2000–2009
Chamados e Escolhidos
Outubro 2005


Chamados e Escolhidos

Os que foram chamados, apoiados e designados têm o direito de receber nosso apoio.

Meus queridos irmãos do sacerdócio, por favor, aceitem nossa gratidão por tudo o que fazem para levar avante a obra do Senhor a todo o mundo. Desejo falar a respeito do ofício sagrado dos líderes do sacerdócio que foram “chamados e escolhidos”1 para guiar a Igreja nos dias de hoje. Este é um ano especial por, pelo menos, duas razões: a primeira é que comemoraremos o bicentenário do nascimento do Profeta Joseph Smith em dezembro próximo e, segundo, o Presidente Gordon B. Hinckley comemorou seu aniversário de 95 anos em junho passado. Testifico que o Profeta Joseph Smith foi chamado e escolhido para ser o primeiro profeta desta dispensação e que o Presidente Gordon B. Hinckley é o profeta, vidente e revelador atual desta Igreja.

Quando Mike Wallace entrevistou o Presidente Hinckley há alguns anos no programa de televisão 60 Minutes, ele disse: “[As pessoas] dirão que essa é uma Igreja dirigida por velhos”. Ao que o Presidente Hinckley replicou: “Não é maravilhoso ter um homem maduro à testa dela — um homem cujo critério não é levado em roda por todo vento de doutrina”?2 Então se algum de vocês acha que a liderança atual é velha demais para guiar a Igreja, o Presidente Hinckley talvez precise dar-lhes mais conselhos a respeito da sabedoria que vem com a idade!

Dos 102 Apóstolos chamados nesta dispensação, somente 13 serviram mais tempo do que o Presidente Hinckley. Ele já serve há mais tempo como Apóstolo do que Brigham Young, o Presidente Hunter, o Presidente Lee, o Presidente Kimball e tantos outros. É maravilhoso ter sua liderança inspirada. Perdoem-me por dizer que eu mesmo me sinto como se estivesse às portas da morte. Aos 85 anos, sou o terceiro mais velho dentre todas as Autoridades Gerais vivas. Nunca busquei essa honra. Simplesmente fiquei vivo.

Acredito que nunca antes na história da Igreja houve mais união do que a que existe entre meus irmãos da Primeira Presidência, do Quórum dos Doze e outras Autoridades Gerais da Igreja, que foram chamadas e escolhidas e agora dirigem a Igreja. Acredito que existam muitas evidências para provar isso. A liderança atual do reino terreno de Deus já desfruta da inspiração orientadora do Salvador há mais tempo do que qualquer outro grupo: Somos o grupo mais velho a liderar a Igreja.

O contato que tenho com alguns desses homens há quase meio século me qualifica, creio eu, a declarar com convicção que meus irmãos, sem exceção, são homens bons, honrados e de confiança. Conheço o coração deles. Eles são os servos do Senhor. Seu único desejo é o de trabalhar em seu grande chamado e edificar o reino de Deus na Terra. As Autoridades Gerais que servem atualmente são experientes, testadas e leais. Alguns, dentre nós, fisicamente não são mais tão fortes como antes, mas seu coração é extremamente puro e grande é sua experiência, sua mente é aguçada, sua sabedoria espiritual é tão profunda que apenas ficar perto deles já é um conforto.

Senti-me humilde e sobrecarregado ao ser chamado como Assistente do Quórum dos Doze Apóstolos há 33 anos. Poucos dias depois, o Presidente Hugh B. Brown aconselhou-me que a coisa mais importante que eu deveria fazer era estar sempre em harmonia com as Autoridades Gerais. O Presidente Brown não explicou nada em detalhes. Apenas disse: “Apegue-se às Autoridades Gerais”. Entendi que aquilo significava que eu deveria seguir o conselho e a direção do Presidente da Igreja, da Primeira Presidência e do Quórum dos Doze. Isso ressoou como algo que eu queria fazer com todo o meu coração.

Talvez outras pessoas não concordem com esse conselho, mas ele merece uma consideração cuidadosa. Concluí que a orientação espiritual depende, em grande parte, de se estar em harmonia com o Presidente da Igreja, com a Primeira Presidência e com o Quórum dos Doze — todos os quais são apoiados, como foram hoje, como profetas, videntes e reveladores. Não sei como podemos achar que estamos em plena harmonia com o Espírito do Senhor se não estivermos em harmonia com o Presidente da Igreja e com os outros profetas, videntes e reveladores.

Quando eu era diácono, meu pai levou a mim e meu irmão mais velho para a reunião geral do sacerdócio no Tabernáculo. Lembro-me de como fiquei entusiasmado por estar pela primeira vez na presença do profeta de Deus, o Presidente Heber J. Grant e de outros profetas e apóstolos. Escutei atentamente suas mensagens e guardei no coração o que eles disseram. Com o passar dos anos, os temas de seus discursos têm sido repetidos muitas vezes. Espero que alguns deles sejam novamente repetidos nesta conferência. Eles são essenciais à nossa salvação, e nós precisamos da repetição.

Desde o início do mundo, a história tem registrado muitos exemplos de pessoas que não viveram em harmonia com os profetas. No início de nossa dispensação vários dos Doze, lamentavelmente, não permaneceram fiéis ao Profeta Joseph Smith. Um deles foi Lyman E. Johnson, membro do Quórum dos Doze original, que foi excomungado por conduta iníqua. Posteriormente, ele lamentou sua queda espiritual. Ele disse: “Eu daria minha mão direita para acreditar no evangelho novamente. Naquele tempo sentia-me cheio de alegria e contentamento. Meus sonhos eram agradáveis. Quando acordava pela manhã, meu espírito era jovial. Eu era feliz dia e noite, repleto de paz, alegria e gratidão. Mas agora tudo é escuridão, dor, tristeza e tormento extremo. Depois daquela época jamais tive um momento feliz.”3 Ele morreu em um acidente de trenó em 1856, aos 45 anos de idade.

Luke S. Johnson foi chamado para o Quórum dos Doze original em 1835. Seu compromisso espiritual enfraqueceu devido a algumas especulações financeiras que fez em 1837. Recordando o passado, ele disse: “Minha mente obscureceu-se e fui deixado sozinho para traçar meu próprio curso. Perdi o Espírito de Deus e negligenciei meu dever; a conseqüência foi que, em uma conferência realizada em Kirtland, em 3 de setembro de 1837, (…) fui desligado da Igreja”. Em dezembro de 1837 ele uniu-se aos apóstatas, denunciou publicamente a Igreja e foi excomungado por apostasia em 1838. Durante oito anos praticou a medicina em Kirtland. Então, em 1846, ele e a família retornaram ao convívio dos santos. Ele disse: “Eu parei à beira do caminho e me mantive à margem do trabalho do Senhor. Mas meu coração está com este povo. Quero associar-me aos santos; acompanhá-los para o deserto e continuar com eles até o final”. Ele foi rebatizado em março de 1846 e seguiu para o oeste com a companhia original de pioneiros em 1847. Faleceu em Salt Lake City em 1861 como membro ativo da Igreja, aos 54 anos de idade.4

Meu conselho aos membros da Igreja é: apóiem o Presidente da Igreja, a Primeira Presidência, o Quórum dos Doze e outras Autoridades Gerais de todo o coração e alma. Se o fizermos, estaremos em porto seguro.

O Presidente Brigham Young disse que se recordava das muitas vezes em que o Profeta Joseph Smith contou que “[tinha] que [orar continuamente], exercer fé, viver sua religião e magnificar seu chamado para obter as manifestações do Senhor e manter-se firme na fé”.5 Todos nós devemos esperar alguns desafios à nossa fé. Tais desafios poderão vir de maneiras diferentes. Talvez nem sempre gostem do conselho que os líderes da Igreja lhes dão. Eles não estão tentando ser populares. Eles estão tentando ajudar-nos a evitar as calamidades e as decepções que vêm por meio da desobediência às leis de Deus.

Também precisamos ajudar e apoiar nossos líderes locais, porque eles também foram “chamados e escolhidos”. Todo membro desta Igreja pode receber conselhos de um bispo ou presidente de ramo, de um presidente de estaca ou missão e do Presidente da Igreja e de seus companheiros. Nenhum desses irmãos pediu para receber seu chamado. Ninguém é perfeito. Ainda assim eles são os servos do Senhor, chamados por Ele, por meio de pessoas que tinham direito à inspiração. Os que foram chamados, apoiados e designados têm o direito de receber nosso apoio.

Admiro e respeito todos os bispos que já tive. Tento não questionar sua orientação e sinto que, ao apoiar e seguir seus conselhos, fui protegido contra o “engano dos homens [e a] astúcia”.6 Isso ocorreu porque cada um desses líderes chamados e escolhidos tinha o direito à revelação divina que vem com o cargo. O desrespeito aos líderes eclesiásticos tem feito com que muitas pessoas enfraqueçam espiritualmente e caiam. Devemos perdoar quaisquer imperfeições aparentes, defeitos ou deficiências dos homens chamados para nos presidir e apoiar o cargo que possuem.

Há muitos anos, as alas realizavam eventos para arrecadar dinheiro para outras despesas e atividades locais que hoje são custeadas pelos fundos gerais da Igreja e pelo orçamento da unidade. Costumávamos ter bazares, feiras, jantares e outras atividades para levantar fundos. Naquela época, minha ala tinha um bispo maravilhoso, devotado e empenhado.

Um membro de uma ala vizinha descobriu que a máquina de “bola ao alvo” era uma boa atividade para se arrecadar dinheiro. Os participantes pagavam para atirar bolas em um braço mecânico. Havia uma pessoa que ficava sentada acima de um grande tanque de água fria e, quando alguém acertava o alvo, ela caía dentro dele. Nossa ala decidiu usar essa máquina e alguém sugeriu que mais pessoas estariam dispostas a atirar as bolas, se o bispo se dispusesse a sentar-se sobre o tanque. Nosso bispo era muito simpático e por ser o responsável pela arrecadação de dinheiro, consentiu, de boa vontade em sentar-se sobre o tanque. Logo algumas pessoas começaram a comprar as bolas para atirá-las no alvo. Vários acertaram e o bispo ficou encharcado. Depois de meia hora ele começou a tremer de frio.

Apesar de algumas pessoas acharem que foi bastante divertido, meu pai ficou muito ofendido pelo fato de que o ofício do bispo fora desrespeitado e ridicularizado e até tratado com desdém. Muito embora o dinheiro levantado fosse para uma boa causa, ainda me lembro de ter sentido vergonha, porque alguns de nossos membros não demonstraram mais respeito tanto pelo ofício como pelo homem que, dia e noite, nos servia tão bem como nosso bom pastor. Como portadores do sacerdócio de Deus, devemos estabelecer o exemplo de apoiar a liderança da Igreja para nossa família, amigos e conhecidos.

As escrituras sagradas, assim como as Autoridades Gerais e locais da Igreja proporcionam aos membros da Igreja uma rede protetora de conselhos e orientação. Por exemplo: durante toda minha vida, as Autoridades Gerais têm, tanto deste, quanto de outros púlpitos, exortado as pessoas a viver dentro de sua renda, não fazer dívidas e economizar um pouco para dias difíceis, porque esses dias sempre vêm. Eu atravessei períodos de grande dificuldade econômica, como a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial. O que passei faz com que eu faça o que puder para proteger minha pessoa e minha família contra as conseqüências de tais catástrofes. Sou grato às Autoridades Gerais por esse sábio conselho.

O Presidente da Igreja não levará o povo da Igreja a se perder pelo caminho. Isso jamais acontecerá. Os conselheiros do Presidente Hinckley apóiam-no plenamente, da mesma forma que o Quórum dos Doze, os Quóruns dos Setenta e o Bispado Presidente. Como resultado, como eu disse anteriormente, nos conselhos dos presidentes da Igreja, existem um amor e uma harmonia especiais por nosso Presidente e uns pelos outros.

O sacerdócio de Deus é um escudo. É um escudo contra os males do mundo. Esse escudo precisa ser mantido limpo; de outro modo, a nossa visão do nosso propósito e dos perigos ao nosso redor ficará limitada. O agente purificador é a retidão pessoal, mas nem todos querem pagar o preço de manter seu escudo limpo. O Senhor disse: “Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos”7 Somos chamados quando mãos são colocadas sobre nossa cabeça e recebemos o sacerdócio, mas não somos escolhidos até que tenhamos demonstrado a Deus a nossa retidão, nossa fidelidade e nosso compromisso.

Irmãos, esta obra é verdadeira. Joseph Smith viu o Pai e o Filho e ouviu e seguiu as instruções que Eles deram. Esse foi o início deste grande trabalho, pelo qual somos agora responsáveis. Presto solene testemunho de sua divindade, em nome de Jesus Cristo. Amém.

  1. D&C 55:1.

  2. Discourses of President Gordon B. Hinckley, Volume 1: 1995–1999, 2005, p. 509.

  3. Citado por Brigham Young, Deseret News, 15 de agosto de 1877, p. 484.

  4. Ver Susan Easton Black, Who’s Who in the Doctrine & Covenants, 1997, pp. 156–157.

  5. Ensinamentos dos Presidentes da Igreja, Brigham Young, p. 348.

  6. Efésios 4:14.

  7. Mateus 22:14.