Capelas — Lugares de reverência e adoração
Bispo Dean M. Davies
Primeiro conselheiro no Bispado Presidente
O Espírito do Senhor está em nossas capelas e vai nos inspirar se tivermos uma conduta reverente diante Dele.
Um colega meu, muito fiel ao evangelho, contou-me uma experiência que teve quando cumpria uma designação de guardar as cadeiras e limpar a capela da sede da estaca após uma conferência. Depois de meia hora fazendo isso, notou que era o único que ainda estava no local. Em vez de se sentir sozinho e se apressar para ir logo embora, ele percebeu que o mesmo sentimento de paz que sentiu durante a conferência permaneceu com ele e estava até aumentando.
Quando terminou a tarefa e saiu da igreja, meu amigo encontrou outro membro que parecia estar olhando fixamente para ele. Percebendo o que o meu amigo tinha feito, esse membro o cumprimentou com um aperto de mão e disse: “Irmão, o Senhor vê essas pequenas coisas que você faz por Ele e sorri lá de cima”.
Anos depois, quando servia como bispo, esse mesmo amigo estava novamente sozinho, certo dia, na capela de sua ala. Após apagar as luzes da capela, ele demorou um pouco para sair, vendo a luz do luar refletindo através das janelas sobre o púlpito.
Aquele sentimento de paz que lhe era familiar o invadiu novamente, então sentou-se num dos primeiros bancos e refletiu sobre a miríade de momentos sagrados que teve naquele ambiente — as muitas vezes que tinha observado os sacerdotes partirem o pão à mesa do sacramento, a ocasião em que sentiu o Espírito Santo com ele ao fazer um discurso na ala, as reuniões batismais que dirigiu, as belas apresentações do coro e os inúmeros testemunhos dos membros, que tanto lhe tocaram o coração. Sentado sozinho naquela capela escura, sentiu a grandiosidade e o impacto de todas essas experiências em sua vida e na vida dos membros e abaixou a cabeça em profunda gratidão.
Meu amigo tinha sido ensinado de maneira sábia e correta que os lugares mais sagrados da Terra são o templo e a nossa casa, mas, pelas experiências relatadas anteriormente, ele também entendeu a natureza sagrada de nossas capelas. Como elas são dedicadas pela autoridade do sacerdócio, esses edifícios tornam-se ambientes nos quais o Senhor concede revelações ao seu povo e nos quais “manifesta-se o poder da divindade” por meio das ordenanças que são realizadas ali (ver Doutrina e Convênios 84:20).
Juntos, a capela e a nossa casa trazem a alegria que foi prometida aos santos fiéis no Dia do Senhor. A capela se torna um lugar onde a adoração coletiva dos membros faz com que os corações [se entrelacem] em unidade e amor uns para com os outros” (Mosias 18:21) e o Salvador. Para demonstrarmos a gratidão e o respeito adequados pela efusão de bênçãos que recebemos em nossas capelas, devemos entrar nesses lugares de adoração com uma atitude de reverência profunda e sin cera.
O significado da reverência
Na cultura moderna da Igreja, a palavra reverência virou sinônimo da palavra silêncio. Embora ficar em silêncio ou falar baixinho com certeza sejam comportamentos adequados para as capelas, essa visão limitada de reverência não traduz o pleno significado da palavra. Reverência vem do verbo revereri, em latim, que significa “assombrar-se”.1 Seria possível encontrar um termo que descreva de maneira mais eloquente os sentimentos da alma quando realmente ponderamos o que o Salvador fez por nós?
Isso me lembra a letra daquele belo hino que cantamos em nossas capelas: “Assombro me causa o amor que me dá Jesus”.2 Esse profundo sentimento de gratidão, louvor e assombro é a essência da reverência e nos impele a evitar qualquer tipo de linguagem ou comportamento que venha diminuir esses sentimentos em nós ou em outras pessoas.
Fotografia de uma mulher no púlpito: Tiffany Myloan Tong
As capelas e o Dia do Senhor
Com a revelação moderna, sabemos que uma parte fundamental da adoração no Dia do Senhor é “[ir] à casa de oração e [oferecer nossos] sacramentos no (…) dia santificado [do Senhor]” (Doutrina e Convênios 59:9). As “casas de oração” em que nos reunimos no Dia do Senhor são as nossas capelas sagradas.
O presidente Russell M. Nelson nos ajudou a entender melhor a estreita relação entre nossa reverência pelo Salvador e nossos sentimentos em relação ao Dia Santificado. Ao relatar sua própria experiência em honrar o Dia do Senhor, o presidente Nelson contou: “Aprendi nas escrituras que minha conduta e minha atitude no Dia do Senhor constituíam um sinal entre mim e meu Pai Celestial”.3
Assim como nossa conduta e atitude no Dia do Senhor são um sinal da nossa devoção a Deus, nossa conduta, nossa atitude e até a maneira como nos vestimos enquanto estamos em Sua casa de oração podem também indicar o grau de reverência que sentimos pelo Salvador.
Capelas e ordenanças
O élder Jeffrey R. Holland, do Quórum dos Doze Apóstolos, ampliou nosso entendimento desse conceito ao declarar:
“Além de reservar tempo para que haja mais ensino do evangelho no lar, nosso serviço dominical reformulado (…) [faz com] que o sacramento da ceia do Senhor seja apropriadamente enfatizado como o ponto central reconhecido e sagrado de nossa experiência semanal de adoração. Da forma mais pessoal possível, devemos nos lembrar de que Cristo morreu em decorrência de um coração quebrantado por carregar completamente sozinho em Seus ombros os pecados e as tristezas de toda a família humana.
Uma vez que nós contribuímos para esse inevitável fardo, tal momento é digno de respeito”.4
É importante lembrar que o lugar designado para esse momento sublime de respeito para com o Salvador é a capela. Além da reverência que sentimos durante a ordenança semanal do sacramento, nossa reverência e respeito são ampliados quando consideramos as outras ordenanças do e as bênçãos realizadas na capela, como as de dar um nome e uma bênção a uma criança, batismos e confirmações, ordenações ao sacerdócio e designações de chamados. Cada uma dessas ordenanças e bênçãos pode proporcionar uma efusão do Espírito Santo se os participantes e os que estão presentes mostram uma atitude de reverência.
Fotografia: James Iliff Jeffery
Capelas e adoração
O Dia do Senhor nos dá a oportunidade de adorar ao Senhor em nosso estudo em casa e com a congregação durante o sacramento e outras reuniões. Desde o início da Igreja, os santos sempre gostaram de se reunir para socializarem e criarem laços de irmandade. Nossas capelas até são projetadas com espaço para acomodar essas atividades durante a semana. Contudo, nunca devemos perder de vista o propósito principal desses edifícios, que é o de fornecer um lugar de adoração.
Adoração e reverência estão intimamente relacionadas entre si. “Quando adoramos a Deus, aproximamo-nos Dele com amor, humildade e adoração reverente. Nós O reconhecemos e aceitamos como Rei soberano, o Criador do universo, nosso amado e infinitamente amoroso Pai.”t5
Esse propósito principal de adoração deve, portanto, influenciar nossa conduta nas capelas, mesmo quando estivermos participando de atividades sociais ou recreativas. Deve-se tomar todo o cuidado para que qualquer tipo de desarrumação, lixo ou dano seja reduzido ao mínimo em quaisquer das dependências da capela após as atividades da Igreja e, caso isso ocorra, a limpeza ou o conserto deve ser feito imediatamente.
Deve-se também ensinar às crianças e aos jovens que a reverência e o cuidado com a capela vão além das reuniões de domingo. A participação dos membros na limpeza da capela — especialmente dos pais e filhos em conjunto — é um meio maravilhoso de desenvolver um senso de reverência por esses edifícios sagrados. Como mostrou a experiência do meu amigo ao guardar as cadeiras e arrumar a capela e o salão cultural após uma conferência de estaca, o simples ato de cuidar da capela é uma forma de adorar e convidar o Espírito a estar presente no local.
Fotografia de membros do lado de fora de uma capela: Massimo Criscione
As capelas e o Salvador
Sob a orientação profética do presidente Nelson, estão sendo feitos esforços significativos para garantir que o nome de Jesus Cristo não seja jamais excluído quando nos referimos à Sua Igreja. De maneira semelhante, não devemos permitir que o Salvador seja movido de Seu lugar central em nossa adoração, inclusive em nossos locais de adoração.
Estamos acostumados a nos referir ao templo como a casa do Senhor, que é uma definição acurada e importante. Contudo, talvez estejamos mais propensos a esquecer que cada uma de nossas capelas foi dedicada pela autoridade do sacerdócio como um local onde o Espírito do Senhor pode habitar e no qual os filhos de Deus, tanto membros como não membros, podem vir “a ter conhecimento de seu Redentor” (Mosias 18:30).
A iniciativa anunciada recentemente de decorar as capelas com quadros que respeitosamente retratam o Salvador e os acontecimentos divinos de Sua vida mortal e pós-mortal tem o propósito de atrair nossos olhos, nossa mente e nosso coração para mais perto Dele. Ao entrar nessas casas de oração para participar de reuniões ou atividades, pedimos encarecidamente que parem, observem e contemplem essas pinturas sagradas, e que as vejam com seus filhos, permitindo que eles aumentem seus sentimentos de adoração e reverência a Deus.
O profeta Habacuque, do Velho Testamento, declarou: “O Senhor está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra” (Habacuque 2:20). Que nós também nos lembremos que o Espírito do Senhor está em nossas capelas e vai permear nosso coração para que assim tenhamos reverência diante Dele.