2017
Oito Estratégias para Ajudar os Filhos a Rejeitar a Pornografia
August 2017


Oito Estratégias para Ajudar os Filhos a Rejeitar a Pornografia

A autora mora em Utah, EUA.

Adaptado de “Arm Your Kids for the Battle” [Arme Seus Filhos para a Batalha], BYU Magazine, primavera de 2015.

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little boy with armor

Gravuras: bagotaj/bokan76/ikryannikovgmailcom/Getty Images e Andrey_Kuzmin/Shutterstock

As estatísticas podem deixar os pais estarrecidos. A empresa Extremetech.com estima que cerca de 30% de todos os dados transferidos pela Internet sejam de pornografia.1 Ela é encontrada em literalmente centenas de milhões de páginas da Internet, inclusive em gigantes da mídia social como o Facebook, o Twitter e o YouTube. É acessível por televisão, computadores, tablets e smartphones.

“O material a que uma criança é exposta simplesmente traumatiza seu tenro e frágil cérebro”, salienta o Dr. Jill C. Manning, terapeuta, que frequentemente dá palestras sobre o impacto da pornografia no casamento e na família.

Mas há esperança.

Mesmo com a aparente onipresença da pornografia, os pais têm a capacidade de proteger os filhos e de prepará-los para rejeitar a pornografia quando a encontrarem.

Aqui estão oito estratégias de líderes da Igreja e especialistas para ajudar os pais a fortificar a família.

1. Limitar o Acesso e Regras Familiares

Comecem pelas defesas externas. “Salvaguardamos nossos filhos até o momento em que possam fazê-lo por si mesmos”, ressalta Jason S. Carroll, professor de vida familiar na Universidade Brigham Young. O tronco cerebral, que abriga os centros de prazer do cérebro, desenvolve-se em primeiro lugar, explica ele. Somente mais tarde a capacidade de raciocínio e tomada de decisões do córtex frontal se desenvolve plenamente. “Assim sendo, as crianças têm o pedal do acelerador sem o pedal do breque”, diz ele. Portanto, os filtros externos e o monitoramento são essenciais para os jovens.

Algumas medidas e regras simples podem proteger as crianças (e os adultos) de exposição não intencional e ajudá-las a pensar duas vezes em relação ao conteúdo que decidem ver:

  • Usem filtros no computador, no roteador e nos provedores de serviço de Internet.

  • Habilitem o controle pelos pais e o controle de conteúdo por intermédio dos provedores de TV a cabo e serviços de mídia online.

  • Configurem restrições de conteúdo em dispositivos móveis.

  • Mantenham os computadores e tablets em áreas de uso compartilhado.

  • Peçam às crianças e aos adolescentes que lhes entreguem seus celulares e dispositivos móveis à noite.

  • Estabeleçam uma política de livro aberto. Os pais podem ver as mensagens de texto e as contas de mídia social a qualquer momento.

Ensinem às crianças o que fazer no caso de encontrarem pornografia: (1) fechem os olhos e desliguem o aparelho, (2) contem para um adulto e (3) pensem em outra coisa. Assegurem-nas de que elas nada fizeram de errado e que não serão punidas.

2. Pregar a Respeito de Cristo

“Filtros são ferramentas úteis, mas o maior filtro do mundo, e o único que vai funcionar no final, é o filtro pessoal interno que advém de um profundo e firme testemunho do amor de nosso Pai Celestial e do sacrifício expiatório do Salvador por nós”, afirmou Linda S. Reeves, segunda conselheira na presidência geral da Sociedade de Socorro.2

Para ajudar as crianças a desenvolverem esse filtro interno, a irmã Reeves aponta para o conselho de Néfi: “Falamos de Cristo, regozijamo-nos em Cristo, pregamos a Cristo, profetizamos de Cristo (…) para que nossos filhos saibam em que fonte procurar a remissão de seus pecados” (2 Néfi 25:26).

Os especialistas concordam. Os estudos confirmam que a religiosidade no lar, associada a um “estilo caloroso de criação dos filhos”, tem um efeito protetor contra a pornografia.3

“A melhor medida preventiva e reparadora em relação à pornografia é o verdadeiro ensino do evangelho no lar”, diz Timothy Rarick, professor de criação de filhos da Universidade Brigham Young–Idaho e membro da junta consultiva da United Families International. “A melhor coisa que podemos fazer é ajudar nossos filhos a estabelecerem sua própria comunicação com o céu.”

3. Ensinar as Crianças a Filtrar Internamente

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parents with son

Os pais podem ensinar estratégias específicas para filtrar a mídia por meio de padrões do evangelho. Para o Dr. Manning, a décima terceira regra de fé é um filtro essencial para todas as escolhas de mídia.

“‘Cremos em ser honestos, verdadeiros, castos, benevolentes, virtuosos, e em fazer o bem a todos os homens [e mulheres]; (…) se houver qualquer coisa virtuosa, amável, de boa fama ou louvável, nós a procuraremos’ (Regras de Fé 1:13). Há muito material nos últimos dias que não se alinha com esses critérios. E se o que encontrarmos não se enquadrar, precisamos continuar a procurar”, ressalta o Dr. Manning.

Mas é esse empenho que distingue os santos dos últimos dias dos demais, como salientou o Presidente Thomas S. Monson: “À medida que o mundo se afasta cada vez mais dos princípios e das diretrizes que nos foram dados por um amoroso Pai Celestial, destacamo-nos da multidão por sermos diferentes. (…) Seremos diferentes ao decidirmos não encher a mente com as opções da mídia que são vulgares e degradantes e que afastam o Espírito de nosso lar e de nossa vida”.4

4. Ensinar Sexualidade Saudável aos Filhos

O princípio de “oposição em todas as coisas” (2 Néfi 2:11) se aplica à pornografia. Não basta rotular a pornografia como algo ruim. Os pais também precisam ensinar aos filhos o que é bom.

“Um dos meios mais poderosos de salvaguardar e proteger nossos jovens é ensinar-lhes a sexualidade no lar, começando cedo”, diz o Dr. Manning. “Nossos jovens estão sofrendo porque estão crescendo num vácuo de mensagens nocivas com bem pouca exposição a mensagens que estejam dentro da estrutura do evangelho.”

Mark H. Butler, professor de vida familiar da Universidade Brigham Young, recomenda uma explicação clara e direta: “O ciclo de resposta sexual existe naturalmente em nós, seres humanos. O desejo e o impulso que sentimos foram dons concedidos por Deus que nos abençoam, atraindo-nos de modo natural e afetuoso para o sexo oposto, rumo ao casamento e à vida em família”.

Conversas adequadas à faixa etária sobre a sexualidade sadia podem começar bem cedo. O professor Carroll salienta que conversas sobre as maneiras adequadas e impróprias de tocar no corpo e sobre privacidade pessoal, com a terminologia correta para as partes do corpo, podem ser iniciadas desde tenra idade. Aos 8 anos de idade, a criança é capaz de adquirir entendimento básico do sexo em seu contexto físico, espiritual, emocional e relacional, explica ele.

Os jovens também apreciam a linguagem correta e direta. Um rapaz disse: “Se não formos diretos e claros, as pessoas podem realmente entender errado. Tive um monte de aulas sobre a lei da castidade antes de saber que estávamos falando de sexo”.

O professor Carroll diz que os pais devem prestar atenção no contexto dessas conversas. “Façam todo o possível para não ritualizar essas conversas”, diz ele. “Levamos os filhos para jantar fora, vestimos roupas de domingo ou conversamos no estacionamento do templo”, conta ele. Mas se os filhos captarem a mensagem de que só podemos conversar sobre sexo nessas circunstâncias, talvez eles não saibam como recriar essas situações quando tiverem dúvidas.

Em vez disso, os pais devem manter diálogo constante e criar oportunidades para que os filhos façam perguntas onde quer que as tenham. “Se vocês conversarem sentados no chão do quarto ou na caminhonete da família ou colhendo morangos, eles saberão como voltar a fazê-lo”, diz Carroll.

“A experiência me ensinou que os adolescentes mais sexualmente ativos costumam ser os menos informados”, salienta Bradley R. Wilcox, professor adjunto da BYU. “Os jovens que obtêm respostas dos pais desde bem cedo na vida geralmente são aqueles que se abstêm de experiências sexuais.”

5. Destruir o Mito da Pornografia

O Presidente Gordon B. Hinckley (1910–2008) declarou claramente a verdade sobre a pornografia. “É algo pernicioso”, ensinou ele. “É sórdido e abjeto. É envolvente e vicia. Pode levar um rapaz ou moça à destruição, e isso é certo, não há como negar. A pornografia é um negócio vil e desprezível que enriquece quem a promove, mas empobrece e arrasa as vítimas.”5

“O uso da pornografia por adolescentes e jovens adultos geralmente resulta numa visão distorcida da sexualidade e de seu papel na promoção de relacionamentos pessoais sadios”, salienta a Associação Americana de Pediatras. “Essas distorções incluem a superestimação da prevalência da atividade sexual na comunidade, a crença de que a promiscuidade sexual é normal e a crença de que a abstinência sexual é prejudicial à saúde.”6

Nas conversas sobre pornografia, os pais devem salientar que a pornografia é ilusória em todos os níveis. As condutas mostradas na pornografia não são normais nem retratam o que deve ser previsto ou esperado num relacionamento sadio. “A pornografia só é atraente enquanto se aceita o mito da pornografia”, diz o professor Carroll.

6. Mude as Conversas sobre o Problema

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Os especialistas e os líderes da Igreja nos advertem a não concluir demasiadamente rápido que qualquer envolvimento com a pornografia obrigatoriamente indica vício.

“Nem todos os que usam deliberadamente a pornografia vão se viciar nela”, salienta o Élder Dallin H. Oaks, do Quórum dos Doze Apóstolos. “De fato, a maioria dos rapazes e das moças que têm problemas com a pornografia não são viciados. Isso é uma distinção bem importante a ser feita — não apenas para os pais, cônjuges e líderes que desejam ajudar, mas também para os que se debatem com esse problema.”7

“Os rapazes e as moças se envolvem com a pornografia por curiosidade, pelo fácil acesso e, em essência, por pura imaturidade”, declara o professor Carroll. “Todos sentimos a força do ciclo de resposta sexual desengatilhado na puberdade, muito antes de termos a maturidade emocional ou espiritual para entendermos plenamente do que se trata.”

Richard Neitzel Holzapfel, professor de história da Igreja, na BYU, e consultor estudantil do clube de alunos Unraveling Pornography [Desmascarar a Pornografia], observa que “o problema é real e tem consequências terríveis, mas as generalizações sobre o problema tendem a empurrá-lo mais profundamente para dentro da alma daqueles que se debatem com ele”.

O Élder Oaks salienta que o problema com a pornografia pode variar “da exposição inadvertida ao uso ocasional ou intencional e repetitivo, passando para o uso intenso e o uso compulsivo (vício). (…) Se a conduta for incorretamente classificada como vício, o usuário pode achar que perdeu o arbítrio e a capacidade de superar o problema. (…) Por outro lado, um entendimento mais claro da profundidade do problema — que talvez não esteja tão enraizado ou seja tão extremo quanto se temia — pode proporcionar esperança e maior capacidade de (…) arrepender-se”.8

Ao lidar com o problema, o professor Butler sugere que os pais adotem uma abordagem do tipo triagem: Há quanto tempo isso vem acontecendo? Com que frequência eles a veem? De que modo a estão acessando? Em seguida, os pais podem trabalhar com os jovens para determinar o devido nível de ação.

“Entenda a pessoa e quem ela é”, diz o professor Holzapfel. “Qual é a profundidade do problema? O que está realmente acontecendo? Por que motivo eles estão vendo pornografia e como podemos abordar os problemas mais profundos?”

7. Ensinar o Gerenciamento Emocional

A abordagem dos problemas mais profundos pode ser um ponto-chave na prevenção dos problemas com a pornografia também, diz Nathan Acree, um terapeuta que trabalha em Utah. “Além da curiosidade natural, a pornografia geralmente é usada como um meio de lidar com as emoções, particularmente as avassaladoras.”

O professor Butler acrescenta: “Em algum momento, o rapaz ou a moça tem uma dificuldade ou uma experiência psicológica, relacional ou espiritual perturbadora”. Ele diz que as experiências negativas podem levar o cérebro do adolescente a reverter isso para “experiências agradáveis”, como ver pornografia e engajar-se em condutas associadas como a masturbação. As emoções criadas nessas condutas então substituem ou mascaram as emoções perturbadoras. E nisto está o perigo: “A pessoa passa de uma experiência agradável para o início de uma orientação de dependência psicológica. Ela passa assim a usar a conduta como um modo de lidar com a vida”.

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O irmão Acree diz que os pais devem ensinar aos filhos que tanto as emoções agradáveis quanto as desagradáveis são normais e que não há problema em ter sentimentos negativos como tristeza, raiva, frustração ou mágoa. Os pais geralmente sentem a necessidade de controlar as emoções dos filhos, mas o fato de permitirem que eles as vivenciem e aprendam a lidar com os sentimentos negativos desenvolve um conjunto essencial de habilidades.

Se houver problemas com a pornografia, os pais devem tomar cuidado para não aumentar o fardo emocional do filho fazendo com que se sinta envergonhado. James M. Harper, professor de vida familiar na BYU, notou que, embora o sentimento de culpa seja uma reação natural aos erros que pode motivar a mudança, a vergonha é um sentimento destrutivo que pode levar a um sentimento de desesperança.

Em outras palavras, criar ou exacerbar o sentimento de vergonha num filho prejudica a capacidade dele tanto de desenvolver respostas emocionais positivas quanto de reconhecer a influência do Espírito, que no final é o aliado mais poderoso na prevenção e recuperação no uso da pornografia.

Um rapaz que tinha problemas com a pornografia lembra claramente como seus pais reagiram quando suas dificuldades se tornaram conhecidas: “Minha mãe se exaltou muito, gritando e berrando, o que me fez sentir pior a respeito do problema em vez de dar-me esperança de superá-lo”, conta ele. “Quem mais me ajudou foi meu pai, dizendo repetidas vezes o quanto me amava.”

“Não os condenem”, pede o Élder Oaks. “Não são pessoas más ou sem esperança. São filhos e filhas de nosso Pai Celestial.”9

8. Ensinar Que a Expiação do Salvador Funciona

Em discursos, lições e material de leitura, os jovens recebem a clara mensagem de que a pornografia é um mal perigoso, mas precisamos dar mais ênfase à doutrina da Expiação de Jesus Cristo.

No que diz respeito aos jovens, o professor Butler acredita que o cérebro do adolescente pode ser um dos principais motivos pelos quais devemos ensinar-lhes a respeito da Expiação. “O cérebro do adolescente não está plenamente formado, e isso resulta em certos problemas como o controle dos impulsos e a falta de visão do futuro”, explica ele. “Um adolescente espiritualmente sincero e em franco desenvolvimento pode tornar-se incapaz de progredir pelo sentimento avassalador de culpa que tem ao deparar-se com fraquezas contra as quais esteja particularmente vulnerável devido a seu cérebro ainda adolescente. É vital, com o ensino dos mandamentos, que ensinemos aos jovens a Expiação — que ela existe para o propósito de desenvolvermos paciência e persistência na vida.”

“Todos precisamos da Expiação de Jesus Cristo. (…) Por meio do devido e completo arrependimento, [todos] podem tornar-se limpos, puros e dignos de todos os convênios e bênçãos do templo prometidos por Deus”, diz o Élder Oaks.10 Isso inclui aqueles que já fizeram uso da pornografia.

E esta é uma mensagem de esperança: há muito que os pais podem fazer a fim de preparar os filhos para rejeitarem a pornografia, mas, quando eles vierem a tropeçar, a infinita Expiação do Salvador torna a mudança e o arrependimento possíveis.

“Isso significa que, não importa o que aconteça, o Pai Celestial nunca vai deixar de amá-los, e nós, seus pais, nunca vamos deixar de amá-los”, salienta o professor Rarick. Para um filho, não há esperança maior que essa.

Notas

  1. Sebastian Anthony, “Just How Big Are Porn Sites?”, ExtremeTech, 4 de abril de 2012, extremetech.com.

  2. Linda S. Reeves, “Proteção contra a Pornografia — Um Lar Centralizado em Cristo”, A Liahona, maio de 2014, p. 16.

  3. Ver Sam A. Hardy e outros, “Adolescent Religiousness as a Protective Factor against Pornography Use”, Journal of Applied Developmental Psychology, vol. 34, maio–junho de 2013, pp. 131–139, sciencedirect.com. O autor também entrevistou o pesquisador chefe.

  4. Presidente Thomas S. Monson, “Ser um Exemplo e uma Luz”, A Liahona, novembro de 2015, p. 88.

  5. Gordon B. Hinckley, “A Paz de Teus Filhos Será Abundante”, A Liahona, janeiro de 2001, p. 62.

  6. “The Impact of Pornography on Children”, American College of Pediatrics, junho de 2016, acpeds.org.

  7. Dallin H. Oaks, “Recuperar-se da Armadilha da Pornografia”, A Liahona, outubro de 2015, p. 52.

  8. Dallin H. Oaks, “Recuperar-se”, pp. 52–53.

  9. Dallin H. Oaks, “Recuperar-se”, p. 55.

  10. Ver Dallin H. Oaks, “Recuperar-se”, p. 55.