1990–1999
Somos Todos Pioneiros
Abril 1997


Somos Todos Pioneiros

Minhas jovens irmãs, nós não saberemos quanto de bom podemos fazer até havermos-nos empenhado nisso.

Vocês são uma bela visão. Sei que, além das que estão presentes neste tabernáculo pioneiro, há muitos milhares de pessoas reunidas em capelas e outros locais em todo o mundo. Oro, pedindo o auxílio divino ao dirigir-lhes a palavra.

Suas líderes falaram tão bem hoje, mas nós, os homens, sabemos que isso é típico das irmãs. Parabéns a todos os que tomaram parte nos preparativos para esta conferência e para os que participaram do programa.

Henry Wadsworth Longfellow (poeta norte-americano que viveu de 1807–1882) descreveu a juventude e o futuro em um poema clássico. Ele escreveu:

Quão bela é a juventude! Com que resplendor cintila

Cheia de ilusões, aspirações, sonhos!

Livro dos Inícios, História sem Fim,

Toda donzela é uma heroína e todo homem um amigo!1

A Primeira Presidência declarou em 6 de abril de 1942: “Como é gloriosa e como está próxima dos anjos a juventude pura. Esta juventude terá uma alegria inexprimível aqui e felicidade eterna na vida futura”.2

Ouvimos falar muito dos pioneiros de 1847, de sua jornada cruzando as planícies e sua entrada no Vale do Lago Salgado.

Ainda ouviremos mais durante este ano de comemoração do sesquicentenário da chegada dos pioneiros ao Vale.

Não é de espantar que todos voltem o pensamento para os próprios antepassados com a apresentação do tema pioneiro. Normalmente, encontramos exemplos que se encaixam nesta definição de pioneiro: alguém que precede os outros e lhes mostra o caminho a ser seguido. Alguns, se não todos, fizeram grandes sacrifícios para abandonar o conforto e a paz e atenderem ao chamado alto e claro de sua nova fé.

Dois de meus bisavós tinham as características típicas de muitos pioneiros. Gibson e Cecilia Sharp Condie moravam em Clackmannan, na Escócia. Suas famílias trabalhavam com a mineração de carvão, de bem com a vida, cercados de parentes e amigos, morando em uma casa muito confortável, numa terra que amavam. Eles escutaram a mensagem dos missionários da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e converteram-se com toda a alma. Ouviram o chamado para ir para Sião e souberam que tinham de aceitá-lo.

Eles venderam seus bens e prepararam-se para a perigosa viagem ⌦cruzando o grandioso Oceano Atlântico. Entraram a bordo de um navio a velas com cinco filhos e um bauzinho em que estavam todos os bens materiais que possuíam. Viajaram 4.800 quilômetros cruzando as águas, passaram oito semanas longas e cansativas no mar traiçoeiro. Dia e noite não havia nada além de água, oito semanas vigiando e esperando, com pouca comida, pouca água e nenhum auxílio, exceto o que pudessem encontrar no pequeno navio.

No meio dessa provação espiritual, seu filho, Nathaniel, adoeceu e morreu. Meus bisavós amavam o filho tanto quanto seus pais amam vocês e, quando a morte fechou-lhe os olhos, sentiram o coração despedaçado. Para piorar seu sofrimento, precisavam obedecer à lei do mar. Enrolado em lona e atado a um peso de ferro, o corpo foi sepultado no mar. Enquanto se afastavam, conheceram a dor torturante de perder um filho. Gibson Condie e sua boa mulher encontraram conforto nestas palavras: “( … ) não se faça a minha vontade, mas a Tua, Oh Pai”.

A primeira jornada de 1847, que foi organizada e chefiada por Brigham Young, é descrita pelos historiadores como um dos grandes épicos da história dos Estados Unidos. Os pioneiros mórmons morriam às centenas, tanto de doenças quanto de frio e fome. Houve aqueles que, não tendo carroções nem parelhas, literalmente andaram os 2.000 quilômetros de viagem por planícies e montanhas, empurrando e puxando carrinhos de mão.

Um espírito de júbilo encheu o coração de todos conforme a longa e dolorosa luta chegava ao fim, tão ansiado. De alguma forma, os pés cansados e corpos exaustos encontraram nova força.

Um diário pioneiro poeirento de folhas marcadas pelo tempo fala-nos de modo comovente: “Inclinamo-nos em humilde oração ao Deus Todo-Poderoso, com o coração cheio de gratidão a Ele, e dedicamo-Lhe esta terra para habitação de Seu povo”.3

Honramos os que suportaram aflições inacreditáveis. Louvamos seu nome e ponderamos sobre seu sacrifício.

E em nossa época? Há experiências pioneiras para nós? Será que as gerações futuras pensarão com gratidão em nossos esforços, em nosso exemplo? Vocês, moças, onde quer que estejam nesta noite, podem verdadeiramente ser pioneiras na coragem, fé, caridade e determinação.

Podem fortalecer-se mutuamente, têm o poder de dar atenção aos que passam despercebidos. Se tiverem ouvidos para ouvir, olhos para ver e coração para sentir, podem estender a mão e resgatar outras pessoas de sua idade.

O livro de Provérbios aconselha-nos: “Pondera a vereda de teus pés ( … )”4

Espero que vocês, jovens, reconheçam o poder e a força de seu testemunho. Há muitos anos, eu estive na Tchecoslováquia. Em uma reunião inspiradora, realizada em Praga, em circunstâncias perigosas numa época de liberdade restrita, conheci uma moça chamada Olga. Ela devia ter uns vinte e cinco anos na ocasião e, nos dois anos anteriores, havia trazido 16 rapazes e moças de sua idade para a Igreja. Quando os conheci, soube que, verdadeiramente, haviam se convertido ao evangelho. Senti que eles viriam a ser o alicerce da Igreja na Tchecoslováquia. Eles aprenderam a verdade do Evangelho e sentiram a força do testemunho, e tudo isso veio de Olga. Quando cumprimentei Olga e expressei minha gratidão por ela ter um testemunho e estar pronta a prestá-lo, ela disse: “Ah, irmão Monson, há outras 14 pessoas com quem estou trabalhando!” Mais tarde, fiquei sabendo que quase todas as 14 tornaram-se membros da Igreja. A luz de Cristo brilhava nos olhos de Olga quando ela incentivava outros a virem “ter ⌦com Ele”.5

Minhas jovens irmãs, nós não saberemos quanto de bom podemos fazer até havermos-nos empenhado nisso. Nosso testemunho pode penetrar o coração de outras pessoas levando-lhes bênçãos que subsistirão neste mundo tribulado e hão de conduzi-los à exaltação.

Recentemente, recebi notícias de uma amiga adolescente, que conheci há alguns anos. Seu nome é Jami Palmer. Quando ela estava com 12 anos, descobriram que tinha câncer. Ela passou muitos meses de tratamentos extenuantes e dolorosos. Hoje ela é vivaz, bela e encara o futuro com confiança e fé.

Em um dos momentos mais negros de sua vida, quando o futuro parecia sombrio, ela soube que, para não perder a perna, teria de fazer quimioterapia, seguida de uma cirurgia de 11 horas. Participar da caminhada de quatro quilômetros desfiladeiro à cima até Timpanogos Cave, que sua classe da Organização das Moças vinha planejando há tanto tempo, estava fora de questão, pensou ela. Jami disse às amigas que teriam de fazer a caminhada sem ela. Com certeza sua voz estava embargada e ela estava decepcionada. As outras jovens, porém, responderam categoricamente: “Nada disso, Jami. Você vai conosco!”

“Mas eu não posso andar”, respondeu angustiada.

“Então, Jami, nós carregamos você até lá em cima!” — e carregaram.

Hoje, a caminhada faz parte de suas lembranças e, contudo, é muito mais que uma lembrança. James Barrie, o poeta escocês afirmou: “Deus deu-nos lembranças para que tivéssemos as rosas da primavera no inverno da vida”. Nenhuma dessas preciosas moças esquecerão esse dia memorável em que, estou certo, um Pai Celestial amoroso olhou a Terra com um sorriso de aprovação e prazer.

Hoje, Jami é uma excelente pianista, cantora e atleta. Também representa e trabalha para uma fundação que se dedica a tentar realizar os desejos de crianças que têm doenças que podem levar à morte. [Make-A-Wish Foundation]

Quando preparava-me para falar hoje, busquei inspiração nas escrituras. Descobri que o verbo vir é usado com freqüência. O Senhor disse: “venha a Mim”.6 Convidou: “vinde ( … ) aprendei de Mim”7 e depois, “vem, e segue-me”.8 Meu apelo é para irmos ao Senhor.

Aconselho-as a honrarem pai e mãe. Permitam-me falar-lhes de um exemplo do que é honrar o pai e a mãe. Há alguns anos, Ruth Fawson, mãe de seis filhos, sofreu uma cirurgia arriscada. Seu marido e seus três filhos e três filhas, devotados, ficaram no hospital. Os médicos e enfermeiras disseram-lhes que podiam ir para casa e que a equipe estava preparada para cuidar muito bem da irmã Fawson. A família agradeceu-lhes, mas demonstrou estar determinada a manter ao menos uma pessoa da família presente todo o tempo. Uma das filhas expressou o que todos sentiam: “Queríamos estar junto a nossa mãe quando ela acordasse e extendesse a mão, pois, assim, seria nossa a mão em que ela seguraria, seria nosso o sorriso que ela veria, seriam nossas as palavras que ouviria, seria nosso amor o que ela sentiria”. “Honra a teu pai e a tua mãe”.9

Martin Harris, uma das Três Testemunhas do Livro de Mórmon, está enterrado no cemitério de Clarkston, no Estado de Utah. Atrás do belo e imponente monumento em sua honra, estão os túmulos de outras pessoas. Em um deles há uma carinhosa inscrição: “Uma luz apagou-se em nossa casa; calou-se uma voz amada. Em nosso coração há um vazio que nunca será preenchido”.

Minhas queridas e jovens irmãs, não permitam que essa luz apague-se em sua casa, não permitam que a voz que amam cale-se, antes que tenham dito: “Mãe, eu te amo”, “Pai, eu te amo”. Agora é a época de pensar neles e agradecer-lhes. Creio que farão as duas coisas.

Este conselho é essencial para seu sucesso e felicidade: “Escolham suas amizades com cuidado”. Uma pesquisa feita em algumas alas e estacas da Igreja mostrou-nos um fato muito significativo: a maioria das pessoas cujos amigos casaram-se no templo casou-se no templo e a maioria das pessoas cujos amigos não se casaram no templo não se casou no templo. A influência dos amigos mostrou ser um fator predominante, até mais importante que as insistentes recomendações paternas, que o aprendizado em sala de aula ou que viver nas proximidades do templo.

Fico contente por haver tantas líderes da Organização das Moças assistindo ou escutando a conferência em tantos lugares. Faço uma paráfrase de um conhecido poema, escrito, originalmente para os líderes dos rapazes. Sinto que este poema tem significado para vocês e suas moças:

A moça, só, ante a encruzilhada,

O Sol brilhante a alumiar-lhe o rosto,

Do desconhecido despreocupada,

Para a corrida tomara posto.

Porém, da estrada, duas surgiam,

E, sem saber para onde iam,

Tomou a estrada que a extraviou

Que da vitória a afastou.

Caíra em tão cruel armadilha,

Por não haver quem lhe indicasse a trilha

Para mostrar-lhe a boa estrada.

Num outro dia ante a encruzilhada,

Outra moça de ideal extremo

Tomara posto para a largada.

Qual a primeira, esta buscava o bem supremo.

Havia, ali, quem conhecesse ⌦a tri-lha

E a avisasse da vil armadilha.

A má estrada, assim, repudiou

E a coroa conquistou.

Hoje, entre os nobres, caminha altaneira

Por haver quem lhe indicasse, a tempo,

A trilha verdadeira.10

Nobres líderes das moças, são vocês que estão ao lado delas nas encruzilhadas da vida. No Memorial Hall da Universidade de Standford, lê-se esta inscrição: “Precisamos ensinar a nossos jovens que tudo o que não é eterno é demasiadamente breve e tudo o que não é infinito é demasiadamente pequeno”.

O Presidente Hinckley salientou nossas responsabilidades quando declarou: “Deve haver compromisso neste trabalho. Deve haver devoção. Estamos empenhados numa grande e eterna luta que envolve as almas dos filhos e filhas de Deus. Não estamos perdendo. Estamos vencendo. Continuaremos a vencer se formos fiéis e verdadeiros ( … ) Não há nada que o Senhor tenha nos pedido que não possamos cumprir.”11

Um sério incidente, que ilustra o laço entre uma professora e uma jovem de sua turma, tem sido uma inspiração para mim, e sei que será para vocês também. É o relato de uma Abelhinha em seu primeiro ano na Organização das Moças. Conto-lhes o acontecido, nas palavras dela:

“Um dia, poucos meses antes de completar 12 anos, vi um cartão na cômoda do quarto em que eu e minha irmã mais velha dormíamos. Dizia: ‘Estou feliz por ser sua professora e espero que tenhamos um ótimo ano na Mutual.’ Estava assinado ‘Baur Dee’.

Logo fiquei sabendo que todas as meninas amavam Baur Dee. Elas iam a sua casa, queriam sentar com ela na Igreja e ficavam depois da Mutual, todas as quartas-feiras, para conversar com ela.

Pensando naqueles tempos, fico impressionada por ainda ter uma lembrança tão vívida da primeira vez que realmente estive com Baur Dee. Naquela primeira noite, quando eu estava entrando pela porta da frente da capela para assistir à Mutual, ela estava lá para me cumprimentar. Percebi pela primeira vez o sorriso que sempre transformava sua aparência comum, tornando-a muito bela. Ela me disse: ‘Bem-vinda! Estou feliz por você estar em minha turma. Vamos nos divertir muito!’ Não passei por um período de ajustamento quando passei da Primária para a Mutual. Desde aquele momento senti como se estivesse em casa.

Depois de poucas semanas tornei-me uma das fãs de Baur Dee, exatamente como as outras meninas. Na época, não tentei descobrir porque ela era tão popular. Passados tantos anos, porém, creio que compreendi o que era. Ela realmente se importava com cada uma de nós e sabíamos disso.

Baur Dee tinha uma doença chamada nefrite, uma doença que, anos mais tarde, viria a ser tratada com diálise e curada com transplante de rim. Mas para Baur Dee não houve cura, nem milagre. Ela faleceu serenamente. Tinha 27 anos de idade.

Depois do funeral, quando nós, meninas, estávamos tristes ao redor da sepultura aberta no cemitério, fizemos um voto de visitarmos juntas a última morada de Baur Dee todos os Dias de Finados, enquanto vivêssemos, e que nunca permitiríamos que sua memória fosse esquecida”.

Quarenta anos se passaram desde que Baur Dee, a professora das meninas, faleceu; o compromisso, contudo, permanece vivo. Uma de suas meninas disse: “Onde quer que eu vá, não importa o que eu faça, algo de Baur Dee vai comigo e com cada uma de suas ‘meninas’. Ela ainda vive, em nós e naqueles a quem passamos seus ensinamentos”. Como Henry Brooks observou: “Uma professora afeta a eternidade; [ela] nunca sabe onde sua influência termina.”12

Desejo que todos os que ouvem minha voz esta noite saibam que este trabalho é do Pai Celestial. Ele ama vocês. Ele ouve suas orações. Ele conhece seus pensamentos e ações. Testifico que Cristo é nosso Redentor. Sei que o Presidente Gordon B. Hinckley é o Profeta de Deus.

Termino com uma passagem das escrituras, de Alma, no Livro de Mórmon, que expressa meu amor por vocês: “Porque percebo que estais nas veredas da retidão; percebo que estais no caminho que conduz ao reino de Deus.”13

A todas vocês, nobres pioneiras, que vão à frente mostrando aos outros o caminho a seguir, eu exorto: Continuem. Em nome de Jesus Cristo. Amém. 9

  1. Henry Wadsworth Longfellow, “Morituri Salutamus” in The Complete Works of Longfellow (Longfellow: Obra Completa), 1992, p. 311.

  2. Mensagem da Primeira Presidência à Igreja, lida pelo Presidente J. Reuben Clarck Jr. na sessão de encerramento da 112ª Conferência Anual, Salt Lake City, 6 de abril de 1942; Improvement Era, maio de 1942, p. 273.

  3. Erastus Snow, “Discourse on the Utah Pioneers” (Discurso sobre os Pioneiros de Utah), in The Utah Pioneers (Os Pioneiros de Utah), 1880, p. 46.

  4. Prov. 4:26

  5. Marcos 2:3

  6. João 7:37

  7. Mt. 11:29

  8. Lucas 18:22

  9. Êx. 20:12

  10. Adaptado de “My Chum” (Meu Companheiro), in Best-Beloved Poems of the LDS People (Poemas Preferidos do Povo SUD), comp. Jack M. Lyon e outros, 1996, p. 313.

  11. “The War We Are Winning” (A Guerra que Estamos Vencendo) Ensign, novembro de 1986, p. 44.

  12. The Education of Henry Brooks Adams: An Autobiography (A Educação de Henry Brooks Adams: Autobiografia), 1942, p. 280.

  13. Alma 7:19