2007
Perseverar Juntos
Novembro de 2007


Perseverar Juntos

A ala está organizada para atender às necessidades daqueles que passam pelas mais tristes e difíceis provações.

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Alguns anos atrás, um colunista humorístico de um jornal local escreveu sobre um assunto sério, que nos faz parar para refletir. Um trecho do seu artigo diz: “Ser um mórmon que freqüenta as reuniões da Igreja, em Utah, significa viver tão perto dos irmãos da ala, que não acontece nada sem que toda a congregação fique sabendo no máximo cinco minutos depois”.

Ele continua: “Esse tipo de vida em que todos estão muito próximos pode ser meio intrusivo, (…) mas acaba sendo também uma das nossas maiores forças”.

O autor prossegue, dizendo: “No trabalho, na terça-feira, peguei o noticiário do meio-dia na TV. Uma van ficara completamente destruída num acidente de trânsito. Uma jovem mãe e duas crianças pequenas foram levadas às pressas de helicóptero e de ambulância para o pronto-socorro de um hospital. Horas depois, fiquei sabendo que a van pertencia ao jovem casal que morava do outro lado da minha rua em Herriman. Eric e Jeana Quigley.

Eu não só vejo os Quigley na igreja, (…) como também jantamos com eles numa festa do bairro na noite anterior ao acidente e nossos netos brincaram com as filhas deles, Bianca e Miranda.

A menina de 14 meses, Miranda, teve ferimentos graves na cabeça e morreu três dias depois no Hospital Infantil da Primária.

A curiosidade e a intromissão dos membros da ala (…), acabou sendo uma bênção. Embora o acidente tivesse ocorrido a quilômetros de distância da casa deles, uma pessoa da ala parou o carro imediatamente após a colisão e foi ver o que tinha acontecido. Os outros membros ficaram sabendo do acidente antes que a polícia e os paramédicos chegassem.

Os membros da ala foram aos três hospitais, entraram em contato com Eric no trabalho e se organizaram em equipes. As pessoas que não puderam ajudar no local do acidente ficaram aflitas, querendo fazer alguma coisa.

Em 48 horas cortaram a grama do quintal dos Quigley, limparam a casa, lavaram e passaram a roupa, abasteceram a geladeira, deram algo de comer aos parentes e abriram uma conta no banco para angariar fundos. Teríamos dado banho no cachorro, se eles tivessem cachorro.”

O autor termina com este comentário perspicaz: “Há um lado positivo no fato de vivermos sob a lupa dos membros da minha ala (…). O que acontece a alguns, acontece a todos” (“Well-Being of Others Is Our Business”, Salt Lake Tribune, 30 de julho de 2005, p. C1).

A compaixão que os membros da ala, que se preocupam uns com os outros, demonstraram e o serviço que prestaram nesse trágico acidente não se restringem a essa ocasião em particular. O profeta Alma, do Livro de Mórmon, explicou àqueles que desejam tornar-se seguidores de Cristo: “Sendo que desejais entrar no rebanho de Deus e ser chamados seu povo; e sendo que estais dispostos a carregar os fardos uns dos outros, para que fiquem leves; sim, e estais dispostos a chorar com os que choram; sim, e consolar os que necessitam de consolo”; sendo assim, explicou Alma, estavam preparados para o batismo (ver Mosias 18:8–9). Essa escritura lança o alicerce para ministrarmos e cuidarmos do próximo com extrema solidariedade.

A ala está organizada para atender às necessidades daqueles que passam pelas mais tristes e difíceis provações. O bispo, muitas vezes considerado o “pai” da ala, está ali para dar conselhos e prover recursos, mas os portadores do Sacerdócio Aarônico e de Melquisedeque também estão de prontidão, bem como a presidência da Sociedade de Socorro, os mestres familiares, as professoras visitantes e os membros da ala — sempre os membros da ala. Todos estão ali para dar consolo e mostrar compaixão em momentos de necessidade.

No meu próprio bairro, também enfrentamos tragédias. Em outubro de 1998, Zac Newton, de 19 anos, que morava só a três casas de distância da minha, morreu num trágico acidente de carro.

Menos de dois anos depois, em julho, Andrea Richards, de 19 anos, que morava bem em frente aos Newton, também morreu num acidente de carro.

Numa tarde de sábado, em julho de 2006, Travis Bastian, ex-missionário de 28 anos, e sua irmã Desirée, de 15, que moravam quase em frente a nossa casa, morreram num terrível acidente de carro.

Um mês depois, em agosto de 2006, Eric Gold, de 32 anos, que morou a vida toda na casa ao lado da nossa, teve morte prematura. E há outras pessoas nesse bairro que passaram por experiências de muita dor e angústia em silêncio, experiências que só eles e Deus conhecem.

A perda de cinco jovens é uma provação que as pessoas podem achar incomum para um bairro tão pequeno. Prefiro pensar que o número só parece grande por causa de uma ala unida e atenta, cujos membros sabem quando existe uma necessidade, uma ala onde os membros seguem a admoestação de Alma e do Salvador — membros que se preocupam, que amam e carregam mutuamente os seus fardos, membros que estão dispostos a chorar com os que choram e consolar aqueles que necessitam de consolo, membros que perseveram juntos.

Em cada um desses acidentes, a demonstração de amor, serviço e compaixão inspiram a todos. O bispo esteve presente, os mestres familiares e as professoras visitantes puseram-se ao trabalho e os quóruns do Sacerdócio Aarônico e de Melquisedeque e a Sociedade de Socorro organizaram-se para atender às necessidades tanto físicas quanto espirituais. As geladeiras foram abastecidas, as casas foram limpas, a grama cortada, os arbustos aparados, as cercas pintadas e um ombro amigo foi oferecido aos que choravam. Os membros estavam em toda parte.

Em cada um desses exemplos, as famílias que perderam um ente querido mostraram uma fé ainda maior, mais amor pelo Salvador, mais gratidão pela Expiação e agradecimento sincero por uma organização que atende às mais profundas necessidades emocionais e espirituais dos membros. Essas famílias agora falam sobre como conheceram o Senhor na sua adversidade, mencionam muitas experiências gratificantes que tiveram por causa do pesar, testificam que da dor podem vir bênçãos e louvam ao Senhor e fazem eco às palavras de Jó: “O Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1:21).

Por levarmos os fardos uns dos outros, como membros da unidade, aprendemos várias lições:

  1. A organização do Senhor está totalmente preparada para identificar e cuidar daqueles que passam pelas mais desesperadoras necessidades emocionais e espirituais;

  2. A adversidade pode aproximar-nos de Deus, proporcionando renovado e profundo apreço pela oração e pela Expiação, que abrange a dor e o sofrimento em todas as suas manifestações;

  3. Os membros que enfrentam experiências trágicas muitas vezes passam a ter mais capacidade de amar, de ter mais compaixão e de compreender melhor. Eles se tornam os primeiros e, muitas vezes os mais eficazes em dar consolo e mostrar compaixão pelos outros;

  4. A ala, assim como a família, fica mais unida quando os membros perseveram juntos — o que acontece a um, acontece a todos;

  5. E o mais importante de tudo talvez seja que cada um de nós passa a ser mais compassivo e a se importar mais com os outros devido à nossa própria experiência e às dificuldades que enfrentamos. Podemos perseverar juntos.

Alegro-me por pertencer a uma organização em que há tanto carinho e desvelo. Ninguém sabe carregar melhor os fardos uns dos outros, chorar com os que choram e consolar os que necessitam de consolo. Prefiro dizer que “perseveramos juntos”. O que acontece a um acontece a todos. Perseveramos juntos.

Que sejamos sempre instrumentos para aliviar a carga uns dos outros, é minha oração, em nome de Jesus Cristo. Amém.