1990–1999
“Uma Pedrinha”
Abril 1997


“Uma Pedrinha”

Fui criada perto do Templo de Alberta em Cardston, no Canadá. Nessa pequena comunidade mórmon, no sopé das Montanhas Rochosas canadenses, um templo erguia-se como um vigoroso símbolo da força e magnitude do evangelho de Jesus Cristo. Fiz meus convênios mais significativos naquele templo.

Aquele prédio tem um significado muito importante para mim. Meu avô John F. Anderson, que era um pedreiro habilidoso, vindo de Aberdeen, na Escócia, foi chamado para preparar o granito branco que seria usado na construção desse templo sagrado. Em 1915 ele teve a honra de trabalhar como chefe de obras no assentamento da pedra fundamental, sob a supervisão do Élder David O. McKay. Em 1923, antes da dedicação do templo, foi meu avô quem assentou a última pedra. Depois, ele escreveu no diário: “não foi a pedra fundamental, mas uma pedrinha na entrada principal”.

Hoje, eu assento minha pedrinha na entrada principal da Sociedade de Socorro.

No livro de Ômni, que é uma pedrinha no meio do Livro de Mórmon, Amaléqui escreveu: “( … ) quisera que viésseis a Cristo, que é o Santo de Israel, e participásseis de Sua salvação e do poder de Sua redenção. Sim ( … ) ofertai-Lhe toda a vossa alma, como dádiva; e continuai em jejum e oração, perseverando até o fim; e assim como vive o Senhor, sereis salvos”. (Ômni 1:26)

O Profeta Joseph Smith definiu ofertar “toda a vossa alma” como servir a Deus de todo “coração, mente e força”. (D&C 4:2) É depor, no altar de Deus, seu tempo, talentos, dons e bênçãos, sua boa-vontade para servir e para fazer tudo o que Ele pedir. Meu avô ofereceu ao Senhor a pedra que assentara com tanto cuidado. Hoje ofereço os anos em que servi na Sociedade de Socorro geral. Em 1991, atendendo ao convite do Presidente Hinckley, voltei a minha terra natal, no Canadá, para assistir à rededicação do Templo de Alberta. Nunca hei de esquecer o poder que tomou o recinto quando, ao término da reunião, levantamo-nos para cantar “Tal Como Um Facho”!

Meu coração comoveu-se com estas conhecidas palavras: “Cantemos, clamemos, com hostes celestes: Hosana, hosana ao Deus de Belém”. (“Tal Como Um Facho”, Hinos, nº 2) Hosana é o brado de júbilo dos justos, e aquela era uma ocasião jubilosa.

A nosso refrão, juntava-se o coro cantando o grandioso “Hosana”. A letra tornou-se plena de significado, à medida que eu considerava o trabalho de meu avô para erguer as paredes do nobre templo: “A casa de Deus está feita. Seja nossa oferta aceita”. (Hinos para Coro, 1980, p. 69–76.) Ela atinge-me de um modo ainda mais profundo hoje, quando minha “casa” para o Senhor está feita. Vejo muitas semelhanças entre construir um templo e cumprir um chamado. No início temos um terreno vazio e começamos a trabalhar. Analisamos a situação, oramos pedindo inspiração, traçamos os planos com cuidado, fazemos uma análise deles, ajudamos e planejamos novamente. Firmamos o alicerce e depois fazemos as paredes, o telhado e até os jardins. Todas as administrações constroem sobre o sólido leito rochoso do passado.

Essa presidência da Sociedade de Socorro passou os últimos sete anos construindo. Colocamos um trabalho de alfabetização para toda a Igreja em nosso programa educacional; salientamos o princípio de zelar e cuidar das irmãs por meio do trabalho de professoras visitantes; continuamos a centralizar nossas atenções na família e no lar e a honrar a natureza divina das mulheres, que fazem sacrifícios e têm o papel de nutrir, ensinar e inspirar. Aconteceram coisas maravilhosas, graças às mulheres da Igreja que cuidaram dos filhos umas das outras, ensinaram autoconfiança, e ensinaram a respeito do Salvador.

Adorei trabalhar tendo um contato tão íntimo com as mulheres maravilhosas desta Igreja, que oferecem a alma ao Senhor. A suas pedras, junto a minha. Oro para que ela seja aceita.

Uma de minhas melhores lembranças destes últimos anos é o sesquicentenário que foi celebrado em 1992, quando comemoramos a fundação da Sociedade de Socorro, que é uma das mais antigas e maiores organizações de mulheres do mundo e, a meu ver, a mais bem-sucedida de todas. Para mim, ainda é emocionante lembrar do programa transmitido simultaneamente para todos os continentes do mundo, que uniu, pela primeira vez, as irmãs do República da China, Alemanha, México, Coréia, Austrália e Estados Unidos.

Emma Smith, a primeira presidente desta organização, disse às irmãs: “Faremos algo extraordinário”. [Minutes of the Female Relief Society (Atas da Sociedade Feminina de Socorro), 17 de março de 1842, Arquivos da Igreja.) A comemoração foi de fato “algo extraordinário”. O que teve início em 1842 com 20 mulheres em Nauvoo, Illinois, atualmente engloba quase quatro milhões de mulheres de todos os continentes e de quase todos os países do mundo. Entretanto, o que é mais significativo é que tudo começou com uma mulher, Margaret Cook, que se ofereceu para fazer camisas para os homens que trabalhavam na construção do Templo de Nauvoo. Ela precisava de tecido e não tinha dinheiro para comprá-lo. Sarah Kimball deu o tecido e em algumas semanas a Sociedade de Socorro foi organizada pelo Profeta Joseph Smith, sob a inspiração do Senhor. Ela originou-se de uma pequena oferta em seu princípio e cresceu até transformar-se em um importante movimento, que promove o bem em todo o mundo, uma pedra de cada vez.

Uma das coisas que reconheço é que se formos obedientes, fiéis e constantes o Senhor nos ajudará a preparar nossas ofertas. Aprendemos isso com Néfi, a quem foi dito: “Tu construirás um navio da maneira que eu te mostrarei a fim de que eu leve o teu povo através destas águas”. (1 Né. 17:8) Néfi não vinha de uma comunidade marítima; nunca havia construído um barco. Sua resposta, porém, denota grande fé e responsabilidade: “Senhor, aonde irei a fim de encontrar o minério para fundir e fazer ferramentas, com o fito de construir o navio do modo com tu me mostraste? (1 Né. 17:9) Sem hesitar nem questionar, Néfi começou a preparar uma oferta ao Senhor, na forma de um navio.

Quando fui chamada para servir neste cargo, tal como Néfi, busquei a ajuda do Senhor. Minhas ferramentas vieram na forma de duas conselheiras fortes e capazes: Chieko Okazaki e Aileen Clyde. Em nossa posição de presidência, fomos abençoadas com uma junta composta de 12 mulheres excelentes, cuja contribuição demonstrou sua dedicação e habilidade e com um pessoal administrativo que prestou serviço com generosidade e paciência.

Juntas, fizemos “este trabalho com santidade de coração”. (Mosias 18:12) E fomos abençoadas com as orações e a bondade de mulheres da Sociedade de Socorro em todo o mundo, boas mulheres, que levam a sério o mandamento do Senhor: “( … ) Não vos canseis de fazer o bem ( … )”. (D&C 64:33)

Quero agradecer aos muitos líderes do sacerdócio que nos aconselharam e orientaram. Eles precisam de nossa confiança e apoio, assim como nós precisamos de sua compreensão e do poder do sacerdócio. O Senhor chamou homens de valor, sabedoria e coragem para liderar esta Igreja. Fui testemunha de ocasiões em que Deus inspirou nossos líderes; fui testemunha de ocasiões em que tomaram atitudes decisivas, compassivas e cuidadosas. Confio neles e eles confiaram em nós.

Sei que falo pelas mulheres da Igreja quando digo ao Presidente Hinckley, Presidente Monson, Presidente Faust e ao Quórum dos Doze Apóstolos: Estamos do seu lado, nós os apoiamos e sabemos que, em nossa época, vocês são os profetas que têm as chaves do reino de Deus.

Sou grata a meu marido, Joe, que me abençoou com sua constância, senso de humor bom-senso e retidão. Meus quatro filhos, que o apóiam lealmente, seguiram seu exemplo. Tomei como o maior dos elogios o que um deles disse: “Já faz tempo que estamos treinando a mamãe para ser presidente da Sociedade de Socorro e ela, finalmente, conseguiu!”

Nossas ofertas incluem tanto nosso trabalho quanto o sentimento com que o fazemos. Isso é o que o Senhor chama de “um coração quebrantado e um espírito contrito”. (3 Né. 9:12) A alma é constituída por esse conjunto. O livro de Ômni fala de ofertar “toda a vossa alma” a Jesus Cristo. Irmãos e irmãs, já foi-se o tempo em que podíamos meramente crer no evangelho; devemos ser ardorosos em nossa crença e em nosso compromisso para com Jesus Cristo e Seu plano. Devemos saber inequivocamente que Ele está conosco, que Ele nos guiará e orientará. Moldamos nossa oferta em Seu nome. Nestes últimos anos, tenho representado todas as mulheres da Igreja, o que é uma grande responsabilidade. Creio que o Senhor avaliará meus esforços, assim como avalia os seus, de acordo com meus sentimentos e espírito.

Atualmente, a Sociedade de Socorro representa o desejo expresso pela Presidente Emmeline B. Wells, que cumpriu seu chamado no início deste século. Sua orientação ajudou a Sociedade de Socorro a apegar-se firmemente a suas nobres tradições enquanto ia avante, com fé em Deus e esperança no futuro. Cinqüenta anos depois, a Presidente Belle Spafford disse: “A Sociedade de Socorro ainda está à porta de sua missão divina”. [History of Relief Society, 1842–1966 (História da Sociedade de Socorro, 1842–1966), 1966, p. 140.] Hoje, estamos prontas para passar por essa porta e entrar em uma nova dimensão de espiritualidade e luz. Aguardo com perfeita esperança as ofertas que as irmãs da Sociedade de Socorro farão no novo século que está diante de nós. Nossa alegria no evangelho de Jesus Cristo e nosso papel em Seu plano trarão pessoas a nós e modificarão vidas. Elevaremos e inspiraremos um mundo que precisa desesperadamente de bondade. A nova presidência fará com que surja uma noção de propósito e contribuição ainda maior. Comprometo-me a apoiar plenamente a Presidente Smoot e suas conselheiras em sua tarefa de assentar outras pedras para construir o reino de Deus. Certamente, a força de hoje será o alicerce sobre o qual as mulheres do futuro construirão.

Esta Igreja foi estabelecida e continuará a crescer por meio do esforço constante dos membros que fazem sua parte anonimamente, que estão lutando com dificuldades diárias, que são humildes, pacientes e longânimos. Esses são os corações que ficam repletos de alegria quando cantam na dedicação de suas próprias ofertas: “Estende, ó Pai, sobre nós tua bênção”. (Hinos, nº 2)

Meu coração está cheio de gratidão e intensa alegria. Alegrem-se comigo prestando testemunho do Salvador: “Hosana, hosana ao Deus de Belém”. Em nome de Jesus Cristo. Amém. 9