1990–1999
O Caminho Estreito e Apertado
October 1990


O Caminho Estreito e Apertado

Enquanto viajávamos por uma estrada montanhosa ao anoitecer, irmã Wirthlin e eu passamos por uma forte tempestade, agravada por freqüentes estrondos de trovões e relâmpagos, de modo que mal conseguíamos ver o caminho à frente, nem o que estava à direita e à esquerda. Procurei fixar-me atentamente nas linhas brancas da estrada. Permanecer dentro dos limites por elas estabelecido foi o que impediu que nos aproximássemos da beira do caminho e caíssemos no despenhadeiro profundo que ficava de um lado, e nos ajudou a evitar uma colisão. Ultrapassar o limite das linhas poderia ter sido muito perigoso. Então pensei: “Será que alguém, com a cabeça no lugar, se desviaria para a esquerda ou para a direita da pista, se soubesse que o resultado seria fatal? Se desse valor à vida mortal, certamente haveria de permanecer entre as linhas.”

Esta experiência de viajar por uma estrada montanhosa, se assemelha muito à vida. Se permanecemos dentro dos limites demarcados por Deus, ele nos protegerá e poderemos chegar em segurança ao nosso destino.

Este princípio foi ensinado pelo Salvador, ao dizer: “Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela;

E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.” (Mateus 7:13–14.)

Numa revelação moderna ele adicionou: “Pois estreita é a porta e apertado o caminho que leva à exaltação e à continuação das vidas, e poucos há que o encontram.” (D&C 132:22.)

Josias, rei de Judá, reinou em justiça. Quando sucedeu a seu pai, tinha apenas oito anos de idade. As escrituras nos dizem que, embora não passasse de um menino, Josias “fez o que era reto aos olhos do Senhor… e não se apartou dele nem para a direita nem para a esquerda”. (II Reis 22:2.)

Q Senhor revelou o seguinte ao Profeta Joseph Smith: “Pois Deus não anda por sendas tortuosas, esquerda, nem se desvia daquilo que falou, portanto, suas veredas são retas, e o seu caminho, um círculo eterno.” (D&C 3:2.)

Embora estes ensinamentos do Salvador sejam claros e diretos, corremos o risco de nos desviarmos do caminho. Alguns seguem os ensinamentos do Senhor e do profeta vivo só quando lhes é conveniente, mas os rejeitam quando deles é requerido algum sacrifício ou um compromisso mais sério. Outros deixam de seguir os ensinamentos divinos apenas por não concordarem com as idéias preconcebidas na própria mente.

Nós nos desviamos do caminho quando nos submetemos a tentações que nos levam a ultrapassar os limites da segurança. Satanás conhece nossas fraquezas. Ele nos arma ciladas atrativas bem na hora em que.mais estamos vulneráveis, com a intenção de afastarmos do caminho que nos leva de volta ao Pai Celestial. O pecado pode ser o resultado de atividades, de início, inocentes ou perfeitamente legítimas, quando moderadas, mas que, em excesso, podem desviar-nos do caminho estreito e apertado, levando-nos à destruição.

Os esportes são um exemplo. Muitos de nós gostamos de assistir a um bom jogo, seja no estádio ou na televisão. Eu não sou exceção. Gosto de assistir a uma boa competição atlética. Se, no entanto, passarmos muito tempo assistindo a eventos esportivos, podemos negligenciar coisas muito mais importantes.

Uma boa saúde física e espiritual pode ajudar-nos a permanecer no caminho estreito e apertado. O Senhor nos deu seu código de saúde na Palavra de Sabedoria, um “princípio com promessa” que a ciência médica moderna continua a comprovar. (D&C 89:3.) Todos os mandamentos de Deus, incluindo a Palavra de Sabedoria, são espirituais. (Vide D&C 29:34–35.) Precisamos nutrir-nos espiritualmente, até mesmo mais do que fisicamente. Estaremos dando valor adequado ao nosso bem-estar espiritual?

Outra atividade que pode tirarmos do caminho certo é assistir à televisão em excesso ou ver filmes impróprios. Embora alguns programas elevem e entretenham, precisamos selecionar muito bem o que vemos e quanto tempo despendemos em tal atividade. Nosso precioso tempo não pode ser usado para assistir a programas de linguagem vulgar, conduta imoral, pornografia e violência.

Outro desvio consiste na tentação de dar demasiado valor à obtenção de bens materiais. Construir uma casa linda e espaçosa, muito maior do que precisamos, por exemplo. Talvez tenhamos que gastar demais para decorar, mobiliar e ajardinar essa casa. E, mesmo que sejamos tão abençoados a ponto de termos condições de nos dar a esse luxo, talvez estejamos fazendo mau uso de recursos, que poderiam ser usados de maneira mais aproveitável, para edificar o reino de Deus ou vestir e alimentar nossos irmãos necessitados.

Jacó, o profeta do Livro de Mórmon, advertiu-nos: “Não despendais dinheiro naquilo que não tem valor, nem vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer.” (2 Néfi 9:51.) E, numa linguagem ainda mais forte, ele disse:

“Porque alguns dentre vós obtiveram mais abundantemente do que vossos irmãos, haveis enchido vossos corações de orgulho e andais empertigados, com as cabeças levantadas devido aos vossos custosos trajes, e perseguis vossos irmãos, porque supondes que sois melhores do que eles.

E agora, meus irmãos, supondes que Deus vos justifica nestas coisas? Eis que vos digo: Não. Mas ele vos condena…

Não pensais que tais coisas são abomináveis àquele que criou toda a carne? Pois para ele uma criatura é tão preciosa como a outra.” (Jacó 2:13–14, 21.)

Orgulho e vaidade, sentimentos opostos à humildade, podem destruir nossa saúde espiritual, tão certo quanto uma enfermidade debilitante pode destruir nossa saúde física.

O Salvador ensinou claramente o valor dos bens terrenos, em conversa com o mancebo rico que lhe perguntou o que mais precisava fazer para ganhar a vida eterna; ele havia observado todos os mandamentos, desde a mocidade, e queria saber o que lhe faltava ainda. Jesus aconselhou-o a vender tudo o que tinha e dar o dinheiro aos pobres, depois segui-lo. O mancebo, porém, retirou-se triste, porque amava suas propriedades. (Vide Mateus 19:16–22.) Quantos de nós passaríamos neste teste?

Muitos de nós fizemos convênios sagrados de viver as leis de sacrifício e consagração, mas quando somos abençoados pelo Senhor com riquezas e abundância, dificilmente nos lembramos de usar essas bênçãos para ajudar a edificar sua igreja.

As escrituras estão repletas de admoestações contra a vida mundana e o orgulho, porque são coisas que também podem desviarmos de nosso curso. O Senhor explicou ao Profeta Joseph Smith que muitos se afastam do caminho “porque seus corações estão tão fixos nas coisas deste mundo”. (D&C 121:35.)

Irmãos, peço-vos também que façais tudo para não cruzar as linhas de segurança, penetrando nos caminhos da imoralidade. Nosso profeta, o Presidente Ezra Taft Benson, disse deste púlpito: “O maldito pecado desta geração é a imoralidade sexual… Ela infesta a nossa sociedade.” (A Liahona, julho de 1986, p. 3.) Os corações partidos e as famílias desfeitas que vejo constantemente demonstram que a imoralidade é um problema muito sério no mundo, e mesmo para alguns membros da Igreja. Lembrai-vos de que “iniqüidade nunca foi felicidade”. (Alma 41:10.) “Não podeis fazer o que é errado e sentir que é certo.” (Ezra Taft Benson, New Era, junho de 1986, p. 6.)

O primeiro desvio em direção à queda moral, no homem ou na mulher, é semelhante à centelha que dá início a um devastador incêndio florestal. Este ano, em Midway, Utah, num dia quente e ventoso de verão, as brasas restantes de uma pequena fogueira de um acampamento foram sopradas pelo vento, dando início a um devastador incêndio que se espalhou montanha afora. Antes que as chamas pudessem ser controladas, dois excelentes membros da Igreja perderam a vida. O fogo abrasador destruiu a bela paisagem e dezoito casas. Arriscamo-nos a praticar um dano semelhante à nossa integridade moral, quando nos descuidamos dela, mesmo que seja por um só momento. A fagulha de um pensamento mau pode penetrar a mente, incendiando e destruindo a fibra moral da alma.

Como podemos permanecer no caminho estreito e apertado? O Senhor nos deu a resposta, vez após outra. Temos que aprender a palavra de Deus estudando as escrituras, aplicando-as, orando ao Senhor e servindo ao próximo.

No Livro de Mórmon, a palavra de Deus recebe o nome de barra de ferro. Ao interpretar o sonho do pai para os irmãos, Néfi escreveu:

“E eles me disseram: O que significa a barra de ferro que nosso pai viu, e que conduzia à árvore?

E eu lhes disse que representava a palavra de Deus, e todos os que dessem ouvido à palavra de Deus e a ela se apegassem jamais pereceriam; nem as tentações nem os ardentes dardos do adversário poderiam dominá-los cegando-os, para os encaminhar à destruição.” (1 Néfi 15:23–24.)

Em outras palavras, Néfi ensinou que quando nos agarramos à palavra de Deus, como se fosse um corrimão, somos capazes de evitar as tentações, sem nos perder na escuridão. Assim conseguimos permanecer no caminho apertado.

Usando outro simbolismo, o salmista escreveu: “Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho.” (Salmos 119:105.)

A palavra de Deus é, então, a luz de nosso caminho, a barra de ferro ou corrimão a que devemos nos agarrar. Ela estabelece o limite das linhas que não devemos cruzar, se desejamos alcançar nosso destino.

Podemos fazer com que nossos valores se conservem de acordo com a vontade do Pai Celestial, pelo estudo diário das escrituras e da palavra dos profetas modernos. As escrituras nos guiam “à fonte de água viva, ou à árvore da vida; as águas representavam o amor de Deus”. (1 Néfi 11:25.)

As orações diárias nos ajudam a continuar no caminho da vida eterna. Em Provérbios lemos: “Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas.” (Provérbios 3:6.) Orações diárias, em particular ou em família, nos ajudam a permanecer junto ao Pai Eterno e a conhecer o que é de maior valor para nós e para ele. Não nos desviaremos do caminho, se todos os dias, pelo menos de manhã e à noite, proferimos orações humildes e simples, que expressem nosso agradecimento e peçam orientação divina.

O Salvador ensinou o valor do serviço em benefício do próximo na parábola dos bodes e das ovelhas, declarando aos justos:

“Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;

Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;

Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me.

Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber?

E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos?

E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?

E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.” (Mateus 25:34–40.)

O rei Benjamim ensinou o mesmo princípio dizendo: “Quando estais a serviço de vosso próximo, estais somente a serviço de vosso Deus.” (Mosiah 2:17.)

Ao orar, fazei ocasionalmente um inventário, para ver até que ponto vai a vossa retidão em seguir os padrões do evangelho de Jesus Cristo. Podemos saber por nós mesmos, como o Salvador o sabe, onde precisamos progredir. Agarremo-nos aos padrões. Se já progredimos nas coisas materiais e externas, como estamos indo com as coisas de natureza interna? Nossa vida é aceitável ao Senhor? Estamos dispostos a reconhecer nossos pecados e fazer o esforço de não mais cometê-los, de nos arrepender e corrigir o curso que nos levará de volta ao caminho estreito e apertado?

Sei que temos todos muito o que fazer. Sei que às vezes ficamos aturdidos com tantas tarefas, mas, se ordenamos as prioridades, podemos realizá-las todas. Podemos persistir até o fim, sejam quais forem as tentações, problemas e desafios. Aqueles que permanecem fiéis receberão as maiores bênçãos, a vida eterna, e o privilégio de viver com o Pai Celestial e seu Filho Amado no reino celestial.

Elder Marion G. Romney disse: “Quando a vida terrena terminar e as coisas se mostrarem em sua perspectiva real, poderemos ver mais claramente … que os frutos do evangelho são os únicos objetivos dignos de nossos esforços.” (Conferência Geral, outubro de 1949.)

Jacó, um profeta do Livro de Mórmon, declarou: “Assim pois, meus queridos irmãos, vinde ao Senhor, ao Santo. Lembrai-vos de que seus caminhos são retos. Eis que o caminho para o homem é estreito; mas segue em linha reta ante ele; e o guarda do portão é o Santo de Israel; e ele ali não tem nenhum empregado.” (2 Néfi 9:41.)

Que todos possamos gozar dos frutos do evangelho. Sejamos fiéis e leais aos convênios. Tenhamos o caminho estreito e apertado em mente e façamos tudo o que pudermos para permanecer no limite das linhas, em meio às tempestades e tentações da vida. Estudemos as escrituras, nos agarremos à barra de ferro que é a palavra de Deus, sejamos piedosos e ajamos de maneira cristã. Sejamos repletos de caridade, o puro amor de Cristo, e que esse amor seja refletido em nossas ações. Assim estaremos observando “o mais importante” da lei de Deus, não omitindo o resto. (Mateus 23:23.)

Presto testemunho solene de que Jesus é o Santo de Israel, nosso Salvador e Redentor. Esta é sua Igreja. Ele é o Filho de Deus, o Pai Celestial. Joseph Smith é o profeta da restauração nestes últimos dias, e o Presidente Ezra Taft Benson é um profeta vivo em nossos dias. Presto testemunho disto em nome de Jesus Cristo, amém.