2015
Recuperar-se da Armadilha da Pornografia
Outubro de 2015


Recuperar-se da Armadilha da Pornografia

Todos precisamos aprender a reagir adequadamente à mídia com conteúdo sexual.

Silhouette of a man kneeling in prayer.  Rays of light are around him.

Quando a pessoa se volta para o Senhor com humildade, isso a leva a aceitar certas verdades que, se forem plenamente entendidas, proporcionam força e eliminam a vergonha.

ILUSTRAÇÃO: DOMI8NIC/ISTOCK/THINKSTOCK

Há uma década, falei numa conferência geral sobre o tema da pornografia. Acrescentei minha voz à de outros líderes que alertaram contra os efeitos espirituais devastadores da pornografia. Adverti que um número excessivamente grande de homens e rapazes estavam sendo feridos pelo que chamei de “literatura que incentiva as relações sexuais ilícitas”.1 A utilização de qualquer tipo de pornografia é maligna — ela destrói a sensibilidade espiritual, enfraquece a capacidade de exercer o poder do sacerdócio e prejudica relacionamentos preciosos.

Agora, mais de dez anos depois, sinto-me grato por ver que muitos, ouvindo e seguindo as advertências proféticas, abstiveram-se e permaneceram limpos e imaculados das manchas da pornografia. Também me sinto grato por ver que muitos seguiram o convite profético de abandonar a pornografia, reparar corações partidos e relacionamentos prejudicados e seguir adiante no caminho do discipulado. Porém estou mais preocupado do que nunca pelo fato de outros dentre nós continuarem a cair na armadilha da pornografia, sobretudo nossos rapazes e até um número cada vez maior de moças.

Um dos motivos principais do crescente problema da pornografia é o de que, no mundo atual, encontram-se palavras e imagens com conteúdo e influência sexuais espalhadas por toda parte: elas podem ser encontradas em filmes, programas de televisão, mídia social, mensagens de texto, aplicativos para celulares, propagandas, livros, música e conversas cotidianas. Como resultado disso, é inevitável que todos estejamos constante e continuamente expostos a mensagens sexualizadas.

I. Níveis de Envolvimento

Para ajudar-nos a lidar com esse crescente mal, quero identificar vários níveis de envolvimento com a pornografia e sugerir maneiras de como devemos reagir a cada um deles.

Em ocasiões e situações passadas, nosso conselho sobre a pornografia concentrava-se principalmente em ajudar as pessoas a evitar a exposição inicial ou a recuperar-se do vício. Embora esses objetivos ainda sejam importantes, a experiência passada e a situação atual mostraram que precisamos de conselhos direcionados aos níveis de uso da pornografia que estão entre os dois extremos da abstinência e do vício. É útil concentrar-nos em quatro níveis diferentes de envolvimento com a pornografia: (1) exposição inadvertida, (2) uso ocasional, (3) uso intenso e (4) uso compulsivo (vício).

  1. Exposição Inadvertida. Creio que todos já fomos inadvertidamente expostos à pornografia. Não há pecado nisso desde que nos afastemos e não a busquemos. É como um erro, que exige correção em vez de arrependimento.2

  2. Uso Ocasional. Esse uso da pornografia pode ser ocasional ou até frequente, mas sempre é intencional, e nisso está seu caráter maligno.

    A pornografia estimula e exacerba vigorosos sentimentos sexuais. O Criador deu-nos esses sentimentos para sábios propósitos Seus, mas também deu mandamentos que limitam sua expressão, restringindo-os a um homem e uma mulher que estejam casados um com o outro. A pornografia deturpa a expressão sexual adequada e incentiva a expressão de sentimentos sexuais fora dos laços do matrimônio. Aqueles que veem pornografia estão brincando com forças tão poderosas que podem criar vida ou destruí-la. Não façam isso!

    O perigo de qualquer uso intencional da pornografia, por mais ocasional ou infrequente que seja, é que ele sempre convida uma exposição mais frequente, a qual inevitavelmente aumenta o interesse por sentimentos e conduta sexuais. Os cientistas descobriram que as imagens sexuais produzem substâncias químicas no cérebro que recompensam sentimentos sexuais, os quais por sua vez instigam maior atenção à conduta sexual.3 A conduta sexual imoral de qualquer espécie ou grau suscita sentimentos de vergonha que, com o tempo, podem ficar incutidos dentro do indivíduo.

  3. Uso Intenso. O uso repetido e intencional da pornografia pode tornar sua utilização um hábito, “padrão de comportamento seguido constante e continuamente até se tornar quase involuntário”.4 Com o uso habitual, as pessoas sentem a necessidade de mais estímulo para terem a mesma reação e sentirem-se satisfeitas.

  4. Uso Compulsivo (Vício). A conduta de uma pessoa é considerada vício quando cria “dependência” (termo médico aplicado ao uso de drogas, bebidas alcoólicas, jogos de azar, etc.), a ponto de tornar-se uma “compulsão irresistível” que “passa a ter prioridade sobre quase tudo mais na vida”.5

II. A Importância de Entender Esses Níveis

Tendo reconhecido esses diferentes níveis, precisamos também reconhecer que nem todos os que usam deliberadamente a pornografia vão se viciar nela. De fato, a maioria dos rapazes e das moças que têm problemas com a pornografia não são viciados. Isso é uma distinção bem importante a ser feita — não apenas para os pais, cônjuges e líderes que desejam ajudar, mas também para os que se debatem com esse problema. O motivo disso é o seguinte.

Em primeiro lugar, quanto mais profundo for o nível de envolvimento da pessoa — da exposição inadvertida ao uso ocasional ou intencional e repetitivo, passando para o uso intenso e o uso compulsivo (vício) — mais difícil será a recuperação. Se a conduta for incorretamente classificada como vício, o usuário pode achar que perdeu o arbítrio e a capacidade de superar o problema. Isso pode enfraquecer a determinação de recuperar-se e de arrepender-se. Por outro lado, um entendimento mais claro da profundidade do problema — que talvez não esteja tão enraizado ou seja tão extremo quanto se temia — pode proporcionar esperança e maior capacidade de exercer o arbítrio para abandonar o uso e arrepender-se.

Em segundo lugar, como em qualquer conduta pecaminosa, o uso deliberado da pornografia afasta o Espírito Santo. Algumas pessoas que vivenciam isso vão sentir-se inclinadas a arrepender-se. Outras, porém, podem sentir constrangimento e procurar ocultar a culpa com mentiras. Podem também começar a sentir vergonha, que pode levar ao desprezo por si mesmas. Se isso acontecer, os usuários podem começar a acreditar em uma das maiores mentiras de Satanás: a de que aquilo que fizeram ou continuam a fazer as torna pessoas más, indignas da graça do Salvador e incapazes de se arrepender. Isso simplesmente não é verdade. Nunca estamos demasiadamente distantes do alcance do Salvador e de Sua Expiação.

Por fim, é importante não rotular nem mesmo o uso intenso ou habitual da pornografia como vício, pois isso não descreve com exatidão a situação ou a natureza plena do arrependimento exigido e da recuperação. Um melhor entendimento de onde a pessoa se encontra nesse processo também vai permitir uma melhor compreensão de quais ações são necessárias para a recuperação.

III. Escapar da Pornografia

Analisemos agora como as pessoas podem escapar e recuperar-se da armadilha da pornografia. Isso será útil não apenas para os que se debatem com a pornografia, mas também para os pais e líderes que os ajudam. As pessoas terão mais sucesso em abster-se e recuperar-se da pornografia se conversarem sobre esse assunto com os pais e líderes.6

Independentemente do nível de envolvimento no uso intencional da pornografia, o caminho para a recuperação, pureza e arrependimento segue e exige os mesmos princípios básicos: humildade, discipulado, compromisso de seguir um plano pessoal de mudança, responsabilidade, apoio e perseverança com fé.

Silhouettes of a man and woman sitting with their backs together.  They are reading scriptures.

A aplicação prática dessas verdades também exige que voltemos a comprometer-nos a viver como discípulos do Senhor Jesus Cristo e fazer as coisas que nos purificam e fortalecem para resistir a futuras tentações.

Illustration by majivecka/iStock/Thinkstock

A. Humildade

Para realmente vencer a pornografia e suas condutas associadas, as pessoas precisam desenvolver humildade (ver Éter 12:27). Quando a pessoa se volta para o Senhor com humildade, isso a leva a aceitar certas verdades que, se forem plenamente entendidas, proporcionam forças e eliminam a vergonha. Algumas dessas verdades incluem:

  • Cada um de nós é um filho amado de um Pai Celestial amoroso.

  • Nosso Salvador Jesus Cristo ama e conhece cada um de nós pessoalmente.

  • A Expiação de nosso Salvador se aplica a todos os filhos de Deus.

  • Por meio da graça de Jesus Cristo, todos podem ser perdoados e receber o poder de mudar.

  • Cada um de nós tem o inestimável dom do arbítrio, que nos permite ter acesso ao poder e à força da Expiação.

  • As pessoas que se debatem com a pornografia podem encontrar esperança no fato de que outros obtiveram sucesso nessa batalha.

  • A pornografia é um mal, porém envolver-se com ela não torna a pessoa má.

  • Qualquer pessoa pode escapar da armadilha da pornografia e recuperar-se plenamente, mas isso somente é possível se recorrermos ao poder da Expiação.

  • O verdadeiro arrependimento da pornografia exige mais do que simplesmente deixar de vê-la. Esse arrependimento exige uma mudança no coração por meio da Expiação de Cristo.

A aceitação dessas verdades prepara-nos espiritualmente para colocarmos essas coisas em prática, abrindo o caminho para recebermos a ajuda do Senhor a fim de fazer as mudanças necessárias, arrepender-nos e recuperar-nos.

B. Discipulado

A aplicação prática dessas verdades também exige que voltemos a comprometer-nos a viver como discípulos do Senhor Jesus Cristo e fazer as coisas que nos purificam e fortalecem para resistir a futuras tentações. Isso significa o compromisso de seguir condutas religiosas pessoais: orar e estudar as escrituras de modo significativo diariamente, assistir às reuniões da Igreja, prestar serviço, jejuar e (quando aprovado pelo bispo) tomar o sacramento e adorar no templo.

C. Compromisso de Seguir um Plano Pessoal

Os discípulos humildes de Jesus Cristo vão adquirir sensibilidade para reconhecer sentimentos profundos, situações sociais e ambientes físicos que desencadeiam a tentação de ver pornografia. Tendo analisado esses desencadeantes, eles vão desenvolver um plano pessoal de escape para ajudá-los a:

  • Reconhecer os desencadeantes e desejos quando surgirem.

  • Estabelecer ações específicas para ajudá-los a fugir da tentação.

  • Redirecionar os pensamentos e a energia para o Senhor.

  • Elaborar ações específicas e diárias para fortalecer seu compromisso pessoal de viver em retidão.

Ao desenvolver um plano pessoal, as pessoas devem utilizar os excelentes recursos oferecidos pela Igreja. Por exemplo: o site da Igreja OvercomingPornography.org tem conteúdo para as pessoas e também para os familiares e líderes do sacerdócio que lhes dão apoio. Além disso, o Programa de Recuperação de Dependências da Igreja está disponível a todos os membros que se debatem com qualquer conduta relacionada a dependências, ajudando também os familiares.

D. Responsabilidade e Apoio

Os seguidores humildes de Jesus Cristo que reconhecem que precisam do Salvador também vão buscar a ajuda de seu bispo, que foi chamado pelo Senhor como seu líder do sacerdócio e que possui as devidas chaves para permitir que se arrependam. Com o consentimento das pessoas envolvidas, e se o bispo sentir-se inspirado a fazê-lo, ele pode também chamar outra pessoa para trabalhar com elas e ajudá-las. Este conselho do Presidente Gordon B. Hinckley (1910–2008) se aplica a qualquer situação:

“Suplique ao Senhor do fundo de sua alma para que Ele remova de você o vício que o escraviza. E tenha a coragem de procurar a amorosa orientação de seu bispo e, se necessário, o conselho de profissionais atenciosos”.7

Dependendo da profundidade do problema, as pessoas podem necessitar do apoio de uma pessoa de confiança e experiente ou de um profissional a quem possam recorrer a qualquer momento para serem fortalecidas nos momentos de fraqueza e que possa mantê-las pessoalmente responsáveis pelo plano delas.

E. Perseverança com Fé

As pessoas que se arrependeram e tiveram a bênção de superar o desejo de ver pornografia ainda assim precisam manter-se vigilantes, porque o adversário vai tentar explorar suas fraquezas humanas. A exposição inadvertida ainda pode ocorrer apesar de todo o empenho para evitá-la. Ao longo da vida, as pessoas devem aprender a controlar seus sentimentos sexuais que lhes foram concedidos por Deus e manter o empenho de ser puras.

IV. Compaixão por Todos

Agora uma palavra em relação ao modo como tratamos aqueles que se deixaram enredar na armadilha da pornografia. Todos precisamos da Expiação de Jesus Cristo. Aqueles que se debatem com a pornografia precisam de nossa compaixão e nosso amor ao seguirem os princípios necessários e os passos da recuperação. Não os condenem. Não são pessoas más ou sem esperança. São filhos e filhas de nosso Pai Celestial. Por meio do devido e completo arrependimento, podem tornar-se limpas, puras e dignas de todos os convênios e bênçãos do templo prometidos por Deus.

Quando chegar o momento do casamento, incentivo as moças e os rapazes a escolherem cuidadosamente alguém para ser seu companheiro ou companheira por toda a eternidade que seja limpo e puro perante o Senhor e digno de entrar no templo. As pessoas que se arrependem plenamente da pornografia são dignas dessas bênçãos.

V. Conclusão

Durante a vida, todos nos deparamos com materiais com conteúdo sexual. Com a orientação de nosso amoroso Salvador, incluindo a garantia dada nos convênios sacramentais de que teremos sempre Seu Espírito conosco (ver D&C 20:77), podemos sempre reagir de modo adequado. Testifico que é isso que precisamos fazer para desfrutar as bênçãos Daquele a Quem adoramos. Ao fazer isso, receberemos mais plenamente a paz do Salvador e permaneceremos no caminho que conduz a nosso destino eterno de exaltação.

Notas

  1. Ver Dallin H. Oaks, “Pornografia”, A Liahona, maio de 2005, p. 87.

  2. Ver Dallin H. Oaks, “Sins and Mistakes” [Pecados e Erros], Ensign, outubro de 1996, pp. 62–67.

  3. Ver Donald L. Hilton Jr., M.D., “Pornography Addiction—a Supranormal Stimulus Considered in the Context of Neuroplasticity”, Socioaffective Neuroscience and Psychology, vol. 3, 2013, socioaffectiveneuroscipsychol.net/index.php/snp/article/view/20767; ver também “Porn Changes the Brain”, fightthenewdrug.org.

  4. Webster’s Encyclopedic Unabridged Dictionary of the English Language, 1989, “habit”.

  5. American College of Physicians Complete Home Medical Guide, 1999, p. 564.

  6. Além disso, os jovens e seus pais devem ter conversas francas, porém adequadas, sobre a reprodução humana. Os jovens que ouvem sobre a sexualidade humana dos colegas em vez de seus pais têm maior probabilidade de buscar informações a respeito dela por meio da pornografia.

  7. Gordon B. Hinckley, “Um Mal Trágico entre Nós”, A Liahona, novembro de 2004, p. 62.