Conferência Geral
Unidos ao realizar a obra de Deus
Conferência Geral de Abril de 2020


Unidos ao realizar a obra de Deus

A maneira mais eficiente de atingirmos nosso potencial divino é trabalharmos juntos, abençoados pelo poder e pela autoridade do sacerdócio.

Queridos irmãos e irmãs, é uma alegria estar com vocês. Onde quer que estejam me ouvindo, ofereço um abraço a minhas irmãs e um cordial aperto de mão a meus irmãos. Estamos unidos na obra do Senhor.

Quando pensamos em Adão e Eva, com frequência, a primeira coisa que vem à nossa mente é a vida paradisíaca que tiveram no Jardim do Éden. Fico imaginando que o clima estava sempre perfeito — não tão quente e nem tão frio — e que as frutas, as verduras e os legumes abundantes e deliciosos cresciam ao alcance das mãos para que eles pudessem comer sempre que quisessem. Uma vez que esse era um novo mundo para eles, havia muito a ser descoberto, então cada dia era muito interessante à medida que eles interagiam com a vida animal e exploravam as belas paisagens. Eles também receberam mandamentos para obedecer e tinham maneiras diferentes de lidar com tais instruções, o que ocasionou o início de certa ansiedade e confusão.1 Porém, ao tomarem decisões que mudaram sua vida para sempre, eles aprenderam a trabalhar juntos e a se tornarem unidos ao realizarem os propósitos que Deus tinha para eles — e para todos os Seus filhos.

Agora, imaginem esse mesmo casal na mortalidade. Eles tiveram que trabalhar por seu sustento, certos animais os enxergavam como alimento e havia desafios complicados que só podiam ser vencidos quando eles se aconselhavam e oravam juntos. Imagino que tiveram, pelo menos algumas vezes, opiniões diferentes sobre como lidar com esses desafios. No entanto, por meio da Queda, tinham aprendido que era fundamental agir em união e amor. Com as orientações que receberam de fontes divinas, eles aprenderam o plano de salvação e os princípios do evangelho de Jesus Cristo que tornavam o plano possível. Por entenderem que seu propósito terreno e seu objetivo eterno eram idênticos, eles encontraram alegria e sucesso ao aprenderem a trabalhar juntos em amor e retidão.

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Adão e Eva ensinando seus filhos

Quando tiveram filhos, Adão e Eva ensinaram à sua família o que tinham aprendido com os mensageiros celestiais. Eles se concentraram em ajudar seus filhos a também entender e aceitar os princípios que lhes trariam felicidade nesta vida e que os preparariam para retornar a seus pais celestiais depois de terem desenvolvido suas habilidades e provado sua obediência a Deus. Nesse processo, Adão e Eva aprenderam a valorizar seus diferentes pontos fortes e apoiaram um ao outro em seu trabalho de significado eterno.2

À medida que séculos e milênios se passaram, as nítidas contribuições interdependentes e inspiradas de homens e mulheres se tornaram obscurecidas devido a informações erradas e a mal-entendidos. No período entre aquele maravilhoso início no Jardim do Éden e agora, o adversário tem tido muito sucesso em seu objetivo de separar homens e mulheres com suas tentativas de conquistar nossa alma. Lúcifer sabe que se ele conseguir prejudicar a união que homens e mulheres têm, se ele conseguir nos confundir a respeito de nosso valor divino e de nossas responsabilidades assumidas por convênio, ele terá sucesso em destruir famílias, que são as unidades fundamentais da eternidade.

Satanás instiga a comparação como uma ferramenta para criar sentimentos de superioridade ou inferioridade, escondendo a verdade eterna de que as diferenças naturais dos homens e das mulheres são dadas por Deus e igualmente valiosas. Ele tentou depreciar as contribuições das mulheres tanto para a sociedade quanto para a família, desse modo diminuindo sua edificante influência para o bem. Seu objetivo tem sido o de promover a luta pelo poder em vez da comemoração das contribuições singulares de homens e mulheres que se complementam e contribuem para a união.

Então, com o passar dos anos e pelo mundo inteiro, o amplo entendimento das divinas, ainda que diferentes, contribuições e responsabilidades interdependentes dos homens e das mulheres desapareceu extensivamente. Em muitas sociedades, as mulheres se tornaram subordinadas aos homens em vez de serem parceiras a seu lado, tendo suas atividades reduzidas a um propósito restrito. O progresso espiritual foi reduzido a quase nada durante essa época sombria; na realidade, pouca luz espiritual conseguia entrar na mente e no coração saturados de tradições de domínio.

E então a luz do evangelho restaurado resplandeceu “mais brilhante que o sol”3 quando Deus, o Pai, e Seu Filho, Jesus Cristo, apareceram a Joseph Smith no início da primavera de 1820, naquele bosque sagrado no norte do estado de Nova York. Aquele evento deu início a um derramamento moderno de revelações do céu. Um dos primeiros elementos da Igreja original de Cristo a ser restaurado foi a autoridade do sacerdócio de Deus. À medida que a Restauração continuava a progredir, homens e mulheres começaram a perceber novamente a importância e o potencial de se trabalhar como parceiros, autorizados e conduzidos por Ele nesta obra sagrada.

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A organização da Sociedade de Socorro

Em 1842, com a Igreja ainda em desenvolvimento, quando as mulheres da Igreja quiseram formar um grupo oficial para ajudar na obra, o presidente Joseph Smith se sentiu inspirado a organizá-las “sob o sacerdócio, segundo o padrão do sacerdócio”.4 Ele disse: “Agora passo a chave a vocês em nome de Deus (…) — este é o início de dias melhores”.5 E desde que essa chave foi passada, oportunidades educacionais, políticas e econômicas para as mulheres começaram a gradualmente crescer pelo mundo.6

Essa nova organização da Igreja para mulheres, intitulada Sociedade de Socorro, era diferente das sociedades femininas da época por ter sido estabelecida por um profeta, que agiu com a autoridade do sacerdócio para conceder autoridade, responsabilidades sagradas e posições oficiais às mulheres, dentro da estrutura da Igreja e não fora dela.7

Desde os dias do profeta Joseph Smith até hoje, a restauração contínua de todas as coisas trouxe o entendimento da necessidade da autoridade e do poder do sacerdócio para ajudar tanto homens quanto mulheres a cumprir suas responsabilidades divinamente atribuídas. Foi-nos ensinado recentemente que as mulheres designadas por um portador do sacerdócio que possua chaves atuam com a autoridade do sacerdócio em seu chamado.8

Em outubro de 2019, o presidente Russell M. Nelson ensinou que as mulheres que recebem a investidura no templo têm o poder do sacerdócio em sua vida e em seu lar à medida que guardam os convênios sagrados que fizeram com Deus.9 Ele explicou que “os céus estão abertos tanto para as mulheres que são investidas com o poder de Deus que emana de seus convênios do sacerdócio quanto para os homens que portam o sacerdócio”. E ele incentivou cada irmã a “liberalmente invocar o poder do Salvador a fim de ajudar sua família e outras pessoas a quem amam”.10

Então, o que isso significa para vocês e para mim? Como o fato de entender sobre a autoridade e o poder do sacerdócio muda nossa vida? Um dos segredos é entender que, quando mulheres e homens trabalham juntos, realizam muito mais do que trabalhando separadamente.11 Nossos papéis são complementares em vez de competitivos. Apesar de as mulheres não serem ordenadas a um ofício no sacerdócio, como ressaltado anteriormente, elas são abençoadas com o poder do sacerdócio à medida que guardam seus convênios e atuam com a autoridade do sacerdócio quando são designadas para um chamado.

Em um maravilhoso dia de agosto, tive o privilégio de me sentar com o presidente Russell M. Nelson na reconstruída casa de Joseph e Emma Smith em Harmony, Pensilvânia, próximo ao local onde o Sacerdócio Aarônico foi restaurado nestes últimos dias. Em nossa conversa, o presidente Nelson falou a respeito do importante papel que as mulheres desempenharam na Restauração.

Presidente Nelson: “Um dos aspectos mais importantes de que me recordo quando venho a este local da restauração do sacerdócio é do importante papel que as mulheres desempenharam na Restauração.

Quando Joseph começou a traduzir o Livro de Mórmon, quem estava escrevendo? Bem, ele escreveu um pouco, mas não muito. Emma ajudou.

E então penso em Joseph quando foi ao bosque orar, perto de sua casa em Palmyra, Nova York. Para onde ele foi? Ele foi ao Bosque Sagrado. Por que ele foi para lá? Porque lá era o lugar onde sua mãe costumava ir quando queria orar.

Essas foram apenas duas das mulheres que tiveram papéis essenciais na Restauração do sacerdócio e na Restauração da Igreja. Sem dúvida, poderíamos dizer que as esposas são tão importantes hoje quanto eram nessa época. Certamente são”.

Tal como Emma, Lucy e Joseph, somos mais eficientes quando estamos dispostos a aprender um com o outro e quando estamos unidos em nosso objetivo de nos tornarmos discípulos de Jesus Cristo e ajudar outras pessoas ao longo do caminho.

Somos ensinados que “o sacerdócio abençoa a vida dos filhos de Deus de inúmeras maneiras. (…) Nos chamados [da Igreja], nas ordenanças do templo, nos relacionamentos familiares e na serenidade do ministério individual, as mulheres da Igreja e os homens agem com a autoridade e o poder do sacerdócio. Essa interdependência entre homens e mulheres para realizar a obra de Deus por meio de Seu poder é o ponto central do evangelho de Jesus Cristo restaurado por intermédio do profeta Joseph Smith”.12

A união é fundamental para a obra divina que temos o privilégio e o chamado de realizar, porém ela não acontece de uma hora para outra. É necessário esforço e tempo para realmente nos aconselhar — para ouvir uns aos outros, entender o ponto de vista do outro e compartilhar experiências —, mas esse processo resulta em mais decisões inspiradas. Quer tenhamos responsabilidades em casa ou na Igreja, a maneira mais eficiente de atingirmos nosso potencial divino é trabalharmos juntos, abençoados pelo poder e pela autoridade do sacerdócio em nossos papéis diferentes, mas também complementares.

Como é essa parceria na vida das mulheres do convênio hoje em dia? Vou dar um exemplo.

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Casal em uma bicicleta dupla

Alison e John tinham uma parceria que era singular. Eles usavam uma bicicleta dupla em corridas curtas e longas. Para competir com êxito nesse tipo de veículo, ambos os corredores precisam estar em sincronia. Precisam se inclinar na mesma direção ao mesmo tempo. Um não pode controlar o outro; entretanto, eles precisam se comunicar de forma clara e fazer sua parte. O capitão, que fica na frente, controla os freios e o momento de se levantar. O companheiro no banco de trás precisa permanecer atento ao que está acontecendo e estar pronto para dar força extra caso fiquem um pouco para trás ou desacelerar caso fiquem perto demais de outros ciclistas. Precisam apoiar um ao outro para terem resultado e atingir seu objetivo.

Alison explicou: “No começo, a pessoa que ficava na posição de capitão dizia ‘Levantar’ quando precisava levantar e ‘Frear’ quando precisava parar de pedalar. Depois de um tempo, a pessoa no banco de trás aprendia a prever quando o capitão estava prestes a se levantar ou frear, sem que isso precisasse ser dito. Aprendemos a estar em sintonia um com outro e podíamos perceber quando um estava ficando cansado e [então] o outro compensava. É tudo uma questão de confiança e trabalho de equipe”.13

John e Alison não eram unidos somente quando pedalavam, mas eram também unidos em seu casamento. Eles desejavam a felicidade do outro mais do que a própria, procuravam pelo que era bom um no outro e se empenhavam para vencer o que não era tão bom no outro ou em si mesmos. Eles revezavam a liderança e revezavam contribuindo mais quando seu parceiro estava ficando cansado. Eles valorizavam as contribuições um do outro e encontravam melhores respostas para seus desafios quando uniam seus talentos e recursos. Eles estão verdadeiramente ligados um ao outro por meio do amor cristão.

Estar em maior sintonia com o padrão divino de trabalhar juntos em união é decisivo nesta época em que a visão do “eu primeiro” nos cerca. As mulheres realmente possuem dons divinos e distintos14 e recebem responsabilidades singulares, os quais não são mais — ou menos — importantes do que os dons e as responsabilidades dos homens. Todos foram criados e são necessários para realizar o plano divino do Pai Celestial de dar a cada um de Seus filhos a melhor oportunidade para atingir seu potencial divino.

Nesta época, “precisamos de mulheres que tenham a coragem e a visão de nossa mãe Eva”15 para se unir aos irmãos em trazer almas a Cristo.16 Os homens precisam se tornar verdadeiros parceiros em vez de presumirem que são os únicos responsáveis ou se comportarem como parceiros de “faz de conta” enquanto as mulheres realizam grande parte do trabalho. As mulheres precisam estar dispostas a “[dar] um passo adiante [e ocupar] seu lugar de direito tão necessário”17 como parceiras em vez de pensarem que precisam fazer isso sozinhas ou esperarem que lhes digam o que fazer.18

Enxergar as mulheres como participantes essenciais não se trata de criar igualdade, mas trata-se de entender uma verdade doutrinária. Em vez de criar um programa para realizar isso, podemos nos empenhar ativamente para valorizar as mulheres como Deus as valoriza: como parceiras fundamentais no trabalho de salvação e exaltação.

Estamos prontos? Vamos nos esforçar para vencer os preconceitos culturais e, em vez disso, aceitar os padrões e as práticas divinas com base em doutrinas fundamentais? O presidente Russell M. Nelson nos convida a “realizarmos lado a lado esse trabalho sagrado (…) [para] ajudar a preparar o mundo para a Segunda Vinda do Senhor”.19 Ao fazermos isso, aprenderemos a valorizar as contribuições de cada pessoa e cumpriremos melhor nosso papel divino. Sentiremos mais alegria do que jamais sentimos.

Que cada um de nós escolha unir-se à maneira inspirada do Senhor para ajudar Sua obra a ir adiante. Em nome de nosso amado Salvador, Jesus Cristo. Amém.

Notas

  1. Ver Gênesis 3:1–18; Moisés 4:1–19.

  2. Ver Moisés 5:1–12. Esses versículos ensinam a verdadeira parceria de Adão e Eva: eles tiveram filhos (versículo 2); eles trabalharam juntos para prover para si mesmos e para sua família (versículo 1); eles oraram juntos (versículo 4); eles obedeceram aos mandamentos de Deus e ofereceram sacrifícios juntos (versículo 5); eles aprenderam (versículos 4, 6–11) e ensinaram juntos o evangelho de Jesus Cristo a seus filhos (versículo 12).

  3. Joseph Smith—História 1:16.

  4. Joseph Smith, em Sarah M. Kimball, “Auto-biography”, Woman’s Exponent, 1º de setembro de 1883, p. 51; ver também Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith, 2007, p. 474.

  5. Joseph Smith, em “Nauvoo Relief Society Minute Book”, p. 40, josephsmithpapers.org.

  6. Ver George Albert Smith, “Address to Members of Relief Society”, Relief Society Magazine, dezembro de 1945, p. 717.

  7. Ver John Taylor, em “Nauvoo Relief Society Minutes”, 17 de março de 1842, disponível em churchhistorianspress.org. De acordo com Eliza R. Snow, Joseph Smith também ensinou que as mulheres haviam sido organizadas em dispensações anteriores (ver Eliza R. Snow, “Female Relief Society”, Deseret News, 22 de abril de 1868, p. 1; Filhas em Meu Reino: A História e o Trabalho da Sociedade de Socorro , 2011, pp. 1–7).

  8. Ver Dallin H. Oaks, “As chaves e a autoridade do sacerdócio”, A Liahona, maio de 2014, p. 49.

  9. Ver Russell M. Nelson, “Tesouros espirituais”, Liahona, novembro de 2019, p. 76.

  10. Russel M. Nelson, “Tesouros espirituais”, p. 77.

  11. “O evangelho restaurado ensina o conceito eterno de que o marido e a mulher são interdependentes entre si. São iguais. São parceiros” (Bruce C. Hafen e Marie K. Hafen, “Interagir e ser parceiros com responsabilidades iguais”, A Liahona, agosto de 2007, p. 28).

  12. Tópicos do Evangelho, “Ensinamentos de Joseph Smith sobre o sacerdócio, o templo e as mulheres”, topics.ChurchofJesusChrist.org.

  13. Correspondência pessoal.

  14. Ver Russell M. Nelson, “Um apelo às minhas irmãs”, A Liahona, novembro de 2015, p. 95.

  15. Russell M. Nelson, “Um apelo às minhas irmãs”, p. 97.

  16. Ver General Handbook: Serving in The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints , 1.4, ChurchofJesusChrist.org.

  17. Russell M. Nelson, “Um apelo às minhas irmãs”, p. 97.

  18. “Minhas queridas irmãs, seja qual for o seu chamado, sejam quais forem suas circunstâncias, precisamos de seu ponto de vista, de suas impressões e de sua inspiração. Precisamos que vocês falem abertamente e manifestem-se nos conselhos de ala e de estaca. Precisamos que cada irmã casada fale como “uma parceira participativa e plena de direitos” ao se unir a seu marido no governo de sua família. Casadas ou solteiras, vocês, irmãs, possuem habilidades distintas e uma intuição especial que receberam como dádiva de Deus. Nós, irmãos, não podemos substituir sua influência singular. (…)

    Precisamos de sua força!” (Russell M. Nelson, “Um apelo às minhas irmãs”, p. 97.)

  19. Russell M. Nelson, “Um apelo às minhas irmãs”, p. 97.