2014
Pais: Os Melhores Professores do Evangelho de Seus Filhos
Novembro de 2014


Pais: Os Melhores Professores do Evangelho de Seus Filhos

Em última análise, o lar é o ambiente ideal para ensinar o evangelho de Jesus Cristo.

Ben Carson disse sobre si mesmo: “Eu fui o pior aluno da minha classe na quinta série”. Um dia, Ben fez uma prova de matemática com 30 problemas. O aluno sentado atrás dele corrigiu sua prova e a devolveu. A professora, a Sra. Williamson, começou a chamar o nome de cada aluno para saber quanto tinha acertado. Por fim, chamou Ben. Todo constrangido, ele murmurou a resposta. A Sra. Williamson, achando que ele tinha dito “9”, respondeu que, para ele, ter acertado 9 de 30 era um progresso e tanto. O aluno sentado atrás dele gritou: “Nove, não! (…) Ele não acertou nenhum”. Ben disse que queria que o chão se abrisse.

Ao mesmo tempo, sua mãe, Sonya, enfrentava seus próprios obstáculos. Ela vinha de uma família de 24 filhos, tinha só o terceiro ano primário e não sabia ler. Casou-se aos 13 anos de idade, divorciou-se, teve dois filhos e estava criando os meninos num bairro pobre de Detroit. Apesar disso, ela era muito autoconfiante e tinha uma crença firme de que Deus a ajudaria, bem como aos filhos se fizessem sua parte.

Um dia, aconteceu algo que mudaria sua vida e a deles. De repente, ela percebeu que pessoas de sucesso, cujas casas ela limpava, tinham bibliotecas — elas liam. Depois do trabalho, ela foi para casa e desligou a televisão que Ben e seu irmão estavam vendo. Basicamente, ela disse o seguinte: Meninos, vocês estão assistindo à televisão demais. Daqui por diante, vão assistir a três programas por semana. No tempo livre, vão para a biblioteca, vão ler dois livros por semana e me trazer um relatório.

Os meninos ficaram chocados. Ben disse que nunca tinha lido um livro em toda a sua vida, exceto quando exigido pela escola. Eles protestaram, reclamaram, brigaram, mas em vão. Depois, Ben refletiu: “Ela instituiu a lei. Não gostei da regra, mas sua determinação de ver nosso progresso mudou o curso da minha vida”.

E que mudança! Na sétima série, ele era um dos primeiros da classe. Depois, entrou para a Universidade de Yale com uma bolsa de estudos; em seguida, estudou na Escola de Medicina Johns Hopkins; e lá, aos 33 anos, tornou-se diretor da neurocirurgia pediátrica e um cirurgião renomado. Como isso foi possível? Principalmente porque uma mulher que não teve muitas das oportunidades que a vida oferece magnificou seu chamado de mãe.1

As escrituras falam sobre o papel dos pais — que é dever deles ensinar aos filhos a “doutrina do arrependimento, da fé em Cristo, o Filho do Deus vivo, e do batismo e do dom do Espírito Santo” (D&C 68:25).

Como pais, devemos ser os melhores professores do evangelho de nossos filhos e exemplos para eles — não o bispo, a Escola Dominical, os Rapazes ou as Moças, mas os pais. Sendo os melhores professores do evangelho, podemos ensinar-lhes a realidade da Expiação, da identidade deles e de seu destino divino e, fazendo isso, dar-lhes um alicerce seguro sobre o qual construir. Em última análise, o lar é o ambiente ideal para ensinar o evangelho de Jesus Cristo.

Cerca de um ano atrás, fui cumprir uma designação em Beirute, no Líbano. Lá conheci uma menina de 12 anos, Sarah. Seus pais e os dois irmãos mais velhos tinham se convertido à Igreja na Romênia, mas depois tiveram de voltar para a terra natal quando Sarah tinha apenas 7 anos de idade. Em seu país de origem, não havia a Igreja, nenhuma unidade organizada, nenhuma Escola Dominical ou programa das Moças. Após cinco anos, essa família soube que havia um ramo em Beirute e, pouco antes da minha chegada, enviaram sua filha Sarah, de 12 anos, acompanhada dos irmãos mais velhos, para ser batizada. Em Beirute, falei sobre o plano de salvação num devocional. Várias vezes, Sarah levantou a mão e respondeu às perguntas.

Após a reunião, e sabendo que ela praticamente nunca tinha frequentado a Igreja, aproximei-me dela e perguntei: “Sarah, como você sabia as respostas daquelas perguntas?” Ela imediatamente respondeu: “Minha mãe me ensinou”. Eles não tinham a Igreja em sua comunidade, mas com certeza tinham o evangelho no lar. Sua mãe foi sua melhor professora do evangelho.

Foi Enos quem disse: “E as palavras que frequentemente ouvira de meu pai sobre a vida eterna e a alegria dos santos penetraram-me profundamente o coração” (Enos 1:3). Não há dúvida de quem foi seu melhor professor do evangelho.

Lembro-me de que meu pai sentava-se confortavelmente perto da lareira para ler as escrituras e outros bons livros, e eu me sentava ao lado dele. Lembro-me dos cartões que ele guardava no bolso da camisa com citações das escrituras, de Shakespeare e de palavras novas que ele aprendia e memorizava. Lembro-me das perguntas e dos debates sobre o evangelho à mesa do jantar. Lembro-me das muitas vezes em que meu pai me levou para visitar os idosos. Parávamos para comprar sorvete para um ou frango assado para outro, ou de seu aperto de mão ao se despedir, dando dinheiro para alguém. Lembro-me dos bons sentimentos e do desejo de ser como ele.

Lembro-me da minha mãe cozinhando, com 90 anos mais ou menos, e toda feliz saindo com uma bandeja de comida nas mãos. Perguntei-lhe aonde ia. Ela respondeu: “Vou levar comida para os idosos”. Pensei comigo: “Mãe, a senhora é uma idosa”. Nunca vou conseguir expressar toda a minha gratidão por meus pais, que foram meus melhores professores do evangelho.

Uma das coisas mais significativas que podemos fazer como pais é ensinar nossos filhos sobre o poder da oração e não apenas a rotina de orar. Quando eu tinha mais ou menos 17 anos, estava ajoelhado ao lado da minha cama, orando antes de dormir. Sem eu saber, minha mãe estava parada na porta. Quando terminei, ela disse: “Tad, você está pedindo ao Senhor que o ajude a encontrar uma boa esposa?”

Sua pergunta me pegou totalmente desprevenido. Era a última coisa que me passaria pela cabeça. Eu estava pensando em basquete e na escola. Então, respondi: “Não”, e ela retrucou: “Bem, deveria, filho; será a decisão mais importante que você vai tomar”. Aquelas palavras calaram fundo no meu coração e, nos seis anos seguintes, orei para que o Senhor me ajudasse a encontrar uma boa esposa. E Ele respondeu muito bem essa minha oração!

Como pais, podemos ensinar nossos filhos a orar por coisas que terão consequências eternas, por exemplo, força para ser moralmente limpo num mundo repleto de desafios, ser obediente e ter coragem de defender o que é certo.

Não há dúvida de que a maioria de nossos jovens ora antes de dormir, mas talvez muitos deles tenham dificuldade em fazer suas orações pela manhã. Como pais, como seus melhores professores do evangelho, podemos corrigir isso. Que pai ou mãe no Livro de Mórmon deixaria seus filhos marcharem para a batalha sem uma armadura, um capacete e uma espada para protegê-los dos golpes potencialmente mortais do inimigo? Mas, quantos de nós deixamos nossos filhos saírem pela porta de manhã, para o mais perigoso de todos os campos de batalha, para confrontar Satanás e suas inúmeras tentações, sem a armadura, o capacete e a espada espirituais que vêm do poder protetor da oração? O Senhor disse: “Ora sempre, (…) para que venças Satanás” (D&C 10:5). Como pais, podemos ajudar a desenvolver nos filhos o hábito e o poder da oração matinal.

Podemos também ensinar nossos filhos a usar o tempo de maneira sábia. Assim como Sonya Carson, às vezes teremos de ser firmes e restringir o tempo que nossos filhos passam diante da televisão ou com algum aparelho eletrônico que, em muitos casos, está monopolizando a vida deles. Em vez disso, talvez precisemos redirecionar seu tempo para atividades mais voltadas ao evangelho. Pode ser que haja alguma resistência no início, alguma reclamação, mas, como Sonya Carson, precisamos ter a visão e o desejo de não ceder. Um dia, nossos filhos vão entender e agradecer o que fizemos. Se não fizermos isso, quem o fará?

Talvez nos perguntemos: Nossos filhos recebem o melhor de nós, da nossa dedicação espiritual e intelectual, e da nossa criatividade ou recebem as sobras de nosso tempo e nossos talentos, depois de termos dado tudo de nós para os chamados da Igreja ou objetivos profissionais? Na vida futura, não sei se títulos como o de bispo ou presidente da Sociedade de Socorro vão existir, mas tenho certeza de que os títulos de marido e mulher, pai e mãe vão continuar e serão reverenciados em mundos sem fim. Essa é uma das razões pelas quais é tão importante honrar nossa responsabilidade como pais aqui na Terra, para que nos preparemos para as responsabilidades ainda maiores, embora semelhantes, que teremos no mundo vindouro.

Como pais, podemos ir em frente com a certeza de que Deus nunca nos deixará sozinhos. Deus nunca nos dá uma responsabilidade sem oferecer auxílio divino — disso testifico. Que, em nosso papel divino de pais, e em parceria com Deus, sejamos os melhores professores do evangelho dos nossos filhos e exemplos para eles. É minha oração em nome de Jesus Cristo. Amém.

Nota

  1. Ver Ben Carson, Gifted Hands: The Ben Carson Story, 1990.