Estudar e Ensinar o Velho Testamento
Todos nós precisamos compreender melhor o plano eterno de felicidade. O Velho Testamento tem muito a oferecer-nos e ensinar-nos.
O que todas as pessoas desejam é a felicidade. E o que desejaremos pelo restante desta vida e da eternidade é a felicidade. Muitos de nós talvez não saibam bem o que é a felicidade ou como podemos alcançá-la. E talvez não entendamos muito sobre a infelicidade e suas causas. Mas já experimentamos tanto a felicidade como a infelicidade. Sabemos a diferença e preferimos a felicidade.
O grande plano de felicidade de Deus afasta-nos do infortúnio. Não precisamos estar convencidos de que o plano de felicidade é algo bom. Mas todos nós temos que compreender o que devemos fazer para seguir o plano e a maioria de nós precisa confiar mais em nossa capacidade de fazê-lo. Uma vez que todos nós desejamos a felicidade agora e sempre, quando sentirmos que essas necessidades estão sendo supridas, voltaremos para essas experiências e começaremos a praticar o que nos concederá a capacidade de perseverar até o fim.
Vocês talvez tenham dúvidas de que o Velho Testamento seja um texto adequado para nos ajudar a encontrar o caminho da felicidade. Por que haveríamos de despender tanto tempo estudando livros que parecem estar tão distantes das circunstâncias e dificuldades que enfrentamos? Um excelente professor deu-me a resposta a essa pergunta.
Ler 2 Néfi 25–33
O Presidente Marion G. Romney (1897–1988), que serviu como conselheiro na Primeira Presidência, falou sobre isso 23 anos atrás num discurso que denominou “A Mensagem do Velho Testamento”. Li-o várias vezes e sei que suas palavras são verdadeiras. Ele disse: “Creio não haver explicação mais simples, clara e relevante da mensagem do Velho Testamento do que a registrada nos capítulos 25 a 33 de 2 Néfi. A meu ver, um estudo fervoroso e atento desses capítulos é essencial para qualquer pessoa que queira compreender e ensinar a mensagem do Velho Testamento. Nesses capítulos, Néfi separou o que é importante do que não é. Também explicou como esses ensinamentos são importantes para nós nos últimos dias”. ( A Symposium on the Old Testament [discurso para educadores religiosos, Universidade Brigham Young, 16 de agosto de 1979], p. 5)
Em seguida, o Presidente Romney leu as seguintes palavras do capítulo 25 de 2 Néfi:
“Pois trabalhamos diligentemente para escrever, a fim de persuadir nossos filhos e também nossos irmãos a acreditarem em Cristo e a reconciliarem-se com Deus; pois sabemos que é pela graça que somos salvos, depois de tudo o que pudermos fazer.
E não obstante acreditarmos em Cristo, guardamos a lei de Moisés e esperamos firmemente em Cristo, até que a lei seja cumprida.
Pois com esta finalidade a lei foi dada; portanto a lei tornou-se morta para nós e somos vivificados em Cristo por causa de nossa fé; contudo, guardamos a lei por causa dos mandamentos.” (2 Néfi 25:23–25)
Se vocês estudarem esses nove capítulos curtos de 2 Néfi conforme o Presidente Romney sugeriu — desejo que o façam e oro para isso — encontrarão neles um lamento por aqueles que preferiram não receber as palavras de Deus proferidas por meio de Seus profetas. Tenho dois motivos para querer que vocês leiam esses lamentos. Em primeiro lugar, porque eles lhes trarão consolo nos dias em que as pessoas a sua volta parecerem não receber as palavras de Deus que vocês transmitem a elas. É reconfortante saber que mesmo profetas grandiosos como Néfi e Isaías tiveram dias assim — na verdade, muitos dias assim. E segundo, Néfi explica o motivo pelo qual suas palavras não seriam recebidas. Ao descrever a queda, mostra o caminho a ser seguido para alcançarmos o sucesso. Isso é muito freqüente em histórias relatadas por profetas sobre tragédias nas escrituras. Assim, os ciclos repetitivos de declínio e renascimento espiritual do Velho Testamento podem trazer esperança e ensinamentos valiosos.
No capítulo 27, versículo 5, por exemplo, Néfi lamenta-se devido às pessoas cuja dureza de coração ele anteviu no dia dos gentios.
“Pois eis que o Senhor derramou sobre vós um espírito de profundo sono. Porque eis que haveis fechado os olhos e haveis rejeitado os profetas; e ele vendou vossos chefes e os videntes, por causa de vossa iniqüidade.”
Posteriormente, no capítulo 29, versículo 8, ele até profetiza acerca daqueles que rejeitarão suas próprias palavras, que eles sabem que lhes foram dadas pelo Salvador. Ele repreende-os da forma como ele sabe que o Senhor o fará naquele dia, usando palavras que apenas um vidente conheceria.
“Por que murmurais por receberdes mais palavras minhas? Não sabeis que o depoimento de duas nações é um testemunho a vós de que eu sou Deus, de que me recordo tanto de uma como de outra nação? Portanto digo as mesmas palavras, tanto a uma nação como a outra. E quando as duas nações caminharem juntas, os testemunhos das duas nações também caminharão juntos.”
Receber a Palavra de Deus
As palavras de Néfi mostram com clareza tanto a dificuldade de ensinar a palavra de Deus como sua importância. Aqueles que não receberem as palavras de Deus, que devemos ensinar, serão julgados por elas. O Presidente Romney ofereceu-nos ajuda nessa sagrada designação de ensino. E corroboro sua promessa.
Primeiro, em sua preparação para ensinar, vocês precisam examinar as escrituras em vez de deturpá-las. O Presidente Romney ensinou essa grande diferença na maneira de tratarmos as escrituras: “Examiná-las (…) conforme Jesus indicou é muito diferente de revirá-las com o intuito de encontrar passagens que venham a apoiar ou confirmar uma conclusão preestabelecida”. (“The Message of the Old Testament”, p. 2) Busquem as escrituras como uma criança — sempre disposta a ser instruída — e vocês o serão. Caso as leiam já se considerando sábios, não receberão acréscimo algum de sabedoria.
Segundo, vocês serão ensinados com mais facilidade ao estudarem as escrituras caso o façam com uma pergunta em mente e com a determinação de agir de acordo com a resposta que venham a receber. Poderemos receber verdades aparentemente novas ao voltarmos à mesma escritura com novas perguntas. Reiniciei a leitura desses capítulos de 2 Néfi com a seguinte pergunta: Como posso estudar ou ensinar o Velho Testamento de modo a ajudar meus alunos e a mim a encontrarmos felicidade agora que estamos juntos e depois quando eles ou eu viermos a enfrentar sozinhos tribulações desconhecidas?
Ao estudar 2 Néfi, tentei seguir ambas as partes desse conselho. Li os capítulos com todo o cuidado, repetidas vezes, linha por linha e palavra por palavra. Tentei identificar padrões, verdades repetidas por Néfi, idéias reformuladas por ele mais de uma vez. Encontrei um padrão e gostaria de mencioná-lo na esperança de incentivá-los a buscarem por si mesmos. O que aprendi foi-me de grande utilidade. Espero que também o seja para vocês. Minha esperança é que vocês examinem as escrituras com o desejo de serem instruídos quanto ao que devem fazer.
Para mim, parecia haver uma mensagem repetida no ensinamento de Néfi que respondia à minha pergunta. Ei-la: As palavras de Deus concedidas aos profetas só serão recebidas por aqueles que tiverem espírito de profecia, um Dom do Espírito que, além de provir do testemunho de Jesus Cristo, o confirma.
Néfi esclarece primeiramente que o que precisamos agora e precisaremos depois é de algo que ele chama de espírito de profecia. No versículo 4 de 2 Néfi 25, ele escreveu:
“Portanto ouvi, ó povo meu, que sois da casa de Israel, e escutai minhas palavras; pois ainda que as palavras de Isaías não vos sejam claras, são, não obstante, claras a todos os que estão cheios do espírito de profecia.”
Em seguida, ele volta a falar sobre profecia no versículo 26, mas nesse versículo deixa clara sua relação com o testemunho de Jesus. Acharemos as palavras dos profetas claras quando tivermos o espírito de profecia, e isso dependerá de nosso testemunho de Jesus Cristo. Observem como Néfi usou esse fato:
“E falamos de Cristo, regozijamo-nos em Cristo, pregamos a Cristo, profetizamos de Cristo e escrevemos de acordo com nossas profecias, para que nossos filhos saibam em que fonte procurar a remissão de seus pecados.”
Então Néfi ensinou que, para recebermos as palavras dos profetas, precisamos obedecer a elas. Não nos bastará saber que as palavras são verdadeiras ou mesmo compreendê-las com clareza. Cumpre-nos obedecer, ou a convicção da verdade se desvanecerá e seu significado se obscurecerá. Observem o versículo 30 do capítulo 28:
“Pois eis que assim diz o Senhor Deus: Darei aos filhos dos homens linha sobre linha, preceito sobre preceito, um pouco aqui e um pouco ali; e abençoados os que dão ouvidos aos meus preceitos e escutam os meus conselhos, porque obterão sabedoria; pois a quem recebe darei mais; e dos que disserem: Temos o suficiente, destes será tirado até mesmo o que tiverem.”
Em seguida, por saber como o caminho a nossa frente pode ser árduo, Néfi descreveu do que necessitaremos para perseverar. Precisaremos da coragem e fortaleza que só são alcançadas por aqueles cujo testemunho de Jesus Cristo os levou a obedecer a tal ponto que eles estão cheios de esperança e caridade suficientes para enfrentar a jornada. Observem o que precisamos fazer e a promessa que recebemos no versículo 20 do capítulo 31:
“Deveis, pois, prosseguir com firmeza em Cristo, tendo um perfeito esplendor de esperança e amor a Deus e a todos os homens. Portanto, se assim prosseguirdes, banqueteando-vos com a palavra de Cristo, e perseverardes até o fim, eis que assim diz o Pai: Tereis vida eterna.”
Néfi salientou que o espírito de profecia e o testemunho de Jesus são dons que devemos buscar em oração. E é claro que ele não exclui a si mesmo. Atentem para o que ele diz nos versículos 4 e 5 do capítulo 32:
“Portanto, agora que vos disse estas palavras, se não as puderdes compreender será porque não pedis nem bateis; de modo que não sereis levados para a luz, mas perecereis na escuridão.
Pois eis que vos digo novamente que, se entrardes pelo caminho e receberdes o Espírito Santo, ele vos mostrará todas as coisas que deveis fazer.”
Então, nos versículos 8 e 9, Néfi concede-nos instruções sobre a oração.
“E agora, meus amados irmãos, percebo que ainda meditais em vosso coração; e é-me doloroso falar-vos sobre isso. Porque, se désseis ouvidos ao Espírito que ensina o homem a orar, saberíeis que deveis orar: porque o espírito mau não ensina o homem a orar, mas ensina-lhe que não deve orar.
Mas eis que vos digo que deveis orar sempre e não desfalecer; e nada deveis fazer para o Senhor sem antes orar ao Pai, em nome de Cristo, para que ele consagre para vós a vossa ação, a fim de que a vossa ação seja para o bem-estar de vossa alma.”
Após alertar-nos acerca da necessidade de orarmos, Néfi ensinou pelo seu próprio exemplo. No versículo 4 do capítulo 33, lemos:
“E sei que o Senhor Deus consagrará minhas orações para o bem de meu povo. E as palavras que escrevi em fraqueza tornar-se-ão fortes para eles; porque os persuadem a fazer o bem; fazem com que saibam a respeito de seus pais; e falam de Jesus, persuadindo-os a acreditar nele e a perseverar até o fim, que é vida eterna.”
Para mim, dessa maneira surgiu pelo menos um início de resposta para minha pergunta.
Vocês devem estar lembrados de que minha pergunta era: Como posso estudar ou ensinar o Velho Testamento de modo a ajudar meus alunos e a mim a encontrarmos felicidade agora que estamos juntos e depois quando eles ou eu viermos a enfrentar sozinhos tribulações desconhecidas? A resposta que encontrei: Meus alunos e eu receberemos as palavras dos profetas quando tivermos o espírito de profecia e o testemunho de Jesus Cristo. O Espírito Santo nos dirá o que fazer. Quando obedecermos, receberemos mais luz. Quando desobedecermos, a luz será retirada com o tempo. Teremos como aliada a oração. E mesmo nesta vida conturbada poderemos encontrar paz, resultante da obediência ao evangelho, e a esperança da vida eterna no mundo vindouro — o maior de todos os dons de Deus. É assim que eu e meus alunos encontraremos a felicidade que buscamos, agora e no futuro.
Exorto-os mais uma vez a buscarem respostas para outras perguntas. O Presidente Romney disse que Néfi pode ensinar-nos o que é importante no Velho Testamento. Néfi ensina, por exemplo, que Deus manda profetas para advertir sobre a destruição. Ele deixa claro que é por amor às pessoas e a Deus que ele e outros profetas falam de maneira tão direta sobre o pecado. Ele fala de seus próprios embates como ser humano. Certamente esses temas constituem o início da resposta à pergunta que vocês podem estar fazendo a si mesmos: “O que será de maior valor para meus alunos e para mim no que estudarmos no Velho Testamento?”
Quatro Sugestões Para Estudar E Ensinar O Velhotestamento
Agora, permitam-me relatar-lhes as lições que aprendi ao aplicar os conselhos do Presidente Romney.
Primeiramente, aprendi que devo ter mais ânsia para receber ensinamentos. Devo ouvir mais as pessoas, acreditando que o Espírito pode ensinar-me por meio das palavras delas. Devo ir a todas as aulas que puder, esperando aprender com quem quer que venha a ser chamado para ensinar-me. Devo ler e ponderar os materiais que me forem dados. Devo ler as escrituras. Devo suplicar em oração para ser ensinado do alto. É claro que há limites práticos em relação ao tempo que poderei dedicar, mas nenhum limite para minha determinação de ser ensinado.
Em segundo lugar, devo pensar com mais freqüência e intensidade no Salvador e Sua missão. Boa parte do Velho Testamento pode ser ensinada como histórias cheias de emoção, costumes fascinantes e belas figuras literárias. Mas devo sentir maior felicidade e gratidão ao estudar ou ensinar sobre momentos em que os profetas falaram de Jeová e o povo recebeu as palavras e se voltou para Ele. Devo sentir tristeza ao ver o povo distanciar-se do Salvador prometido da humanidade e caminhar rumo ao infortúnio. Posso prometer-lhes que, caso assim o façam, o Espírito virá e vocês se concentrarão menos a vil iniqüidade do povo ou suas abominações e verão mais do amor a seu Deus, que os advertiu quanto à iniqüidade e a idolatria, que lhes suplicou que se aproximassem Dele e que, mesmo em sua iniqüidade e infortúnio, continuamente Se achegava e eles.
Em terceiro lugar, devo empenhar-me mais para conhecer os profetas da maneira mais íntima possível. Devo ler o livro de Abraão e de Moisés não só para conhecer a doutrina que eles ensinam, mas também seu coração. Devo tentar sentir o que Jó sentiu e o que Jeremias sentiu. Devo trabalhar e orar para conhecer o caráter e as tribulações dos profetas. Posso fazer-lhes uma promessa porque eu mesmo já a pus à prova. Tentei estar com Néfi no fim de seu ministério. Li esses capítulos em 2 Néfi diversas vezes. Aprendi a ensinar o Velho Testamento. Mas ganhei ainda mais. Passei a amá-lo como jamais o fizera antes. Quando eu o vir em algum lugar e tempo futuro, ele enxergará mais afeto em meus olhos e mais admiração.
E por fim, devo convidar com mais diligência a companhia do Espírito Santo. As outras pessoas não enxergarão muito do que faço, uma vez que muito será feito em particular, mas perceberão a mudança em mim à medida que o Espírito enternecer minha natureza. Elas notarão que serei um pouco mais paciente, um pouco mais interessado nelas, um pouco menos propenso a discutir ou depreciar, um pouco mais inclinado a sorrir. E elas não só perceberão que estarei mais feliz, mas também ficarão mais felizes ao estarem a minha volta. O Espírito Santo nos ensinará todas as coisas que devemos fazer para agradar a Deus e assim ter sempre felicidade.
Abençôo-os para que, ao estudarem e ensinarem o Velho Testamento neste ano, se aproximem Dele. Abençôo-os para que tenham certeza de que o Salvador os ama e Se preocupa com vocês e para que, nos anos futuros, venham a provar do doce fruto de saber que Ele valoriza seu empenho para estudar e ensinar o Velho Testamento.
Discurso dirigido a educadores do Sistema Educacional da Igreja na Universidade Brigham Young em 10 de agosto de 1999.