1990–1999
Convênios
October 1990


Convênios

Que bela experiência era ouvir o Presidente Joseph Fielding Smith orar. Mesmo depois dos noventa ele continuava orando que pudesse “cumprir seus convênios e obrigações e perseverar até o fim”. A palavra convênio é o assunto de minha mensagem.

Disse o Senhor aos antigos: “Contigo estabelecerei o meu pacto.” (Gênesis 6:18.) E aos nefitas: “Em virtude de serdes os filhos do convênio.” (3 Néfi 20:26.) Ele descreveu o evangelho restaurado como “um convênio novo e eterno”. (D&C 22:1; grifo nosso.) Todos os santos dos últimos dias estão sob convênio. O batismo é um convênio; o sacramento também. No sacramento renovamos o convênio do batismo e prometemos “recordá-lo sempre e guardar os mandamentos que ele … deu”. (D&C 20:77.)

Três Perigosos Estilos de Vida

Minha mensagem é para todos os que se sentem tentados a promover, iniciar ou permanecer num estilo de vida que viola os convênios e que um dia resultarão em sofrimento, para eles mesmos e para aqueles que os amam.

Cada vez mais as pessoas estão fazendo campanha para legalizar e tornar aceitáveis, na vida social, estilos de vida espiritualmente perigosos. Entre outros citamos a prática do aborto, o movimento a favor dos homossexuais e das lésbicas, e o consumo de drogas. São assuntos debatidos em fóruns e seminários, em classes, conversas, convenções e tribunais de todo o mundo. Seus aspectos sociais e políticos são debatidos diariamente na imprensa.

Moral e Espiritual

Minha opinião é simplesmente está: “Nestas questões existe um lado MORAL e ESPIRITUAL universalmente ignorado.” Para os santos dos últimos dias a moralidade é um componente que não deve faltar quando estas questões são examinadas — caso contrário, pomos em risco convênios sagrados! Cumpri vossos convênios e estareis a salvo. Quebrai-os e não estareis.

Os mandamentos encontrados nas escrituras, tanto os que dizem o que devemos fazer como os que nos dizem o que não devemos fazer, formam a letra da lei. Também existe o espírito da lei. Somos responsáveis pelos dois.

Algumas pessoas nos desafiam a mostrar em que lugar as escrituras especificam a proibição de aborto, homossexualismo, lesbianismo ou uso de drogas. “Se são errados”, perguntam elas, “por que as escrituras não o declaram abertamente, na ‘letra da lei’?” Tais assuntos não foram ignorados nas revelações* As escrituras geralmente são positivas e não negativas em seus temas, e é um erro deduzir que tudo aquilo que não é proibido de maneira específica na ‘letra da lei’ é, de certa forma, aprovado pelo Senhor. As escrituras não determinam com pormenores tudo o que o Senhor aprova, nem tudo o que é proibido. A Palavra de Sabedoria, por exemplo, não dá conselho específico contra o uso de arsênico. Nós certamente não precisamos de uma revelação para saber disso!

O Senhor disse: “Não é próprio que em todas as coisas eu mande; pois o que é compelido em todas as coisas, é servo indolente e não sábio.” (D&C 58:26.) Os profetas nos disseram no Livro de Mórmon que “os homens foram ensinados suficientemente para distinguir o bem do mal”. (2 Néfi 2:5; vide Helamã 14:31.)

Nossa vida tem por objetivo ser um teste, para ver se cumpriremos os mandamentos de Deus. (Vide 2 Néfi 2:5.) Somos livres para obedecer ou ignorar o espírito e a letra da lei, mas o livre-arbítrio dado ao homem é moral. (Vide D&C 101:78.) Não somos livres para quebrar os convênios e escapar às conseqüências.

As leis de Deus foram estabelecidas para nos trazer alegria. A felicidade não pode co-existir com a imoralidade: o profeta Alma nos disse, com profunda simplicidade, que “iniqüidade nunca foi felicidade”. (Alma 41:10.)

O Direito de Escolha

Sempre que estes destrutivos estilos de vida são debatidos, é invocado o “direito de escolha do indivíduo”, como se esta fosse a virtude suprema. Isto só poderia ser verdade se não houvesse mais ninguém além de nós. Os direitos de qualquer indivíduo sempre se chocam com os direitos de outro indivíduo. E a verdade é que não podemos ser felizes, salvos ou exaltados, uns sem os outros.

Tolerância

A palavra tolerância também é invocada como se estivesse acima de tudo o mais. A tolerância pode ser uma virtude, mas não é a virtude dominante. Existe uma diferença entre o que somos e o que fazemos. O que somos pode merecer uma tolerância ilimitada; o que fazemos, só uma determinada quantidade dela. Toda a virtude, quando levada ao extremo, pode se converter em vício. Devoção excessiva a um ideal, sem levar em conta a sua aplicação prática, destrói o ideal em si.

O Aborto

O direito de escolha nunca é defendido com maior vigor do que em relação ao aborto. Uma vez escolhido o procedimento, e tendo ocorrido uma concepção, a escolha já não pode ser revogada. No entanto, restam outras escolhas, e sempre há uma que é melhor que as outras.

As vezes foi quebrado o convênio do casamento; ou, o que acontece com maior freqüência, nenhum convênio foi feito. Dentro ou fora do casamento, o aborto não é uma escolha pessoal. No mínimo três vidas estão envolvidas.

As escrituras nos dizem: “Nem matarás, nem farás coisa alguma semelhante.” (D&C 59:6; grifo nosso.)

Exceto quando crimes abomináveis, como o incesto ou o estupro estão envolvidos, ou quando autoridades médicas competentes atestam que a vida da mãe está em perigo, ou que o feto, seriamente danificado, não tem condições de sobreviver, o aborto passa a ser uma escolha. Mesmo em casos excepcionais como estes, muita oração deve ser proferida, para se fazer a escolha certa.

Deparamo-nos com esse tipo de escolha porque somos filhos de Deus.

O Homem Não É Apenas um Animal

Não sabemos em que estamos nos metendo, quando permitimos que a nossos filhos seja ensinado que o homem não passa de um animal mais adiantado. Aumentamos nosso erro quando negligenciamos o ensino de valores morais e espirituais. As leis morais não se aplicam aos animais, pois eles não possuem o livre-arbítrio. Onde existe livre-arbítrio, onde existe escolha, as leis morais têm que ser aplicadas. Não pode, absolutamente, ser de outra forma.

Quando é ensinado a nossos jovens que não passam de animais, eles se sentem livres e até mesmo compelidos a dar vazão a impulsos e necessidades que possam ter. Não deveríamos ficar tão admirados com o que está acontecendo à sociedade. Semeamos ventos, agora colhemos tempestades. Nossos filhos, assim ensinados, vão fazer aquilo que lhes parece natural.

Os Direitos dos Homossexuais e das Lésbicas

Circulam na Igreja várias publicações que defendem e promovem a conduta homossexual ou lesbiana. Elas travam verdadeira luta contra as escrituras, na tentativa de provar que tais impulsos nascem com a pessoa e não podem ser sobrepujados, nem é conveniente que se lhes ofereça resistência; portanto, esta é uma conduta com moralidade própria. Escrituras são citadas, para justificar a perversão entre adultos. A mesma lógica poderia justificar o incesto ou o ato de molestar criancinhas de ambos os sexos. Nem a letra nem o espírito da lei moral tolera esse procedimento.

Espero que nenhum de nossos jovens seja suficientemente tolo para aceitar tais fontes como autoridade para explicar o significado das escrituras. Paulo, falando sobre o mesmo assunto, condenou aqueles que “mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador”. (Romanos 1:25.) A expressão infiéis nos contratos, é usada nas escrituras. (Vide Romanos 1:31.)

Alguns preferem rejeitar as escrituras que têm à mão e esquecer os convênios feitos, mas evitar as conseqüências é uma escolha que não podem fazer. Esta escolha não lhes pertence, não é nossa nem de ninguém.

Todos nós estamos sujeitos a sentimentos e impulsos, alguns dignos e outros não; alguns naturais e outros não. Temos o dever de controlá-los, o que significa que devemos direcioná-los, de acordo com a lei moral.

A união legítima dos sexos é uma lei de Deus. Os convênios sagrados feitos pelo marido e a mulher com Deus nos protegem, ao expressarmos de maneira sadia os sentimentos e impulsos vitais para a continuação da raça, essenciais para uma vida familiar feliz. A conduta ilícita ou pervertida conduz, sem exceção, ao desapontamento, ao sofrimento e à tragédia.

Líderes Locais do Sacerdócio

Recebemos cartas de pessoas que imploram ajuda e perguntam por que alguns devem ser atormentados por desejos que os levam ao vício ou à perversão. Elas procuram desesperadamente uma explicação lógica para o fato de possuírem uma atração compulsiva até mesmo uma predisposição, para coisas destrutivas e proibidas.

Por que, perguntam, acontece isto comigo? Não é justo! Acham que não é justo que outros não sejam afligidos com as mesmas tentações. Escrevem dizendo que o bispo não soube responder-lhes, nem conseguiu pôr um fim ao hábito ou tendência.

Às vezes nos é dito que os líderes da Igreja não compreendem realmente esses problemas. Talvez não os compreendamos. São muitas as perguntas para as quais não temos respostas simples, mas nós certamente compreendemos a tentação, cada um de nós, por meio da experiência pessoal. Ninguém está livre de tentações de um tipo ou de outro. Este é o teste da vida. Elas fazem parte de nossa provação mortal. As tentações, seja qual for o tipo, fazem parte do plano.

O que sabemos com certeza é para onde tais tentações nos levam. Já vimos a influência desses estilos de vida na vida de muitas pessoas. Já sabemos como é o final do caminho, o qual sois tentados a seguir. Não é provável que o bispo possa explicar-vos as causas de tais condições ou o motivo pelo qual sois afligidos com elas; tampouco pode ele afastar a tentação. Ele só pode dizer-vos o que é certo e o que é errado, e se sabeis distinguir um do outro, tendes por onde começar. E nesse ponto que as escolhas pessoais se tornam operantes. E nesse ponto que o arrependimento e o perdão podem exercer grande poder espiritual.

Acredito que muitas pessoas se sentem impelidas ao vício das drogas ou perversão, ou se submetem ao aborto, sem realmente compreenderem como essas coisas são moral e espiritualmente perigosas.

Um Tentador

A pior das condições que podemos criar para nós mesmos, talvez seja a de nos assemelharmos ao tentador e induzirmos um inocente a um estilo de vida destrutivo. Satanás incita os outros a saírem do seu “esconderijo” e violarem os convênios que fizeram com Deus. Promete emancipação e alegria, sem explicar que tal curso pode ser espiritualmente fatal.

O tentador clamará que tais impulsos não podem ser mudados e que não se deve oferecer-lhes resistência. Poderia o adversário nos induzir a acreditar em algo pior?

O Senhor preveniu: “E qualquer que escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim melhor lhe fora que lhe pusessem ao pescoço uma mó de atafona, e que fosse lançado no mar.” (Marcos 9:42.)

Grupos de Apoio

Existem grupos de apoio de muitos tipos que procuram fortificar os que se esforçam por afastar-se do vício das drogas ou por dominar outras tentações. Também existem organizações que fazem justamente o contrário. Justificam a conduta imoral e reforçam ainda mais as correntes do vício ou da perversão. Não vos filieis a esse tipo de organização. Se já o fizestes, retirai-vos dela.

Espírito de Simpatia e Amor

E agora, é com amor e simpatia que me dirijo a vós, que talvez estejais lutando contra tentações que, de acordo com a lei, não têm manifestação moral. Alguns têm resistido à tentação, mas nunca parecem ficar livres dela. Não cedai! Cultivai a força espiritual para resistir — a vida inteira, se for necessário.

Outros são torturados por pensamentos de convênios já esquecidos e às vezes pensam em suicídio. O suicídio não é a solução. Não deveis nem mesmo pensar nele. O caso de vos mostrardes tão perturbados demonstra que tendes a alma espiritualmente sensível, para a qual há grande esperança.

Talvez fiqueis imaginando por que Deus não parece ouvir vossos rogos e não elimina essas tentações. Quando conhecerdes o plano do evangelho, compreendereis que as condições de nossa provação mortal requerem que a escolha seja nossa. Esse teste é o propósito da vida. Embora vossas inclinações possam ter dominado, durante algum tempo, vosso senso de moralidade, ou subjugado o vosso espírito, nunca é tarde demais.

Talvez não sejais capazes, pela escolha pura e simples, de vos livrar de uma vez por todas do sentimento de indignidade, mas podeis manter a escolha de não fazer o que é errado.

O sofrimento que tendes que suportar para abandonar o vício da droga ou da perversão, ou resistir a ele não é nem a centésima parte do que vossos pais, cônjuges ou filhos terão que sofrer, se desistirdes de fazê-lo. O sofrimento deles será inocente, porque vos amam. Continuar a resistir ou afastar-se desse estilo de vida é um ato de genuína abnegação, um sacrifício que colocareis no altar da obediência, causar-vos-á enormes recompensas espirituais.

Lembrai-vos do livre-arbítrio, da liberdade de escolha que reclamastes possuir ao esquecer vossos convênios? Esse mesmo livre-arbítrio pode ser usado agora, e exercer um grande poder espiritual de redenção.

O amor que temos para oferecer pode parecer inflexível, mas é dos mais puros; e temos mais que nosso amor para vos ofertar. Podemos ensinar como fazer uso do poder purificador do arrependimento. Embora possa parecer difícil, se os convênios são quebrados, podem ser reajustados e sereis perdoados. Até mesmo no caso de aborto? Sim, mesmo nesse caso!

“Vinde então, e argüí-me, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve: ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã.” (Isaías 1:18.)

Deus abençoe todos vós que estais lutando para resistir ou livrar-vos das terríveis tentações que hoje varrem o mundo, e das quais não estamos livres na Igreja. Que ele abençoe aqueles que vos amam e apoiam. Na Igreja existe um grande poder purificador, pois este é o evangelho de arrependimento. Ele é nosso Redentor. Dele presto testemunho — Jesus Cristo, o filho de Deus, o Unigénito do Pai, que se sacrificou para que possamos ser purificados. E dele presto testemunho, em nome de Jesus Cristo, amém.