tempo do nascimento do Salvador. — No início da era cristã, os judeus, como a maioria das outras nações, estavam sujeitos ao Império Romano. Era-lhes concedido um considerável grau de liberdade, na observância religiosa e costumes nacionais, mas sua condição estava longe de ser a de um povo livre e independente. O período era de paz — um terçipo marcado por menos guerras e dissensões do que o império havia conhecido por muitos anos. Essas condições eram favoráveis à missão de Cristo e ao estabelecimento de sua Igreja aqui na Terra. Os sistemas religiosos existentes no tempo do ministério de Cristo podem ser classificados, de maneira geral, de judeu e pagão, com um sistema menor — o samaritano — que era essencialmente uma mistura dos outros dois. Somente os filhos de Israel proclamavam a existência do Deus vivo e verdadeiro; só eles ansiavam pelo advento do Messias que, erradamente, julgavam um futuro conquistador, que viria para destruir os inimigos da nação judaica. Todas as outras nações, línguas e povos, curvavam-se diante dos deuses pagãos, e seu culto compreendia nada mais que ritos sensuais de idolatria pagã. O paganismo era uma religião de formalidades e cerimônias, baseada no politeísmo — a crença na existência de uma multidão de deuses, os quais estavam sujeitos a todas as paixões e vícios da humanidade, embora imunes à morte. Moralidade e virtude eram desconhecidas como elemento da idolatria, e a idéia dominante no culto pagão era aplacar os deuses, na esperança de afastar sua ira e obter seus favores. — Ver do autor, A Grande Apostasia, I; e notas que seguem o capítulo citado.