História da Igreja
33 Até que a tempestade tenha passado


“Até que a tempestade tenha passado”, capítulo 33 de Santos: A História da Igreja de Jesus Cristo nos Últimos Dias, Volume 2, Nenhuma Mão Ímpia, 1846–1893, 2020

Capítulo 33: “Até que a tempestade tenha passado”

Capítulo 33

Até que a tempestade tenha passado

Imagem
Navio a vapor no mar

Na véspera do Natal de 1882, o chefe maori Hare Teimana estava de pé, na beira de um despenhadeiro que ficava ao lado de sua vila, próxima de Cambridge, Nova Zelândia. Abaixo, viu um homem subindo resolutamente o despenhadeiro. Mas, por que aquele estranho estava subindo a montanha para a vila quando poderia ter vindo mais facilmente pela estrada? Por que estava tão apressado em chegar ao topo? Será que tinha algo importante para dizer?

Enquanto Hare observava o estranho subir, percebeu que o conhecia. Certa noite, alguns meses antes, o apóstolo Pedro, vestido de branco, aparecera no quarto de Hare. Ele disse a Hare que um homem estava vindo até o povo maori trazendo o mesmo evangelho que Jesus Cristo pregara enquanto estava na Terra. Pedro disse que Hare reconheceria o homem assim que o visse.1

Missionários protestantes e católicos haviam convertido a maioria dos maoris ao cristianismo na década de 1850, portanto Hare conhecia a missão de Pedro na antiga igreja de Cristo. Também acreditava na realidade das visões e das revelações. Os maoris consultavam seus matakite, ou videntes, para receber orientação direta de Deus. Mesmo após se converterem ao cristianismo, alguns matakite, chefes tribais e os patriarcas de família, continuavam a ter visões e a receber orientação divina para seu povo.2

Um ano antes, na verdade, os líderes maoris tinham perguntado a Pāora Te Pōtangaroa, um matakite muito reverenciado, a qual igreja os maoris deveriam se filiar. Após jejuar e orar por três dias, Pāora dissera que a igreja à qual eles deviam se filiar ainda não tinha chegado. Mas disse que ela viria em algum momento em 1882 ou 1883.3

Reconhecendo o homem que subia o despenhadeiro como a pessoa mencionada por Pedro em sua visão, Hare estava ávido para ouvir o que ele tinha a dizer. Mas o homem estava exausto quando chegou à vila, e Hare teve que esperar que ele recuperasse o fôlego. Quando o homem finalmente falou, foi em maori. Ele disse se chamar William McDonnel e que era missionário de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Deu a Hare alguns folhetos religiosos e testificou que continham o mesmo evangelho que Cristo ensinara em Seu ministério. Também falou do encargo que Cristo deu a Pedro de proclamar o evangelho após Sua Ascensão.4

Hare ficou muito interessado, mas William estava ansioso para se juntar a seus dois companheiros de missão, que tinham pegado a estrada para a vila. Quando William começou a partir, Hare o agarrou pelo colarinho do casaco. “Você vai parar aqui e me contar tudo sobre o evangelho”, exigiu ele.

William começou a compartilhar tudo o que sabia, e Hare continuou a segurá-lo firmemente pelo colarinho. Quinze minutos se passaram, e William viu seus companheiros, o presidente da missão William Bromley e Thomas Cox, que chegaram à vila pela estrada principal. Ele acenou com o chapéu para lhes chamar a atenção, e Hare finalmente largou seu colarinho. Então, com William atuando como intérprete, os homens conversaram com Hare, expressando o desejo deles de se reunirem com os maoris daquela região.

Hare os convidou a voltar mais tarde naquele dia. “Vocês podem fazer a reunião em minha casa”, disse ele.5


Naquela noite, William McDonnel se reuniu com o presidente Bromley e Thomas Cox na casa de Hare Teimana. Tendo nascido na Irlanda, William se mudara para a Nova Zelândia depois que o capitão de um navio lhe dissera que aquele era um bom país. Mais tarde, foi morar entre os maoris por vários anos e aprendeu o idioma deles. Mudou-se, então, para a cidade de Auckland, Nova Zelândia, onde se casou em 1874 e se filiou à Igreja poucos anos depois.6

Embora tivessem sido chamados missionários para pregar na Nova Zelândia e na vizinha Austrália desde o início da década de 1850, a Igreja era pequena na Nova Zelândia. Ao longo das três décadas anteriores, pelo menos 130 membros tinham ido para o Vale do Lago Salgado, reduzindo o número de membros nos ramos da Nova Zelândia, assim como acontecera em outros países.

A maioria dos membros era imigrante europeu, como William. Mas, logo após o batismo de William, o presidente Bromley foi para a Nova Zelândia com o encargo dado por Joseph F. Smith, o novo segundo conselheiro na Primeira Presidência, de levar o evangelho ao povo maori.7 O presidente Bromley orou para saber quem eram as pessoas certas a serem enviadas, e sentiu que William era uma delas. Seis meses mais tarde, William batizou o primeiro maori a receber a ordenança na Nova Zelândia, um homem chamado Ngataki.8

Agora, sentados entre homens e mulheres maoris na casa de Hare, os missionários estavam cumprindo o encargo dado por Joseph F. Smith. O presidente Bromley lia uma passagem da Bíblia em inglês, William abria a mesma seção na Bíblia maori e a passava para que alguém a lesse. O grupo ouviu atentamente a mensagem e William disse ao grupo que voltaria na noite seguinte.

Antes de os missionários irem embora, Hare levou William para ver a filha dele, Mary. Ela estava enferma há semanas e os médicos disseram que era apenas uma questão de tempo até que ela viesse a falecer. William acabara de ensinar que os élderes que tinham o sacerdócio de Deus podiam dar bênçãos de cura, e Hare quis saber se eles abençoariam sua filha.

A menina parecia estar prestes a morrer. William, o presidente Bromley e Thomas se ajoelharam ao lado dela e impuseram as mãos em sua cabeça. Um doce espírito encheu o recinto e Thomas a abençoou com vida.

Naquela noite, William não conseguiu dormir. Ele tinha fé que Mary poderia ser curada. Mas, e se aquela não fosse a vontade de Deus? Como isso afetaria a fé exercida por Hare e pelos outros maoris se ela morresse?

Pouco antes do nascer do sol, William foi para a casa de Hare. Ao longe, viu uma mulher da vila vindo em sua direção. Quando chegou até onde ele estava, ela o ergueu do chão com um abraço. Depois, tomou-o pela mão e o puxou até a casa de Hare.

“Como está a menina?”, perguntou William.

“Muito bem!”, disse a mulher.

Quando William entrou na casa, viu Mary sentada na cama, olhando ao redor do quarto. Ele apertou a mão dela e pediu à mãe que desse alguns morangos para ela comer.9

Naquela noite, Hare e a esposa, Pare, aceitaram o batismo, além de outra pessoa da vila. O grupo foi até o rio Waikato, onde William entrou nas águas, ergueu o braço direito em ângulo reto e imergiu cada um deles no rio. Depois disso, voltou para casa em Auckland e Thomas Cox e a esposa, Hannah, continuaram a ministrar aos maoris em Cambridge.

Dois meses mais tarde, em 25 de fevereiro de 1883, o primeiro ramo maori da Igreja foi organizado.10


Após seu batismo, Anna Widtsoe estava ansiosa para atender à conclamação do Senhor para se coligar em Sião. Anthon Skanchy, um dos missionários que lhe ensinara o evangelho, escrevia com frequência para incentivar a ela e a seus jovens filhos a se unirem a ele e a outros santos escandinavos em Utah. Tendo já imigrado para Logan, Utah, onde os santos estavam terminando de construir um templo de dimensões e aparência semelhantes ao de Manti, ele entendia o desejo dela de sair da Noruega.

“Tudo vai contribuir para seu bem”, garantiu-lhe ele em carta. “Você e seus pequeninos não serão esquecidos.”11

Por mais ansiosa que Anna estivesse para se mudar para Utah, ela sabia que sentiria saudades de sua terra natal. Seu falecido marido estava enterrado ali, e ela se importava profundamente com os outros membros da Igreja de sua cidade. Com frequência, quando os santos europeus saíam de seus ramos a fim de irem para Sião, deixavam lacunas na liderança local da Igreja, dificultando o progresso de minúsculas congregações. Anna era conselheira na Sociedade de Socorro de seu ramo e, se ela decidisse se mudar para Utah, o pequeno grupo de mulheres sem dúvida sentiria muita falta dela.

Também tinha que pensar em seus dois filhos. John, de 11 anos, e Osborne, de 5 anos, eram meninos inteligentes e bem-comportados. Em Utah, eles teriam que aprender um novo idioma e se adaptar a uma nova cultura, o que os deixaria atrasados em relação às outras crianças da mesma idade. E como ela os sustentaria? Desde seu batismo, Anna vinha se dando muito bem trabalhando como costureira. Caso partisse da Noruega, perderia a pensão do marido e teria que reiniciar seu trabalho em um lugar diferente.12

Anna também voltara a se relacionar com Hans, um antigo pretendente, que parecia interessado em reacender seu relacionamento romântico. Ele não era membro da Igreja, mas parecia apoiar a religião dela. Mas Anna não tinha muita esperança de que ele se unisse aos santos, já que parecia mais interessado pelas coisas do mundo do que em buscar o reino de Deus.13

Ao repassar tudo isso na mente, Anna se deu conta de que apenas retardaria seu progresso e o dos filhos ficando na Noruega. O governo norueguês não reconhecia a Igreja nem a considerava cristã. Turbas perseguiam os missionários, e os ministros frequentemente criticavam a Igreja nos sermões e em folhetos. Com exceção de sua irmã caçula Petroline, que ficara interessada pela Igreja, a própria família de Anna também a rejeitara depois que havia se filiado à Igreja.

No outono de 1883, Anna decidiu deixar a Noruega. “Estou viajando de casa para Utah assim que puder”, escreveu ela para Petroline em setembro. “Se não formos capazes de deixar tudo, até a vida se isso for exigido, não somos discípulos.”14

No entanto, o dinheiro era um obstáculo. Sua família jamais a ajudaria a fazer a mudança e Anna não sabia como pagaria as despesas da emigração. Então, dois missionários que haviam retornado do campo e um santo norueguês lhe doaram algum dinheiro. Hans também lhe deu um pouco de dinheiro para a viagem, e a Igreja permitia que ela usasse parte do dízimo para pagar as passagens da família.

Em sua última reunião com sua Sociedade de Socorro, Anna expressou o quanto estava feliz pelo fato de o reino de Deus estar novamente na Terra — e que ela tinha a oportunidade de ajudar a edificá-lo. Ao ouvir o testemunho de suas irmãs da Sociedade de Socorro, ela desejou que todas sempre vivessem de modo que o Espírito de Deus estivesse com elas e as iluminasse.

Em outubro de 1883, Anna, John e Osborne embarcaram em um navio, em Oslo, rumo à Inglaterra. Na praia, seus amigos santos noruegueses se despediram acenando lenços. A majestosa costa norueguesa jamais tinha parecido tão bela para Anna. Pelo que sabia, ela jamais voltaria a vê-la novamente.15


No início do verão de 1884, Ida Hunt Udall estava servindo como presidente da Associação de Melhoramentos Mútuos das Jovens Damas da Estaca Arizona Leste, um cargo que exigia que ela zelasse pelas jovens de Snowflake, de St. Johns e de outros assentamentos da região, e desse aulas para elas. Embora não conseguisse visitar todas as associações da estaca com muita frequência, ela se sentia feliz quando se reuniam para as conferências trimestrais.16

Desde seu casamento com David Udall, Ida havia se mudado de volta para St. Johns, onde os santos enfrentavam forte oposição. A cidade era governada por cidadãos poderosos que não queriam que os santos se instalassem no condado. Conhecido como o Círculo, o grupo assediava os membros da Igreja e tentava impedi-los de votarem. Também publicavam um jornal que incentivava os leitores a aterrorizarem os santos.

“Como Missouri e Illinois se livraram dos mórmons?”, perguntava um artigo. “Com armas de fogo e a forca.”17

Em seu lar, com David e Ella, porém, Ida tinha encontrado paz. Por um tempo, Ella tivera dificuldades em se acostumar com a nova condição de Ida na casa, mas as duas mulheres tinham se tornado mais próximas ao se ajudarem mutuamente nas enfermidades e em outros problemas cotidianos. Desde que se unira à família, Ida tinha ajudado Ella no parto de duas filhas, Erma e Mary. A própria Ida ainda não tinha filhos.

Em 10 de julho de 1884, cinco dias após o nascimento de Mary, Ida estava limpando a mesa depois do jantar quando o cunhado de David, Ammon Tenney, apareceu à porta. Ele tinha sido acusado de poligamia, e sua esposa Eliza, irmã de David, tinha sido intimada a depor contra ele. Em vez de se submeter à lei e ser uma testemunha-chave no julgamento do marido, Eliza decidira se esconder dos delegados.18

“A próxima a ser intimada pode ser você”, alertou Ammon a Ida. Sendo bispo de St. Johns — e sabidamente polígamo —, o marido seria um alvo importante para acusação. Se um delegado com uma intimação encontrasse Ida, ela poderia ser forçada a testemunhar contra David no tribunal. Sob a lei Edmunds, ele poderia receber uma multa de 300 dólares e ser condenado a seis meses de prisão por coabitação ilegal. E a pena por poligamia era ainda mais severa. Caso fosse considerado culpado, David teria que pagar uma multa de 500 dólares e ser condenado a cinco anos de prisão.19

O primeiro pensamento de Ida foi em Ella, que estava se recuperando do parto da filha. Ella ainda precisava de sua ajuda, e Ida não queria abandoná-la. Mas, se ficasse na casa, isso apenas aumentaria o risco que a família corria.

Ida rapidamente se cobriu com um xale e saiu silenciosamente da casa. Eliza e outras mulheres estavam se escondendo dos delegados na casa de um vizinho, e Ida se uniu a elas. A maioria das mulheres tinha deixado filhos para trás, sem ter outra opção a não ser confiar seus pequeninos aos cuidados de outras pessoas.

Dia após dia, mantinham um olho vigilante na estrada, agachando-se embaixo da cama ou atrás das cortinas sempre que um estranho se aproximava da casa.

Depois de ter passado seis dias na casa do vizinho, um amigo se ofereceu para fazer o transporte dela e das outras mulheres em segredo até Snowflake. Antes de sair da cidade, Ida voltou para casa e rapidamente embalou alguns pertences para a viagem. Ao dar um beijo de despedida em Ella e nas crianças, ela teve a impressão de que se passariam muitos dias antes de se verem novamente.20

Ida discursou para a organização das moças da Ala Snowflake assim que lá chegou, tendo ainda uma viva lembrança dos problemas que enfrentara em St. John. “Aqueles que sofrem perseguição por causa do evangelho têm uma paz e um contentamento que mal conseguiriam imaginar”, testificou ela. “Não podemos esperar uma vida tranquila na Igreja, sem provações. Nossa vida sem dúvida será colocada em risco.”21


No final do verão, vários santos do território de Utah tinham sido presos sob a lei Edmunds, mas ninguém havia sido condenado e colocado na prisão. Entre os santos presos estava Rudger Clawson, que assistira ao assassinato de seu companheiro de missão, Joseph Standing, cinco anos antes. Rudger estava casado com duas mulheres: Florence Dinwoody e Lydia Spencer. Após a prisão dele, Lydia se ocultou, deixando a acusação sem uma testemunha-chave.22

O julgamento de Rudger começou em outubro. Na audiência, testemunhas santos dos últimos dias, inclusive o presidente John Taylor, procuraram colaborar o menos possível no tribunal. Quando os acusadores perguntaram ao profeta onde poderiam ser encontrados os registros de casamento da Igreja, suas respostas foram vagas.

“Se você quiser vê-los”, perguntou um advogado, “há um meio de saber com certeza onde estão?”

“Eu poderia descobrir perguntando”, respondeu o presidente Taylor.

“Teria a gentileza de fazê-lo?”, perguntou o advogado.

“Ora”, respondeu o profeta secamente, “não sou gentil o suficiente para fazê-lo”. Todos no tribunal romperam em risos.23

Após uma semana de depoimentos semelhantes, o júri de 12 homens não conseguiu chegar a uma conclusão sobre o caso e o juiz adiou o julgamento. Mas, naquela mesma noite, o vice-delegado conseguiu encontrar Lydia Clawson e a intimou a depor contra Rudger no tribunal.

Um novo julgamento teve início em breve. Após ouvir o depoimento de várias testemunhas que haviam aparecido no julgamento anterior, o promotor chamou Lydia ao banco de testemunhas. Ela parecia pálida, porém determinada. Quando o funcionário judicial tentou fazer com que ela fizesse o juramento, ela se recusou.24

“Não sabe que é errado não fazer o juramento?”, perguntou o juiz a Lydia.

“Pode ser”, respondeu ela.

“Você pode ser presa”, advertiu o juiz.

“Isso depende do senhor, meritíssimo”, disse Lydia.

“É temerário da sua parte decidir desafiar o governo”, declarou o juiz. Ordenou então que ela ficasse sob custódia do delegado e adiou o julgamento.

Naquela noite, ao ser transportada para a penitenciária estadual, Lydia recebeu uma mensagem de Rudger implorando que ela testificasse contra ele. Ela estava grávida e, caso se recusasse a cooperar com o tribunal, poderia acabar tendo que dar à luz em uma prisão federal, a centenas de quilômetros de sua casa e da família.25

Na manhã seguinte, o delegado acompanhou Lydia até uma sala de tribunal lotada, onde os promotores novamente a chamaram para o banco das testemunhas. Dessa vez, ela não se recusou a fazer o juramento quando o funcionário judicial pediu. Depois, o promotor perguntou se ela era casada.

Quase sussurrando, Lydia respondeu que sim.

“Com quem?”, pressionou ele.

“Rudger Clawson”, disse ela.

Os membros do júri levaram menos de 20 minutos para dar o veredicto de culpado — o primeiro sob a lei Edmunds.26 Nove dias depois, Rudger compareceu perante o juiz para ouvir a sentença. Antes de dar seu parecer, o juiz perguntou a Rudger se tinha algo a dizer.

“Lamento muito que as leis de meu país tenham ido de encontro às leis de Deus”, disse Rudger, “mas, sempre que isso acontecer, invariavelmente optarei pelas leis de Deus”.

O juiz se acomodou na cadeira. Estivera preparado para ser condescendente com Rudger, mas a atitude de rebeldia do jovem o fez mudar de ideia. Com solenidade no olhar, sentenciou Rudger a quatro anos de prisão e o multou em 500 dólares por poligamia e em 300 dólares por coabitação ilegal.

O tribunal ficou em silêncio. Um delegado levou Rudger para fora da sala, permitindo que se despedisse de amigos e parentes, e depois o conduziu à penitenciária. Rudger passou sua primeira noite na prisão confinado com 50 dos piores criminosos do território.27


Naquele inverno, nos assentamentos espalhados por todo o território de Utah, os delegados continuaram a assediar os santos na própria casa, esperando pegar as famílias plurais desprevenidas. Dia e noite, pais e mães viam horrorizados os homens da lei invadirem suas casas e tirarem os filhos da cama. Alguns delegados se esgueiravam pelas janelas ou ameaçavam derrubar as portas. Se encontravam uma esposa plural, podiam prendê-la caso se recusasse a depor contra o marido.

Por mais que John Taylor quisesse incentivar os santos a continuarem a viver sua religião, ele via que as famílias estavam sendo destruídas e se sentia responsável pelo bem-estar delas.28 Em breve, começou a se aconselhar com os líderes da Igreja sobre uma mudança dos santos para fora dos Estados Unidos para que não fossem presos e tivessem mais liberdade.29

Em janeiro de 1885, ele e Joseph F. Smith partiram de Salt Lake City com uns poucos apóstolos e amigos de confiança para visitar os santos do território do Arizona, pouco ao norte do México. Muitos santos estavam vivendo atemorizados ali, e alguns já tinham fugido para o México para escapar dos delegados.30

Ansiosos para ver por si mesmos se mais santos poderiam encontrar refúgio naquele país, John, Joseph e seus companheiros cruzaram a fronteira e entraram no México. Ali encontraram alguns lugares promissores próximos de água suficiente para dar suporte a um assentamento.31 Quando a companhia retornou ao Arizona, alguns dias depois, John e seus companheiros se aconselharam sobre o que fazer em seguida.

Por fim, eles decidiram comprar terras e estabelecer assentamentos no estado de Chihuahua, no México. John pediu a alguns homens que começassem a arrecadar fundos. Em seguida, ele e os demais partiram de trem para San Francisco.32 Ao chegar lá, John recebeu um telegrama urgente de George Q. Cannon. Inimigos internos estavam conspirando, advertiu George, e planejavam prender a Primeira Presidência.

Vários homens pressionaram John para que ficasse na Califórnia até que o perigo passasse. Sem ter muita certeza do que fazer, o profeta orou pedindo orientação. Anunciou, então, que voltaria para Salt Lake City e enviaria Joseph F. Smith para o Havaí em outra missão. Uns poucos protestaram, seguros de que John e os outros seriam presos caso voltassem para casa. Mas estava claro na mente de John que seu lugar era em Utah.

John chegou à sua casa poucos dias depois e convocou um conselho especial com os líderes da Igreja. Contou-lhes seu plano de comprar terras no México e declarou sua intenção de evitar a captura, ocultando-se. Aconselhou aos santos que fizessem tudo que lhes fosse possível, com exceção da violência, para que não fossem condenados. Ele faria o mesmo.33

Naquele domingo, John falou publicamente aos santos no tabernáculo apesar do risco de ser preso. Lembrou à congregação que já haviam enfrentado oposição no passado. “Ergam o colarinho do casaco, abotoem-se e se protejam do frio até que a tempestade tenha passado”, aconselhou ele. “Esta tempestade passará, assim como as outras.”34

Tendo incentivado os santos da melhor maneira que pôde, John saiu do tabernáculo, entrou em uma carruagem e partiu noite adentro.35

  1. McDonnel, Reminiscence, part 1, [68]–[70]; part 2, [17]–[22]; Bromley, Journal, Dec. 24–25, 1882; New Zealand Auckland Mission, Manuscript History, volume 2, part 1, Dec. 25, 1882; William Burnett, carta ao editor, Deseret News, 7 de março de 1883, p. 15; Britsch, Unto the Islands of the Sea, p. 265.

  2. Britsch, Unto the Islands of the Sea, pp. 260–261; Barber, “Matakite, Mormon Conversions, and Māori-Israelite Identity”, pp. 169–173; Britsch, “Maori Traditions and the Mormon Church”, pp. 38–40.

  3. Greenwood, Journal, Apr. 5, 1883; Meha, “A Prophetic Utterance of Paora Potangaroa”, p. 298; Cowley, “Maori Chief Predicts”, pp. 696–697; Underwood, “Mormonism and the Shaping of Maori Religious Identity”, pp. 117–119; Ballara and Cairns, “Te Potangaroa, Paora”.

  4. McDonnel, Reminiscence, part 1, [69]–[70].

  5. McDonnel, Reminiscence, part 1, [70]–[73].

  6. McDonnel, Reminiscence, part 1, [74]; part 2, [44], [64]–[70]; McDonnel, “Start of the Mission”, pp. 8–9.

  7. Newton, Mormon and Maori, pp. xxiii, 1; Newton, Tiki and Temple, pp. 5–30; Britsch, Unto the Islands of the Sea, pp. 195–197; Bromley, Journal, Dec. 11, 1880 e Jan. 14, 1881; Bromley, “Introduction of the Gospel to the Maories”, p. 6.

  8. McDonnel, Reminiscence, part 1, [1]–[8], [34]–[45]; Bromley, Journal, Apr. 5, 1881; June 13, 1881; Oct. 20, 1881; New Zealand Auckland Mission, Manuscript History, volume 2, part 1, Oct. 18, 1881. Tópico: Nova Zelândia.

  9. McDonnel, Reminiscence, part 1, [74]–[85]; part 2, [1]–[7]; Bromley, Journal, Dec. 24, 1882; McDonnel, “Start of the Mission”, pp. 4–5; New Zealand Auckland Mission, Manuscript History, volume 2, part 1, Dec. 25, 1882. Tópico: Cura.

  10. Bromley, Journal, Dec. 25–26, 1882 e Feb. 26, 1883; McDonnel, Reminiscence, part 2, [11]–[14], [30]–[31]; “Cox, Thomas Lewis”, Coleção Andrew Jenson, Biblioteca de História da Igreja.

  11. Andrew e Blank, “Four Mormon Temples”, pp. 51–56; Anton Skanchy para Anna Gaarden Widtsoe, 27 de maio de 1882; 27 de agosto de 1882, Anna K. Gaarden Widtsoe Papers, Widtsoe Family Papers, Biblioteca de História da Igreja; ver também cartas de Anton Skanchy para Anna Gaarden Widtsoe, 1881–1883, Anna K. Gaarden Widtsoe Papers, Widtsoe Family Papers, Biblioteca de História da Igreja.

  12. Widtsoe, In the Gospel Net, pp. 67–68, 72–75; “Widtsoe, Anna Karine Gaarden”, em Jenson, Latter-day Saint Biographical Encyclopedia, vol. 3, p. 735; Hunsaker, “History of the Norwegian Mission”, pp. 65–66, 68–69. Tópico: Noruega.

  13. Anna Gaarden Widtsoe para Petroline Gaarden, 14 de setembro de 1883, Anna K. Gaarden Widtsoe Papers, Widtsoe Family Papers, Biblioteca de História da Igreja.

  14. Widtsoe, In the Gospel Net, pp. 70–73; Haslam, Clash of Cultures, pp. 33–34, 45, 70–72, 82–85; Anna Gaarden Widtsoe para Petroline Gaarden, 14 de setembro de 1883, Anna K. Gaarden Widtsoe Papers, Widtsoe Family Papers, Biblioteca de História da Igreja.

  15. “Scandinavian Mission Emigration List ‘G’, 1881–1886”, pp. 82[a]–82[b]; Trondheim Branch, Relief Society Minutes and Records, 16 de agosto de 1883, pp. 41–42; Widtsoe, In the Gospel Net, pp. 74, 76; Anna Gaarden Widtsoe para Petroline Gaarden, 14 de setembro de 1883, Anna K. Gaarden Widtsoe Papers, Widtsoe Family Papers, Biblioteca de História da Igreja. Tópico: Emigração.

  16. Estaca Snowflake Arizona, Young Women’s Mutual Improvement Association Minutes and Records, 7 de dezembro de 1883; 7 de março de 1884; 12 de setembro de 1884; Estaca Snowflake Arizona, Atas e registros da Sociedade de Socorro, 7 de março de 1884.

  17. Apache Chief, 30 de maio de 1884, citado em Fish, Life and Times of Joseph Fish, p. 253; Udall, Autobiography and Diaries, volume 1, 47–50; Ellsworth, Mormon Odyssey, pp. 43–47; David K. Udall and others to John Taylor, Mar. 27, 1884, correspondência da Primeira Presidência (John Taylor), Biblioteca de História da Igreja; Bair e Jensen, “Prosecution of the Mormons”, pp. 28–30.

  18. Udall, Autobiography and Diaries, volume 1, 36–38, 48–50, 56–57; James, “Between Two Fires”, p. 51.

  19. Udall, Autobiography and Diaries, volume 1, 47–50, 56–57; Bair e Jensen, “Prosecution of the Mormons”, pp. 25–26, 29; An Act to Amend Section Fifty-Three Hundred and Fifty-Two of the Revised Statutes of the United States, em Reference to Bigamy, and for Other Purposes, 22 de março de 1882, Statutes at Large, 1883, 47th Cong., 1st Sess., capítulos 47, 30–31, secs. 1, 3; Firmage e Mangrum, Zion in the Courts, p. 161. A citação alterada para facilitar a leitura; a fonte original dizia: “Eles achavam que a próxima a ser intimada seria eu, e isso poderia acontecer a qualquer momento”.

  20. Udall, Autobiography and Diaries, volume 1, 56–58.

  21. Ala Snowflake, Atas e registros da Associação de Melhoramentos Mútuos das Moças, 21 de julho de 1884. Tópico: Ida Hunt Udall.

  22. Whitney, History of Utah, vol. 3, pp. 275–278; Clawson, Memoirs, p. 93; “A Comedy of Errors”, Salt Lake Daily Herald, 18 de outubro de 1884, p. 8; “Evidence Ended”, Salt Lake Daily Herald, 19 de outubro de 1884, p. 12. Tópico: Legislação antipoligamia.

  23. “A Comedy of Errors”, Salt Lake Daily Herald, 18 de outubro de 1884, pp. 5, 8; Whitney, History of Utah, vol. 3, pp. 295–307.

  24. “A Brilliant Defense”, Salt Lake Daily Herald, 21 de outubro de 1884, pp. 8, 5; “Unable to Agree”, Salt Lake Daily Herald, 22 de outubro de 1884, p. 8; “The Long Agony”, Salt Lake Daily Herald, 23 de outubro de 1884, p. 8; “The Climax”, Salt Lake Daily Herald, 25 de outubro de 1884, p. 8.

  25. “The Climax”, Salt Lake Daily Herald, 25 de outubro de 1884, p. 8; “Lydia Spencer’s Reasons”, Salt Lake Daily Herald, 26 de outubro de 1884, p. 12; Hoopes and Hoopes, Making of a Mormon Apostle, p. 88.

  26. “Found Guilty”, Salt Lake Daily Herald, 26 de outubro de 1884, p. 12; “Lydia Spencer’s Reasons”, Salt Lake Daily Herald, 26 de outubro de 1884, p. 12; “Lydia Spencer”, Deseret News, 29 de outubro de 1884, p. 12; Gordon, Mormon Question, p. 157.

  27. “No Bail”, Salt Lake Daily Herald, 4 de novembro de 1884, p. 7; ver também Whitney, History of Utah, vol. 3, pp. 317–319; e Clawson, autobiografia, pp. [95]–[97].

  28. Panek, “Search and Seizure in Utah”, pp. 319–331; James, “Between Two Fires”, pp. 51, 52–53; John Taylor, em Journal of Discourses, Oct. 19, 1884, 25:344–51; ver também “Discourse by President John Taylor”, Deseret Evening News, 14 de fevereiro de 1885, p. 1.

  29. John Taylor and George Q. Cannon to Jesse N. Smith and others, Dec. 8, 1884, correspondência da Primeira Presidência (John Taylor), Biblioteca de História da Igreja; ver também Romney, Mormon Colonies in Mexico, pp. 51–53.

  30. “Discourse by President John Taylor”, Deseret Evening News, 14 de fevereiro de 1885, p. 1; Jesse N. Smith, Autobiography and Journal, Jan. 3 and 18, 1885; Joseph F. Smith para Sarah Richards Smith, 14 de janeiro de 1885, Coleção Sarah Ellen R. Smith, Biblioteca de História da Igreja; Erastus Snow para E. W. Snow, 15 de janeiro de 1885, Correspondência de Erastus Snow, Biblioteca de História da Igreja; McIntyre e Barton, Christopher Layton, p. 151.

  31. Erastus Snow para E. W. Snow, 15 de janeiro de 1885, Correspondência de Erastus Snow, Biblioteca de História da Igreja; Joseph F. Smith para Sarah Richards Smith, 17 de janeiro de 1885, Coleção Sarah Ellen R. Smith, Biblioteca de História da Igreja; Joseph F. Smith, diário, 1º e 15–18 de janeiro de 1885; Francis Marion Lyman, diário, 14 a 15 de janeiro de 1885.

  32. Thatcher, diário, 17, 18 e 23 de janeiro de 1885; Francis Marion Lyman, diário, 17, 18 e 23 de janeiro de 1885; Jesse N. Smith, Autobiography and Journal, Jan. 18, 1885; McIntyre e Barton, Christopher Layton, p. 151; Joseph F. Smith, diário, 23 de janeiro de 1885. Tópico: Colônias no México.

  33. Joseph F. Smith, diário, 20 e 24–25 de janeiro de 1885; Francis Marion Lyman, diário, 18, 23–25 e 27 de janeiro de 1885; Thatcher, diário, 23 de janeiro de 1885; Franklin D. Richards, diário, 27 de janeiro de 1885; Abraham H. Cannon, diário, 27 de janeiro de 1885; George Q. Cannon, Journal, Jan. 23 and 27, 1885; “Discourse by President John Taylor”, Deseret Evening News, 14 de fevereiro de 1885, p. 1.

  34. “Discourse by President John Taylor”, Deseret Evening News, 14 de fevereiro de 1885, p. 1.

  35. George Q. Cannon, Journal, Feb. 1, 1885.