Conferência Geral
Conversas essenciais
Conferência Geral de Abril de 2021


Conversas essenciais

Não podemos esperar que as crianças simplesmente se convertam. A conversão como acontecimento isolado não é um princípio do evangelho de Jesus Cristo.

Já se perguntaram por que chamamos a Primária de “Primária”? Embora o nome se refira ao aprendizado espiritual que as crianças recebem na infância, para mim ele também é um lembrete de uma verdade poderosa. Para o Pai Celestial, as crianças nunca foram de importância secundária — elas sempre tiveram importância “primária”.1

Ele confia em nós para valorizar, respeitar e proteger os filhos de Deus. Isso significa que nunca os prejudicamos física, verbal ou emocionalmente de nenhuma forma; mesmo em momentos de muita tensão e estresse. Em vez disso, nós valorizamos as crianças e fazemos tudo o que podemos para impedir os males do abuso. Cuidar delas tem importância primária para nós — e para Ele também.2

Um pai e mãe jovens se sentaram à mesa da cozinha conversando sobre o dia que tiveram. Eles ouviram um barulho, lá do fundo do corredor, e a mãe perguntou: “O que foi isso?”

Em seguida, ouviram um choro bem baixinho que vinha do quarto do filho de 4 anos e correram pelo corredor. Ele estava ali, deitado no chão ao lado de sua cama. A mãe pegou o filhinho e perguntou o que tinha acontecido.

Ele disse: “Caí da cama”.

“Por que você caiu da cama?”, perguntou a mãe.

Ele encolheu os ombros e disse: “Não sei. Acho que só não consegui subir”.

É sobre “conseguir subir” que gostaria de falar nesta manhã. Temos o privilégio e a responsabilidade de ajudar as crianças a “conseguir subir” no evangelho de Jesus Cristo. E nunca é cedo demais para isso.

Há uma fase particularmente especial na vida das crianças quando estão protegidas da influência de Satanás. Uma época em que são inocentes e não pecam.3 Um tempo sagrado para os pais e a criança. As crianças devem ser ensinadas, pela palavra e pelo exemplo, antes e depois de “[terem] alcançado a idade da responsabilidade perante Deus”.4

O presidente Henry B. Eyring ensinou: “Nossa probabilidade de sucesso é maior com as crianças (…). O melhor momento de ensinar as crianças é bem cedo, enquanto ainda são imunes às tentações [do] inimigo mortal, e bem antes que o barulho das dificuldades pessoais as impeça de ouvir as palavras da verdade”.5 Esse ensinamento vai ajudá-las a perceber sua identidade divina, seu propósito e as ricas bênçãos que as aguardam ao fazerem convênios sagrados e receberem as ordenanças ao longo do caminho do convênio.

Não podemos esperar que as crianças simplesmente se convertam. A conversão como acontecimento isolado não é um princípio do evangelho de Jesus Cristo. Tornar-se como o Salvador não é algo que acontece por acaso. O esforço consciente de amar, ensinar e testificar pode ajudar as crianças, mesmo as mais novas, a começar a sentir a influência do Espírito Santo. O Espírito Santo é essencial ao testemunho das crianças e à conversão a Jesus Cristo; desejamos que elas “sempre se [lembrem] dele, para que possam ter consigo o seu Espírito”.6

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Conversas em família

Pensem no valor das conversas em família a respeito do evangelho de Jesus Cristo, conversas essenciais, que podem convidar o Espírito. Quando temos essas conversas com nossos filhos, nós os ajudamos a construir um alicerce “que é um alicerce seguro; e se [eles] edificarem sobre esse alicerce, não cairão”.7 Quando fortalecemos um filho, fortalecemos a família.

Esses debates importantes podem levar as crianças a:

  • Compreender a doutrina do arrependimento.

  • Ter fé em Cristo, o Filho do Deus vivo.

  • Escolher o batismo e o dom do Espírito Santo quando tiverem 8 anos de idade.8

  • E orar e “andar em retidão perante o Senhor”.9

O Salvador exortou: “Portanto, dou-te o mandamento de ensinares estas coisas liberalmente a teus filhos”.10 E o que Ele desejava que ensinássemos liberalmente?

  1. A Queda de Adão

  2. A Expiação de Jesus Cristo

  3. A importância de nascer de novo11

O élder D. Todd Christofferson ensinou: “Certamente o adversário se regozija quando pais não ensinam e não orientam os filhos a terem fé em Cristo e a nascerem de novo espiritualmente”.12

Por outro lado, o Salvador deseja que ajudemos as crianças a “[pôr sua] confiança naquele Espírito que leva a fazer o bem”.13 Para isso, podemos ajudá-las a reconhecer quando estão sentindo o Espírito e a discernir quais atitudes fazem com que o Espírito Se afaste. Assim, aprendem a se arrepender e a retornar à luz por meio da Expiação de Jesus Cristo. Isso ajuda a incentivar a resiliência espiritual.

Podemos nos divertir ajudando nossos filhos a desenvolver resiliência espiritual em qualquer idade. Não precisa ser nada complicado ou demorado. Conversas simples e amorosas podem fazer com que as crianças não só compreendam em que acreditam, mas, o mais importante, compreendam por que acreditam nessas coisas. Conversas amorosas, que acontecem natural e regularmente, podem levar a uma compreensão melhor e a respostas. Não vamos permitir que a conveniência dos dispositivos eletrônicos nos impeça de ensinar e escutar nossos filhos, e de olhar em seus olhos.

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Conversa entre mãe e filha

Outras oportunidades de conversas essenciais podem surgir por meio de encenações. Os membros da família podem encenar situações em que estão sendo tentados ou pressionados a fazer uma escolha ruim. Esse exercício pode fortalecer as crianças para que estejam preparadas numa ocasião desafiadora. Por exemplo, podemos encenar e depois fazer um debate, perguntando às crianças o que elas fariam:

  • Se estivessem tentadas a quebrar a Palavra de Sabedoria.

  • Se estivessem expostas à pornografia.

  • Se estivessem tentadas a mentir, roubar ou trapacear.

  • Se ouvissem algo de um amigo ou professor da escola que fosse contrário às suas crenças ou aos seus valores.

Ao encenarem e depois debaterem sobre isso, em vez de serem pegas de surpresa por um ambiente hostil de um grupo de colegas, as crianças podem estar armadas com “o escudo da fé com o qual [poderão] apagar todos os dardos inflamados dos iníquos”.14

Um amigo próximo aprendeu essa lição crucial quando tinha 18 anos de idade. Ele se alistou nas forças armadas dos Estados Unidos durante o conflito entre os Estados Unidos e o Vietnã. Ele foi designado ao treinamento básico de infantaria a fim de se tornar soldado. Meu amigo comentou que o treinamento foi exaustivo e descreveu seu instrutor dizendo que ele era uma pessoa cruel e desumana.

Certo dia, seu esquadrão estava portando todo o equipamento de combate, caminhando sob um calor escaldante. De repente, o instrutor gritou para que eles se jogassem no chão e não se mexessem. Ele estava atento até mesmo ao menor sinal. Qualquer movimento resultaria em graves consequências depois. O esquadrão sofreu por mais de duas horas no calor, com a raiva e o ressentimento que cresciam em relação a seu líder.

Depois de muitos meses, nosso amigo se viu liderando um esquadrão pelas florestas do Vietnã. E não era só um treinamento, era de verdade. Eles conseguiam ouvir tiros que vinham do alto das árvores ao redor. O esquadrão inteiro imediatamente se jogou no chão.

O que o inimigo estava procurando? Movimento. Qualquer movimento causaria um tiroteio. Meu amigo disse que, enquanto estava deitado, suando e imóvel no chão, no meio da mata, esperando muitas horas para anoitecer, ele se lembrou do treinamento básico e da profunda antipatia que tinha por seu instrutor. Agora, ele sentia muita gratidão — pelo que ele lhe havia ensinado e como o havia preparado para essa situação crítica. O instrutor havia sabiamente equipado nosso amigo e o esquadrão com a capacidade de saber o que fazer em um combate. Na verdade, ele salvou a vida de nosso amigo.

Espiritualmente, como podemos fazer o mesmo por nossos filhos? Como podemos nos esforçar mais plenamente para ensiná-los, fortalecê-los e prepará-los muito antes de entrarem no campo de batalha da vida?15 Como podemos convidá-los para que “consigam subir”? Não seria melhor fazê-los “suar” no ambiente seguro de aprendizado do lar em vez de sangrarem nos campos de batalha da vida?

Quando relembro minhas experiências, houve ocasiões em que meu marido e eu nos sentimos instrutores em nossa diligência para ajudar nossos filhos a viver o evangelho de Jesus Cristo. O profeta Jacó pareceu ter expressado o mesmo sentimento quando disse: “Desejo o bem-estar de vossa alma. Sim, minha ansiedade por vós é grande e vós sabeis que sempre tem sido”.16

À medida que as crianças aprendem e progridem, suas crenças serão desafiadas. Contudo, se estiverem devidamente equipadas, conseguirão desenvolver fé, coragem e confiança mesmo em meio à forte oposição.

Alma nos ensinou a “[preparar] a mente [dos] filhos”.17 Estamos preparando a nova geração para serem os futuros defensores da fé, para compreenderem que “[são] livres para agir por [si] mesmos — para [escolherem] o caminho da morte eterna ou o caminho da vida eterna”.18 As crianças merecem compreender esta grande verdade: o pior erro é errar com respeito à eternidade.

Que nossas conversas simples porém essenciais com nossos filhos os ajudem a “[desfrutar] as palavras da vida eterna” hoje, para que possam desfrutar “a vida eterna no mundo vindouro, sim, glória imortal”.19

À medida que os nutrimos e os preparamos, permitimos que usem o arbítrio, passamos a amá-los de todo o coração, ensinamos-lhes os mandamentos de Deus e Sua dádiva do arrependimento e nunca, jamais, desistimos deles. Afinal, não é assim que o Senhor age com cada um de nós?

Prossigamos com firmeza em Cristo, sabendo que podemos ter “um perfeito esplendor de esperança”20 por meio de nosso amoroso Salvador.

Testifico que Ele sempre é a resposta. No sagrado nome de Jesus Cristo. Amém.

Notas

  1. Ver 3 Néfi 17:23–24.

  2. Ver Michaelene P. Grassli, “Olhai para vossas criancinhas”, A Liahona, janeiro de 1993, p. 100: “Para mim, a palavra olhar tem muita importância. Significa mais do que simplesmente ‘ver’. Quando o Senhor instruiu os nefitas a olharem para seus pequeninos, creio que quis dizer que deviam dar atenção a eles, contemplá-los, olhar além do presente e enxergar suas possibilidades eternas”.

    Ver também Russell M. Nelson, “Aprender a ouvir”, A Liahona, julho de 1991, p. 23: “Governar os filhos pela força é a técnica de Satanás, não do Salvador. Não, não somos donos de nossos filhos. Nosso privilégio como pais é amá-los, guiá-los e deixá-los ir”.

  3. Ver Doutrina e Convênios 29:46–47.

  4. Doutrina e Convênios 20:71.

  5. Henry B. Eyring, “A Força da Doutrina”, A Liahona, julho de 1999, p. 87.

  6. Doutrina e Convênios 20:79.

  7. Helamã 5:12.

  8. Ver Doutrina e Convênios 68:25; ver também Regras de Fé 1:4.

  9. Doutrina e Convênios 68:28.

  10. Moisés 6:58; grifo do autor.

  11. Ver Moisés 6:59; ver também Doutrina e Convênios 20:29–31.

  12. D. Todd Christofferson, “Por Que Casar, Por Que Ter uma Família”, A Liahona, maio de 2015, p. 52.

  13. Ver Doutrina e Convênios 11:12–13; ver também Doutrina e Convênios 93.

  14. Doutrina e Convênios 27:17; grifo do autor; ver também Marion G. Romney, “Home Teaching and Family Evening”, Improvement Era, junho de 1969, p. 97: “Satanás, nosso inimigo, está fazendo um grande ataque à retidão. Seus exércitos bem organizados são uma legião. Nossas crianças e jovens são seu principal alvo de ataque. Estão sujeitos a propagandas iníquas e perversas em toda parte. Para cada lugar que se dirigem, são golpeados com o mal, planejado com astúcia para enganar e destruir todas as coisas sagradas e todos os princípios justos. (…) Se nossos filhos devem ser suficientemente fortalecidos para enfrentar esse ataque satânico, eles devem ser ensinados e treinados no lar, como o Senhor instruiu”.

  15. Ver Russell M. Nelson, “Filhos do Convênio”, A Liahona, julho de 1995, p. 33.

    “Há muitos anos, quando eu era um jovem estudante de medicina, vi muitos pacientes acometidos por doenças que hoje podem ser prevenidas. Atualmente, é possível imunizar as pessoas contra enfermidades que, no passado, incapacitavam ou matavam. Um dos métodos da medicina pelo qual se confere essa imunidade é a vacinação ou inoculação. O termo inocular é muito interessante. Ele vem de duas raízes latinas: in, que significa ‘dentro’; e oculus, que significa ‘olho’. O verbo inocular, portanto, significa literalmente ‘introduzir um olho’ — para monitorar o organismo e evitar as doenças.

    “Uma doença como a poliomielite pode incapacitar ou destruir o corpo. O pecado pode incapacitar e destruir o espírito. Os efeitos nefastos da poliomielite hoje podem ser evitados pela imunização, mas para o pecado as medidas preventivas são outras. Os médicos não podem imunizar contra a iniquidade. A proteção espiritual só vem do Senhor — e a Seu modo. Jesus opta por não inocular, mas por doutrinar. Seu método não emprega vacinas, mas o ensino da doutrina divina — uma espécie de ‘guia interior’ — para proteger o espírito eterno de Seus filhos”.

  16. 2 Néfi 6:3.

  17. Alma 39:16.

  18. 2 Néfi 10:23.

  19. Moisés 6:59; grifo do autor.

  20. 2 Néfi 31:20.