2015
Lembrar-nos Daquele em Quem Confiamos
Novembro de 2015


Lembrar-nos Daquele em Quem Confiamos

Nossa esperança de viver novamente com o Pai depende da Expiação de Jesus Cristo.

Quando eu tinha 9 anos de idade, minha avó materna, com os cabelos brancos e um metro e meio de altura, veio para nossa casa passar algumas semanas conosco. Certa tarde, enquanto ela estava lá, meus dois irmãos mais velhos e eu decidimos cavar um buraco em um campo do outro lado da rua de nossa casa. Não sei por que fizemos aquilo. Às vezes, meninos cavam buracos. Ficamos um pouco sujos, mas nada que nos traria muitos problemas. Outros meninos da vizinhança viram como era emocionante cavar um buraco e começaram a ajudar. Então todos nós nos sujamos ainda mais. O solo era duro, assim, arrastamos uma mangueira e colocamos um pouco de água no fundo do buraco a fim de amolecer a terra. Nós nos sujamos com um pouco de lama ao cavar, mas o buraco, de fato, ficou mais fundo.

Alguém do grupo decidiu que deveríamos transformar nosso buraco em uma piscina, então enchemos o buraco com água. Sendo o mais jovem e querendo me sentir parte do grupo, fui convencido a pular no buraco para testá-lo. Dessa vez eu realmente me sujei. Não comecei a brincadeira planejando ficar coberto de lama, mas foi como fiquei no final.

Quando começou a esfriar, atravessei a rua com a intenção de entrar em casa. Minha avó me viu na porta da frente e recusou-se a deixar-me entrar. Ela disse que, se me deixasse entrar, eu iria sujar de lama a casa que ela havia acabado de limpar. Então fiz o que qualquer criança de 9 anos faria nessa situação e corri até a porta dos fundos, mas ela foi mais rápida do que eu esperava. Fiquei furioso, bati o pé e exigi entrar em casa, mas a porta continuou fechada.

Eu estava molhado, cheio de lama, com frio e, em minha imaginação de criança, pensei que morreria no meu próprio quintal. Por fim, perguntei à minha avó o que precisava fazer para entrar em casa. Antes que me desse conta, eu estava de pé no quintal enquanto minha avó me lavava com uma mangueira. Após o que pareceu ser uma eternidade, minha avó declarou que eu estava limpo e deixou que eu entrasse em casa. Estava quente dentro de casa e eu pude vestir roupas secas e limpas.

Tendo em mente essa parábola da vida real, ponderem as seguintes palavras de Jesus Cristo: “E nada que seja imundo pode entrar em seu reino; portanto, nada entra em seu descanso, a não ser aqueles que tenham lavado suas vestes em meu sangue, por causa de sua fé e do arrependimento de todos os seus pecados e de sua fidelidade até o fim”.1

Ficar do lado de fora de casa enquanto minha avó me dava um banho com a mangueira foi desagradável e incômodo. Seria algo eternamente trágico não termos mais a oportunidade de voltar a nosso Pai Celestial e estar com Ele devido à nossa decisão de permanecer ou nos sujar no buraco de lama do pecado. Não devemos nos enganar a respeito do que é necessário para voltar à presença de nosso Pai Celestial e com Ele permanecer. Precisamos ser limpos.

Antes de vir a esta Terra, participamos de um grande conselho como filhos e filhas espirituais de Deus.2 Cada um de nós prestou atenção e ninguém cochilou. Naquele conselho, nosso Pai Celestial apresentou um plano. Uma vez que o plano preservava nosso arbítrio e exigia que aprendêssemos por experiência própria e não apenas por Sua experiência, Ele sabia que cometeríamos pecados. Ele também sabia que o pecado nos tornaria impuros e incapazes de retornar à Sua presença, pois onde Ele habita é ainda mais limpo do que uma casa limpa por minha avó.

Pelo fato de nosso Pai Celestial nos amar e ter como Seu propósito “levar a efeito [nossa] imortalidade e vida eterna”,3 Seu plano incluiu o papel de alguém que poderia nos ajudar a tornar-nos limpos, não importando o quanto estivéssemos sujos. Quando nosso Pai Celestial anunciou a necessidade de um Salvador, creio que todos nós nos viramos e olhamos para Jesus Cristo, o Primogênito em Espírito, Aquele que tinha progredido a ponto de tornar-Se semelhante ao Pai.4 Acho que todos nós sabíamos que tinha de ser Ele, que nenhum de nós poderia fazê-lo, mas que Ele poderia e que Ele o faria.

No Jardim do Getsêmani e na cruz no Gólgota, Jesus Cristo sofreu tanto física quanto espiritualmente, tremeu por causa da dor, sangrou por todos os poros, suplicou ao Pai que afastasse Dele a taça amarga5 e ainda assim dela bebeu.6 Por que ele fez isso? Em Suas palavras, Ele queria glorificar Seu Pai e terminar Seus “preparativos para os filhos dos homens”.7 Ele queria guardar Seu convênio e tornar possível nosso retorno ao lar. O que Ele nos pede que façamos em troca? Ele simplesmente roga que confessemos nossos pecados e nos arrependamos para não termos de sofrer como Ele sofreu.8 Ele nos convida a nos tornarmos limpos para não sermos deixados fora da casa de nosso Pai Celestial.

Embora evitar o pecado seja o melhor padrão a se escolher na vida, quando levamos em consideração a eficácia da Expiação de Jesus Cristo, não importa quais pecados tenhamos cometido ou se sentimos que chegamos ao fundo do poço. Não importa se estamos envergonhados por causa dos pecados que, como o Profeta Néfi disse, “tão facilmente [nos] envolvem”.9 Não importa que certa vez tenhamos trocado nossa primogenitura por um prato de lentilhas.10

O que realmente importa é que Jesus Cristo, o Filho de Deus, sofreu “dores e aflições e tentações de toda espécie; (…) para que [soubesse], segundo a carne, como socorrer seu povo”.11 O que de fato importa é que Ele estava disposto a condescender,12 a vir para esta Terra, descer “abaixo de todas as coisas”13 e sofrer “adversidades mais poderosas do que qualquer outro homem” jamais poderia sofrer.14 O que verdadeiramente importa é que Cristo está defendendo nossa causa perante o Pai, “dizendo: Pai, contempla os sofrimentos e a morte daquele que não cometeu pecado, em quem te rejubilaste; (…) Portanto, Pai, poupa estes meus irmãos que creem em meu nome, para que venham a mim e tenham vida eterna”.15 Isso é o que realmente importa e o que deve trazer a todos nós esperança e determinação renovadas para nos esforçarmos novamente, pois Ele não Se esqueceu de nós.16

Testifico que o Salvador nunca Se afastará de nós ao buscarmos a Ele humildemente a fim de arrepender-nos. Ele nunca achará que somos um caso perdido; Ele nunca dirá “Ah, você de novo não”, e nunca nos rejeitará por não conseguir entender como é difícil evitar o pecado. Ele compreende tudo perfeitamente, inclusive os sentimentos de pesar, vergonha e frustração que são as consequências inevitáveis do pecado.

O arrependimento é real e eficaz. Não é uma experiência fictícia ou o resultado “de uma mente desvairada”.17 Tem o poder de aliviar os fardos e substituí-los por esperança. O arrependimento pode conduzir a uma vigorosa mudança de coração que resulta em não termos “mais disposição para praticar o mal, mas, sim, de fazer o bem continuamente”.18 O arrependimento necessariamente não é fácil. As coisas de significado eterno raramente o são. Mas o resultado vale a pena. Como o Presidente Boyd K. Packer testificou em seu último discurso para os Setenta da Igreja: “A ideia é esta: a Expiação não deixa rastro algum, nem vestígio. Aquilo que ela corrige é corrigido. (…) A Expiação não deixa nenhum rastro, nem vestígio. Ela simplesmente cura e aquilo que foi curado permanece curado”.19

Do mesmo modo, nossa esperança de viver novamente com o Pai depende da Expiação de Jesus Cristo; depende da disposição do único Ser, sem pecados, de tomar sobre Si, contrastando com o fato da justiça não ter exigências sobre Ele, o peso coletivo das transgressões de toda a humanidade, inclusive os pecados que alguns filhos e filhas de Deus escolhem desnecessariamente sofrer por conta própria.

Sendo membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, atribuímos maior poder à Expiação do Salvador do que a maioria das outras pessoas porque sabemos que, se fizermos convênios, arrependermo-nos continuamente e perseverarmos até o fim, Ele nos fará coerdeiros com Ele20 e, assim como Ele, receberemos tudo o que o Pai possui.21 Essa é uma doutrina extraordinária e, ainda assim, verdadeira. A Expiação de Jesus Cristo torna o convite do Salvador “[sejais], pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus”22 perfeitamente possível, em vez de frustrante e inalcançável.

As escrituras ensinam que cada pessoa deve ser “[julgada] de acordo com o santo julgamento de Deus”.23 Naquele dia, não haverá possibilidade alguma de nos escondermos em um grupo maior ou culparmos outras pessoas por estarmos impuros. Felizmente, as escrituras também ensinam que Jesus Cristo, Aquele que sofreu por nossos pecados, que é nosso Advogado junto ao Pai, que nos chama de Seus amigos e que nos ama até o fim é Quem finalmente será nosso juiz. Uma das bênçãos da Expiação de Jesus Cristo que é muitas vezes ignorada é a de que “o Pai (…) deu ao Filho todo o juízo”.24

Irmãos e irmãs, caso se sintam desanimados ou perguntem a si mesmos se podem sair do buraco espiritual que cavaram, por favor, lembrem-se de quem está “entre [nós] e a justiça”, que é “cheio de compaixão pelos filhos dos homens”, que tomou sobre Si nossas iniquidades e transgressões e “[satisfez] as exigências da justiça”.25 Em outras palavras, assim como Néfi fez ao duvidar de si próprio, simplesmente lembrem-se Daquele “em quem [vocês confiaram]”,26 sim, Jesus Cristo; e então, arrependam-se e vivenciem novamente “um perfeito esplendor de esperança”.27 Em nome de Jesus Cristo. Amém.