1990–1999
O Poder do Sacerdócio
Outubro 1999


O Poder do Sacerdócio

O sacerdócio, mais que um dom, é um comissionamento para servir, privilégio de ajudar e oportunidade para abençoar a vida das pessoas.

Irmãos do sacerdócio, reunidos aqui e em todo o mundo, sinto-me humilde diante desta grande responsabilidade que é fazer-lhes algumas observações. Rogo ao Espírito do Senhor que esteja comigo neste instante.

Alguns de vocês são diáconos, outros são mestres ou sacerdotes — todos ofícios do Sacerdócio Aarônico. Muitos são élderes, setentas ou sumos sacerdotes. Muito se espera de cada um de nós.

Na proclamação feita pela Primeira Presidência e o Conselho dos Doze Apóstolos, publicada em A Liahona de outubro de 1980, p.87, foi apresentada esta declaração de testemunho e verdade:

“Afirmamos solenemente que A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é de fato a restauração da Igreja instituída pelo Filho de Deus, quando organizou, na mortalidade, Sua obra sobre a Terra; que ela ostenta Seu sagrado nome, mesmo o nome de Jesus Cristo; que está edificada sobre o fundamento de Apóstolos e profetas, sendo Ele sua principal pedra angular; que Seu sacerdócio, tanto a ordem do Aarônico como de Melquisedeque, foi restaurado pelas mãos daqueles que o portaram antigamente: João Batista, no primeiro caso; e Pedro, Tiago e João no caso do Sacerdócio de Melquisedeque.”1

No dia 6 de outubro de 1889, o Presidente George Q. Cannon fez este apelo:

“Eu quero ver o poder do Sacerdócio fortalecido. ( … ) Quero ver esse poder e força espalhar-se por todo o corpo do Sacerdócio, atingindo desde a cabeça ( o Presidente da Igreja) até o último e mais humilde diácono da Igreja. Todo homem deverá buscar e regozijar-se nas revelações de Deus, a inspiração divina que guia seus sentimentos e emoções, e lhe concede o conhecimento a respeito de seus deveres e da parcela de trabalho que lhe cabe realizar como seu ofício no Sacerdócio.”2

O próprio Senhor resumiu nossa responsabilidade quando Ele, em revelação sobre o sacerdócio, nos exortou: “Portanto agora todo homem aprenda seu dever e a agir no ofício para o qual for designado com toda diligência”.3

Irmãos do Sacerdócio Aarônico, diáconos, mestres ou sacerdotes, aprendam o seu dever. Irmãos do Sacerdócio de Melquisedeque, aprendam o seu dever.

Há alguns anos, ao aproximar-se a data do décimo segundo aniversário de Clark, nosso filho mais novo, ele e eu estávamos saindo do Edifício da Administração da Igreja quando o Presidente Harold B. Lee veio ao nosso encontro. Eu disse ao Presidente Lee que Clark logo faria doze anos, e nesse momento o Presidente perguntou-lhe: “O que vai acontecer quando você fizer doze anos?” Esta era uma dessas ocasiões em que o pai fica orando para que o filho seja inspirado e dê uma resposta adequada. Sem hesitar, Clark respondeu ao Presidente: “Serei ordenado diácono”.

Era a resposta que o Presidente Lee esperava. Em seguida, ele aconselhou nosso filho: “Lembre-se, é uma grande bênção ser portador do sacerdócio”.

Espero de todo o coração e alma que cada rapaz que recebe o sacerdócio honre esse sacerdócio e seja fiel à confiança nele depositada no momento em que o sacerdócio lhe é conferido.

Há quarenta e quatro anos, ouvi William J. Critchlow Jr., então presidente da estaca de Ogden Sul, falar aos irmãos na sessão do sacerdócio na conferência geral, e contar novamente a história da confiança, da honra e do dever. Gostaria de contar-lhes essa história. Sua mensagem aplica-se a nós hoje da mesma maneira como se aplicava no ⌦passado.

Rupert parou ao lado da estrada para observar uma quantidade incomum de pessoas andando apressadas. Após algum tempo, ele reconheceu um amigo. “Para onde é que essas pessoas estão indo, com tanta pressa?” perguntou.

O amigo fez uma pausa. “Você não ficou sabendo?” ele disse.

“Não soube de nada.” respondeu Rupert.

“Bem”, continuou o amigo, “o Rei perdeu sua esmeralda real. Ontem ele foi a um casamento da nobreza e ostentava a esmeralda presa em uma fina corrente de ouro em volta do pescoço. De alguma forma, a esmeralda soltou-se da corrente. Todos a estão procurando, pois o Rei ofereceu uma recompensa à pessoa que a encontrar. Vamos, temos de nos apressar.”

“Mas eu não posso ir sem antes pedir à vovó”. vacilou Rupert.

“Pois eu não posso esperar. Eu quero encontrar a esmeralda”, replicou o amigo. Rupert correu para a cabana no fim da floresta para pedir permissão a sua avó. “Se eu a encontrar, poderemos sair desse casebre úmido e comprar uma porção de terra na encosta da colina”, ele argumentou com a avó.

Mas sua avó balançou a cabeça. “O que será das ovelhas?” perguntou. “Elas já estão agitadas dentro do cercado, esperando ser levadas para o pasto, e por favor, não esqueça de levá-las até a água, quando o sol forte estiver alto no céu.”

Pesarosamente, Rupert conduziu as ovelhas ao pasto e ao meio-dia levou-as ao riacho da floresta. Ali ele sentou-se em uma pedra grande. “Se ao menos eu tivesse conseguido olhar para a esmeralda do Rei”, pensou. Ao voltar a cabeça e pousar os olhos no fundo arenoso do riacho, de súbito ele olhou fixamente para a água. O que era aquilo? Não podia ser! Ele saltou para dentro da água e seus dedos crispados seguraram algo que era verde, preso a um pedaçinho de corrente de ouro. “A esmeralda do Rei!” exclamou. “Ela deve ter-se soltado da corrente quando o Rei, montado em seu cavalo, atravessou a ponte sobre o riacho, e a correnteza a trouxe até aqui.”

Com os olhos úmidos de emoção, Rupert correu até a choupana de sua avó para contar-lhe sobre seu grande achado. “Abençoado menino”, ela disse, “mas você nunca a teria encontrado se não estivesse cumprindo seu dever, apascentando as ovelhas.” E Rupert sabia que isso era verdade.4

A lição que aprendemos dessa história encontra-se no ditado popular: “Faze o teu dever com fervor; deixa o resto para o Senhor”.

Para todos os que se sentem fracos demais para mudar o curso oscilante de sua vida, ou fracassam quando decidem agir bem por causa do maior de todos os medos — o de falhar — não há garantia mais reconfortante do que estas palavras do Senhor: “e minha graça basta a todos os que se humilham perante mim; porque caso se humilhem perante mim e tenham fé em mim, então farei com que as coisas fracas se tornem fortes para eles”.5

Os milagres acontecem em todos os lugares quando os chamados do sacerdócio são magnificados. Quando a fé substitui a dúvida e o serviço altruísta elimina a ação egoísta, o poder de Deus manifesta-se para cumprir Seu propósito.

O sacerdócio, mais que um dom, é um comissionamento para servir, privilégio de ajudar e oportunidade para abençoar a vida das pessoas.

Irmãos, nós que temos sob nossa responsabilidade os rapazes do Sacerdócio Aarônico, que possamos não só prover-lhes oportunidades de aprendizado, mas também apresentar-lhes exemplos dignos de serem seguidos.

Para os que entre nós são portadores do Sacerdócio de Melquisedeque, o privilégio de magnificar nossos chamados está sempre presente. Somos pastores cuidando de Israel. As ovelhas anseiam por alimentar-se do pão da vida. Será que estamos preparados para apascentar o rebanho do Senhor? É fundamental que reconheçamos o valor das almas e que nunca desistamos de nenhum de Seus filhos amados.

Gostaria de ler para vocês o conteúdo da carta de um rapaz que reflete o espírito do amor e ajuda a reafirmar nosso testemunho do evangelho:

“Caro Presidente Monson:

Obrigado por seu discurso no National Scouting Jamboree (encontro nacional dos Escoteiros dos Estados Unidos) realizado em Fort A. P. Hill, Virginia. No passeio que fizemos vimos muitos lugares famosos, como as Cataratas do Niágara, a Estátua da Liberdade, o Sino da Liberdade, entre outros. O local de que mais gostei foi o Bosque Sagrado. Nossos pais nos mandaram cartas para serem lidas quando estivéssemos sós, no bosque. Ao terminar de ler a carta escrita por meus pais, ajoelhei-me para orar. Perguntei se a Igreja era mesmo verdadeira e se Joseph Smith tivera mesmo a visão e se ele é um profeta de Deus, e também se o Presidente Hinckley é um verdadeiro profeta de Deus. Logo depois de terminar a oração, tive a certeza do Espírito de que essas coisas eram de fato verdadeiras. Eu já havia orado antes a respeito das mesmas coisas mas nunca havia recebido uma resposta com tão grande intensidade. Não havia como negar que esta Igreja é verdadeira ou que o Presidente Hinckley é um profeta de Deus.

Sinto-me abençoado por pertencer a esta Igreja. Obrigado novamente por ter ido ao Encontro dos Escoteiros.

Sinceramente,

Chad D. Olson

P.S.: Entregamos ao guia e ao motorista um exemplar do Livro de Mórmon com nosso testemunho. Eles foram ótimos! Eu quero ser um missionário.”

Tal como Joseph Smith, esse rapaz retirou-se para um bosque sagrado e orou para ter as respostas das questões formuladas por sua mente curiosa. Mais uma vez uma oração foi respondida e a confirmação da verdade foi alcançada.

Existem muitos membros menos ativos que estão sobrecarregados de dúvidas, ou lutando para sobrepujar os efeitos do pecado. Um desses membros escreveu-me:

“Tenho muito medo de ficar sozinho. O evangelho nunca abandonou meu coração, apesar de ter saído de minha vida. Peço-lhe que ore por mim. Ficaria feliz em receber mesmo que fosse a menor porção de bênçãos do membro mais modesto da Igreja, porque ele tem muito ⌦mais do que eu tenho agora. Eu costumava pensar que posição e ⌦responsabilidade eram importantes na Igreja, mas percebi o quanto eu estava errado. O que importa é ser membro, ter o poder do sacerdócio, ser pai e servir. Eu sei onde a Igreja está, mas às vezes sinto precisar de alguém para mostrar-me o caminho, incentivar-me, livrar-me do medo e prestar-me seu testemunho. Pensei que a Igreja estava perdida mas na verdade era eu que estava.”

O chamado do dever chega suavemente quando nós, os portadores do sacerdócio, respondemos às designações recebidas. O Presidente George Albert Smith, que, não obstante a modéstia, foi um grande líder, declarou: “É seu dever primeiro aprender tudo o que o Senhor quer e depois, pelo poder e força de [seu] santo Sacerdócio, magnificar a tal ponto seu chamado na presença de seus semelhantes, que o povo terá prazer em segui-los”.6 (“O Dever Chama”, Thomas S. Monson, A Liahona, julho de 1996, p. 44)

O que significa magnificar um chamado? Significa estruturá-lo em dignidade e importância, torná-lo honroso e louvável à vista de todos os homens, ampliá-lo e fortalecê-lo para permitir que a natureza divina desse chamado se manifeste aos olhos dos outros homens. E como alguém pode magnificar seu chamado? Simplesmente desempenhando as funções a ele pertinentes. Um élder magnifica seu chamado de élder ao aprender quais são seus deveres como élder e depois ao cumpri-los. O mesmo que se dá com o élder, se dá com o diácono, o mestre, o sacerdote, o bispo e todos os que são portadores de ofícios no sacerdócio.

Lembramos que Paulo, antes conhecido como Saulo, estava a caminho de Damasco para perseguir os cristãos daquele lugar. Chegando perto de Damasco, um resplendor de luz o cercou e ele caiu atordoado por terra, e ouviu uma voz que lhe dizia: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” E Saulo perguntou: “Quem és, Senhor?” E a voz disse: “Eu sou Jesus”.

Saulo, em reverência, perguntou: “Senhor, que queres que eu faça?” com a resposta do Salvador, Saulo, o perseguidor, tornou-se Paulo, o prosélito, e começou seu grande trabalho missionário.7

Irmãos, está no fazer — não apenas no sonhar —, que abençoamos vidas, guiamos pessoas e salvamos almas. “E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos”, acrescentou Tiago.8

Que todos nós presentes nesta reunião de sacerdócio façamos um esforço renovado de qualificar-nos para merecer a orientação do Senhor em nossa vida. Existem muitos lá fora que sofrem e oram pedindo ajuda. Existem os que estão deprimidos, os que se defrontam com a fragilidade da saúde ou as desesperadoras dificuldades da vida.

Sempre acreditei na verdade contida nas palavras: “As mais doces bênçãos de Deus vêm sempre das mãos que O servem neste mundo”.9 Vamos pois conservar as mãos prontas, limpas e dispostas, para suprir as pessoas com o que nosso Pai Celestial deseja que elas recebam Dele.

Vou terminar contando um episódio de minha vida. Eu tinha um amigo muito querido que parecia ter experimentado mais problemas e frustrações em sua vida do que ele poderia suportar. Por fim, ele ficou gravemente enfermo e foi internado em um hospital. Eu não sabia que ele estava lá.

A irmã Monson e eu tínhamos ido ao mesmo hospital para visitar uma outra pessoa que estava doente. Ao sairmos do hospital e nos encaminharmos para o estacionamento, tive a clara impressão de que deveria voltar e perguntar se, por acaso, havia ali um paciente de nome Hyrum Adams. Há muitos anos eu já aprendera a não adiar uma inspiração do Senhor. Já era tarde, mas uma pergunta ao recepcionista confirmou que Hyrum era mesmo um dos pacientes.

Dirigimo-nos ao seu quarto, batemos à porta e entramos. Não estávamos preparados para a visão que nos aguardava. Buquês de balões coloridos espalhados por toda parte. Na parede, chamava a atenção um cartaz com as palavras Feliz Aniversário. Hyrum estava sentado no leito hospitalar, com os membros da família ao seu lado. Quando ele nos viu, disse: “Ora, Irmão Monson, como é que o senhor descobriu que hoje é meu aniversário?” Eu sorri, mas deixei a pergunta sem resposta.

Os que naquele quarto eram ⌦portadores do Sacerdócio de Melquisedeque rodearam-no, seu pai e meu amigo, e uma bênção do sacerdócio foi-lhe ministrada.

Depois de lágrimas derramadas, sorrisos de gratidão retribuídos, e abraços carinhosos recebidos, curvei-me para Hyrum e falei-lhe baixinho: “Hyrum, lembre-se das palavras do Senhor, pois elas o consolarão. Ele prometeu: ‘Não vos deixarei sem conforto. Eu irei até vós’”.10

Que cada um de nós sejamos sempre agentes do Senhor e desse modo tenhamos o direito de ter a Sua ajuda, é minha humilde oração. Em nome de Jesus Cristo. Amém. 9

  1. “Proclamação”, A Liahona, outubro de 1980, pp. 87–89.

  2. Deseret Weekly, 2 de novembro de 1889, p. 598.

  3. Doutrina e Convênios 107:99.

  4. Relatório da Conferência Geral, outubro de 1955, p. 86.

  5. Éter 12:27.

  6. Relatório da Conferência Geral, abril de 1942, p. 14.

  7. Atos 9:3–6.

  8. Tiago 1:22.

  9. Montgomery, Whitney, “Revelation,” in Best-Loved Poems of the LDS People, ed. Jack M. Lyon and others (1996), p. 283.

  10. João 14:18