2020
Paralítica, mas não pessimista
Fevereiro de 2020


Jovens adultos

Paralítica, mas não pessimista

A autora vive em Córdoba, Argentina.

Depois que levei um tiro e fiquei paralítica, minha fé em Jesus Cristo fez com que o impossível se tornasse possível.

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Photograph of Julieta

Desde pequena, adoro esportes, principalmente futebol. Jogava sempre que podia e sonhava em competir um dia pela Argentina nas Olimpíadas ou em outros campeonatos mundiais.

Meus sonhos foram destruídos um dia, quando tinha 15 anos. Tinha acabado de visitar minha professora do seminário que estava doente e voltava para casa de bicicleta quando duas gangues do meu bairro iniciaram um tiroteio. Uma bala perdida me atingiu nas costas.

Quando acordei no hospital no dia seguinte, soube que estava paralisada da cintura para baixo.

A pergunta a fazer quando coisas ruins acontecem

Enquanto estava me recuperando, familiares e amigos me perguntavam como eu estava. Podia ver que todos se sentiam mal por mim, então eu os consolava dizendo que estava bem. Consolar os outros me ajudou, mas eu sabia que não voltaria a andar e precisava aprender a conviver com a paralisia.

Na época, comecei a frequentar o seminário e estava voltando a ser ativa na Igreja. O seminário foi o pilar que me ajudou a retornar e não ficar com raiva do Pai Celestial pelo que havia acontecido comigo.

No seminário, nossa professora nos ensinou que, quando coisas ruins acontecem, não devemos perguntar: “Por que isso aconteceu comigo?” Ela disse que a pergunta a fazer é: “O que posso aprender com isso?”

Era difícil seguir em frente e sempre ser positiva, mas a pergunta de minha professora do seminário me deu muita força. Quando perdia a esperança e quando as dúvidas enchiam minha mente, sempre me lembrava dessa pergunta: “O que posso aprender?” Isso me ajudava a acordar todos os dias e me amparava quando sentia vontade de desistir.

Quanto ao homem que atirou em mim, o Pai Celestial me abençoou para que não sentisse ressentimento dele. Ele acabou sendo julgado e foi condenado à prisão. Enquanto estava lá, ele me escreveu uma carta pedindo perdão e me dizendo que havia mudado de vida. Respondi-lhe que não sentia nenhum rancor e que estava feliz por ele ter mudado.

Encontrar uma nova paixão

Por alguns anos depois de levar o tiro, não sentia vontade de fazer muita coisa. Sentia falta de praticar esportes e não sabia que muitos esportes tinham sido adaptados para pessoas com deficiência. Quando descobri isso, meu entusiasmo por esportes voltou. Se um esporte era novo para mim, eu tentava aprender. E dedicava o mesmo entusiasmo que dedicava ao futebol antes de ficar paraplégica.

Logo encontrei um esporte que amava tanto quanto o futebol — basquete em cadeira de rodas. Por fim, depois de jogar e treinar muito, fui selecionada para representar a Argentina internacionalmente. Adoro o alto nível de competição entre equipes internacionais rivais.

Joguei no time feminino de basquete em cadeira de rodas nacional nos Jogos Para-Sul-Americanos no Chile em 2014, durante os quais conquistamos uma medalha de ouro. Depois, competimos no Campeonato da América do Sul na Colômbia, conquistando uma medalha de prata em 2015. Também participei dos Jogos Parapan-Americanos no Canadá em 2015, nos quais nos classificamos para os Jogos Paralímpicos de 2016 no Rio de Janeiro, Brasil. Mais tarde, depois de nos classificarmos para a Copa do Mundo, jogamos em Hamburgo, Alemanha, em 2018. E, em agosto de 2019, jogamos nos Jogos Parapan-Americanos em Lima, Peru.

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Julieta playing basketball

As bênçãos que me ajudam a perseverar

Às vezes, ainda fico desanimada e todos os dias têm seus desafios que preciso superar. Mas agradeço ao Pai Celestial pela família e pelos amigos maravilhosos que Ele me deu. Ele trouxe muitas pessoas importantes para minha vida que me ajudaram a enfrentar essa difícil provação. O apoio da família é fundamental para superar os desafios — não apenas nossos desafios físicos, mas também mentais, emocionais e espirituais.

Graças ao evangelho em minha vida, reconheço as muitas bênçãos que o Pai me deu e continua a me dar. Sei que Ele me ama. Sem a fé Nele e em Jesus Cristo, eu não conseguiria suportar esse desafio.

Sim, tenho que passar a vida como cadeirante, mas, mesmo com minha cadeira de rodas, ainda consegui realizar muitos de meus sonhos de infância. Digo às pessoas: “Acreditem no Pai Celestial. Ele está conosco. Com a ajuda Dele, podemos superar nossos desafios. Não percam a fé. Permaneçam firmes no evangelho. Estabeleçam metas e as alcançarão. O Pai Celestial vai ajudá-los”.

Além de me apoiar em meus desafios e minhas metas, minha fé também me ajuda a viver os princípios do evangelho de Jesus Cristo. Participar de campeonatos pode trazer tentações, mas manter os princípios do evangelho e meus padrões em mente me ajuda a fazer boas escolhas.

Tento ajudar outras pessoas por meio de meu exemplo. Não bebo, não fumo e não faço outras coisas que alguns atletas fazem. Pode ser difícil compartilhar meu testemunho ou as escrituras, mas tento ensinar os outros pelas coisas que faço e também pelas que não faço.

O Pai Celestial tem todas as respostas

Às vezes, ficamos bravos com o Pai Celestial pelas coisas difíceis que acontecem conosco ou com as pessoas a quem amamos, mas, mesmo que nem sempre tenhamos todas as respostas para nossas provações, Ele tem.

O Pai Celestial não nos dá desafios que não podemos superar. Como minha professora do seminário disse, às vezes coisas ruins acontecem por uma razão. E às vezes essas coisas difíceis podem acabar abençoando a nós e aos outros. Se mantivermos nossa fé em meio a provações, nossos exemplos de fé podem fortalecer outras pessoas que precisam de ajuda para enfrentar suas provações e seguir adiante.