1990–1999
“Nos Conselheiros Há Segurança”
October 1990


“Nos Conselheiros Há Segurança”

Gostaria primeiramente de dizer que apreciei tudo o que já foi dito nesta reunião. Muito do que foi falado foi dirigido aos rapazes, e eu endosso isso tudo. Espero que tenham ficado gravados em vossas mentes os conselhos recebidos. Se os seguirdes, serão uma bênção para vossa vida, hoje e nos anos vindouros.

Ao terminar esta reunião, desejo falar-vos de um assunto em particular.

Em uma reunião geral do sacerdócio, anterior a esta, falei do dever dos bispos. Debati totalmente o campo de suas responsabilidades. Suponho que não vos lembrais disto, mas recordo havê-lo feito.

Hoje gostaria de falar sobre os conselheiros. Eles existem em número duas vezes maior que o dos bispos e presidentes, e são importantes.

O Senhor, em sua infinita sabedoria, criou nesta igreja o que chamamos de presidências. Essencialmente, todos os quoruns e organizações são presididos por uma presidência, exceto o Conselho dos Doze Apóstolos, que é presidido por um presidente, e os Quoruns dos Setenta, constituído de sete presidentes. Acho que posso compreender por que não há presidência nos Doze. O Conselho consiste de doze homens maduros, com responsabilidades semelhantes, de liderança e em número relativamente pequeno. Além disso, formam um corpo muito unido, no qual todos se sentem livres para expressar seus sentimentos, seja qual for o assunto debatido no Quorum. E evidente que não há necessidade de uma presidência constituída de três pessoas, para presidir os outros nove irmãos. São homens amadurecidos por uma longa experiência, chamados para uma tarefa especial.

No caso dos Setenta, seu número é grande e flexível, em termos de quantidade de quoruns que podem ser organizados. Cada presidente chamado pelo Primeiro Quorum dos Setenta, é co-igual com os outros, sendo que um dos sete é designado presidente sênior.

No caso do quorum dos sacerdotes, o bispo serve como presidente. Tratando-se, porém, de bispado, presidência de estaca, presidência do quorum do Sacerdócio Aarônico ou de Melquisedeque, presidência de missão, de templo, das organizações auxiliares, Presidência de Área, ou a Primeira Presidência da Igreja, sempre temos um presidente e conselheiros.

Acho que sei, por experiência pessoal, o que significa servir como conselheiro, o lugar que ele ocupa, e os parâmetros de sua responsabilidade.

Na extensa ala na qual cresci, havia cinco quoruns de diáconos. Cada um deles era presidido por uma presidência, constituída de três rapazes. Minha primeira responsabilidade na Igreja, o primeiro ofício que me foi dado, foi o de conselheiro do rapaz que presidia nosso quorum de diáconos. Nosso bom bispo me chamou e conversou comigo a respeito deste chamado. Fiquei tremendamente impressionado, e também preocupado. Eu era, acreditem ou não, inibido e acanhado, e acho que esse chamado para servir como conselheiro de um quorum de diáconos me deixou tão apreensivo, levando em consideração minha idade e experiência, quanto minha responsabilidade atual.

Subseqüentemente servi na presidência de outros quoruns do sacerdócio: Como conselheiro de uma superintendência da Escola Dominical da estaca, como era chamada, antes de me tornar seu superintendente. Como conselheiro na presidência da estaca, antes de ser chamado como presidente. E, como sabeis tenho servido como conselheiro de dois Presidentes da Igreja, dois líderes inspirados, maravilhosos e dedicados.

Existem vários princípios fundamentais referentes a conselheiros. Em primeiro lugar, é o oficial presidente quem escolhe seus conselheiros. Eles não são escolhidos por outras pessoas e impostos ao presidente. No entanto, é necessário, na maioria das circunstâncias, que essa seleção seja aprovada por uma autoridade maior. Por exemplo, na organização de uma estaca, que ocorre sob a direção de uma Autoridade Gerai, é cuidadosa e fervorosamente escolhido um presidente. Em seguida, pede-se-lhe que escolha os conselheiros, e espera-se que a Autoridade Geral aprove a seleção, antes que esses homens sejam entrevistados.

E imperativo que o próprio presidente escolha seus conselheiros, porque o relacionamento entre eles deve ser compatível. O presidente deve ter absoluta confiança nos conselheiros, e os conselheiros no presidente. Devem trabalhar juntos, em espírito de confiança e respeito mútuo. Os conselheiros não são o presidente. Em certas circunstâncias poderão agir em nome dele, mas isto é delegação de autoridade. Quais são, então, alguns dos deveres do conselheiro?

Ele é o assistente do presidente. A despeito da organização, o ofício de presidente é pesado e trabalhoso. Mesmo o presidente do quorum dos diáconos, fazendo um trabalho bem feito, tem muita responsabilidade, pois responde pela participação ativa e bem-estar dos rapazes de seu quorum.

Como assistente, o conselheiro não é o presidente. Ele não arroga responsabilidades a si mesmo, nem passa à frente do presidente.

Nas reuniões de presidência, cada conselheiro fica à vontade para expressar suas opiniões e falar dos assuntos em pauta. No entanto, o presidente tem a prerrogativa de tomar decisões, e os conselheiros têm o dever de apoiá-lo. As decisões por ele tomadas se tornam decisões dos conselheiros, a despeito das idéias que eles por acaso tenham manifestado.

O presidente, se for sábio, designará aos assistentes deveres particulares, deixando-os à vontade para realizá-los, mas requerendo uma prestação de contas.

O conselheiro é um sócio. A presidência em seu todo pode desenvolver um belo relacionamento, uma amizade entre três irmãos que, trabalhando em conjunto, desenvolvem um companheirismo sincero e satisfatório. Delegadas as responsabilidades, seus movimentos independentes têm um limite. Os três, unidos, são responsáveis pelo trabalho da ala, ou do quorum, da estaca, da organização auxiliar, ou o que for.

Este tipo de sociedade funciona como uma válvula de segurança. O sábio escritor de Provérbios nos diz que nos “conselheiros há segurança” (Provérbios 11:14). Quando os problemas surgem, quando nos defrontamos com decisões difíceis, é maravilhoso ter ao nosso lado pessoas em quem podemos confiar.

Lembro-me de nossas reuniões de presidência quando eu era menino. Nosso presidente apresentava os assuntos em pauta e nós os debatíamos. Tendo discutido o assunto, procurávamos obter o resultado desejado.

Nenhum presidente, de qualquer organização da Igreja, pode seguir em frente, sem ter a certeza de que seus conselheiros se sentem bem quanto ao programa proposto. Toda pessoa que pensa sozinha, trabalha sozinha, chegando às suas próprias conclusões, está sujeita a erros. Quando, porém, três pessoas se ajoelham em oração, examinam todos os aspectos do problema, e, movidas pelo Espírito, chegam à mesma conclusão, podemos ter certeza de que a decisão está em harmonia com a vontade do Senhor.

Posso garantir a todos os membros desta Igreja que na Primeira Presidência seguimos este procedimento. Invariavelmente, até o Presidente da Igreja, que é Profeta, Vidente e Revelador, e cujo direito e chamado é julgar e dirigir o curso da Igreja, invariavelmente consulta seus conselheiros, para determinar as opiniões deles. Se a decisão não for unânime, nenhuma atitude é tomada. Dois conselheiros, trabalhando com um presidente, mantêm um ótimo sistema de prestação de contas e equilíbrio. Eles se tornam um salvaguarda que dificilmente, ou nunca, erra, e proporcionam uma liderança forte.

O conselheiro é um amigo. As presidências devem fazer mais do que se aconselhar. Ocasionalmente, mas não em excesso, devem, juntamente com as esposas, reunir-se socialmente. Devem ser bons amigos, amigos confiáveis, no real sentido da palavra. Os conselheiros devem preocupar-se com a saúde e o bem-estar do presidente. O presidente deve sentir-se à vontade para falar de seus problemas pessoais, se tiver algum, certo de que os conselheiros manterão no mais estrito sigilo tudo o que lhes foi dito.

O conselheiro é um juiz. E um juiz menor do que o presidente, mas não deixa de ser um juiz.

Por ocasião de conselhos disciplinares, os três irmãos do bispado, ou os três da presidência da estaca, ou os três da presidência da Igreja, se reúnem, discutem o assunto e oram juntos, no processo de chegar a uma decisão. Asseguro-vos, que nunca se pode realizar um julgamento sem que antes seja proferida uma oração. As ações contra um membro são muito sérias para dependerem só do julgamento humano, particularmente de um homem só. Para que haja justiça é preciso haver a orientação do Espírito, fervorosamente procurada e seguida.

Em determinadas circunstâncias, o conselheiro pode servir de procurador do presidente. O presidente pode dar-lhe essa designação, mas o conselheiro nunca deve abusar dela. O trabalho deve continuar, apesar da ausência do presidente, por motivo de doença, desemprego, ou outros fatores que estejam além do seu controle. Nestas circunstâncias, e no interesse da obra, o presidente deve, com toda confiança, estender aos conselheiros a autoridade para agir, depois de havê-los treinado, ao servirem juntos no bispado ou presidência.

Nem sempre é fácil ser conselheiro. O Presidente J. Reuben Clark Jr., que, como conselheiro, assumiu a responsabilidade de liderar a Igreja durante a enfermidade do Presidente Heber J. Grant, disse-me em determinada ocasião: “E difícil assumir responsabilidade sem autoridade.”

Ele, na verdade, estava dizendo que devia tratar dos deveres geralmente da competência do Presidente, sem possuir a autoridade nele investida.

Cheguei a entender muito bem o que ele quis dizer. Gostaria de contar-vos alguns sentimentos pessoais: Durante o tempo em que o Presidente Kimball estava doente, o Presidente Tanner também ficou enfermo e faleceu. O Presidente Romney foi chamado como primeiro conselheiro e eu como segundo conselheiro na Primeira Presidência. Então o Presidente Romney também ficou doente, deixando-me com um fardo quase, impossível de ser carregado. Aconselhei-me com freqüência com meus Irmãos dos Doze, e nunca poderei agradecer-lhes o suficiente por sua compreensão e pela sabedoria que demonstraram. Nos assuntos nos quais as diretrizes estavam bem estabelecidas, seguimos em frente. No entanto, nenhuma diretriz nova foi anunciada ou implementada, e nenhuma prática de importância capital foi alterada, sem que.eu expusesse o assunto ao Presidente Kimball a fim de receber seu consentimento e total aprovação.

Nessas ocasiões, sempre que o visitava, levava comigo um secretário, que fazia um registro detalhado da conversação. Garanto-vos, irmãos, que nunca, de acordo com meu conhecimento, me adiantei à frente de meu líder; nunca tive o mínimo desejo de me antecipar a ele no estabelecimento de diretrizes e instruções para a igreja. Eu sabia que ele era o Profeta apontado pelo Senhor. Embora eu também tivesse sido apoiado como profeta, vidente e revelador, com os Irmãos dos Doze, sabia que nenhum de nós era o Presidente da Igreja. Eu sabia que o Senhor havia prolongado a vida do Presidente Kimball para propósitos que lhe eram conhecidos, e tinha uma fé perfeita em que isso se dava por um motivo sábio daquele que possui sabedoria maior que a dos homens.

O Presidente Kimball morreu em novembro de 1985, e o Presidente Ezra T. Benson, Presidente do Conselho dos Doze, foi por unanimidade apoiado Presidente da Igreja e Profeta, Vidente e Revelador. Ele escolheu seus conselheiros, e asseguro-vos que, juntos, temos trabalhado bem e harmoniosamente, e que tem sido uma grande e compensadora experiência.

O Presidente Benson está com noventa e um anos de idade e já não tem a força e a vitalidade que tinha em abundância. O Irmão Monson e eu, como conselheiros, fazemos o que já foi feito antes, ou seja, levamos avante o trabalho da Igreja, tendo sempre o cuidado de não nos anteciparmos ao Presidente, de não nos desviarmos de nenhuma diretriz há muito estabelecida, sem o conhecimento e total aprovação dele.

Sou grato pelo Presidente Monson. Já nos conhecemos há muito tempo e trabalhamos juntos em muitos projetos. Aconselhamos um ao outro e juntos deliberamos e oramos. Adiamos as decisões, quando não estamos completamente certos do curso a tomar, e não continuamos sem a bênção de nosso Presidente e a certeza advinda do Espírito do Senhor.

Oramos por nosso Presidente. Fazemos isto com freqüência e com muito fervor. Nós o amamos e conhecemos nosso relacionamento com ele, bem como nossa responsabilidade para com a Igreja em seu todo. Aconselhamo-nos com os Doze e compartilhamos do seu julgamento uma fonte de auxílio indescritível.

Não temais, irmãos: Esta Igreja tem uma Presidência. Espero não parecer egocêntrico quando digo que ela foi escolhida pelo Senhor. Não estamos aqui por escolha própria. Somos agradecidos por vosso apoio. Sabemos que orais por nós, e desejamos que saibais que também oramos por vós. Esperamos estar seguindo a vontade do Senhor, e acreditamos sinceramente que o estejamos fazendo. Esperamos que vos sintais como nós. Não temos outro desejo que não seja o de fazer a vontade do Pai, no que concerne a seu reino e seu povo.

Servimos graças à tolerância do Pai Eterno, cientes de que ele pode facilmente remover-nos, a qualquer hora que o desejar. Somos responsáveis perante ele nesta vida, e lhe prestaremos contas quando estivermos diante dele para fazer nosso relatório. Espero não estarmos em falta. Espero que nesse dia, eu tenha a oportunidade de permanecer diante de meu Amado Salvador, para prestar contas de minha mordomia, sem ficar envergonhado, sem tristezas ou desculpas. E assim pensando que tento conduzir minha vida. Sei que não sou perfeito, que tenho muitas fraquezas, mas posso dizer que tenho tentado fazer o que o Senhor espera que eu faça, como servo seu e dos membros desta Igreja no mundo todo, e, em particular, como servo de meu amado Presidente, nosso Profeta, Vidente e Revelador.

Sirvo como conselheiro, assim como tantos de vós presentes hoje, vós em vosso chamado e eu no meu. Oro, irmãos, que sejamos fiéis e honestos nestes santos ofícios, em nome do Senhor Jesus Cristo, amém.