2000–2009
Sacrifício — Um Investimento Eterno
Abril 2001


Sacrifício — Um Investimento Eterno

“O sacrifício é um princípio surpreendente (... ). Pode desenvolver em nós um amor genuíno uns pelos outros e por nosso salvador, Jesus Cristo.”

Como mãe, acredito que uma das histórias mais emocionantes do Velho Testamento seja a de Abraão, quando o Senhor lhe pediu que oferecesse o filho, Isaque, em sacrifício. Sara devia ter pelo menos 100 anos de idade quando Isaque foi levado ao monte. Por consideração a ela, acho que Abraão nem lhe deve ter contado o que pretendia fazer. E isso quer dizer que ele teve de suportar esse grande teste de fé sozinho.

O Presidente Lorenzo Snow disse certa vez: “Nenhum homem mortal poderia ter feito o que Abraão fez( … ) a menos que fosse inspirado e tivesse a natureza divina dentro de si para receber essa inspiração”. (Teachings of Lorenzo Snow, p. 116, citado no livro 100 Gospel Topics, p. 303.)

Desde Adão, todos os profetas do Velho Testamento cumpriram a lei do sacrifício. O sacrifício é parte integrante da lei celestial, apontando para o sacrifício mais glorioso de todos, o de nosso Salvador, Jesus Cristo.

O Presidente Gordon B. Hinckley definiu com rara beleza o sacrifício ao afirmar: “Sem sacrifício não há a verdadeira adoração a Deus. ( … ) ‘O Pai deu Seu Filho e o Filho deu Sua vida’, e não adoramos a menos que doemos — doemos de nossos recursos, ( … ) nosso tempo, ( … ) nossa energia, ( … ) nosso talento, ( … ) nossa fé, ( … ) [e] nosso testemunho”. (Ensinamentos de Gordon B. Hinckley [1997], p. 565)

Irmãos e irmãs, a lei do sacrifício é uma das coisas que nos separa do restante do mundo. Somos um povo do convênio, abençoado com oportunidades de adorar e de doar, mas será que estamos plenamente convertidos ao princípio do sacrifício? Lembro-me do jovem rico, ensinado pelo Salvador, perguntar: “Que me falta ainda?” (Ver Mateus 19:20) Respondeu-lhe Jesus: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens ( … ) e vem, e segue-me”. (Mateus 19:21)

Falemos de três formas pelas quais o sacrifício pode ajudar-nos a seguir o Salvador: ensinar nossa família, ajudar os pobres e necessitados e doar de nós mesmos na obra missionária.

Primeiramente, como podemos ensinar nossa família a fazer sacrifícios? Meu avô, Isaac Jacob, foi um grande exemplo para mim. Ele era um criador de ovelhas que enviou quatro filhos para a missão. Durante o período da Grande Depressão norte-americana, surgiu a oportunidade para minha mãe servir numa missão e ela recebeu o chamado para o Canadá.

A situação de meu avô tornou-se crítica quando foi chamado ao banco para explicar para onde iam aqueles cinqüenta dólares sacados mensalmente para a missão de minha mãe. Ele fizera um empréstimo e pagava a exorbitante taxa de juros de 12 por cento. Os banqueiros não aceitaram e disseram-lhe que minha mãe teria de voltar para casa.

No dia seguinte, meu avô deu-lhes a resposta: “Se essa menina voltar para casa, as ovelhas são suas e vou trazê-las todas de volta para sua porta”. Isso pegou os banqueiros de surpresa. Eles precisavam de meu avô para administrar outros negócios caprinos que possuíam e não havia nenhuma outra pessoa para cuidar de tudo aquilo. Minha mãe terminou a missão e o exemplo de meu avô ensinou à sua família a importância do sacrifício.

Ao ensinarmos esse princípio à nossa família, devemos ensiná-los a sacrificarem-se. Conta-se a história de Robert E. Lee, general da Guerra Civil, que, ao ser interpelado por uma mulher no tocante à criação de seu filho, replicou: “Ensine-o a sacrificar-se”. (Ver Joseph Packard, Recollections of a Long Life [1902], 158.)

Evitemos saturar nossos filhos de coisas materiais. Talvez privemos uma criança de divertimento ao lhe darmos demais. Se não permitirmos que almeje algo, ela jamais conhecerá o prazer de recebê-lo.

Estamos incentivando nossos filhos a sacrificarem-se instando-os a doar de seu tempo e recursos para ajudar um vizinho solitário ou para fazer amizade com alguém que precise? Ao concentrarem-se nas necessidades alheias, suas próprias necessidades tornam-se menos importantes. A verdadeira alegria provém do sacrifício em prol dos outros.

Segundo, podemos dar aos pobres e necessitados com mais generosidade. Ao visitar membros da Igreja, fico admirada com a bondade dos fiéis santos dos últimos dias. Um rapaz na Colômbia, criado pela avó, possuía vários quiosques de conserto de sapatos e servia como zelador da ala. Ao ser chamado para a missão, economizou não apenas dinheiro suficiente para pagar a própria missão, mas contribuiu ainda com fundos extras para sustentar outro missionário.

E quanto a dividirmos nosso alimento, nossas roupas e nossa mobília? O Senhor ordena que não nos apeguemos a nossos bens. (Ver D&C 19:26.) Em muitos lugares temos a bênção de ter as Indústrias Deseret. Podemos ensinar nossos filhos a verificarem seus armários periodicamente e a dividirem suas roupas, enquanto ainda estiverem atuais, dando a outras pessoas a oportunidade de também vestirem-se na moda.

Recebemos muitas recompensas ao compartilharmos nossos bens materiais. O rei Benjamim chamou nossa atenção para isso quando ensinou: “Para conservardes a remissão de vossos pecados, dia a dia, a fim de que andeis sem culpa diante de Deus ( … ) [reparti] vossos bens com os pobres, ( … ) alimentando os famintos, vestindo os nus, visitando os doentes e aliviando-lhes os sofrimentos”. (Mosias 4:26) Podemos todos buscar em nossa vida as muitas oportunidades de doar e compartilhar.

A terceira área do sacrifício é a da obra missionária. Como parte de nossa designação de visitar alas e ramos por toda a Igreja, notamos a enorme necessidade de casais missionários. Não podem imaginar o bem extraordinário que fazem ao amarem os missionários e ensinarem a doutrina e a cultura da Igreja aos membros locais.

Recentemente, o Presidente Hinckley visitou uma conferência de estaca numa área abastada onde apenas quatro casais idosos serviam como missionários. A fim de inspirar mais membros a servirem numa missão, prometeu-lhes que os filhos e os netos nem sentiriam falta deles durante sua ausência. Com a invenção do correio eletrônico, cartas podem ser enviadas e recebidas por casais missionários praticamente todos os dias.

Seus anos de experiência abençoarão outras pessoas e vocês descobrirão como elas são verdadeiramente maravilhosas. As missões do mundo precisam de vocês! Orem para imbuírem-se desse espírito de aventura e do desejo de servir como missionários. Será algo muito mais estimulante do que viajar num trailer ou ficar sentados em cadeiras de balanço.

Jovens, espero que se sintam entusiasmados em relação à obra missionária. Semana passada, cada moça da Igreja recebeu o convite de trazer outra moça para a atividade plena. Que bom seria se os rapazes também unissem forças nesse trabalho.

Muitos de vocês estão fazendo coisas notáveis. Megan orou durante muitos meses por duas amigas que não eram membros da Igreja. Conseguiu que uma delas se matriculasse no seminário e convidou a outra para receber as palestras dos missionários. Recentemente essas duas jovens foram batizadas. A Igreja precisa de vocês. O Presidente Hinckley não pode caminhar pelos corredores de sua escola e ensinar seus amigos, mas vocês podem e o Senhor conta com vocês. Estamos muito orgulhosos da coragem que vocês demonstram ao compartilhar seu amor pelo evangelho com seus amigos.

O sacrifício é um princípio extraordinário. Ao doarmos liberalmente de nosso tempo, talentos e tudo o que possuímos, ele torna-se uma de nossas formas mais verdadeiras de adoração. O sacrifício desenvolve dentro de nós um amor profundo uns pelos outros e por nosso Salvador, Jesus Cristo. Por meio do sacrifício, nosso coração pode mudar. Vivemos mais perto do Espírito e desejamos menos as coisas do mundo.

O Presidente Hinckley ensinou uma grande verdade ao dizer: “Não é sacrifício viver o evangelho de Jesus Cristo. Nunca é um sacrifício quando recebemos mais do que doamos. É um investimento, ( … ) o maior investimento de todos. ( … ) Seus dividendos são eternos e inesgotáveis”. (Teachings of Gordon B. Hinckley, pp. 567–568)

É reconfortante saber que o Senhor não espera que façamos esse investimento sozinhos. Como Abraão na antigüidade, nós também temos algo de divino dentro de nós para receber inspiração por meio dos poderes do céu. Irmãos e irmãs, oro para que ao fazermos essas coisas nos tornemos mais convertidos ao princípio do sacrifício e que esse princípio grandioso nos aproxime do Salvador. Em nome de Jesus Cristo. Amém.