1990–1999
Prisioneiro Do Amor
April 1992


Prisioneiro Do Amor

“Que maneira melhor temos de nos preparar para encontrar Deus, do que cumprir uma missão quando chegamos ao outono e inverno da vida?”

Irmãos, esta noite gostaria de falar à geração que está entrando nos anos da maturidade, muitos dos quais serviram a Deus, ao país, e ao próximo — uma geração forte, cheia de princípios e decidida, que fez grandes coisas, mas que teve a sabedoria de não falar muito sobre elas. Somos necessários de outra forma agora.

A causa da qual falo é a obra missionária realizada por casais. Tem conseqüências tão grandes que o Salvador, nas instruções finais aos discípulos, encarregou-os dela: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos… eu vos escolhi a vós… para que vades… e o vosso fruto permaneça” (João 15:13, João 16).

Nunca houve necessidade tão grande como agora de um exército de casais maduros, para ir aos recantos mais distantes da terra e guardar os frutos da.colheita. A colheita realmente é grande, e os obreiros são poucos. Lembrai-vos das palavras de Amon:

“Nossos irmãos, os lamanitas viviam na obscuridade, sim, no mais tenebroso abismo; mas quantos deles foram trazidos ao conhecimento da maravilhosa luz de Deus! E esta é a bênção que nos foi concedida: servimos de instrumento nas mãos de Deus, a fim de que se cumprisse essa grande obra.” (Alma 26:3.)

Imaginai o que milhares de casais poderiam fazer neste ano, seguidos por novas hostes nos anos seguintes. Poderíamos entrar nos campos da colheita, e cuidar dos frutos nos “celeiros, para que não se desperdicem. Sim, não serão abatidos pela borrasca, no último dia” (Alma 26:5–6).

Creio que não seremos provados da maneira como os pioneiros foram provados. Foi-lhes pedido que deixassem todos os bens materiais, lares, até a família e os entes queridos, que atravessassem planícies em direção a terras secas, desertas e agrestes. Enterraram seus bebês, filhos e companheiros nas Grandes Planícies, em covas rasas, anônimas. Fisicamente sofreram de maneira inacreditável, e a língua não pode contar a triste e lamentável história. Das cinzas do sacrifício de um povo tão nobre este reino se desenvolveu até tomar-se a força benéfica mais poderosa na face da terra.

Não há necessidade de deixar o lar para sempre, apenas por um tempo — e depois retomar e colher a fértil colheita do trabalho fiel. Vossos filhos e netos serão abençoados. O poder do bem sairá de Sião. “Quão belos são sobre as montanhas os pés daquele que traz boas-novas, que anuncia a paz” (Mosiah 12:21).

Podeis imaginar um serviço mais cristão do que garantir a colheita?

Casais missionários são enviados aos ramos para ministrar e ajudar. Eles fortalecem a Igreja, erguem as mãos que pendem, e apaixonam-se pelos filipinos, africanos, noruegueses, haitianos e polinésios.

Imaginai o que significa ser realmente necessário ao Senhor em um lugar distante.

Havia uma canção popular de que nossa geração talvez se lembre. Analisemos a letra ligeiramente adaptada:

Longe de casa esta noite me encontrarás

Fraco demais para quebrar as correntes que me prendem;

Não preciso de algemas para me lembrar

Sou apenas prisioneiro do amor.

Estou pronto e espero agora uma ordem

De alguém que é senhor de meu destino agora

Não posso escapar, pois é tarde demais agora

Sou apenas prisioneiro do amor.

De que adianta minha afeição

Se não estou compartilhando seu amor a mim?

Embora possa haver outros,

Tenho de ser irmão, pois não sou livre.

Ele está em meus sonhos, acordado ou adormecido,

Estou rastejando a seus pés.

Minha própria vida está em suas mãos

Sou apenas prisioneiro do amor.

Sou prisioneiro do amor.

René de Chardin disse: “Algum dia, depois que tivermos dominado os ventos, as ondas, as marés e a gravidade, utilizaremos para Deus as energias do amor; e então, pela segunda vez na história do mundo, o homem terá descoberto o fogo”.

Casais maravilhosos que simplesmente amam o Senhor, que vão alistar-se nesta grande obra e aceitar o chamado, também serão prisioneiros do amor, do amor de Deus.

Yogi Barra, filósofo do beisebol bastante conhecido, disse: “Quando chegarem a uma encruzilhada,… tomem-na”. Milhares de vós talvez tenhais chegado a uma encruzilhada.

Agora é a hora de aceitar um chamado ou de oferecer-se para um.

Uma senhora que estava em uma casa de repouso voltou-se para o senhor que estava ao seu lado e disse: “Posso adivinhar sua idade”.

“Não pode”, respondeu ele.

“Sim, posso”, disse ela. “Vá tomar um banho, barbear-se, pentear o cabelo, vestir uma boa camisa limpa e uma gravata, e lustrar os sapatos, e eu me direi.”

O homem demorou mais ou menos uma hora. Quando voltou, estava arrumado, limpo, com o cabelo penteado, sapatos engraxados e usando temo. Ela disse: “Agora fique em pé encostado à parede”. Ele obedeceu.

E perguntou: “E agora, que idade tenho?”

Ela disse: “Tem 89 anos”.

Ele respondeu: “Está, certo, mas como sabia?”

Ela disse: “Você me contou ontem”.

Depois de examinar o marido de certa mulher, o médico disse: “Não gosto da aparência de seu marido”. “Nem eu”, disse a mulher, “mas ele é bom para os filhos.”

Nós podemos parecer um pouco velhos, mas se nos arrumarmos bem, nossa aparência ficará muito melhor.

Podeis imaginar que bênção maravilhosa seria servir em um ramo no Alaska, em Barbados, no Haiti, na Nigéria ou em Manila? Precisamos de casais amorosos, desejosos de servir, cuja responsabilidade principal seja abençoar a colheita para que o fruto permaneça. Somente a experiência de uma vida madura nos qualifica.

O Dia de Ação de Graças, o Natal, o Ano Novo nunca mais serão os mesmos depois de os terdes comemorado na missão. Imaginai uma pequena árvore de Natal com alguns enfeites. Cânticos de Natal, um humilde apartamento, e um amor maior que nunca por vossa esposa — um espírito de Natal que faz aquele pequeno apartamento parecer um templo sagrado. Pegais vossas roupas batismais brancas e andais, de mãos dadas, para a capela, onde uma pequena família espera pacientemente entrar no reino de Deus pelas água do batismo. Vedes a estrela-guia, não sobre Belém, mas nos olhos dos conversos humildes e ternos. Olhais para vossa esposa, ela olha para vós; nada precisa nem pode ser dito, pois estais ambos cheios de alegria.

Os doze ou dezoito meses parecerão um breve momento, mas as lembranças durarão por toda a eternidade. Aqueles que experimentaram a bondade de Deus têm o encargo divino de compartilhá-la.

O apóstolo Paulo pediu aos efésios: “(conhecei) o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus” (Efésios 3:19). Devemos estar cheios da plenitude de Deus.

Perguntamos o mesmo que Tiago: “Que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo?” (Tiago 2:14.)

E no último versículo do livro de Tiago, o Apóstolo nos dá a chave para nossa obra: “Saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados”.

Poderia haver uma recompensa maior para aquele que cuida, que junta no celeiro? O Presidente Harold B. Lee disse que é só quando nos doamos totalmente que somos discípulos dignos de Cristo e recebemos uma outra promessa que atinge além de nós. Preocupamo-nos com as pessoas que se desviaram e sofremos por elas. Temos uma ótima chave em Doutrina e Convênios 31:5:

“Portanto, lança a foice com toda tua alma, e teus pecados te serão perdoados, e tuas costas estarão carregadas de molhos, pois digno é o trabalhador de seu salário. Portanto, a tua família viverá.”

Nossa geração tem sido abnegada. Por que não uma vez mais, para que nossas famílias vivam?

Não conhecemos as bênçãos nem a condescendência de Deus. A promessa é clara: “Portanto, a tua família viverá”. Nossos filhos teimosos e errantes, mesmo aqueles que são casados e têm seus próprios filhos, serão abençoados.

Nossa geração passou por uma depressão, pela Segunda Guerra Mundial, pela guerra da Coréia e do Vietnã. Vivemos em uma época em que o bem se tornou mal, e o mal, bem. Ouvimos clamores contra as coisas que consideramos preciosas e caras — oração e Deus. Vemos tentativas de legalizar as drogas, o aborto, o homossexualismo, e outras filosofias que fazem concessões e desviam as pessoas. Alguns dos mais brilhantes de nossa geração foram levados por ondas gigantes para bancos de areia traiçoeiros. Talvez não tenhamos sido tudo o que deveríamos ser como pais, mas amamos nossos filhos, esta igreja, nossa terra, e nos preocupamos com as pessoas de todas as nações. Parte do melhor sangue de nossa geração foi derramada para preservar a liberdade. Sacrificamos muitas coisas para oferecer àqueles que viriam depois, coisas melhores do que as que tivemos. Esta pode bem ser outra oportunidade de alcançar os nossos, servindo ao próximo.

O Presidente Joseph F. Smith disse:

“Tendo feito todo o possível pela causa da verdade, resistindo ao mal que os homens tentaram impor-nos,… ainda assim é nosso dever persistir. Não podemos entregar-nos; não devemos desistir. As grandes causas não são vencidas em uma única geração. Permanecer firmes, após ter feito tudo o que era possível, é a coragem da fé. E a coragem da fé é a coragem do progresso. Os que possuem essa qualidade divina caminham para a frente: ainda que o desejassem, não poderiam estacionar. Não são apenas criaturas sujeitas ao seu próprio poder e sabedoria; são instrumentos de uma lei mais elevada e de um propósito divino.” (Doutrina do Evangelho: Sermões e Escritos, pp. 105-106.)

Há uma mão divina por trás dos propósitos de Deus. Podemos ser “instrumentos” dele.

Muitos não têm mais muitos anos de vida. Ao chegarmos aos últimos anos de vida, chegamos a uma compreensão espiritual madura. Temos os próximos anos para fazer algo grande, importante e significativo para Deus, para nossa religião, para nossas mulheres e nossos filhos. Devemos erguer um novo estandarte, não um estandarte de liberdade, mas de amor — um estandarte que permaneça muito tempo depois que partirmos.

Que maneira melhor temos de nos preparar para encontrar Deus, do que cumprir uma missão quando chegamos ao outono e inverno da vida?

Somos prisioneiros do amor. Vinde, amados irmãos. Permiti que nossa geração faça alguma coisa grande e nobre, vinde juntar-vos às nossas fileiras. Marchemos aos milhares para as vinhas para nutrir, ensinar e abençoar os ramos tenros. Abençoemos e protejamos o fruto da colheita. Juntemos os feixes no celeiro, longe das tempestades, abrigados dos furacões, um lugar sagrado onde a tempestade não pode penetrar.

Um bom homem disse: “Acho que o teste de um grande homem é a humildade. Humildade não significa para mim duvidar de nosso próprio poder pessoal; mas, na realidade, os homens verdadeiramente grandes têm o sentimento curioso de que a grandeza não está neles, mas se manifesta por meio deles, e vêem o divino em todas as outras almas humanas, e são infinita, absurda e incrivelmente misericordiosos”.

Isso parece descrever bem nossa geração. Quem sabe se Deus não concederá a nós e aos nossos o que fazemos para os outros? Vinde, erguei vosso estandarte bem alto e marchai conosco para o campo missionário, com espírito de amor e solicitude.

Pensai e orai juntos. Começai a preparar-vos. Nossa geração pode fazer algo grandioso por aqueles que nos seguirão.

Fomos fortalecidos para o propósito sobre o qual falei? Que as fileiras de missionários sejam engrossadas por casais de todos os recantos do mundo, a fim de que o fruto permaneça, oro em nome de Jesus Cristo, amém.