2012
O Porquê do Serviço no Sacerdócio
Maio de 2012


O Porquê do Serviço no Sacerdócio

A compreensão do quê do evangelho e do porquê do sacerdócio nos ajudará a ver o propósito divino de tudo.

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Presidente Dieter F. Uchtdorf

Estimo imensamente esta maravilhosa oportunidade de reunir-me com os irmãos do sacerdócio e regozijar-me com vocês na maravilha e beleza do evangelho de Jesus Cristo. Eu os elogio por sua fé, suas boas obras e sua contínua disposição de fazer o bem.

Compartilhamos um elo comum pelo fato de termos todos recebido a ordenação ao sacerdócio de Deus por meio daqueles a quem foi confiada a santa autoridade e o poder do sacerdócio. Não se trata de uma bênção pequena. É uma sagrada responsabilidade.

O Poder do Porquê

Recentemente tenho pensado em dois chamados importantes que recebi como portador do sacerdócio na Igreja.

O primeiro desses chamados foi quando eu era diácono. Eu frequentava com minha família o ramo da Igreja que ficava em Frankfurt, Alemanha. Éramos abençoados com muitas pessoas maravilhosas em nosso pequeno ramo. Uma dessas pessoas era nosso presidente do ramo, o irmão Landschulz. Eu o admirava muito, mesmo que sempre me parecesse muito sério e formal, e quase sempre trajasse um terno escuro. Lembro de, quando jovem, ter caçoado com meus amigos do presidente do ramo, de como ele parecia antiquado.

Faz-me rir pensar nisso agora, porque é bem provável que os jovens da Igreja, hoje, me vejam de modo muito semelhante.

Certo domingo, o presidente Landschulz me chamou para conversar com ele. A primeira coisa que pensei foi: “O que fiz de errado?” Bem rápido repassei na mente as muitas coisas que eu poderia ter feito para inspirar aquela conversa do presidente do ramo com um diácono.

O presidente Landschulz me convidou para uma pequena sala de aula — nossa capela não tinha escritório para o presidente do ramo — e ali me fez o chamado para servir como presidente do quórum de diáconos.

“É um cargo importante”, disse ele, e então passou um tempo descrevendo o motivo disso. Explicou o que ele e o Senhor esperavam de mim e como eu seria ajudado.

Não lembro muito do que ele disse, mas lembro bem o que senti. Um Espírito sagrado e divino me encheu o coração à medida que ele falava. Pude sentir que esta era a Igreja do Salvador. E senti que aquele chamado que ele fizera tinha sido inspirado pelo Espírito Santo. Lembro que saí daquela salinha sentindo-me bem mais alto do que antes.

Já se passaram quase 60 anos desde aquele dia, mas ainda guardo na memória aqueles sentimentos de confiança e amor.

Quando relembrava esse fato, tentei lembrar precisamente quantos diáconos tínhamos em nosso ramo naquela época. Pelo que me recordo, creio que havia apenas dois. No entanto, isso pode ser um grande exagero da minha parte.

Mas não importava que houvesse um diácono ou uma dezena. Senti-me honrado e desejei servir da melhor forma possível, sem desapontar o presidente do ramo ou o Senhor.

Dou-me conta agora de que o presidente do ramo poderia ter agido displicentemente ao chamar-me para aquele cargo. Poderia ter simplesmente me dito no corredor, ou durante nossa reunião do sacerdócio, que eu era o novo presidente do quórum de diáconos.

Em vez disso, ele passou um tempo comigo e me ajudou a compreender não apenas o quê da minha designação e nova responsabilidade, mas também, muito mais importante, o porquê.

Isso é algo de que jamais me esquecerei.

O ponto-chave dessa história não é apenas descrever como fazer um chamado na Igreja (embora esse tenha sido para mim um excelente exemplo da maneira certa de fazê-lo). Trata-se de uma lição sobre o poder motivador da liderança do sacerdócio que desperta o espírito e inspira à ação.

Precisamos ser constantemente lembrados dos motivos eternos que estão por trás das coisas que somos ordenados a fazer. Os princípios básicos do evangelho precisam fazer parte do cerne de nossa vida, mesmo que isso signifique reaprendê-los muitas e muitas vezes. Isso não quer dizer que esse processo deva ser mecânico ou tedioso. Em vez disso, quando ensinamos os princípios fundamentais, no lar ou na Igreja, devemos fazer com que a chama do entusiasmo pelo evangelho e o fogo do testemunho levem luz, calor e alegria ao coração das pessoas que ensinamos.

Desde o diácono recém-ordenado ao mais antigo sumo sacerdote, todos temos listas do quê podemos e devemos fazer em nossas responsabilidades do sacerdócio. O quê é importante em nosso trabalho, e precisamos cuidar dele. Mas é no porquê do serviço no sacerdócio que descobrimos o fogo, a paixão e o poder do sacerdócio.

O quê de servir no sacerdócio nos ensina o que fazer. O porquê inspira a alma.

O quê informa, mas o porquê transforma.

Uma Abundância de Coisas “Boas” para Fazer

Outro chamado no sacerdócio em que tenho pensado muito veio vários anos depois, quando eu já tinha minha própria família. Havíamo-nos mudado de volta para Frankfurt, Alemanha, e eu acabara de receber uma promoção no trabalho que exigiria muito tempo e atenção da minha parte. Naquela época atarefada da minha vida, o Élder Joseph B. Wirthlin me chamou para servir como presidente de estaca.

Em minha entrevista com ele, muitos pensamentos me passaram pela mente, inclusive a preocupação de que talvez eu não dispusesse do tempo exigido para servir naquele chamado. Embora me sentisse humilde e honrado pelo chamado, questionei-me brevemente se poderia aceitá-lo. Mas foi apenas um pensamento fugaz, porque eu sabia que o Élder Wirthlin fora chamado por Deus e fazia o trabalho do Senhor. O que mais eu poderia fazer senão aceitar?

Há ocasiões em que, com fé, temos de dar um passo na escuridão, confiando que o Senhor colocará terreno sólido sob nossos pés, assim que o fizermos. Portanto, aceitei com alegria, sabendo que Deus providenciaria o necessário.

Nos primeiros dias daquela designação, tivemos na estaca o privilégio de receber treinamento de alguns dos maiores mestres e líderes da Igreja: homens como o Élder Russell M. Nelson e o Presidente Thomas S. Monson visitavam nossa área. Seus ensinamentos eram como orvalho do céu e foram uma inspiração para nós. Ainda tenho as anotações que fiz naquelas sessões de treinamento. Esses irmãos nos deram a visão do que significa estabelecer o reino de Deus, edificando o testemunho pessoal e fortalecendo famílias. Eles nos ajudaram a ver como aplicar a verdade e os princípios do evangelho a nossas circunstâncias e época específicas. Em outras palavras, líderes inspirados nos ajudaram a ver o porquê do evangelho e, depois, nós tivemos de arregaçar as mangas e trabalhar.

Em pouco tempo percebemos que havia muitas coisas que uma presidência de estaca poderia fazer — tantas, na verdade, que se não estabelecêssemos prioridades inspiradas, acabaríamos deixando de fazer as coisas importantes. Começaram a surgir prioridades alternativas, tirando nosso enfoque da visão compartilhada pelas Autoridades Gerais. Havia muitas coisas “boas” a fazer, mas nem todas eram as que mais importavam.

Aprendemos uma importante lição: o fato de algo ser bom nem sempre é motivo suficiente para demandar nosso tempo e recursos. Nossas atividades, iniciativas e nossos planos devem ser inspirados e amparados pelo porquê de nosso serviço no sacerdócio, e não por qualquer modismo ou interesse superficial do momento. Caso contrário, podem distrair nosso trabalho, diluir nossa energia e aprisionar-nos em nossos próprios passatempos espirituais ou temporais que não são o cerne de nosso discipulado.

Irmãos, saibam que é preciso autodisciplina para manter-nos concentrados nas coisas que mais podem aumentar o amor a Deus e ao semelhante: revigorar casamentos, fortalecer famílias e edificar o reino de Deus na Terra. Como uma árvore frutífera com uma abundância de ramos e folhas, nossa vida precisa ser podada regularmente para garantir que usemos nossa energia e nosso tempo para cumprir nosso real propósito: “dar frutos bons”!1

Não Estamos Sozinhos

Então, como saber o que selecionar? Cada um de nós tem a responsabilidade de determinar isso por si mesmo. Contudo, foi-nos ordenado que estudássemos as escrituras diligentemente, atendêssemos às palavras dos profetas e fizéssemos disso uma questão de oração séria, dedicada e fervorosa.

Irmãos, Deus é fiel. Por meio do Espírito Santo, Ele nos falará a nossa mente e ao nosso coração em relação ao caminho que devemos seguir durante cada parte de nossa vida.

Se nosso coração for puro — se não buscarmos nossa própria glória, mas a glória do Deus Todo-Poderoso, se procurarmos fazer a vontade Dele, se desejarmos abençoar a vida de nossa família e de nosso semelhante — não caminharemos sozinhos. Como o Presidente Monson sempre nos lembra: “Quando estamos a serviço do Senhor, temos o direito de receber sua ajuda”.2

Nosso Pai Celestial “[irá] adiante de vós. [Estará] a vossa direita e a vossa esquerda e [Seu] Espírito estará em vosso coração e [Seus] anjos ao vosso redor para vos suster”.3

O Poder de Fazer

Meus queridos irmãos, as bênçãos divinas pelo serviço no sacerdócio são ativadas por nosso esforço diligente, nossa disposição em sacrificar-nos e pelo nosso desejo de fazer o que é correto. Sejamos aqueles que agem, e não os que recebem a ação. É bom pregar, mas os sermões que não levam à ação são como fogo sem calor ou água que não mata a sede.

É na aplicação prática da doutrina que a chama purificadora do evangelho cresce e o poder do sacerdócio incendeia nossa alma.

Thomas Edison, o homem que banhou o mundo com a brilhante luz elétrica, disse que “o valor de uma ideia está na utilização dela”.4 De modo semelhante, a doutrina do evangelho se torna mais preciosa quando colocada em prática.

Não podemos permitir que as doutrinas do sacerdócio fiquem adormecidas em nosso coração, sem ser aplicadas em nossa vida. Se houver um casamento ou uma família que necessite de resgate — quem sabe a nossa própria — não podemos esperar sem fazer nada. Em vez disso, sejamos gratos a Deus pelo plano de felicidade que inclui fé, arrependimento, perdão e um novo início. A aplicação da doutrina do evangelho nos qualificará como maridos, como pais, como filhos, que compreendem o porquê do sacerdócio e seu poder de recuperar e manter a beleza e a santidade de uma família eterna.

A conferência geral sempre é uma boa época para ouvir e fazer. Portanto, sejamos “cumpridores da palavra, e não somente ouvintes”.5 Irmãos, convido-os a ponderar as palavras proferidas pelos servos de Deus neste fim de semana. Depois, ajoelhem-se. Peçam ao Senhor, nosso Pai Celestial, que ilumine sua mente e toque seu coração. Implorem que Ele lhes dê orientação para sua vida diária, suas responsabilidades na Igreja e seus desafios específicos nesta época. Sigam os sussurros do Espírito, sem demora. Se fizerem tudo isso, prometo que o Senhor não permitirá que caminhem sozinhos.

Prosseguir com Paciência

Sabemos que, apesar de nossas melhores intenções, as coisas nem sempre saem de acordo com o que planejamos. Cometemos erros tanto na vida como em nosso serviço no sacerdócio. Vez por outra, falhamos e deixamos a desejar.

Quando o Senhor nos aconselha, dizendo “continuai pacientemente até que sejais aperfeiçoados”,6 Ele reconhece que isso exige tempo e perseverança. A compreensão do porquê do evangelho e do porquê do sacerdócio nos ajudará a ver o propósito divino de tudo. Isso nos dará motivação e forças para fazer o que é certo, mesmo quando for difícil. Seremos abençoados com clareza, sabedoria e orientação se permanecermos concentrados em viver os princípios fundamentais do evangelho.

“Não prosseguiremos em tão grande causa?”7 Sim, irmãos, prosseguiremos!

Guiados pelo Santo Espírito, aprenderemos com nossos erros. Se cairmos, vamos nos erguer. Se tropeçarmos, seguiremos em frente. Jamais vacilaremos, jamais desistiremos.

Como uma vigorosa irmandade do sacerdócio eterno de Deus, estaremos unidos, ombro a ombro, concentrados nos princípios do evangelho restaurado de Jesus Cristo e com gratidão serviremos a nosso Deus e a nosso semelhante com dedicação e amor.

Deus Vive!

Meus queridos irmãos, testifico a vocês que Deus, o Pai, e Seu Filho Jesus Cristo vivem. Eles são reais! Eles estão ao nosso lado!

Vocês não estão sozinhos. Seu Pai Celestial Se importa com vocês e quer abençoá-los e sustê-los em retidão.

Tenham a certeza de que Deus fala à humanidade em nossos dias. Ele vai falar com vocês!

O Profeta Joseph Smith viu o que disse que viu. A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias foi restaurada na Terra pelo poder e pela autoridade do Deus Todo-Poderoso.

Minha oração é que, como portadores de Seu sacerdócio, estejamos sempre em sintonia com o porquê do serviço no sacerdócio e usemos os princípios fundamentais do evangelho restaurado para transformar nossa vida e a vida daqueles a quem servimos.

Ao fazermos isso, o infinito poder da Expiação vai purificar, limpar e refinar nosso espírito e caráter, até que nos tornemos os homens que devemos ser. Presto testemunho disso no sagrado nome de Jesus Cristo. Amém.