História da Igreja
A paz e a violência entre os membros da Igreja no século 19


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turba no século 19

A paz e a violência entre os membros da Igreja no século 19

Visão geral

A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é alicerçada nos ensinamentos de Jesus Cristo. As virtudes da paz, do amor e do perdão são o ponto central da doutrina e da prática da Igreja. Os santos dos últimos dias acreditam na declaração do Salvador encontrada no Novo Testamento e no Livro de Mórmon que diz: “Bem-aventurados os pacificadores porque eles serão chamados filhos de Deus”.1 Nas escrituras modernas, o Senhor ordenou a seus seguidores que “[renunciassem] à guerra e [proclamassem] a paz”.2 Os santos dos últimos dias se esforçam para seguir o conselho do profeta e rei Benjamim, do Livro de Mórmon, que ensinou que aqueles que são convertidos ao evangelho de Jesus Cristo “não [terão] desejo de [ferir] uns aos outros, mas, sim, de viver em paz”.3

Apesar desses ideais, os primeiros membros da Igreja não obtiveram paz facilmente. Foram perseguidos, na maioria das vezes violentamente, por suas crenças. E, tragicamente, em alguns pontos no século 19, sobretudo no Massacre de Mountain Meadows, alguns membros da Igreja participaram de uma violência deplorável contra pessoas que consideravam inimigas. Este texto explora tanto a violência contra os membros da Igreja quanto a violência cometida por eles. Embora o contexto histórico possa ajudar a esclarecer esses atos de violência, isso não os justifica.

A perseguição religiosa nas décadas de 1830 e 1840

Nas primeiras duas décadas depois da organização da Igreja, os membros da Igreja eram frequentemente vítimas de violência. Em 1830, logo depois que Joseph Smith organizou a Igreja em Nova York, ele e outros membros começaram a se estabelecer em áreas para o oeste, nos Estados de Ohio, Missouri e Illinois. Repetidas vezes, os membros da Igreja tentaram edificar Sião em sua comunidade, um lugar onde poderiam adorar a Deus e viver em paz, mas, muitas vezes, viram suas esperanças despedaçadas ao serem expulsos violentamente. As turbas os expulsaram do condado de Jackson, Missouri, em 1833; do estado do Missouri, em 1839, depois que o governador do estado emitiu uma ordem no final de outubro de 1838, que dizia que os mórmons deveriam ser expulsos do Estado ou “exterminados”4; e da cidade de Nauvoo, Illinois, em 1846. Após serem expulsos de Nauvoo, os membros da Igreja empreenderam a difícil jornada através das Grandes Planícies de Utah.5

À medida que os membros da Igreja se defrontavam com essas dificuldades, procuravam viver de acordo com as revelações dadas a Joseph Smith que os aconselhava a viver sua religião em paz com os vizinhos. Porém, as crenças religiosas e as atividades sociais e econômicas dos membros da Igreja não agradavam seus adversários no estado de Ohio, Missouri e Illinois. Também se sentiam ameaçados por um número crescente de membros da Igreja, o que significava que os mórmons cada vez mais poderiam controlar as eleições locais. Esses adversários atacaram os santos, primeiro verbalmente e depois fisicamente. Os líderes da Igreja, incluindo Joseph Smith, foram cobertos de piche e penas, espancados e presos injustamente. Outros membros da Igreja também foram vítimas de crimes violentos. No episódio mais infame, pelo menos 17 homens e meninos de idade entre 9 e 78 anos foram assassinados no Massacre de Hawn’s Mill.6 Algumas mulheres santos dos últimos dias foram estupradas ou sofreram algum tipo de abuso sexual durante as perseguições no Missouri.7 Vigilantes e turbas destruíram lares e roubaram propriedades.8 Muitos dos opositores dos santos enriqueceram com terras e propriedades que não eram suas legalmente.9

A expulsão do Missouri, que envolveu pelo menos oito mil santos dos últimos dias10, ocorreu durante os meses de inverno, aumentando o sofrimento de milhares de refugiados que não tinham alimentos e abrigo adequados e estavam sujeitos, muitas vezes, a doenças epidêmicas.11 Em março de 1839, quando Joseph Smith, preso em Liberty, no Missouri, recebeu relatos do sofrimento dos santos dos últimos dias exilados, exclamou: “Ó Deus, onde estás?” e orou: “Lembra-te de teus santos que estão sofrendo, ó nosso Deus”.12

Depois de serem expulsos do Missouri, os membros da Igreja foram inicialmente bem recebidos pelo povo do estado de Illinois e encontraram paz por algum tempo em Nauvoo. Por fim, no entanto, surgiu novamente um conflito com não membros e com dissidentes da Igreja. Joseph Smith e seu irmão Hyrum foram brutalmente assassinados por uma turba em uma prisão do Illinois, apesar da promessa do governador do estado de que os irmãos seriam protegidos enquanto estivessem sob custódia.13 Dezoito meses depois, no início do intenso frio do inverno de fevereiro de 1846, a maioria dos santos deixou Nauvoo sob tremenda pressão. Eles se estabeleceram em acampamentos temporários — o que chamamos atualmente de campo de refugiados — nas planícies de Iowa e Nebraska. Foi estimado que um a cada 12 santos morreu nesses campos durante o inverno.14 Alguns dos santos mais idosos e pobres permaneceram inicialmente em Nauvoo e esperavam se juntar ao grupo principal de santos mais tarde. Mas, em setembro de 1846, uma turba os expulsou violentamente de Nauvoo e profanou o templo.15 Um não membro que passou pelo acampamento, escreveu: “Amedrontados e limitados pelo frio e calor que se alternavam à medida que os cansativos dias e noites se arrastavam, quase todos eles eram vítimas mutiladas pelas doenças. (…) Eles não conseguiam satisfazer a necessidade dos enfraquecidos pela doença e não tinham alimento para aquietar o choro de seus filhos famintos”.16 A extensão da violência contra um grupo religioso foi algo sem precedentes na história dos Estados Unidos.

Os líderes e membros da Igreja repetidamente tentaram obter reparação dos governos locais e estaduais; quando essas petições falharam, apelaram sem sucesso ao governo federal para corrigir erros passados e receber proteção no futuro.17 Os santos dos últimos dias relembraram por muito tempo as perseguições que sofreram e a falta de vontade das autoridades governamentais de protegê-los ou de processar os agressores. Com frequência, lamentavam que passaram por perseguição religiosa numa terra que prometia a liberdade religiosa.18 Mediante tanta perseguição, alguns santos, a partir de 1838, reagiram em algumas ocasiões com ações defensivas e, às vezes, com retaliação, por sua própria conta.

A violência e as milícias durante o século 19 nos Estados Unidos

Na sociedade americana do século 19, a violência nas comunidades era comum e, na maioria das vezes, perdoada. Grande parte da violência cometida contra e pelos membros da Igreja fazia parte da tradição americana da época de vigília extrajudicial, na qual os cidadãos se organizavam para fazer justiça com as próprias mãos quando sentiam que o governo estava agindo de forma opressiva ou ausente. Esses justiceiros geralmente se voltavam contra grupos pequenos ou contra aqueles que consideravam ser criminosos ou marginais. Tais atos, às vezes, eram incitados pela retórica religiosa.19

A existência de milícias nas comunidades também contribuiu para essa cultura de justiceiros. O congresso promulgou uma lei em 1792 exigindo que cada homem capaz entre 18 e 45 anos de idade pertencesse a uma milícia da comunidade.20 Com o tempo, as milícias se transformaram na Guarda Nacional, mas nos Estados Unidos da América daquela época, os homens com frequência não respeitavam as leis e cometiam atos de violência contra indivíduos ou grupos vistos como oponentes da comunidade.

Nas décadas de 1830 e de 1840, as comunidades dos membros da Igreja de Ohio, Missouri, Illinois e Utah se localizavam nas regiões da fronteira oeste dos Estados Unidos, onde a violência nas comunidades era aprovada.

A Guerra Mórmon no Missouri e os Danitas

Os atos isolados de violência cometidos por alguns santos dos últimos dias podem geralmente ser vistos como uma subdivisão do fenômeno muito maior de violência na fronteira da América do século 19.21 Em 1838, Joseph Smith e outros membros da Igreja fugiram das turbas em Ohio e se mudaram para o Missouri, onde os santos dos últimos dias já haviam estabelecido assentamentos. Joseph Smith sabia que a oposição dos dissidentes da Igreja e de outros antagonistas tinha enfraquecido e acabou por destruir sua comunidade em Kirtland, Ohio, onde apenas dois anos antes tinham terminado de construir o templo com grande sacrifício. No verão de 1838, os líderes da Igreja notaram o aumento de ameaças à meta de criar uma comunidade harmoniosa no Missouri.

No acampamento de membros da Igreja de Far West, alguns líderes e membros organizaram um grupo paramilitar conhecido como os Danitas, cujo objetivo era defender a comunidade contra membros da Igreja excomungados, dissidentes e outros residentes de Missouri. Os historiadores geralmente concordam que Joseph Smith aprovava os Danitas, mas que provavelmente não foi informado sobre todos os seus planos e que também não concordaria com todas as suas atividades. Os Danitas intimidavam os dissidentes da Igreja e outros moradores; por exemplo, aconselharam alguns dissidentes a deixar o condado de Caldwell. Durante o outono de 1838, devido às tensões causadas pela Guerra Mórmon no Missouri, os Danitas aparentemente foram absorvidos pelas milícias que eram compostas, em grande parte, por membros da Igreja. Essas milícias se defrontaram com seus adversários do Missouri, o que gerou algumas mortes de ambos os lados. Além disso, vigilantes mórmons, inclusive muitos Danitas, invadiram duas cidades que acreditavam ser centros de atividades antimórmons, queimaram casas e roubaram mercadorias.22 Apesar da existência dos Danitas ter durado pouco, resultou em um mito duradouro e muito aumentado sobre uma sociedade secreta de vigilantes mórmons.

Como resultado de sua experiência no Missouri, os membros da Igreja criaram uma grande milícia, sancionada pelo Estado, chamada a Legião de Nauvoo, para que pudessem se proteger depois que se mudassem para Illinois. Essa milícia era temida por aqueles que tinham os membros da Igreja como inimigos. Mas essa legião evitava ofensivas e retaliações; não respondia nem mesmo diante da crise que antecedeu ao assassinato de Joseph Smith e seu irmão Hyrum em junho de 1844 e nem após o acontecido. Quando o governador de Illinois ordenou que a legião se dissolvesse, os membros da Igreja seguiram a instrução.23

Violência no Território de Utah

Em Utah, a agressão ou retaliação de membros da Igreja contra seus inimigos aconteceu mais frequentemente durante a primeira década de acampamentos (1847–1857). Para muitos, as cicatrizes das antigas perseguições e da jornada até as Montanhas Rochosas estavam ainda latentes. Enquanto tentavam se estabilizar no deserto de Utah, os membros da Igreja enfrentaram conflitos contínuos. Muitos fatores prejudicaram o sucesso do empreendimento dos membros da Igreja em Utah: a tensão com os índios americanos, que tinham sido deslocados pela expansão do acampamento mórmon; a pressão do governo federal dos EUA, particularmente após o anúncio público do casamento plural em 1852; as reivindicações de terras e uma população em rápida expansão. Os líderes da comunidade sentiram uma grande responsabilidade, não apenas com respeito ao bem-estar espiritual da Igreja, mas também com a sobrevivência física de seu povo. Muitos desses líderes, inclusive o presidente da Igreja e governador do território, Brigham Young, assumiam simultaneamente papéis eclesiásticos e civis.

Relacionamento dos santos dos últimos dias com os índios norte-americanos

Assim como outros colonizadores de áreas de fronteira, os membros da Igreja ocuparam áreas que já eram ocupadas pelos índios americanos. A trágica história de devastação e aniquilação de muitas tribos indígenas pelas mãos de colonizadores europeus, militares dos Estados Unidos e mecanismos políticos foi bem documentada pelos historiadores. Os colonos ao longo do século 19, incluindo alguns membros da Igreja, maltrataram e mataram os índios em vários conflitos, forçando-os a sair das terras e ir para reservas.

Ao contrário da maioria dos outros americanos, os membros da Igreja viam os índios como um povo escolhido, companheiros israelitas que eram descendentes dos povos do Livro de Mórmon e herdeiros das promessas de Deus. Como presidente da Igreja, governador e superintendente territorial de assuntos indígenas, Brigham Young seguiu uma política de paz para facilitar o acampamento mórmon em áreas onde viviam os índios. Os santos dos últimos dias aprenderam os idiomas indígenas, estabeleceram relações comerciais, pregaram o evangelho e de modo geral procuraram conviver bem com os índios.24 Essa norma, entretanto, surgiu de forma desigual e era aplicada com inconsistência.25

A convivência entre os membros da Igreja e os índios tinha o objetivo de ser pacífica e ideal. Às vezes, no entanto, os membros da Igreja enfrentavam os índios violentamente. Como essas duas culturas — europeia e indígena norte-americana — não se entendiam muito bem, havia opiniões diferentes sobre o uso e propriedade da terra. Os mórmons, muitas vezes, acusavam os índios de furto. Os índios, entretanto, acreditavam que os mórmons tinham a responsabilidade de compartilhar o cultivo e o gado criado em terras das tribos indígenas. Nas áreas onde os mórmons se estabeleceram, o contato prévio dos indígenas com os europeus consistia principalmente de relações mutuamente benéficas com caçadores e comerciantes, que eram pessoas que passavam pelas propriedades ou que ficavam um curto período de tempo acampadas, mas não se fixavam permanentemente como os mórmons faziam. Esses desentendimentos causaram atritos e violência entre esses povos.26

No final de 1849, a tensão entre os índios Ute e os mórmons no Vale de Utah aumentou depois que um mórmon matou um índio dessa etnia conhecido como Old Bishop, a quem ele acusou de roubar uma camisa. O mórmon e outros dois amigos, esconderam o corpo da vítima no rio Provo. Os detalhes do assassinato foram provavelmente retidos, pelo menos inicialmente, por Brigham Young e outros líderes da Igreja. Os colonos de Fort Utah, no entanto, informaram que tiveram outras dificuldades com os índios, inclusive sobre o uso de armas de fogo contra os colonos e o roubo de gado e plantação. Brigham Young aconselhou que tivessem paciência e disse a eles: “permaneçam em seu forte, tratem de seus próprios assuntos e deixe que os índios cuidem dos assuntos deles”.27 Mesmo assim, a tensão continuava em Fort Utah, em parte devido aos membros locais se recusarem a entregar aos utes os envolvidos no assassinato de Old Bishop ou fazer reparações por sua morte. No inverno de 1849 e 1850, uma epidemia de sarampo se espalhou dos colonizadores da Igreja até a tribo dos utes, o que fez com que muitos índios morressem e aumentasse ainda mais a tensão. Em um conselho de líderes da Igreja em Salt Lake City, em 31 de janeiro de 1850, o líder de Fort Utah relatou que as ações e as intenções dos utes estavam ficando cada vez mais agressivas: “Eles dizem que vão caçar nosso gado & procurar & trazer outros índios para nos matar”.28 Em resposta, o governador Young autorizou uma campanha contra os utes. Uma série de batalhas em 1850 resultou na morte de dezenas de utes e um membro da Igreja.29 Nesses exemplos e em outros, alguns santos dos últimos dias cometeram violência excessiva contra os povos nativos.30

Porém, na maior parte do tempo, os membros da Igreja tiveram relações mais amigáveis com os índios do que os colonizadores em outras áreas do oeste americano. Brigham Young tinha amizade com vários líderes americanos nativos e ensinou seu povo a viver em paz com seus vizinhos índios sempre que possível.31 Alguns índios até mesmo ressaltavam a diferença entre os “Mormonees”, a quem consideravam amigáveis, e outros colonizadores americanos, que eram conhecidos como “Mericats”.32

A Guerra de Utah e a “Reforma”

Em meados da década de 1850, uma “reforma” na Igreja e a tensão entre os membros da Igreja e o governo federal dos EUA, contribuíram para um assédio mental e renovou a sensação de perseguição que levou a vários episódios de violência por membros da Igreja. Preocupado com o estado de complacência espiritual, Brigham Young e outros líderes da Igreja fizeram uma série de discursos em que chamavam os membros da Igreja ao arrependimento e à renovação de seus compromissos espirituais.33 Muitos testificaram que eles se tornaram pessoas melhores devido a essa reforma.34

Os americanos do século 19 estavam acostumados com a linguagem violenta tanto religiosa quanto a corriqueira. Por todo o século, revivalistas usaram a imagem da violência para incentivar os não conversos a se arrepender e incentivar os apóstatas a voltar.35 Às vezes, durante a reforma, o presidente Young, seu conselheiro Jedediah M. Grant e outros líderes pregaram com retórica inflamada, advertindo contra as maldades daqueles que divergiam da Igreja ou faziam oposição a ela. Usando passagens bíblicas, especialmente do Velho Testamento, os líderes ensinaram que alguns pecados eram tão graves que o sangue de quem os cometia deveria ser derramado para que recebessem perdão.36 Tal pregação levou a uma tensão cada vez maior entre os santos dos últimos dias e os relativamente poucos não membros em Utah, inclusive as autoridades indicadas pelo governo federal.

No início de 1857, o presidente dos Estados Unidos, James Buchanan recebeu relatórios de alguns dos funcionários federais alegando que o governador Young e os membros da Igreja em Utah estavam se rebelando contra a autoridade do governo federal. Uma declaração agressiva escrita pelo poder legislativo de Utah ao governo federal convenceu os oficiais federais de que os relatórios eram verdadeiros. O presidente Buchanan decidiu substituir Brigham Young como governador e enviou um exército para Utah para acompanhar sua substituição. Isso ficou conhecido como a Guerra de Utah. Os membros da Igreja temiam que o exército que se aproximava — cerca de 1.500 soldados, com mais por vir — repetiria as depredações do Missouri e de Illinois e tiraria novamente os membros da Igreja de seus lares. Além disso, Parley P. Pratt, membro do Quórum dos Doze Apóstolos, foi assassinado no Arkansas, em maio de 1857. Notícias do assassinato — bem como os relatórios de jornais do leste dos Estados Unidos que festejavam o crime — chegaram a Utah no final de junho de 1857.37 Conforme esses acontecimentos se desenrolavam, Brigham Young declarou lei marcial no território, ordenou que os missionários e colonizadores que estavam em áreas distantes dos Estados Unidos voltassem para Utah e liderou os preparativos para resistir ao exército. Os discursos desafiadores feitos pelo presidente Young e por outros líderes da Igreja, combinados com a chegada iminente do exército, ajudaram a criar um ambiente de medo e desconfiança em Utah.38

O Massacre de Mountain Meadows

No auge dessa tensão, no início de setembro de 1857, um ramo da milícia territorial do sul de Utah (composto exclusivamente por mórmons), juntamente com alguns índios que foram recrutados, sitiou uma caravana de carroções dos emigrantes do Arkansas em viagem para a Califórnia. Quando a caravana viajou de Salt Lake City para o Sul, os emigrantes se enfrentaram verbalmente com os mórmons locais sobre onde eles poderiam deixar pastar seus animais. Alguns dos membros da caravana ficaram frustrados porque tinham dificuldade de comprar cereais e outros suprimentos necessários de colonos locais, os quais tinham sido instruídos a guardar seus grãos durante a guerra. Sentindo-se lesados, alguns dos emigrantes ameaçaram se unir às tropas na luta contra os membros da Igreja.39

Embora alguns membros da Igreja tenham ignorado tais ameaças, outros membros e líderes locais da Igreja em Cedar City, Utah, encorajaram a violência. Isaac C. Haight, um presidente de estaca e líder da milícia, enviou John D. Lee, um líder da milícia, para liderar um ataque contra a companhia de emigrantes. Quando o presidente relatou o plano para o seu conselho, outros líderes se opuseram e pediram que ele cancelasse o ataque e em vez disso, enviasse um mensageiro a Brigham Young, em Salt Lake City para pedir orientação. Mas os homens que Isaac C. Haight havia enviado para atacar os emigrantes executaram os planos, antes de receberem a ordem de não atacar. Os emigrantes revidaram e iniciaram um cerco.

Ao longo dos dias seguintes, a situação ficou muito tensa e a milícia mórmon planejou e executou um grande massacre. Eles atraíam os emigrantes para longe de seus carroções com uma bandeira de trégua falsa e, auxiliados por índios Paiute, que tinham recrutado, os abateram. Entre o primeiro ataque e a matança final, o massacre destruiu a vida de 120 homens, mulheres e crianças em um vale conhecido como Mountain Meadows. Somente as crianças pequenas — que acreditavam ser muito jovens para conseguirem dizer o que havia acontecido — foram poupadas. O mensageiro voltou dois dias depois do massacre. Ele portava uma carta de Brigham Young dizendo aos líderes locais para “não se intrometerem” com os emigrantes e permitir que atravessassem o sul de Utah.40 Os milicianos tentaram encobrir o crime colocando toda a culpa nos paiutes locais, alguns dos quais também eram membros da Igreja.

Dois membros da Igreja, por fim, foram excomungados pela participação no massacre, e um tribunal do júri que incluía os membros da Igreja acusou oficialmente nove homens. Somente um participante, John D. Lee, foi condenado e executado pelo crime, o que aumentou as alegações falsas de que o massacre havia sido ordenado por Brigham Young.

Nos últimos anos, a Igreja tem feito todos os esforços para conhecer o máximo possível sobre o massacre. No início de 2000, historiadores do Departamento de História de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias começaram a vasculhar os arquivos nos Estados Unidos para obterem registros históricos; todos os registros da Igreja sobre o massacre também foram disponibilizados para exames minuciosos. Em um livro, publicado pela Oxford University Press em 2008, os autores Ronald W. Walker, Richard E. Turley Jr. e Glen M. Leonard concluíram que, embora as pregações excessivas sobre os forasteiros feitas por Brigham Young, George A. Smith e outros líderes tenham contribuído para um clima de hostilidade, o presidente Young não ordenou o massacre. Em vez disso, confrontos verbais entre pessoas do comboio de carroções e colonizadores do sul de Utah criaram grande alarme, particularmente no contexto da Guerra de Utah e de outros eventos adversários. Uma série de decisões trágicas tomadas pelos líderes locais da Igreja — que também possuíam cargos de liderança nas organizações cívicas e milicianas no sul de Utah — levaram ao massacre.41

Além do Massacre de Mountain Meadows, alguns membros da Igreja cometeram outros atos de violência contra um pequeno número de dissidentes e forasteiros. Alguns membros da Igreja cometeram atos de violência ilegais, especialmente na década de 1850, quando o medo e a tensão eram comuns no Território de Utah. A retórica inflamada dos líderes da Igreja em relação aos dissidentes poderia ter levado esses membros a acreditar que tais ações eram justificadas.42 Os culpados desses crimes não eram geralmente punidos. Mesmo assim, muitas alegações de violência são infundadas e escritores antimórmons culpam os líderes da Igreja por muitas mortes suspeitas e crimes não solucionados em Utah naquela época.43

Conclusão

Muitas pessoas no século 19 injustamente qualificaram os membros da Igreja como um povo violento. A grande maioria dos membros da Igreja, tanto no século 19, como hoje em dia, vive pacificamente em sua vizinhança com seus familiares e procura manter a paz na comunidade onde vive. Os viajantes do século 19 frequentemente notavam a paz e a ordem que prevaleciam nas comunidades dos santos dos últimos dias em Utah e em qualquer outro lugar.44 No entanto, as ações de relativamente poucos santos dos últimos dias causaram mortes e ferimentos, relacionamentos desgastados em comunidades e a perigosa percepção de que os mórmons não eram pacíficos.45

A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias condena as ações e as palavras violentas e confirma seu compromisso de promover a paz no mundo inteiro. Falando sobre o Massacre de Mountain Meadows, o presidente Henry B. Eyring, que na ocasião servia como membro do Quórum dos Doze Apóstolos, disse: “O evangelho de Jesus Cristo que professamos abomina o assassinato a sangue-frio de homens, mulheres e crianças. De fato, ele advoga a paz e o perdão. O que foi feito muito tempo atrás por membros de nossa Igreja representa um afastamento terrível e indesculpável do ensinamento e da conduta cristã”.46

Ao longo da história da Igreja, os líderes da Igreja ensinam que o caminho do discipulado cristão é um caminho de paz. O presidente Russell M. Nelson, que na ocasião servia no Quórum dos Doze Apóstolos, associou a fé dos membros da Igreja em Jesus Cristo à busca pelo amor ao próximo e pela paz com todas as pessoas: “A esperança do mundo é o Príncipe da Paz. (…) Agora, como membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, o que o Senhor espera de nós? Como Igreja, precisamos ‘[renunciar] à guerra e [proclamar] a paz’. Como indivíduos, devemos ‘[seguir] as coisas que servem para a paz’. Devemos, individualmente, ser pacificadores”.47

A Igreja reconhece a contribuição de estudiosos para o conteúdo histórico apresentado neste artigo; o trabalho deles é usado com permissão.

Publicado originalmente em maio de 2014.

Tópicos relacionados

Profetas e líderes da Igreja

Profetas e apóstolos

Recursos de aprendizagem

Recursos gerais

“Nauvoo Legion”, Encyclopedia of Mormonism

Revistas da Igreja

“The Mountain Meadows Massacre”, Ensign, setembro de 2007

Manuais de estudo

Mídia

Áudio

“Haun’s Mill”, Past Impressions, episódio 33

  1. Mateus 5:9; 3 Néfi 12:9.

  2. Doutrina e Convênios 98:16.

  3. Mosias 4:13.

  4. Carta de Lilburn W. Boggs para John B. Clark, 27 de outubro de 1838, Mormon War Papers, Missouri State Archives. Um significado contemporâneo para a palavra exterminar era “expulsar dos limites ou das fronteiras”. (Noah Webster, An American Dictionary of the English Language, Nova York: S. Converse, 1828, verbete “exterminate”.

  5. Para estudos acadêmicos a respeito dessas expulsões, consulte Stephen C. LeSueur, The 1838 Mormon War in Missouri, Columbia, MO: University of Missouri Press, 1987; e Alexander L. Baugh, A Call to Arms: The 1838 Mormon Defense of Northern Missouri, Dissertations in Latter-day Saint History, Provo, UT: Joseph Fielding Smith Institute for Latter-day Saint History; BYU Studies, 2000. Para obter os primeiros relatos, ver John Whitmer, History, pp. 39–67, e “A History, of the Persecution”, 1839–1840, em Karen Lynn Davidson, Richard L. Jensen, e David J. Whittaker, eds., Histories, Volume 2: Assigned Historical Writings, 1831–1847, vol. 2 da série Histories of The Joseph Smith Papers, editado por Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin, e Richard Lyman Bushman, Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2012, pp. 52–76, pp. 202–286.

  6. Joseph Young, Affidavit, Adams Co., IL, 4 de junho de 1839, L. Tom Perry Special Collections, Harold B. Lee Library, Universidade Brigham Young, Provo, Utah; Beth Shumway Moore, Bones in the Well: The Haun’s Mill Massacre, 1838, A Documentary History, Norman, OK: Arthur H. Clark Company, 2006.

  7. Parley P. Pratt, Testimony, 1º de julho de 1843, p. 4, Nauvoo, IL, Records, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City; Hyrum Smith, Testimony, 1º de julho de 1843, p. 24, Nauvoo, IL, Records, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City.

  8. Os membros da Igreja escreveram mais tarde quase mil petições e depoimentos que detalhavam seu sofrimento. Uma petição enviada à assembleia legislativa do estado do Missouri, escrita por vários membros e líderes da Igreja, descrevia vários incidentes de violência, inclusive o Massacre de Hawn’s Mill e detalhava a destruição da propriedade: “Muitas propriedades da cidade foram destruídas pelas tropas durante o tempo em que lá permaneceram: incendiaram casas feitas de troncos, de palha de milho, feno, & pilharam casas, mataram gado, ovelhas e porcos e também tomaram os cavalos de seus proprietários sem ao menos dar satisfação. Nesse meio tempo, os homens foram agredidos, as mulheres insultadas e violentadas pelos soldados”. (Edward Partridge e outros, 10 de dezembro de 1838, petição à Assembleia Legislativa do Missouri, em Clark V. Johnson, ed., Mormon Redress Petitions: Documents of the 1833–1838 Missouri Conflict, Provo, UT: Brigham Young University Religious Studies Center, 1992, p.18.)

  9. Jeffrey N. Walker, “Mormon Land Rights in Caldwell and Daviess Counties and the Mormon Conflict of 1838: New Findings and New Understandings”, BYU Studies 47, nº 1, 2008, pp. 5–55.

  10. Karen Lynn Davidson, David J. Whittaker, Mark Ashurst-McGee e Richard L. Jensen, eds., Histories Volume 1: Joseph Smith Histories, 1832–1844, vol. 1 da série Histories de The Joseph Smith Papers, editores Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e Richard Lyman Bushman, Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2012, 498n25.

  11. Para um relato detalhado da expulsão que ocorreu no Missouri entre 1838 e 1839 ver William G. Hartley, “The Saints’ Forced Exodus from Missouri”, em Richard Neitzel Holzapfel e Kent P. Jackson, eds., Joseph Smith: The Prophet and Seer, Provo, UT: Brigham Young University Religious Studies Center, 2010, pp. 347–389.

  12. Doutrina e Convênios 121:1, 6.

  13. Carta de Thomas Ford para Joseph Smith e outros, 22 de junho de 1844, Joseph Smith Collection, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City.

  14. Richard E. Bennett, Mormons at the Missouri, 1846–1852: “And Should We Die … ”, Norman, OK: University of Oklahoma Press, 1987, p. 141.

  15. Glen M. Leonard, Nauvoo: A Place of Peace, A People of Promise, Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book and Brigham Young University Press, 2002, pp. 600–621.

  16. Thomas L. Kane, The Mormons: A Discourse Delivered before the Historical Society of Pennsylvania: March 26, 1850, Filadélfia: King & Baird, 1850, pp. 9–10. A declaração de Kane foi feita durante uma palestra que ele deu quatro anos depois de sua visita aos acampamentos. Suas cartas à família escritas de campos de refugiados em Iowa, entre julho e agosto de 1846, refletem sentimentos semelhantes. Ele lamentou a seus pais que um povo “inocente, deveria por uma questão de consciência em nosso século 19, ser açoitado, roubado, violentado e assassinado”. (Carta de Thomas L. Kane para John K. Kane e Jane D. Kane, 20–23 de julho de 1846, Thomas L. Kane Papers, American Philosophical Society.)

  17. Marvin S. Hill, Quest for Refuge: The Mormon Flight from American Pluralism, Salt Lake City: Signature Books, 1989, pp. 41–44, 101–102; Kenneth H. Winn, Exiles in a Land of Liberty: Mormons in America, 1830–1846, Chapel Hill: University of North Carolina Press, 1989, pp. 96–105, p. 145, pp. 154–156.

  18. Ver, por exemplo, “Prospects of the Church”, The Evening and the Morning Star, março de 1833, p. 4; “Extract, from the Private Journal of Joseph Smith Jr.”, Times and Seasons, novembro de 1839, p. 9, disponível em josephsmithpapers.org; e Parley P. Pratt, History of the Late Persecution Inflicted by the State of Missouri upon the Mormons, Detroit, MI: Dawson & Bates, 1839, pp. iv–v, disponível em josephsmithpapers.org.

  19. Sobre a vigilância ilegal americana, ver Paul A. Gilje, Rioting in America, Bloomington: Indiana University Press, 1996; David Grimsted, American Mobbing, 1828–1861: Toward the Civil War, Nova York: Oxford University Press, 1998). A literatura acadêmica sobre a violência inspirada pela religião ou pela retórica religiosa é imensa. Para mais reflexões sobre o assunto, ver R. Scott Appleby, The Ambivalence of the Sacred: Religion, Violence, and Reconciliation, Lanham, MD: Rowman & Littlefield, 2000. Para estudos a respeito da América no século 19, a violência particularmente inspirada na linguagem religiosa no Sul, consulte Donald G. Mathews, “Lynching Is Part of the Religion of Our People: Faith in the Christian South”, em Beth Barton Schweiger e Donald G. Mathews, eds., Religion in the American South: Protestants and Others in History and Culture, Chapel Hill, NC: University of North Carolina Press, 2004, pp. 153–194; Orlando Patterson, Rituals of Blood: Consequences of Slavery in Two American Centuries, Washington DC: Civitas/Counterpoint, 1998; Edward J. Blum e W. Scott Poole, eds., Vale of Tears: New Essays on Religion and Reconstruction, Macon, GA: Mercer University Press, 2005; e Patrick Q. Mason, The Mormon Menace: Violence and Anti-Mormonism in the Postbellum South, Nova York: Oxford University Press, 2011.

  20. Militia Act of 1792, 1 Stat. cap. 33 (1792).

  21. Para um estudo clássico da violência da fronteira americana, ver Richard Maxwell Brown, Strain of Violence: Historical Studies of American Violence and Vigilantism, Nova York: Oxford University Press, 1975.

  22. Os danitas consideraram esse roubo como uma apropriação necessária de mercadorias em uma atmosfera de guerra. (Ver Baugh, Call to Arms, pp. 36–43; Richard Lyman Bushman, Joseph Smith: Rough Stone Rolling, com a ajuda de Jed Woodworth, Nova York: Knopf, 2005, pp. 349–355; Dean C. Jessee, Mark Ashurst-McGee e Richard L. Jensen, eds., Journals, Volume 1: 1832–1839, vol. 1 da série Journals of The Joseph Smith Papers, editores Dean C. Jessee, Ronald K. Esplin e Richard Lyman Bushman, Salt Lake City: Church Historian’s Press, 2008, pp. 231, 292–293, disponível em josephsmithpapers.org e “Danites”, The Joseph Smith Papers, acessado em 23 de janeiro de 2014.)

  23. Leonard, Nauvoo, pp. 374–375.

  24. Ver Ronald W. Walker, “Toward a Reconstruction of Mormon and Indian Relations, 1847 to 1877”, BYU Studies 29, nº 4, outono de 1989, pp. 23–42; e Sondra Jones, “Saints or Sinners? The Evolving Perceptions of Mormon-Indian Relations in Utah Historiography”, Utah Historical Quarterly 72, nº 1, inverno de 2004, pp. 19–46. Brigham Young serviu como governador territorial de 1850 a 1857 e superintendente territorial de assuntos indígenas de 1851 a 1857.

  25. Ver Howard A. Christy, “The Walker War: Defense and Conciliation as Strategy”, Utah Historical Quarterly 47, nº 4, outono de 1979, pp. 395–420.

  26. A respeito do mal-entendido cultural entre os santos e os índios, ver Marlin K. Jensen, “The Rest of the Story: Latter-day Saint Relations with Utah’s Native Americans”, Mormon Historical Studies 12, nº 2, outono 2011, pp. 16–25.

  27. Carta de Brigham Young para Isaac Higbee, 18 de outubro de 1849, Arquivos do escritório de Brigham Young, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City.

  28. Historian’s Office General Church Minutes, 31 de janeiro de 1850, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City.

  29. D. Robert Carter, Founding Fort Utah: Provo’s Native Inhabitants, Early Explorers, and First Year of Settlement, Provo, UT: Provo City Corporation, 2003, pp. 52, 114–115, 135, 142, 145, 153–157, 163, 227. Fontes contemporâneas indicam que o número de índios que morreram foi entre 24 e 40, embora o número de utes mortos possa ser algo em torno de 100. (Ver Epsy Jane Williams, Autobiography, p. 1, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City; e Jared Farmer, On Zion’s Mount: Mormons, Indians, and the American Landscape, Cambridge, MA, e Londres: Harvard University Press, 2008, pp. 67–77.)

  30. Ver Albert Winkler, “The Circleville Massacre: A Brutal Incident in Utah’s Black Hawk War”, Utah Historical Quarterly 55, nº 1, inverno de 1987, pp. 4–21.

  31. Para uma visão geral da interação dos membros da Igreja com os índios americanos, ver Jensen, “Latter-day Saint Relations with Utah’s Native Americans”, pp. 16–25; ver também Ronald W. Walker, “Wakara Meets the Mormons, 1848–1852: A Case Study in Native American Accommodation”, Utah Historical Quarterly 70, nº 3, verão de 2002, pp. 215–237.

  32. Jensen, “Latter-day Saint Relations with Utah’s Native Americans”, p. 23.

  33. Sobre a “reforma”, ver Paul H. Peterson, “The Mormon Reformation of 1856–1857: The Rhetoric and the Reality”, Journal of Mormon History 15, 1989, pp. 59–87.

  34. Ver, por exemplo, John Brown, diário, 27 de novembro e 11 de dezembro de 1857 e janeiro de 1857, pp. 202–206, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City; Benjamin F. Johnson, autobiografia, dezembro de 1856, p. 198, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City; No Place to Call Home: The 1807–1857 Life Writings of Caroline Barnes Crosby, Chronicler of Outlying Mormon Communities, ed. Edward Leo Lyman e outros, Logan, UT: Utah State University Press, 2005, p. 442; e Hannah Tapfield King, autobiografia, 16 de março a 9 de abril de 1857, Biblioteca de História da Igreja, Salt Lake City.

  35. Para entender a mistura de linguagem religiosa com a violência ao longo da história dos Estados Unidos, consulte John D. Carlson e Jonathan H. Ebel, eds., From Jeremiad to Jihad: Religion, Violence, and America, Berkeley: University of California Press, 2012. A retórica violenta foi muitas vezes usada na esfera política também. Em 1857, por exemplo, o senador de Illinois Stephen A. Douglas denunciou duramente as “traições e práticas repulsivas” dos mórmons. Protegendo aqueles que praticavam a poligamia, Douglas disse que era uma “desgraça para o país — uma desgraça para a humanidade — uma desgraça para a civilização”. Ele continuou: “Uma dura punição deve ser aplicada para remover esse tipo de câncer pestífero, que consome os próprios órgãos vitais do corpo político. Deve ser cortado pela raiz e cauterizado por uma lei firme e inabalável, como o ferro em brasa”. A linguagem mais inflamada foi editada na versão final. (Ver “Great Rally of the People”, Marshall County [Indiana] Democrat, 25 de junho de 1857, p. 1; Remarks of the Hon. Stephen A. Douglas, on Kansas, Utah, and the Dred Scot Decision, Chicago: Daily Times Book and Job Office, 1857, pp. 11–15; “Senator Douglas’ Speech in Illinois”, New York Herald, 22 de junho de 1857, p. 2; e Robert W. Johannsen, Stephen A. Douglas, Champaign, IL: University of Illinois Press, 1997, pp. 568–569.)

  36. Ver, por exemplo, Brigham Young, em Journal of Discourses, vol. 4; pp. 53–54; e Heber C. Kimball, em Journal of Discourses, vol. 7, pp.16–21. Esse conceito, que veio a ser conhecido como expiação de sangue, era um componente das ações de retórica antimórmon no século 19. Embora muitas das afirmações exageradas que apareceram na imprensa popular e literatura antimórmon sejam facilmente refutadas, é provável que pelo menos em um caso, alguns membros da Igreja tenham agido de acordo com essa retórica. Contudo, a maioria dos membros parecia reconhecer que os discursos sobre a expiação de sangue, nas palavras do historiador Paul Peterson, eram “exagero ou discurso incendiário” que “provavelmente se destinavam a assustar os membros da Igreja que estavam em desacordo com princípios da Igreja. Para os membros com boas intenções, eles eram concebidos para causar alarme, introspecção e, por fim, o arrependimento. Para aqueles que se recusavam a cumprir os padrões da Igreja, esperava-se que tais ameaças apressariam a saída deles do território”. (Ver carta de Isaac C. Haight para Brigham Young, 11 de junho de 1857, Arquivos do escritório de Brigham Young; Peterson, “Mormon Reformation of 1856–1857”, p. 67, pp. 84n66; ver também Encyclopedia of Mormonism, 5 vols., 1992, “Blood Atonement”, vol. 1, p. 131.)

  37. A respeito do assassinato de Parley P. Pratt, ver Terryl L. Givens e Matthew J. Grow, Parley P. Pratt: The Apostle Paul of Mormonism, Nova York: Oxford University Press, 2011, pp. 366–391; para o relacionamento entre a notícia do assassinato e o massacre, ver Richard E. Turley Jr., “The Murder of Parley P. Pratt and the Mountain Meadows Massacre”, em Gregory K. Armstrong, Matthew J. Grow e Dennis J. Siler, eds., Parley P. Pratt and the Making of Mormonism, Norman, OK: Arthur H. Clark Company, 2011, pp. 297–313.

  38. A respeito da Guerra de Utah, ver William P. MacKinnon, ed., At Sword’s Point, Part 1: A Documentary History of the Utah War to 1858, Norman, OK: Arthur H. Clark Company, 2008; e Matthew J. Grow, “Liberty to the Downtrodden”: Thomas L. Kane, Romantic Reformer, New Haven: Yale University Press, 2009, pp. 149–206.

  39. Parte do gado de propriedade dos emigrantes morreu ao longo da trilha de Utah, agravando ainda mais o sentimento de injustiça. (Richard E. Turley Jr., “The Mountain Meadows Massacre”, Ensign, setembro de 2007, pp. 14–18.)

  40. Carta de Brigham Young para Isaac C. Haight, 10 de setembro de 1857, Letterbook, vol. 3, pp. 827–828, Arquivos do escritório de Brigham Young.

  41. Ronald W. Walker, Richard E. Turley Jr. e Glen M. Leonard, Massacre at Mountain Meadows, Nova York: Oxford University Press, 2008. Muito foi escrito sobre o Massacre de Mountain Meadows. Um estudo clássico é o de Juanita Brooks, The Mountain Meadows Massacre, Stanford, CA: Stanford University Press, 1950. Ver também Richard E. Turley Jr., “The Mountain Meadows Massacre”, Ensign, setembro de 2007, pp. 14–21; e BYU Studies 47, nº 3, 2008, uma edição dedicada especialmente sobre o tema está disponível em byustudies.byu.edu. Você vai acessar o site: http://byustudies.byu.edu.

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  42. Ver, por exemplo, Polly Aird, Mormon Convert, Mormon Defector: A Scottish Immigrant in the American West, 1848–1861, Norman, OK: Arthur H. Clark Company, 2009; e Walker, Turley e Leonard, Massacre at Mountain Meadows, pp. 42–43, 93. Instruções ambíguas dos líderes da Igreja também podem ter contribuído para alguns episódios de violência. (Ver, por exemplo, Ardis E. Parshall, “‘Pursue, Retake & Punish’: The 1857 Santa Clara Ambush”, Utah Historical Quarterly 73, nº 1, inverno de 2005, pp. 64–86.)

  43. George Q. Cannon para Brigham Young, 23 de março de 1876, Arquivos do escritório de Brigham Young . Por exemplo, em dezembro de 1875, o Salt Lake Daily Tribune fez uma matéria de meia coluna sobre o desaparecimento de Sam D. Sirrine, um policial de Salt Lake City. Sem apresentar qualquer evidência, o Tribune relatou que Sirrine deve ter sido morto (“sangue expiado”) pelos líderes da Igreja, como recompensa pela morte de um médico chamado J. King Robinson. Sirrine foi encontrado morando na Califórnia, alguns anos mais tarde. (“Sam D. Sirrine”, Salt Lake Daily Tribune, 5 de dezembro de 1875; “District Attorney Howard Discovers a Long Lost Danite”, Salt Lake Daily Herald, 17 de julho de 1877; “That Danite”, Salt Lake Daily Herald, 18 de julho de 1877.)

  44. Por exemplo, Franklin Buck, um garimpeiro não membro visitou várias cidades do sul de Utah em 1871. Ele escreveu: “Os mórmons são cristãos e nós somos pagãos. Em Pioche [Nevada] temos dois tribunais, com xerifes, policiais e uma cadeia para forçar as pessoas a fazerem o que é certo. Há brigas todos os dias e um homem morto todas as semanas. (…) Nessas cidades mórmons não há tribunais e nem cadeias. (…) Todas as dificuldades são resolvidas entre os élderes e o bispo. Em vez de todos os homens tentarem prender seu vizinho, todos se unem”. (Franklin A. Buck, A Yankee Trader in the Gold Rush: The Letters of Franklin A. Buck, Katherine A. White, comp., Boston: Houghton Mifflin Company, 1930, p. 235; ver também William Chandless, A Visit to Salt Lake; Being a Journey across the Plains and a Residence in the Mormon Settlements at Utah, Londres: Smith, Elder, and Co., 1857, p. 181; e Richard F. Burton, The City of the Saints, and Across the Rocky Mountains to California, Nova York: Harper & Brothers, 1862, pp. 214, 224.)

  45. Em resposta a algumas dessas alegações em 1889, a Primeira Presidência e o Quórum dos Doze Apóstolos escreveram: “Denunciamos o quanto foi inteiramente falsa a alegação que foi feita, de que nossa Igreja apoia ou é a favor da morte de pessoas que deixam a Igreja ou apostatam de suas doutrinas. Vemos uma punição dessa natureza por tal ato com extremo horror, isso é abominável para nós e está em oposição direta aos princípios fundamentais de nossa religião”. (Official Declaration, 12 de dezembro de 1889, em James R. Clark, comp., Messages of the First Presidency of the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 1833–1964, 6 vols. Salt Lake City: Bookcraft, 1966, vol. 3; p. 185.)

  46. Henry B. Eyring, Remarks, 11 de setembro de 2007, disponível em mormonnewsroom.org.

  47. Russell M. Nelson, “Bem-aventurados os pacificadores”, A Liahona, novembro de 2002, p. 41; citando Doutrina e Convênios 98:16 e Romanos 14:19.