1990–1999
Profetas e Grilos Espirituais
Outubro 1999


Profetas e Grilos Espirituais

Na Israel moderna, servir ao Senhor significa seguir os Profetas com toda a diligência.

Esta manhã, gostaria que soubessem o quanto amo vocês. Dirijo-me aos membros dedicados e fiéis da Igreja em todos os países do mundo. O fato de vocês estarem aqui nesta linda manhã de sábado, neste tabernáculo, ou assistindo à conferência em alguma sala escura no meio do dia, mostra sua fidelidade. Vocês levam a sério suas crenças e o modo como vivem demonstra isso.

Uma das admoestações que me fortalece é a veemente declaração do profeta Josué: “Escolhei hoje a quem sirvais ( … ); porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor”. (Josué 24:15)

As palavras de Josué soam muito relevantes hoje, mas ainda assim, a maneira como mostramos nossa ⌦disposição de servir ao Senhor parece mudar a cada geração. Há 3.500 anos, quando Josué disse essas palavras, ele queria dizer que as pessoas deveriam abandonar os falsos deuses, lutar contra os cananeus e seguir com extremo cuidado as palavras do Profeta. Quase podemos ouvir as lamúrias dos céticos quando Josué anunciou os planos de batalha para tomar a cidade de Jericó. Primeiro, disse ele, deveriam cercar a cidade uma vez, em absoluto silêncio, por seis dias. Depois, no sétimo dia, rodeariam a cidade sete vezes. Em seguida, os sacerdotes tocariam buzinas e, nessa hora, todo o povo deveria gritar em altos brados. Então, garantiu Josué, os muros da cidade cairiam. (Ver Josué 6.) Quando os muros desabaram, os céticos ficaram calados.

No mundo, atualmente, há algo que não mudou desde os dias de Josué: os que decidem servir ao Senhor sempre ouvirão atenta e explicitamente o Profeta. Na Israel moderna, servir ao Senhor significa seguir os Profetas com toda a diligência.

As dificuldades que nós e nossa família enfrentamos como discípulos de Cristo são um tanto diferentes daquelas dos israelitas de Josué. Vou ilustrar com uma experiência: Nossa família morou muitos anos no Estado da Flórida. Como na Flórida há uma grande concentração de areia, a grama comum é plantada junto com um outro tipo de grama de folhas largas que chamamos de St. Augustine. O grande inimigo dos gramados da Flórida é um pequeno inseto chamado mole cricket. [n.t.: Um tipo de grilo.]

Uma noite, quando meu vizinho e eu estávamos em frente à minha casa, notamos um pequeno inseto cruzar a calçada. “É melhor jogar veneno no seu gramado”, alertou-me ele. “Lá vai um daqueles grilos”. Eu já havia pulverizado o gramado com inseticida há poucas semanas, e achava que dificilmente teria tempo e dinheiro para fazê-lo de novo tão cedo.

Quando amanheceu, examinei o gramado de perto. Estava viçoso e verde como nunca. Olhei bem dentro da grama para ver se conseguia achar algum daqueles grilos, mas não encontrei nenhum. Lembro que pensei comigo: “Bom, talvez aquele grilinho só estivesse de passagem pelo meu jardim, a caminho do gramado do vizinho”.

Examinei o gramado por mais de uma semana, procurando sinais de insetos invasores, mas não encontrei nada. Fiquei contente comigo mesmo por não ter seguido o conselho do meu vizinho.

A história, porém, tem um triste final. Certa manhã, fui ao gramado na parte da frente da casa cerca de 10 dias após aquela conversa com meu vizinho. Levei um choque ao ver que o gramado estava coberto de pontos marrons, como se tivessem surgido durante a noite anterior. Corri até a loja de jardinagem, comprei inseticida e pulverizei o gramado imediatamente, mas já era tarde demais. Ele fora destruído, e para voltar à forma original, seriam necessários novos rolos de grama, longas horas de trabalho e muito dinheiro.

O conselho do meu vizinho era fundamental para a preservação do meu gramado. Ele via coisas que eu não via. Ele sabia algo que eu desconhecia. Sabia que aqueles grilos viviam debaixo da terra e só apareciam à noite; portanto, o fato de examinar o gramado durante o dia de nada adiantou. Ele sabia que aquele tipo de grilo não comia as folhas da grama, mas alimentava-se das raízes. Sabia que aquelas criaturinhas miúdas podiam comer uma enorme quantidade de raízes sem que eu sequer notasse os efeitos sobre o solo. Paguei um alto preço pela minha presunçosa independência.

Vivemos numa época maravilhosa. As bênçãos de nossa geração são indiscutivelmente ricas e belas. Com fé no Salvador e sendo obedientes aos mandamentos, nossa vida pode ser plena de satisfação e alegria.

Entretanto, nesta época de tamanha beleza, os obstáculos para se tomar uma decisão de servir ao Senhor são mais sutis do que no passado, porém, sem sombra de dúvida, igualmente disseminados. Há certos tipos de grilos espirituais que fazem seus ninhos debaixo de nossos muros de proteção e atacam nossas delicadas raízes. Muitos desses insetos maléficos parecem pequenos, quase invisíveis. Contudo, se não os combatermos, eles nos causarão danos e tentarão destruir o que for mais precioso para nós.

As admoestações dos Profetas e Apóstolos giram sempre em torno do lar e da família. Gostaria de dar um exemplo da voz de advertência dos Profetas. No dia 11 de fevereiro deste ano, a Primeira Presidência, com o apoio do Quórum dos Doze Apóstolos, enviou a cada membro da Igreja uma carta contendo conselhos sobre a família. Gostaria de ler apenas um parágrafo dessa carta:

“Aconselhamos pais e filhos a darem a mais alta prioridade à oração familiar, à reunião familiar, ao estudo e aprendizado do evangelho e às atividades sadias com a família. Por mais dignas e adequadas que outras exigências ou atividades possam ser, não se pode permitir que elas tomem o lugar dos deveres designados por Deus que só os pais e a família podem cumprir adequadamente.” (“Carta da Primeira Presidência”, A Liahona, dezembro 1999, pág. 1).

Qual é nossa atitude diante desse conselho profético? Qual foi a sua reação e a minha a essa carta da Primeira Presidência de quase oito meses atrás?

Como pai de adolescentes neste mundo conturbado, posso confirmar que devemos dar a esses assuntos a nossa mais alta prioridade para vê-los funcionar de modo eficaz em nossa família. Acabamos de ouvir a bela história do Élder Featherstone e da oração familiar. Com as influências do mal ao redor de nossos filhos, será que podemos imaginar deixá-los sair de casa de manhã sem ajoelharmo-nos e humildemente perdirmos juntos a proteção do Senhor? Ou encerrarmos o dia sem nos ajoelharmos e reconhecermos nossa responsabilidade diante Dele e nossa gratidão por Suas bênçãos? Irmãos e irmãs, precisamos fazer a oração familiar.

Certamente há momentos em que o fato de reunirmos a família para ler as escrituras não constitui uma experiência espiritual digna de ser registrada no diário. Mas não devemos deixar de fazê-lo por causa disso. Há momentos específicos quando o espírito de um filho ou filha está no ponto perfeito e o poder dessas grandiosas escrituras toca seu coração de maneira ardente. Ao honrarmos o Pai Celestial em nosso lar, Ele honrará nossos esforços.

Todos conhecemos as dificuldades inerentes à realização da noite familiar. Há ladrões em nosso meio que roubam nossas segundas-feiras à noite. Mas as promessas do Senhor feitas às famílias que realizarem a noite familiar, que nos foram ditas pela Primeira Presidência 84 anos atrás e reiterada pelos Profetas dos dias de hoje, nunca foram revogadas e estão à nossa disposição:

“Se os santos obedecerem esse conselho, prometemos grandes bênçãos como resultado. O amor no lar e a obediência aos pais aumentarão. A fé se desenvolverá no coração dos jovens de Israel, e eles ganharão poder para combater as influências do mal e as tentações que se abatem sobre eles.” (in James R. Clark, comp. Messages of the First Presidency of the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 6 vols. [1965–1975], 4:339)

Quem, dentre os que estão ao alcance de minha voz, estaria disposto a vender essas promessas a aqueles que confiscam nossas noites de segunda-feira? Nenhum de nós.

Para vocês e para mim, discípulos de Cristo, esses momentos de edificar a fé na vida de nossos filhos devem ser fortalecidos. Ocasionalmente, não cumprimos plenamente nosso papel como pais. Pelo menos, eu sei que isso acontece comigo. Porém, temos de começar novamente. O Senhor vê nossos esforços justos e derramará as bênçãos dos céus ao darmos a mais alta prioridade à nossa família. Meus irmãos e irmãs, há grilos espirituais em nosso gramado, e devemos ser ainda mais sérios no que tange à nossa mordomia familiar.

Ao participar desta conferência, escutemos com atenção nosso querido Presidente Hinckley, seus Conselheiros e os Apóstolos que discursarem.

Não ajam como eu agi em relação àquele grilo da Flórida. Nunca ignorem os avisos. Não sejamos presunçosos em relação à nossa independência. Ouçamos sempre e aprendamos com humildade e fé, estando prontos a nos arrependermos se necessário.

Este é o reino de Deus sobre a Terra. Vocês e eu somos discípulos do Senhor Jesus Cristo. Ele é o Filho de Deus. Ele vive. Ele dirige esta obra. O Presidente Hinckley é Seu Profeta e com ele há mais quatorze que detêm as chaves do Apostolado. Eles são atalaias na torre, mensageiros da voz de advertência, Profetas, Videntes e Reveladores. “Escolhei hoje a quem sirvais; ( … ) porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor.” (Josué 24:15)

“E disse o povo a Josué: Serviremos ao Senhor nosso Deus, e obedeceremos à sua voz.” (Josué 24:24)

Que essas palavras fiquem gravadas em nosso coração, é minha oração em nome de Jesus Cristo. Amém. 9