2010–2019
Testemunha
Outubro 2011


Testemunha

O Livro de Mórmon é o melhor guia para descobrir como estamos nos saindo e como podemos melhorar.

Sinto-me grato por esta oportunidade de falar a vocês neste Dia do Senhor, em uma conferência geral de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Todo membro da Igreja tem o mesmo encargo sagrado. Nós o aceitamos e prometemos estar à altura dele, quando fomos batizados. Aprendemos nas palavras de Alma, o grande profeta do Livro de Mórmon, o que prometemos a Deus que nos tornaríamos. “Dispostos a chorar com os que choram; sim, e consolar os que necessitam de consolo e servir de testemunhas de Deus em todos os momentos e em todas as coisas e em todos os lugares em que vos encontreis, mesmo até a morte; para que sejais redimidos por Deus e contados com os da primeira ressurreição, para que tenhais a vida eterna.”1

Esse é um encargo importante e uma promessa gloriosa de Deus. Minha mensagem de hoje é de encorajamento. Assim como o Livro de Mórmon deixa esse encargo bem claro para nós, ele também nos eleva para o caminho da vida eterna.

Primeiro, prometemos tornar-nos caridosos. Segundo, prometemos tornar-nos testemunhas de Deus. E terceiro, prometemos perseverar. O Livro de Mórmon é o melhor guia para descobrir como estamos nos saindo e como podemos melhorar.

Vamos começar pelo encargo de tornar-nos caridosos. Vou lembrar-lhes alguns acontecimentos recentes. Muitos de vocês participaram de um dia de serviço. Houve milhares deles organizados no mundo inteiro.

Um conselho formado por santos como vocês orou para saber que serviço planejar. Pediram a Deus que os fizesse saber a quem deveriam servir, que serviço prestar e quem convidar para participar. Talvez até tenham orado para que não esquecessem as pás ou as garrafas de água potável. Acima de tudo, oraram pedindo que todos os que prestassem serviço e todos que o recebessem sentissem o amor de Deus.

Sei que essas orações foram respondidas em pelo menos uma ala. Mais de 120 membros se apresentaram como voluntários para ajudar. Em três horas, eles transformaram o jardim de uma igreja de nossa comunidade. Foi um trabalho árduo e feliz. Os ministros daquela igreja expressaram gratidão. Todos os que trabalharam juntos naquele dia sentiram mais união e um amor maior. Alguns até disseram que sentiram alegria ao arrancar ervas daninhas e podar arbustos.

As palavras do Livro de Mórmon os ajudaram a saber o motivo dessa alegria. O rei Benjamim disse a seu povo: “[Sabei] que, quando estais a serviço de vosso próximo, estais somente a serviço de vosso Deus”.2 E Mórmon ensinou com estas palavras que lemos no Livro de Mórmon: “A caridade é o puro amor de Cristo e permanece para sempre; e para todos os que a possuírem, no último dia tudo estará bem”.3

O Senhor cumpre Sua promessa, se cumprirmos as nossas. Ao prestarmos serviço às pessoas por Ele, Ele nos fará sentir Seu amor. Com o tempo, o sentimento de caridade fará parte de nossa própria natureza. Se perseverarmos em prestar serviço às pessoas, receberemos a certeza de Mórmon em nosso coração de que tudo estará bem conosco.

Assim como prometemos a Deus que seríamos caridosos, também prometemos ser Suas testemunhas, onde quer que estejamos na vida. Mais uma vez, o Livro de Mórmon é o melhor guia que conheço para ajudar-nos a cumprir essa promessa.

Fui certa vez convidado a falar durante a formatura de uma universidade. O reitor queria que o Presidente Gordon B. Hinckley fosse convidado, mas soube que ele não estava disponível. Por isso, recebi o convite. Eu era o membro mais novo do Quórum dos Doze Apóstolos.

A pessoa que me convidou para falar ficou preocupada quando ficou sabendo das minhas responsabilidades como apóstolo. Ela me telefonou dizendo que ficara sabendo que meu dever era o de ser uma testemunha de Jesus Cristo.

Com firmeza em seu tom de voz, ela me disse que eu não poderia fazer isso quando discursasse lá. Explicou-me que aquela universidade respeitava pessoas de todas as crenças religiosas, inclusive as que negavam a existência de Deus. Ela repetiu: “Você não pode cumprir seu dever aqui”.

Ao desligar o telefone, senti-me num grande dilema. Será que eu deveria dizer à universidade que não poderia aceitar o convite para falar? Faltavam apenas duas semanas para o evento. Já fora anunciado que eu seria o orador. Que efeito minha recusa em cumprir o combinado teria para o bom nome da Igreja?

Orei para saber o que Deus queria que eu fizesse. A resposta veio de modo surpreendente. Dei-me conta de que o exemplo de Néfi, Abinádi, Alma, Amuleque e dos filhos de Mosias aplicavam-se ao meu chamado. Eles foram testemunhas destemidas de Jesus Cristo diante de perigos mortais.

Portanto, a única escolha a ser feita era a maneira de me preparar. Procurei saber tudo o que podia a respeito da universidade. Quando o dia se aproximou, minha ansiedade aumentou e minhas orações se intensificaram.

Num milagre tal como o Mar Vermelho abrindo-se, encontrei um artigo de jornal. Aquela universidade havia sido homenageada por fazer o que a Igreja aprendeu a fazer em nossos esforços humanitários no mundo inteiro. Por isso, em meu discurso, descrevi o que nós e eles tínhamos feito para ajudar pessoas extremamente necessitadas. Eu disse que sabia que Jesus Cristo era a fonte das bênçãos concedidas às pessoas a quem nós e eles tínhamos prestado serviço.

Ao término da reunião, todos se ergueram para aplaudir, o que era um pouco incomum para mim. Fiquei admirado, mas ainda assim estava um pouco ansioso. Lembrei-me do que havia acontecido com Abinádi. Somente Alma aceitara o testemunho dele. Naquela noite, porém, em um grande jantar formal, ouvi o reitor da universidade dizer que em meu discurso ele tinha ouvido as palavras de Deus.

Uma declaração milagrosa desse tipo é rara em minha experiência pessoal como testemunha de Cristo. Mas o efeito do Livro de Mórmon em seu caráter, em seu poder e em sua coragem de ser testemunhas de Deus é garantido. A doutrina e os valorosos exemplos que lemos nesse livro vão elevá-los, guiá-los e torná-los corajosos.

Todo missionário que proclama o nome e o evangelho de Jesus Cristo será abençoado ao banquetear-se diariamente com o Livro de Mórmon. Os pais que têm dificuldade para levar um testemunho do Salvador ao coração de um filho serão auxiliados, ao buscarem um meio de levar as palavras e o espírito do Livro de Mórmon a seu lar e à vida de todos da família. Comprovamos a veracidade disso.

Vejo esse milagre acontecer em toda reunião sacramental e toda classe da Igreja de que participo. Os oradores e professores expressam amor pelas escrituras e mostram ter um conhecimento amadurecido delas, especialmente do Livro de Mórmon. Seu testemunho pessoal provém claramente do fundo de seu coração. Ensinam com convicção cada vez maior e prestam testemunho com muito vigor.

Também vejo provas de que estamos melhorando no cumprimento da terceira parte da promessa que fizemos no batismo. Fizemos o convênio de perseverar e de cumprir os mandamentos de Deus enquanto vivermos.

Visitei o quarto de hospital de uma velha amiga que estava com câncer terminal. Levei comigo minhas duas filhas pequenas. Não esperava que ela fosse capaz de reconhecê-las. A família dela estava ao redor do leito quando entramos no quarto.

Ela ergueu o rosto e sorriu. Sempre me lembrarei da expressão que fez ao ver que tínhamos levado nossas filhas conosco. Ela fez sinal para que elas se aproximassem dela. Ergueu-se no leito, abraçou-as e apresentou-as a sua família. Falou das excelentes qualidades daquelas meninas. Era como se estivesse apresentando princesas para a corte real.

Eu imaginava que nossa visita seria rápida. Achei, sem dúvida, que ela estaria cansada. Mas enquanto a observava, foi como se os anos retrocedessem. Ela estava radiante e visivelmente repleta de amor por todos nós.

Parecia saborear o momento, como se o tempo tivesse parado. Ela passara a maior parte da vida socorrendo os filhos do Senhor. Ela sabia, pelo relato do Livro de Mórmon, que o Salvador ressuscitado tomara nos braços as criancinhas, uma por uma, abençoando-as, e que depois chorou de alegria.4 Ela havia sentido essa mesma alegria, a ponto de conseguir perseverar no serviço amoroso Dele até o fim.

Vi esse mesmo milagre no quarto de um homem cujo serviço foi suficientemente fiel para me fazer pensar que merecia o devido descanso.

Eu sabia que ele fora submetido a um longo e doloroso tratamento para uma doença que os médicos lhe disseram ser terminal. Eles não lhe ofereceram nem mais tratamento nem esperança.

A mulher dele levou-me até o quarto dele em sua casa. Ele estava ali, deitado sobre sua cama cuidadosamente arrumada. Usava uma camisa branca recém-passada e uma gravata, e estava de sapatos novos.

Ele viu meu ar de surpresa, riu baixinho e explicou: “Depois que você me der a bênção, quero estar pronto para responder ao chamado, pegar meu leito e sair para o trabalho”. No final das contas, ele estava pronto para a entrevista que logo teria com o Mestre, para quem havia trabalhado com tanta fidelidade.

Ele foi mais um exemplo dentre os santos dos últimos dias plenamente convertidos que conheci, que doou a vida inteira ao serviço dedicado. Eles prosseguem com firmeza.

O Presidente Marion G. Romney os descreveu assim: “Naquele que está plenamente convertido, o desejo pelas coisas contrárias ao evangelho de Jesus Cristo realmente morreu, sendo substituído pelo amor a Deus, com a firme e absoluta determinação de guardar Seus mandamentos”.5

Vejo cada vez mais essa firme determinação nos experientes discípulos de Jesus Cristo. Tal como a irmã que cumprimentou minhas filhas e o homem com sapatos novos, pronto para erguer-se e marchar, eles cumprem os mandamentos do Senhor até o fim. Todos vocês já viram isso.

Vocês podem ver isso também ao se voltarem para o Livro de Mórmon. Ainda sinto meu coração se admirar quando leio estas palavras de um idoso e decidido servo de Deus: “Porque, mesmo agora, todo o meu corpo treme muito enquanto me esforço para vos falar; mas o Senhor Deus me sustém e permitiu-me que vos falasse”.6

Vocês poderão sentir a mesma coragem que eu, ao ler o exemplo de perseverança deixado por Morôni. Ele estava sozinho em seu ministério. Sabia que o fim de sua vida estava próximo. Mas ouçam o que ele escreveu em favor das pessoas que ainda não haviam nascido e que seriam descendentes de seus inimigos mortais: “Sim, vinde a Cristo, sede aperfeiçoados nele e negai-vos a toda iniquidade; e se vos negardes a toda iniquidade e amardes a Deus com todo o vosso poder, mente e força, então sua graça vos será suficiente; e por sua graça podeis ser perfeitos em Cristo”.7

Morôni prestou esse testemunho como encerramento de sua vida e seu ministério. Ele rogou que tivéssemos caridade, como os profetas fazem em todo o Livro de Mórmon. Acrescentou seu testemunho do Salvador, quando a morte se aproximava. Era um filho de Deus realmente convertido, como nós podemos ser: cheio de caridade, constante e destemido como testemunha do Salvador e de Seu evangelho, determinado a perseverar até o fim.

Morôni nos ensinou o que isso exige de nós. Ele disse que o primeiro passo para a plena conversão é a fé. O estudo fervoroso do Livro de Mórmon edifica a fé em Deus, o Pai, em Seu Filho Amado e em Seu evangelho. Ele edifica a fé que vocês têm nos profetas de Deus, antigos e modernos.

Ele pode levá-los para mais perto de Deus do que qualquer outro livro. Ele pode mudar sua vida para melhor. Peço que façam o que um companheiro missionário meu fez. Ele tinha fugido de casa, na adolescência, e alguém pôs um Livro de Mórmon em uma caixa que ele levara consigo em sua busca da felicidade.

Os anos se passaram. Ele mudou de um lugar para outro pelo mundo inteiro. Estava solitário e infeliz, certo dia, quando viu a caixa. Ela estava cheia de coisas que ele carregava consigo. No fundo da caixa, encontrou o Livro de Mórmon. Leu a promessa que havia nele e a pôs à prova. Soube que o livro era verdadeiro. Esse testemunho mudou sua vida e ele encontrou uma felicidade maior do que sonhara.

Seu Livro de Mórmon pode estar oculto de sua vista devido aos cuidados e atenções a tudo o que vocês acumularam em sua jornada. Peço que se banqueteiem profunda e frequentemente em suas páginas. Ele contém a plenitude do evangelho de Jesus Cristo, que é o único caminho de volta ao nosso lar com Deus.

Deixo-lhes meu firme testemunho de que Deus vive e responde a suas orações. Jesus Cristo é o Salvador do mundo. O Livro de Mórmon é uma testemunha verdadeira e segura de que Ele vive, de que Ele é nosso Salvador ressuscitado e vivo.

O Livro de Mórmon é uma testemunha preciosa. Deixo-lhes esse meu testemunho no sagrado nome de Jesus Cristo. Amém.

  1. Mosias 18:9.

  2. Mosias 2:17.

  3. Morôni 7:47.

  4. Ver 3 Néfi 17:21–22.

  5. Marion G. Romney, Conference Report, outubro de 1963, p. 23.

  6. Mosias 2:30.

  7. Morôni 10:32.