1990–1999
Os Filhos e a Família
April 1998


Os Filhos e a Família

Não se conseguem laços familiares fortes por acaso. Para isso, é preciso tempo. É preciso assumir o compromisso, é preciso orar e é preciso trabalho.

Nas escrituras, é visível o amor do Senhor pelas crianças. Não é para menos, pois “os filhos são herança do Senhor”. (Salmos 127:3)

No Novo Testamento, o Senhor deixa bem claro que qualquer pessoa que faça mal ou ofenda esses “pequeninos” incorre em grave erro. Como está em Mateus, “melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar”. (Mateus 18:6)

Uma das cenas mais tocantes do Livro de Mórmon, que é outro testamento de Jesus Cristo, aconteceu quando o Senhor ressuscitado apareceu ao povo nefita que habitava o hemisfério ocidental na época em que o Salvador estava na Terra. Nessa aparição, Ele ensinou as criancinhas com muito carinho.

Lemos que Ele ficou no meio da multidão, ordenou às pessoas que Lhe trouxessem as criancinhas, ajoelhou-Se no meio delas e orou ao Pai por elas. As palavras que disse foram tão sagradas que não puderam ser escritas. Ele chorou, pegou as criancinhas uma a uma e abençoou-as.

Quando a multidão olhou para cima, viu os céus abertos e anjos descendo. As crianças foram rodeadas por fogo e os anjos ministraram a elas.

Ao reconhecermos o amor do Senhor pelas criancinhas, não nos admiramos com o fato de os representantes do Senhor aqui na Terra terem falado tão clara e vigorosamente sobre a responsabilidade dos pais para com os filhos.

Refiro-me ao documento emitido pela Primeira Presidência e o Conselho dos Doze Apóstolos intitulado “A Família — Proclamação ao Mundo”. Nesse documento, lemos:

“O marido e a mulher têm a solene responsabilidade de amar-se mutuamente e amar os filhos, e de cuidar um do outro e dos filhos. ‘Os filhos são herança do Senhor.’ (Salmos 127:3) Os pais têm o sagrado dever de criar os filhos com amor e retidão, atender a suas necessidades físicas e espirituais, ensiná-los a amar e servir uns aos outros, guardar os mandamentos de Deus e ser cidadãos cumpridores da lei, onde quer que morem. O marido e a mulher — o pai e a mãe — serão considerados responsáveis perante Deus pelo cumprimento dessas obrigações.” (A Liahona, janeiro de 1996, p. 114.)

Essas são palavras sérias e sensatas, particularmente em face do ataque incessante do adversário aos valores tradicionais e do efeito que isso tem sobre a família. Tornou-se evidente que há muito o que fazer para reverter as tendências que continuam a colocar a família em risco.

Em desespero, a sociedade volta-se para saídas seculares. Organizam-se programas sociais, exigem-se do governo dinheiro público e projetos, numa tentativa de mudar as tendências destrutivas.

Embora se alcance algum sucesso aqui e ali, no geral, a tendência permanece alarmante. Proponho que, se alguma mudança verdadeira e permanente estiver para ocorrer, ela virá somente com o retorno a nossas raízes espirituais. Precisamos estar constantemente seguindo os conselhos dos profetas. De novo, cito a revelação atual sobre a família:

“A família foi ordenada por Deus. (…) Os filhos têm o direito de nascer dentro dos laços do matrimônio e de ser criados por pai e mãe que honrem os votos matrimoniais com total fidelidade. A felicidade da vida familiar é mais provável de ser alcançada quando fundamentada nos ensinamentos do Senhor Jesus Cristo.

O casamento e a família bem-sucedidos são estabelecidos e mantidos sob os princípios da fé, da oração, do arrependimento, do respeito, do amor, da compaixão, do trabalho e de atividades recreativas salutares.

Segundo o modelo divino, o pai deve presidir a família com amor e retidão, tendo a responsabilidade de atender às necessidades de seus familiares e de protegê-los. A responsabilidade primordial da mãe é cuidar dos filhos. Nessas atribuições sagradas, o pai e a mãe têm a obrigação de ajudar-se mutuamente, como parceiros iguais. Enfermidades, falecimentos ou outras circunstâncias podem exigir adaptações específicas. Outros parentes devem oferecer ajuda quando necessário.”

Ponderando essas palavras inspiradas reveladas em nossa época, reconheço a bênção de ter crescido num bom lar, um lar onde os pais estavam mais preocupados com os filhos que Deus lhes deu do que com alcançar a fama ou adquirir bens materiais.

Sou o segundo de um total de oito irmãos. Morávamos numa pequena fazenda no norte de Utah. O dinheiro era escasso e, assim, fui abençoado com a necessidade de aprender a trabalhar desde jovem. De fato, nossa limitada renda exigia que todos os filhos fossem econômicos e ajudassem nas finanças da família tão logo tivessem idade suficiente. A respeito de ficar à toa, meu pai costumava dizer: “Não há nada mais aborrecido que ficar à toa, porque não se pode parar para descansar”.

Apesar de os tempos haverem mudado, os princípios permanecem os mesmos. Atualmente, os pais precisam dar a cada um dos filhos a oportunidade de contribuir para o bem-estar da família. Em uma família assim, os filhos são mais felizes e há um espírito de amor e união no lar.

Nessa pequena fazenda, aprendi que o dinheiro e os bens materiais não são a chave para a felicidade e o sucesso. E claro que deve haver o suficiente para as necessidades básicas, mas o dinheiro em si mesmo raramente, ou talvez nunca, resulta em felicidade.

Nossa fazenda também deu-nos a oportunidade de aprendermos a ser humildes. Se tínhamos uma boa plantação e os preços estavam altos, uma geada fora de hora ou uma tempestade de granizo conseguia cortar nossa renda ao ponto de termos apenas o suficiente para nossa subsistência.

Ouvi meu pai comentar mais de uma vez: “Não me importo de cursar a escola da vida da pior maneira; os meus freqüentes cursos de recuperação é que são difíceis”.

Mesmo com as constantes dificuldades financeiras, tínhamos uma vida boa. Havia amor no lar. Nosso lar era o local onde queríamos estar. Foi bom para nós termos que passar sem algumas das coisas que desejávamos para que a necessidade de algum outro membro da família fosse atendida.

Os móveis de nossa sala de estar jamais serviriam para a capa de qualquer dessas revistas de decoração, mas tínhamos duas peças de mobília realmente importantes: um piano e uma estante de livros. Hoje vejo como esses dois bens, embora simples, foram significativos no desenvolvimento de talentos e interesses construtivos nos anos de nossa mocidade.

A influência da boa música e dos bons livros já atingiu a geração seguinte. Nem mesmo a televisão substituiu o piano e a estante de livros na vida de nossa família.

Também fomos abençoados com pais que trabalhavam como parceiros iguais na séria responsabilidade de criar os filhos. Aprendi muito observando meus pais ensinarem os filhos da maneira mais eficiente: pelo exemplo.

Meu pai ensinou-me:

  • A importância do dever e da caridade, pois em várias ocasiões, vi-o deixar seu trabalho e ir ajudar membros da ala.

  • A fé, por meio das orações que o ouvi fazer e das bênçãos do sacerdócio que dava aos membros da família e a outras pessoas.

  • O amor, pois vi o carinho com que cuidava dos pais, que estavam idosos.

  • A ter padrões, utilizando nossas experiências e os acontecimentos do dia-a-dia para ensinar-me qual era o caminho que esperava que eu seguisse.

  • Responsabilidade, pois deu-me um despertador e cinco vacas para ordenhar e cuidar, de manhãzinha e à noite, durante meus anos no curso secundário.

Ensinou-me integridade, já que posso dizer com certeza que nunca o vi fazer algo desonesto.

Minha mãe também ensinou-me muitas coisas. Ela ensinou-me:

  • A ser econômico, praticando o espírito do provérbio pioneiro: “Use até o fim tudo o que tem, faça funcionar ou passe sem”.

  • O sacrifício, pois muitas vezes a vi privar-se de algo em favor dos filhos.

  • A castidade, pois, desde cedo, ela deixou bem claro que esperava que os filhos fossem moralmente limpos.

  • A amar, pois eu via e sentia o amor materno em casa.

  • A bondade, pois posso dizer com certeza que nunca a vi ser rude.

Agradeço ao Senhor pelos pais amorosos que me ensinaram valores espirituais e morais e que deixaram claro que na vida há certas regras absolutas, entre elas freqüência à Igreja, pagamento do dízimo, leitura das escrituras e respeito pelos pais e líderes da Igreja. E, mais importante, eles ensinaram pelo que faziam e não só pelo que diziam.

É crucial para o fortalecimento da família que se perceba que não se conseguem laços familiares fortes por acaso. Para isso, é preciso tempo. E preciso assumir o compromisso, é preciso orar e é preciso trabalho. Os pais têm de perceber qual é sua responsabilidade e estar dispostos a assumi-la. A alegria e felicidade que resultarão disso são indescritíveis.

Nosso querido profeta, o Presidente Gordon B. Hinckley, aconselhou: “Continuem a cuidar de seus filhos e a amá-los. (…) Dentre todos os seus bens, não há nada tão valioso quanto seus filhos”. (Citado no Church News de 3 de fevereiro de 1996, p. 2.)

Deixo com vocês meu testemunho de que a proclamação sobre a família, a qual fiz referência anteriormente, é uma revelação moderna, que nos foi dada pelo Senhor por intermédio de Seus atuais profetas.

Deus vive, Jesus é o Cristo, esta é Sua Igreja dirigida por um profeta vivo. Em nome de Jesus Cristo. Amém.